Azul compra 35 aviões A320neo, a nova geração do jato de um
corredor da Airbus e entra na concorrência direta com a TAM e a Gol. Tomara que
ajude no tratamento aos usuários, que em geral é ruim.
A construção coletiva das idéias é uma das mais fascinantes experiências humanas. Pressupõe um diálogo sincero, permanente, em cima dos fatos. Neste espaço, diariamente, compartilhamos com você nossa compreensão sobre as coisas da luta e da vida. Participe. Opine. [Artigos assinados expressam a opinião dos seus autores].
30 novembro 2014
Mais uma
Torcendo hoje pela terceira vitória consecutiva do povo no
Uruguai, com Tabaré Vázquez, da Frente Ampla, na presidência da República.
O poeta canta a liberdade de amar
Edgar Degas
As sem-razões do amor
Carlos Drummond de Andrade
Eu te amo porque te amo,
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.
Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.
Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.
Eu te amo porque te amo,
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.
Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.
Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.
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Resgate histórico
Queda do muro virou mito de vencedores
Breno Altman, no
portal da Fundação Maurício Grabois
O noticiário
internacional está marcado, nos últimos dias, pelas festividades comemorativas
dos 25 anos da queda do Muro de Berlim. A maioria da imprensa celebra o evento
com galhardia.
Trata-se,
afinal, do símbolo mais emblemático da derrocada do socialismo e da possibilidade
histórica de qualquer sistema distinto do capitalismo triunfante.
A conjugação
de uma incrível máquina de propaganda com o complexo de vira-lata comum aos
perdedores foi capaz de atrair para essa comemoração amplos setores
progressistas e de esquerda, que simplesmente mandaram às favas qualquer
espírito crítico.
Alguns porque
honestamente concordam com a retórica sobre o muro maligno. Outros porque temem
ser apontados como antidemocráticos e fora de moda.
A submissão
intelectual chega ao ponto de não se questionar sequer a legitimidade dos
grandes agitadores contra a obra do mal.
Onde está,
afinal, a autoridade dos Estados Unidos e seus meios de comunicação?
No muro da
morte que separa seu território dos aliados mexicanos, matando por ano os
oitenta caídos durante três décadas na Berlim dividida?
Na base de
Guantánamo, onde centenas de muçulmanos estão presos sem o devido processo
legal e são sistematicamente torturados?
Ou teria a
Europa ocidental mais credibilidade, com sua política discriminatória contra os
imigrantes?
Ou ainda
Israel, pródigo em adotar práticas de pogrom contra os palestinos e expeditivos
em construir sua própria muralha de isolamento dos territórios ocupados?
A lista de
participantes desse festim é bastante longa, vários com muitas contas a
acertar, e de cada qual deveria ser solicitado o devido atestado de idoneidade.
Não é o caso,
obviamente, de se justificar um pecado com outro, mas evitar comportamentos
cuja índole é hipócrita.
Vamos aos
fatos, portanto.
O Muro de
Berlim costuma ser apresentado, pelos campeões da liberdade, como produto de um
sistema político tirânico, cuja natureza seria a divisão dos povos e sua
subordinação ao tacape de uma ideologia totalitária.
Quando
terminou a 2ª Guerra Mundial, a Alemanha foi dividida em quatro zonas de
influência, entre norte-americanos, ingleses, franceses e soviéticos.
A capital
histórica, Berlim, pertencente ao território controlado pelo Exército Vermelho,
acabou igualmente repartida em áreas controladas pelos países vitoriosos.
Quem se der ao
trabalho de ler as atas das conferências de Ialta, Potsdam e Teerã, se dará
conta que Moscou era contrário a essa divisão.
Sua proposta
era dotar a Alemanha de um governo provisório, sem divisão do território, que
organizasse em dois anos um processo eleitoral nacional.
Os demais
aliados, temerosos que o país caísse nas mãos dos comunistas, exigiram o modelo
adotado.
A União
Soviética acatou, depois que viu garantido seu direito de hegemonia sobre os
demais países fronteiriços, além de preservado seu controle militar sobre a
antiga Prússia Oriental.
Em nome de sua
política de segurança e da manutenção da aliança que derrotou o nazismo,
abdicou de parte da sua influência na porção ocidental da Alemanha e do antigo
Império Austro-Húngaro, apesar de os comunistas já serem maioria na Áustria.
Outro
compromisso que constava da agenda pós-guerra era a constituição de um fundo
mundial para a reconstrução europeia.
O papel
principal, nesse trâmite, cabia aos Estados Unidos, a potência que menos havia
sofrido com o esforço de combate, cuja economia havia sido vitaminada pelo
conflito e dispunha de imensos recursos financeiros.
Mas a vitória
eleitoral dos comunistas na então Tchecoslováquia, seguida de resultados
espetaculares na Itália e França, em 1946, provocou uma reviravolta.
A Casa Branca
decidiu-se por quebrar o pacto da reconstrução e inundar de financiamento
apenas sua área de influência, dando origem ao Plano Marshall, em 1947. Cerca
de 140 bilhões de dólares, em valores atualizados, foram injetados no ocidente
europeu.
Tinha início a
chamada Guerra Fria, antecipada, em março de 1946, pelo famoso discurso de
Winston Churchill em Fulton.
A União
Soviética, que havia arcado com um incalculável custo humano e material ao ser
o grande vetor da vitória contra Hitler, passou a enfrentar uma outra guerra,
financeira e de sabotagem, contra suas posições. Especialmente na Alemanha
Oriental, constituída em 1949 como República Democrática da Alemanha.
A estratégia
norte-americana era roubar os melhores profissionais alemães, atrai-los a peso
de ouro a partir de sua cabeça-de-ponte em Berlim Ocidental, que recebia
aportes formidáveis para ser exibida como vitrine esplendorosa da pujança
capitalista.
A fuga de
cérebros e braços asfixiava a jovem RDA, que pouco podia contar com a ajuda
material soviética, pois estava o Kremlin às voltas com o dificílimo
reerguimento do próprio país.
Foram mais de
12 anos em uma batalha árdua e desigual.
A URSS tinha
quebrado a máquina de guerra do nazismo, retesando cada músculo e cada nervo da
nação, e se via diante de uma situação que poderia levar à desestabilização de
suas fronteiras, exatamente a aposta maior da Casa Branca.
Essa escalada
teve seu desfecho no dia 13 de agosto de 1961, data inaugural do Muro de
Berlim.
O fluxo entre
os dois países e as duas áreas da antiga capital foi militarmente interrompido,
obstaculizado por uma construção que chegou a ter 66,5 km de redeamento
metálico e murado.
Famílias e
amigos foram separados por quase 30 anos.
Aprofundou-se
a fratura entre ocidente e oriente na Europa.
Uma nação
histórica foi dividida. Oitenta pessoas morreram e 142 ficaram feridas ao
tentar ultrapassar o muro, finalmente derrubado em 1989.
Sua construção
foi um ato de guerra, mas de caráter defensivo. As hostilidades e operações de
sabotagem, que impediram a permanência de uma Alemanha unida e a coexistência
pacífica de dois sistemas, foram iniciadas pelas potências que romperam o
acordo de paz, impondo ao leste europeu e socialista, com sua economia ferida
pela guerra, um longo estado de exceção.
Claro, havia
outras alternativas.
A URSS e seus
aliados poderiam, por exemplo, ter capitulado de antemão à ideia de desenvolver
outro sistema de produção e poder, pois era essa tentativa dissidente o motivo
da Guerra Fria. Afinal, não foi assim que tudo terminou, lá se vão 25 anos?
Mas com seus
erros e seus acertos, suas glórias e seus desastres, seus feitos e até seus
crimes, o socialismo foi, durante gerações, a bandeira e o sonho de povos que
aceitaram pagar com sacrifício, dor e sangue por um outro mundo possível.
Teria sido
impensável, se assim não fosse, a extraordinária vitória na guerra de trinta
anos que vai da Revolução Russa à caída de Berlim nas mãos do Exército
Vermelho, em 1945.
O muro de
Berlim talvez tenha sido a criatura disforme de um processo no qual seus
protagonistas tiveram que enfrentar circunstâncias e teatros de batalha
escolhidos, no fundamental, por inimigos poderosos.
De certo modo
foi, durante décadas, marco de resistência e de equilíbrio entre dois sistemas.
Caiu quando a força propulsora de um dos lados já tinha se esgotado.
O resto é a
mitologia dos vencedores.
Observação:
este texto é uma adaptação, com poucas alterações, de artigo que escrevi há
cinco anos. Também foram poucas as mudanças na narrativa tendenciosa e
falsificada dos fenômenos históricos que precederam a queda do Muro de Berlim.
Publicado em
Opera Mundi
Pluralidade
No início do primeiro governo Lula, escrevi um artigo - O
vermelho é verde-amarelo -, que deu título ao meu primeiro livro publicado pela
Editora Anita Garibaldi, sublinhando que o presidente não deveria ser “do PT”,
mas de todos os brasileiros. Vale para o segundo governo da presidenta Dilma,
que há de ser, sim, de ampla coalizão, da qual obviamente o PT participa com
destaque. Sem prejuízo da pluralidade, que deve corresponder ao alargamento de
sua base de sustentação parlamentar e social.
29 novembro 2014
Fantasia
Tem "analista" garantindo (sic) que a assunção de Nelson Levy ao ministério da Fazenda inibirá o PSDB em sua sanha oposicionista... porque o novo ministro adotaria fundamentos do pensamento tucano sobre o rumo de nossa economia. Ledo engano. Nem o PSDB dará tréguas ao governo, nem a presidenta Dilma soltará as rédeas, como deseja o tal "mercado" (ou seja, a oligarquia financeira).
O sentido das palavras
Almeida Junior
Meus versos são meu sonho dado
Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor
Se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu
Tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor,
Se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca
Escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas…
Ridículas.
Não seriam cartas de amor
Se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu
Tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor,
Se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca
Escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas…
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Palavra do PCdoB
Renato: "Nós renovamos o apoio a Dilma na garantia do emprego e renda"
O presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo, no seu programa de rádio Palavra do Presidente, desta sexta-feira (28), avaliou o cenário político diante do anúncio da nova equipe econômica da presidenta Dilma Rousseff e ressaltou a importância da confiança e apoio mútuo ao novo mandato. Para ele, é preciso compreender “o quadro da realidade de cada momento. A presidenta tem que enfrentar no terreno político e econômico uma série de obstáculos. Um novo governo depende dessa reorganização”. Leia mais http://migre.me/natcr
O presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo, no seu programa de rádio Palavra do Presidente, desta sexta-feira (28), avaliou o cenário político diante do anúncio da nova equipe econômica da presidenta Dilma Rousseff e ressaltou a importância da confiança e apoio mútuo ao novo mandato. Para ele, é preciso compreender “o quadro da realidade de cada momento. A presidenta tem que enfrentar no terreno político e econômico uma série de obstáculos. Um novo governo depende dessa reorganização”. Leia mais http://migre.me/natcr
Sinais positivos
Em ambiente de pessimismo alimentado diariamente pela grande mídia e pelo chamado “mercado”, e ainda sob a pressão da crise global, há que de valorizar o aumento de 0,1% do PIB no terceiro trimestre deste ano, ainda que muito modesto, e a expansão de 1,7% da indústria e de 1,3% dos investimentos.
Super-homem?
Por que tratar o novo ministro da Fazenda de “super-herói”? Coisa
de quem pensa em “pacotes” (frustrados) de antigamente e numa inexistente falta
de pulso da presidenta Dilma. Entra para o rol das bobagens de fim de ano.
28 novembro 2014
Uma crônica para descontrair
Vicente Romero
Quando dezembro passar
Luciano Siqueira
Dessas
conversas que a gente ouve no elevador quase sem querer, no breve transcurso da
garagem ao sétimo andar da Prefeitura:
- Ah! Dezembro é o mês que mais gosto.
- Pra mim é horrível.
- Por que, menina?
- Porque é só tristeza.
- Tristeza!? Diga isso não, que coisa! É
Natal, minha filha, a gente sonha com todas as coisas boas que deseja pro ano
que vem.
- Esse é o meu problema. Já não tenho mais
com que sonhar.
Deu apenas para ver de relance que a
pessimista tinha feições joviais, bonita nos seus prováveis quarenta anos, mas
de olhar triste. A outra, entre vinte e vinte e cinco anos, irradiando
entusiasmo. A porta do elevador se abriu para nossos afazeres, o diálogo entre
as duas findou partido.
Entre um despacho e outro, e durante a
primeira reunião do dia, aquelas palavras não saíram da mente, recorrentes: “Já
não tenho mais com que sonhar”.
Como se pode renunciar aos desejos mais
caros, assim tão jovem? Que sonhos terão se frustrado na curta vida daquela
criatura? Será um momento, ou uma definitiva sentença de morte em vida? Por que
tamanha infelicidade? Que será para ela, afinal, a felicidade?
Em meio a uma inquietude solidária e um
vago desejo de reencontrá-la para, quem sabe, uma palavra de apoio e estímulo, a
resposta parece surgir no belo poema A
felicidade de Adalberto Monteiro:
E não dura uma tarde.
A felicidade às vezes está à nossa volta
E à procura dela,
Saímos pelo mundo dando voltas.
E à procura dela,
Saímos pelo mundo dando voltas.
A felicidade talvez nem exista,
Talvez seja somente,
O nome de uma menina, de uma cidade.
Talvez seja somente,
O nome de uma menina, de uma cidade.
A felicidade
É um trem que a gente espera, espera,
Ela atrasa, às vezes ela vem,
Às vezes nunca vem.
É um trem que a gente espera, espera,
Ela atrasa, às vezes ela vem,
Às vezes nunca vem.
Não, moça triste, jamais renuncie ao
sagrado ato de sonhar, nem condene todas as esperanças ao doloroso fracasso de
um sonho. Quando esse seu melancólico dezembro passar, você verá que “a
felicidade às vezes está à nossa volta”, como diz o poeta. E é preciso vivê-la.
(Publicado no portal Vermelho, no Blog de
Jamildo e no Jornal da Besta Fubana).
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A vida do jeito que é
A Internacional
Marco Albertim, no
Vermelho
O corredor é estreito. Em um dos lados há três
celas vizinhas; também não são grande coisa, em que pese o comprimento; mas a
largura é tão pouca que infunde a impressão de que as paredes estão se movendo
para se juntarem, não importa quem esteja no meio. O teto é bolorento, não
desmente a suspeita de que absorvera suores diversos; ao invés de sorvê-los e
fechar-se sem deixar indícios de contatos, devolve-os em forma de fungos e
deixa soltar o bodum de alvenaria velha, coberta de poeira, de furos de
estropícios.
Respirar aquele ar causa impacto logo nos primeiros
bafejos; em seguida, não se sente a impureza do ar engordado. A transpiração
mistura-se às bactérias. A promiscuidade entre a água dos corpos e os
microorganismos converte-se em cumplicidade. Resistir é impossível, porque o
próprio corpo torna-se agente de doenças. Quem sobreviveu logrou a cura, inda
que a doença tenha deixado seus achaques.
Jaciara Bonaires viu-se sozinha na cela. Os esbirros
trancaram a porta de madeira; como as paredes e o teto, a madeira se deixara
estropiar, sobretudo nos pés da porta, expondo fendas e taliscas soltas. No
lado em que a porta se abria, ela encostou seu rosto; deitada no chão, viu o
preso deitado no chão do corredor. Os esbirros, depois da sessão de tortura,
deixaram-no ali, espremido entre a parede e a porta da cela.
"Eles ainda estão aqui. Botaram um gravador no
meu pensamento. Estão lendo o meu pensamento..." De cueca, deu para
perceber que tinha os colhões inchados; o corpo, sobretudo o tórax, exibia
marcas de socos, de pontapés; o rosto, todo ele com inchações; não
via pelos olhos por causa das escoriações, enxergava traços indistintos que
cresciam conforme a errância das alucinações. Queria pôr-se deitado
de bruços; as dores no tórax não deixavam; acomodou-se num dos lados do corpo,
em decúbito lateral.
"Tenha calma. Procure dormir. Você está
sozinho no corredor." Jaciara estranhou a sonoridade cadenciada da própria
voz. Nos encontros, expondo a orientação do Partido sobre qual tática assumir
nos enfrentamentos com o inimigo, fora escorreita, sem lesão na voz.
Preocupara-se com duas coisas: expor o pensamento com clareza, combinando a
austeridade dos meios de luta com o padrão uniforme da voz. Descobriu-se também
portadora de infusões do coração. Fosse cristã, faria uma prece, aconselharia
uma reza; mas rezas, pensou, pensou e sentiu-se irredenta por isso, carregam
humilhação e talvez o indício da rendição ao inimigo. Viu os dois joelhos do
preso chagados, iguais às feridas de sangue do Cristo na cruz. O contralto na
voz de Jaciara Bonaires, não soltou-se das cordas da garganta, desentranhou-se
das vísceras. Então...
De
pé, ó vitimas da fome
De
pé, famélicos da terra
Da
idéia a chama já consome
A
crosta bruta que a soterra
Cortai
o mal bem pelo fundo
De pé, de pé,
Na terceira frase, não evitou distinguir nas
feridas dos joelhos do preso, a ideia crepitando na chama. Estava de calcinha e
sutiã, do jeito que a trouxeram da cadeira do dragão. Queria chorar e chorou
porque viu nos beiços pregados do preso, envoltos numa crosta quase bruta, um
traço de riso, inda que embotado de tanta dor.
Os esbirros voltaram da sala de reuniões do
Doi-Codi; todos de gravata sobre a camisa de manga comprida, branca,
arregaçada. Levantaram o preso pelos braços, ouvindo seus gemidos. Irritou-os o
esboço de sorriso na boca sinistrada. Trancafiaram-no na cela vizinha. Jaciara
Bonaires sentiu falta das chagas do preso.
Quem governa?
Com todo respeito a tanta gente que anda deitando regra a respeito da conduta supostamente correta da presidenta Dilma, essa de que ele deve governar, mas a política econômica precisa ser formulada "autonomamente" pelos ministros da área não faz o menor sentido. Ela viraria uma rainha da Inglaterra.
Diálogo
As eleições aconteceram em outubro. O novos governos federal e estaduais começam em janeiro. A vida segue, o tempo não para. Partidos que estiveram em palanques opostos podem e devem conversar entre si. A vida democrática é assim. Trocar impressões é sempre útil e não tira pedaço de ninguém.
Ridícula
Com ridícula arrogância, a colunista Dora Kramer afirma que a presidenta Dilma "não entende nada de política" (sic). Realmente, papel aceita tudo - inclusive uma aberração como essa!
Poema da mulher guerreira
Roberto Ploeg
Assim vejo a vida
Cora Coralina
A
vida tem duas faces:
Positiva e negativa
O passado foi duro
mas deixou o seu legado
Saber viver é a grande sabedoria
Que eu possa dignificar
Minha condição de mulher,
Aceitar suas limitações
E me fazer pedra de segurança
dos valores que vão desmoronando.
Nasci em tempos rudes
Aceitei contradições
lutas e pedras
como lições de vida
e delas me sirvo
Aprendi a viver.
Positiva e negativa
O passado foi duro
mas deixou o seu legado
Saber viver é a grande sabedoria
Que eu possa dignificar
Minha condição de mulher,
Aceitar suas limitações
E me fazer pedra de segurança
dos valores que vão desmoronando.
Nasci em tempos rudes
Aceitei contradições
lutas e pedras
como lições de vida
e delas me sirvo
Aprendi a viver.
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Questão de rumo
Amplitude política e "blindagem" do investimento
Elias Jabbour, no portal da Fundação Maurício Grabois
Quatro
derrotas seguidas foram mais do que suficientes para escancarar, de vez, o ódio
de classe assumido pela “militância” oposicionista. E o ódio não é um fim em si
mesmo. Ele traveste uma situação onde o grupo político que nos contrapõe não
tem, simplesmente, nada a dizer em matéria de alternativa séria ao país. Eles
têm um projeto, o que não significa novidade. Eles têm uma não-alternativa, uma
caixa vazia que só se preenche na base do fascismo. Neles, existe o ponto de
encontro perfeito entre banditismo neoliberal e fascismo aberto.
Eles são isso
e podem ser isso diante da falta de responsabilidade sobre o presente e o
futuro do Brasil. De nosso lado, as tarefas são imensas. O momento não pode ser
de confusão entre – por exemplo – o que vem primeiro, a política ou a economia.
Uma leitura na conjuntura deixa claro que sem uma recomposição do nosso campo
no Congresso Nacional, não será possível a execução de uma agenda que
possibilite um conserto nacional em torno no desenvolvimento. E isso ocorre,
justamente, por conta da radicalização de posições e do clima policialesco que
toma conta do país e que já alcança – e tem como alvo – grandes empresas
executoras das maiores, e mais importantes, obras em andamento.
Evidente que o
objetivo de quem cria, alimenta e retroalimenta esse clima de terror pouco está
longe de acabar com a corrupção. O objetivo é sangrar o governo paralisando o
país até que o terror se transforme em recessão econômica e, consequentemente,
em regressão social. Trata-se de uma alta aposta contra o país, numa prática
digna de uma quinta-coluna, antinacional e objetivamente antipopular.
O antídoto
residirá na capacidade do governo em reinventar a si mesmo, construindo um novo
ciclo de mudanças, persuadindo aliados ao centro da necessidade de um pacto em
torno, e em defesa do país. Inclui amplitude elevada à décima potência para um
olhar de conjunto das forças do Congresso e da própria sociedade. Visão de
Estado desprovida de mesquinharias ideológicas, pois o momento é de nos
colocarmos acima de nossa condição de esquerda. É perceber, de forma fria que
hoje temos uma oposição irresponsável, porém lastreada nas urnas e numa base
social em processo de solidificação no Congresso e nas ruas e com força
política e domínio sobre os meios de comunicação suficientes para travar, quase
que completamente, o debate de ideias. É o caso em que a política deverá
sobrepor-se a um clima de censura imposta pela imprensa golpista em torno de
temas que encetem o futuro do Brasil. O momento deles é o presente, não o
futuro.
É neste
contexto que uma ampla, e difícil, costura política faz-se impor sobre nós. A
retomada do crescimento tem uma relação de causa e efeito com este processo. As
dificuldades do momento político impõem-se sobre o futuro da economia. Não
esperemos uma retomada do crescimento de forma imediata. Diante do momento
político difícil e radicalizado, o mais importante no momento está na
manutenção de uma agenda em torno das concessões das infraestruturas ao setor
privado. Não se trata de uma agenda tocada como foi tocada até aqui. A
conjuntura política nacional deve fazer o governo perceber a necessidade dessas
concessões passarem por um verdadeiro processo de blindagem. E a oposição sabe
calcular a ponto de saber que o país só não entrou em recessão aberta por conta
das oportunidades de investimento abertas ao setor privado neste setor e da
elevação, recente, do próprio investimento público.
Além da
blindar o investimento, o outro campo de observação está na ampla possibilidade
de a taxa de juros chegar a 13% no mês de junho e, ainda assim, a inflação
continuar a bater no dito “teto da meta”. Este cenário, muito possível, pois a
inflação no Brasil tem obedecido muito mais a induções políticas do que ao
próprio sistema de formação de preços, demandará de nós ao menos uma luta
econômica no próximo ano: o governo deverá impedir de toda a forma que a
valorização abrupta da taxa de câmbio. Seria intolerável para a nossa indústria
um dólar abaixo dos R$ 2,40. Se é difícil impedir que o Banco Central aumente a
taxa SELIC, que ao menos não intervenha no mercado de dólares.
Enfim, retomar
o crescimento demanda uma recomposição de nossas forças no Congresso e na
sociedade. Algum grau de ajuste fiscal deverá ocorrer no próximo ano. Neste
cenário, retomar o crescimento em 2015 será muito difícil, restando no
horizonte a necessidade de blindar, com todas as forças, o investimento privado
em infraestruturas e uma taxa de câmbio minimante suportável à nossa indústria.
________________________
*
Professor Adjunto da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade do Estado
do Rio de Janeiro (FCE-UERJ). Membro do Comitê Central do PCdoB
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27 novembro 2014
Apes em festa
Hoje à noite, com muito prazer, estarei na festa de posse do presidente Edivaldo Guilherme e diretoria da Associação Pernambucana de Supermercados. No Paço Alfandega.
Poema da felicidade possível
Richard Piloco
Sonho
Clarice Lispector
Sonhe com aquilo que você quiser.
Seja o que você quer ser,
porque você possui apenas uma vida
e nela só se tem uma chance
de fazer aquilo que se quer.
Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.
Dificuldades para fazê-la forte.
Tristeza para fazê-la humana.
E esperança suficiente para fazê-la feliz.
As pessoas mais felizes
não têm as melhores coisas.
Elas sabem fazer o melhor
das oportunidades que aparecem
em seus caminhos.
A felicidade aparece para aqueles que choram.
Para aqueles que se machucam.
Para aqueles que buscam e tentam sempre.
E para aqueles que reconhecem
a importância das pessoas que passam por suas vidas.
O futuro mais brilhante
é baseado num passado intensamente vivido.
Você só terá sucesso na vida
quando perdoar os erros
e as decepções do passado.
A vida é curta, mas as emoções que podemos deixar
duram uma eternidade.
A vida não é de se brincar
porque um belo dia se morre.
Seja o que você quer ser,
porque você possui apenas uma vida
e nela só se tem uma chance
de fazer aquilo que se quer.
Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.
Dificuldades para fazê-la forte.
Tristeza para fazê-la humana.
E esperança suficiente para fazê-la feliz.
As pessoas mais felizes
não têm as melhores coisas.
Elas sabem fazer o melhor
das oportunidades que aparecem
em seus caminhos.
A felicidade aparece para aqueles que choram.
Para aqueles que se machucam.
Para aqueles que buscam e tentam sempre.
E para aqueles que reconhecem
a importância das pessoas que passam por suas vidas.
O futuro mais brilhante
é baseado num passado intensamente vivido.
Você só terá sucesso na vida
quando perdoar os erros
e as decepções do passado.
A vida é curta, mas as emoções que podemos deixar
duram uma eternidade.
A vida não é de se brincar
porque um belo dia se morre.
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Mérito
Flávio Dino (PCdoB), governador eleito do Maranhão, recebeu
ontem a Medalha Mérito Legislativo, em cerimônia na Câmara dos Deputados. Justa
homenagem pelo mandato destacado que exerceu quando deputado federal.
Caindo na real
O indicador tem muito mais de política do que referência na
economia real, mas vale o registro. A
chamada “confiança da indústria” aumentou pelo segundo mês consecutivo em
novembro, revertendo a trajetória de queda observada no terceiro trimestre do
ano, segundo a Fundação Getúlio Vargas. Aos poucos, desmontados os
palanques, como diz a presidenta Dilma, a realidade concreta é que vai contar.
Pressão contínua
Da segunda-feira após o pleito de outubro até hoje, a
pressão midiática era para que Dilma apresentasse de imediato os nomes que com
porão a nova equipe econômica. A se confirmar o anúncio hoje, como previsto, a pressão
será sobre os novos ministros da Fazendo e do Planejamento e o presidente do
banco Central – para que adotem o receituário do chamado “mercado”, ou seja, da
oligarquia financeira hegemônica nas elites dominantes, insatisfeita com a
derrota de Aécio e mentora do “terceiro turno”. O sonho dessa gente é repetir a
fórmula que funcionou no governo Itamar Franco: não tinham o presidente, mas
controlavam a sua equipe econômica. Com Dilma jamais acontecerá, pelos compromissos
reiterados pela presidenta e pelo seu modelo de governança, que a faz chefe do
governo de fato.
26 novembro 2014
Avançar com equilíbrio
É certo que em tudo na vida é necessário avançar com equilíbrio. Sobretudo na luta política. Dilma constrói sua equipe de governo com um olho no compromisso de avançar mais ainda nas mudanças em curso desde 2003 e o outro na necessidade de formatar uma maioria parlamentar que lhe permita governar, em meio a uma correlação de forças difícil. Daí o desenho amplo, plural e heterogêneo do futuro ministério. A amplitude há que ter como contraponto a presença de um núcleo mais avançado que ajude a presidenta a conduzir a luta política e a gestão administrativa com firmeza e habilidade.
O poeta canta o amor com rara sensibilidade
Carlos Ygoa
Para ti
Mia Couto
Foi
para ti
que desfolhei a chuva
para ti soltei o perfume da terra
toquei no nada
e para ti foi tudo
que desfolhei a chuva
para ti soltei o perfume da terra
toquei no nada
e para ti foi tudo
Para
ti criei todas as palavras
e todas me faltaram
no minuto em que talhei
o sabor do sempre
Para ti dei voz
às minhas mãos
abri os gomos do tempo
assaltei o mundo
e pensei que tudo estava em nós
nesse doce engano
de tudo sermos donos
sem nada termos
simplesmente porque era de noite
e não dormíamos
eu descia em teu peito
para me procurar
e antes que a escuridão
nos cingisse a cintura
ficávamos nos olhos
vivendo de um só
amando de uma só vida
e todas me faltaram
no minuto em que talhei
o sabor do sempre
Para ti dei voz
às minhas mãos
abri os gomos do tempo
assaltei o mundo
e pensei que tudo estava em nós
nesse doce engano
de tudo sermos donos
sem nada termos
simplesmente porque era de noite
e não dormíamos
eu descia em teu peito
para me procurar
e antes que a escuridão
nos cingisse a cintura
ficávamos nos olhos
vivendo de um só
amando de uma só vida
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25 novembro 2014
Geografia do voto
No site da Fundação Maurício
Grabois:
As cores das eleições para governadores
Oswaldo Bertolino:
O enfrentamento entre forças
ideológicas antagônicas no plano nacional se reproduziu nos estados. A disputa
política, embora muitas vezes sem uma definição clara das alianças por um campo
ou outro, evidenciou bem o sentido do acirramento das campanhas, que reproduziu
tendências históricas da sociedade brasileira.
Vermelho ou
azul? As cores usadas para marcar a geografia dos votos dos candidatos no
segundo turno das eleições presidenciais de 2014, Dilma Rousseff e Aécio Neves,
servem também para colorir o mapa dos governadores eleitos. Elas estampam,
convencionalmente, o pano de fundo da disputa, os fatores conjunturais que
determinaram os resultados. No curso dos debates eleitorais não houve
praticamente nenhum aspecto dessa conjuntura que não se converteu em polêmica
renhida. A realidade permeada por problemas que se complicaram à medida que o
país avançou nas mudanças desde que Luis Inácio Lula da Silva se elegeu
presidente da República em 2002 impôs a necessidade de propostas que
respondessem a novas demandas.
As eleições,
portanto, ocorreram em um cenário de elevação da complexidade dos obstáculos ao
desenvolvimento do país e se constituíram um relevante acontecimento da luta
historicamente travada pelas forças progressistas contra agrupamentos ligados a
interesses oligárquicos e conservadores. A intensidade das cores espalhadas
pelo mapa do país, contudo, leva à indagação sobre o grau em que houve o choque
entre essas duas correntes e em qual medida os ideais mudancistas se
confrontaram com os da direita. Teriam sido esses os fatores determinantes para
definir os campos na campanha eleitoral — embora essa contraposição nem sempre
tenha se revelado nitidamente nos estados — e configurariam o cenário composto
pelas mãos do eleitorado brasileiro? Pode-se dizer que sim.
Fiel aliado
tucano
Considerando
as cores convencionadas, o vermelho encarnado obteve uma ligeira vantagem sobre
o azul turquesa no mapa dos governadores eleitos. Acre, Ceará, Piauí, Bahia e
Minas Gerais elegeram candidatos do Partido dos Trabalhadores (PT); o Maranhão
elegeu, pela primeira vez na história, um governador do Partido Comunista do
Brasil (PCdoB). O Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) ganhou no
Paraná, no Mato Grosso do Sul, em São Paulo, em Goiás e no Pará. No balanço de
perdas e ganhos, o vermelho também leva ligeira vantagem: o PT perdeu o
Distrito Federal e o Rio Grande do Sul, mas ganhou o estratégico estado de
Minas Gerais, governado atualmente pelo PSDB. O fiel aliado tucano, o
Democratas (DEM), por sua vez, desapareceu do mapa de governadores.
O Partido do
Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), uma força ponderável no jogo político
nacional, fez sete governadores: Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Espírito
Santo, Sergipe, Alagoas, Tocantins e Rondônia. Já o Partido Socialista
Brasileiro (PSB), que se dividiu nos estados entre o vermelho e azul, fez três
(Distrito Federal, Pernambuco e Paraíba), seguido do PSD e do PDT, que venceram
em dois estados cada (Santa Catarina e Rio Grande do Norte, Mato Grosso e
Amapá, respectivamente). O Partido Republicado da Ordem Social (PROS) e o
Partido Popular (PP) elegeram um governador cada (Amazonas e Roraima,
respectivamente).
Deficiências
políticas
As forças de
esquerda ampliaram suas posições (o PT tinha cinco governadores e o PSDB elegeu
oito em 2010), mas é necessário assinalar que nos estratégicos estados de São
Paulo, Rio de Janeiro e Paraná os resultados foram pífios. Pode-se dizer que
concorreram para isso, basicamente, as dificuldades para se formar um campo de
centro-esquerda mais amplo; nos três estados, a disputa se deu com a presença
de fortes candidatos do PMDB. As campanhas das coligações de esquerda nesses
estados tiveram dificuldades para dialogar com camadas substanciais da
população, revelando contradições, deficiências políticas e debilidades
organizativas.
Durante a
campanha, os demais partidos oscilaram entre o vermelho e o azul. Os
governadores eleitos do PMDB (que fez parte da coligação presidencial liderada
pelo PT) no Rio Grande do Sul, José Ivo Sartori, e no Espírito Santo, Paulo
Hartung, assumiram a campanha do tucano Aécio Neves; já o candidato do PSB
(partido que em 2010 elegeu seis governadores e no segundo turno de 2014 apoiou
o candidato do PSDB) da Paraíba, Ricardo Coutinho, fez campanha para Dilma
Rousseff (os demais governadores do PSB eleitos, Paulo Câmara em Pernambuco e
Rodrigo Rollemberg no Distrito Federal, apoiaram o candidato tucano).
Forças
partidárias
No PDT, o
governador eleito do Amapá, Waldez Góes, apoiou Dilma Rousseff, enquanto Pedro
Taques, do Mato Grasso, optou por Aécio. Já a governadora eleita de Roraima,
Suely Campos (PP), se disse neutra — assim como José Melo, do Amazonas (PROS),
apesar do espaço aberto para Aécio em seu programa na TV e no rádio, atendendo
pedido do seu principal cabo eleitoral, o prefeito de Manaus, Artur Virgílio
Neto (PSDB). Essas posições indicam, na verdade, que o quadro partidário
brasileiro não contempla, em sua plenitude, a acentuada disparidade de
propostas que disputam a hegemonia do país, formando dois leques principais de
opções com polos antagônicos.
Para se
compreender as tendências reveladas nas eleições, portanto, precisa-se de uma
análise dos resultados obtidos pelas diversas forças partidárias. Ao
empreendê-la, porém, deve-se ter em conta as particularidades dos partidos e
não tomar cada sigla como expressão global e unitária de determinada posição
política. Muitas vezes eles são agrupamentos mais ou menos heterogêneos, sem
conteúdo programático definido, incluindo forças com interesses sociais e
políticos contraditórios, marcados por regionalismos e até pelo personalismo.
Como decorrência desses fatores, as alianças fechadas principalmente em torno
dos postos de governadores influíram para tornar o panorama extremamente
complexo.
Correntes
ideológicas
Nem sempre as
forças se cristalizaram suficientemente como propostas unitárias. Mas isso não
significa que as coligações nos estados inviabilizam esforços para a ampliação,
em âmbito nacional, do campo governista. As injunções partidárias, os
interesses pessoais e contradições secundárias muitas vezes dificultaram a
unificação de todas as correntes governistas em torno de candidaturas comuns.
Quando as forças progressistas se dividiram ficou evidente que a contradição
maior não apareceu claramente diante do eleitorado, impossibilitando que ele se
decidisse levando em conta o panorama nacional.
Em muitos
casos, questões regionais ou locais da competição, interesses personalistas,
alianças de conteúdo puramente utilitário e ausência de princípios
programáticos se sobrepuseram às visões das tendências fundamentais em disputa.
Em essência, porém, elas estavam presentes e se opunham sob as mais variadas
formas de combinações políticas. Disputas que aparentemente se deram em torno
de nomes ou de interesses de grupos, sem qualquer conteúdo ideológico ou sem
relação perceptível com os problemas nacionais, expressavam, no fundo, o
conflito fundamental — não é possível existir líderes ou grupos sem ligação
direta ou indireta, consciente ou inconscientemente, com as aspirações dos
interesses representados pelas grandes correntes ideológicas opostas.
Caminho viável
Seria
esquematismo, ou até mesmo ingenuidade, portanto, conceber algo alheio à
complexidade do fenômeno político brasileiro, à essência do acirramento da
disputa que varou o país de alto a baixo. A temperatura elevada da polêmica
nada mais é do que a tradução do crescimento da influência do pensamento
progressista brasileiro, que elevou-se à medida que o país gerou novas
demandas. As forças governistas, antes tidas como esperança, apareceram como
caminho viável para o desenvolvimento do país; os êxitos relativos dos
conservadores foram tendenciosamente exagerados pela mídia e maquiados por seus
representantes para apresentá-los como aprovação de suas propostas.
Examinados
mais de perto, eles em nada indicam uma inclinação da população brasileira para
a orientação direitista, traduzida na falácia midiática da divisão do país. A
campanha dos candidatos dessa coloração, feita à base de ódios e vaticínios
catastróficos, não ocultou a essência das aspirações por mais mudanças. O voto
desorientado, patrocinado pela sistemática e brutal campanha da mídia contra o
campo governista, foi o grande responsável por votações expressivas em
candidatos da direita em alguns estados — principalmente em São Paulo e no
Paraná —, favorecidos também pela dispersão das forças de centro-esquerda.
Caso omisso
A apreciação
objetiva dos resultados, portanto, desmente as análises capciosas que tentam
desqualificar os resultados do campo governista. O poder de atração das causas
sociais se manifestou com sua transformação em bandeira eleitoral também de
numerosos candidatos com notória coloração conservadora. Mascarados de adeptos
do progresso social, por saberem que se ousassem combatê-lo frontalmente seriam
fragorosamente derrotados, venderam para o eleitorado a ideia de que suas
aspirações independiam de princípios políticos e ideológicos. Nos estados em
que o campo governista se apresentou unido, ficou mais difícil para a direita
enganar os potenciais influenciados pela propaganda falaciosa da direita.
É preciso
constatar, ainda, que algumas campanhas não sensibilizaram grande parte do
eleitorado pela falta de vinculação entre as soluções gerais dos problemas
brasileiros e os interesses imediatos vitais do povo. Ficou demonstrado que o
campo governista não pode, em hipótese alguma, fazer caso omisso das condições
de vida das massas, não só porque o bem-estar é um dos requisitos essenciais
como também a participação popular é imprescindível para o desenvolvimento
econômico e social do país. Essa dinâmica política, nem sempre devidamente
compreendida, possibilitou ao conservadorismo capitalizar o descontentamento de
certos setores da população diante da ausência de soluções efetivas para as
dificuldades enfrentadas em serviços públicos essenciais.
Proteção do trabalho
No Vermelho www.vermelho.org.br
Sindicalistas e governo discutem emprego em tempo de crise
Sindicalistas e governo discutem emprego em tempo de crise
Representantes das
centrais sindicais estiveram, nesta terça-feira (25), no Ministério da Fazenda,
para apresentar uma alternativa que garanta a proteção ao emprego em tempos de
crise e evite, por exemplo, o layoff que, na prática, suspende o contrato de
trabalho sem demissão.
A alternativa apresentada pelas centrais sindicais é de que a medida
seja adotada a partir de um acordo entre os trabalhadores e os patrões. De
acordo com Vagner Freitas, presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT),
a proposta é baseada em práticas adotadas na Europa e não significa a alteração
na Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT).
“Não modifica nenhuma das leis existentes. Se for implementado, é mais (um) instrumento com as seguintes características: tem que ser opcional em concordância entre trabalhador e empregado, tem que ter um atestado de crise por parte do governo e ser aprovado em assembleia de trabalhadores”, explicou.
Outra preocupação das centrais sindicais é que durante o regime do layoff, como o contrato é suspenso temporariamente, o empregado perde no futuro por deixar de contribuir, principalmente, com a Previdência Social. Isso acarreta em consequências ao cálculo do tempo de serviço e da aposentadoria. “Não queremos reinventar a roda. Queremos aperfeiçoar de modo que os trabalhadores sejam menos prejudicados”, destacou Freitas.
Os sindicalistas, que estiveram com o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Márcio Holland, criticaram as desonerações implementadas pelo governo para que as empresas enfrentassem a crise, iniciada em 2008.
Para eles, as medidas não trouxeram ganhos para o país e para os empregados. “Inclusive, setores que tiveram acesso as desonerações demitiram mão de obra. Quando se fala em desoneração temos que ter cuidado com relação a isso”, frisou Freitas.
Participaram do encontro, além da CUT, a União Geral dos Trabalhadores (UGT), Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) , a Nova Central e a Força Sindical. Uma nova reunião deverá acontecer em Brasília, na próxima semana, para discutir o assunto.
Da Redação em Brasília
Com Agência Brasil
“Não modifica nenhuma das leis existentes. Se for implementado, é mais (um) instrumento com as seguintes características: tem que ser opcional em concordância entre trabalhador e empregado, tem que ter um atestado de crise por parte do governo e ser aprovado em assembleia de trabalhadores”, explicou.
Outra preocupação das centrais sindicais é que durante o regime do layoff, como o contrato é suspenso temporariamente, o empregado perde no futuro por deixar de contribuir, principalmente, com a Previdência Social. Isso acarreta em consequências ao cálculo do tempo de serviço e da aposentadoria. “Não queremos reinventar a roda. Queremos aperfeiçoar de modo que os trabalhadores sejam menos prejudicados”, destacou Freitas.
Os sindicalistas, que estiveram com o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Márcio Holland, criticaram as desonerações implementadas pelo governo para que as empresas enfrentassem a crise, iniciada em 2008.
Para eles, as medidas não trouxeram ganhos para o país e para os empregados. “Inclusive, setores que tiveram acesso as desonerações demitiram mão de obra. Quando se fala em desoneração temos que ter cuidado com relação a isso”, frisou Freitas.
Participaram do encontro, além da CUT, a União Geral dos Trabalhadores (UGT), Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) , a Nova Central e a Força Sindical. Uma nova reunião deverá acontecer em Brasília, na próxima semana, para discutir o assunto.
Da Redação em Brasília
Com Agência Brasil
Corrução em debate
Nossa
"roda de conversa" de ontem ensejou excelente debate - a mais
participativo de todas - acerca da corrupção em geral e, em particular,
da corrupção institucional. Percorremos desde os pequenos deslizes
costumeiros na vida cotidiana, que ferem a ética, até os casos de grande
repercussão nacional. As instituições devem ser fortalecidas através de
ajustes que as habilitem a fiscalizar e a punir os
corruptos, porém será essencial - no caso da corrupção institucional -
ir além dos dispositivos punitivos adotados pelo governo Dilma (que tem
avançado muito nesta matéria), agindo no sentido da prevenção. Para
tanto, a realização da reforma política democrática, na linha proposta
pela OAB e a CNBB e mais de 90 entidades da sociedade civil, que tem
como um dos pilares a extinção do financiamento de campanhas eleitorais
por empresas, mostra-se essencial e urgente. Com um Congresso Nacional
de maioria conservadora, impõe-se a necessidade da pressão popular em
favor dessa reforma. O lançamento da Campanha pela Reforma Política dia 3
próximo, às 10 horas, no auditório da OAB (Rua do Imperador, Recife)
surge como atual ponto de partida dessa luta em Pernambuco.
Cai desigualdades entre Regiões Metropolitanas
A desigualdade entre as regiões
metropolitanas do país caiu entre 2000 e 2010, de acordo com relatório lançado
nesta terça-feira pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud)
– leio no Valor Econômico. Todas as regiões metropolitanas pesquisadas
apresentam alto desenvolvimento humano. Além disso, a pesquisa mostrou que,
“embora as disparidades ainda sejam marcantes no Brasil, elas estão diminuindo,
tanto entre as próprias regiões metropolitanas [...] quanto no âmbito
intramunicipal”. Leia mais http://migre.me/n6OaB
O poeta exalta os que lutam sempre
Foto: Blog de Ação Cultural
Aos que cuidam das bandeiras
Marcelo Mário de Melo
Há
aqueles que levantam uma bandeira
e
prosseguem.
Aqueles
que afrouxam as mãos
e
abandonam as bandeiras no caminho.
Aqueles
que rasgam queimam
renegam
bandeiras e se recolhem.
Aqueles
que se bandeiam
e
passam a defender
bandeiras
contrárias.
Aqueles
que refletem
e
escolhem bandeiras melhores.
Aqueles
que encerram as bandeiras
em
gavetas vitrines e altares.
Aqueles
que colocam as bandeiras à venda.
É
triste ver bandeiras abandonadas
vendidas
ou sacralizadas no céu distante.
As
bandeiras não são entidades
para
comércio adoração e arquivo
Expostas
ao vento e ao tempo
as
bandeiras são coisas simples da vida
exigem
cuidado:
como
uma casa
uma
roupa
um
filho
uma
flor.
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A vida do jeito que é
Na prisão
Era conduzido pela mãe, cuja palidez, inda que doentia, tinha traços de resignação por nunca descrer nas chances de melhora graças aos milagres de padre Cícero. O sol tinia na cabeça dos ralos transeuntes. Nenhuma queixa, nem mesmo dos troncos gretados de estrias das algarobeiras no quadrilátero acanhado da praça
Não deu tempo Adolfo Boiares presumir-se no juízo sobre a mãe e o filho penitentes. Antes de ajuizá-los incapazes de segurar uma carabina para assegurar a posse de um punhado de terras para o plantio, foi agarrado por três homens. Negou sem resistência, ser Adolfo Boiares. Quando ia ser solto, apareceu um outro, por certo o chefe.
- Esperem.
Boiares foi agarrado outra vez. O quarto homem tirou do bolso um retrato. Pôs a mão no rosto de Boiares, cobrindo o seu bigode.
- É ele mesmo. Ponham-no na camionete!
Há dois anos, Adolfo Boiares se pusera à frente de uma marcha de estudantes, para resistir à cassação de quarenta alunos do curso de medicina da Universidade Federal de Pernambuco. A adesão à resistência se dera sem cálculos de perigos, de riscos. Usava uma camisa xadrez, em tons marrons e pretos.
Agora, preso pelos quatro homens, negando a identidade real, viu-se pisoteado no chão de borracha dura da camionete. A camisa, que resistira sem desbote ou manchas à reverberação do calor, do sol, foi forçoso enxergar que havia pouca diferença entre o algodão roto e o piso de borracha da camionete, com o bodum dos pés daqueles homens. Pés com solados marcados pela escolha de pisões cegos, duros.
- Tire a roupa! - ordenou o mesmo homem que o identificara pelo retrato.
Como tirar a roupa!? - pensou Boiares. Tirar a roupa seria o primeiro indício de capitulação.
Àquela altura, o preso tinha o rosto encapuzado.
- Confesse que você é Adolfo Boiares!
O silêncio foi seguido pelo bofetão no rosto. Os pontapés vieram em seguida. Logo viu-se sem roupas, pendurado no pau de arara. Os choques elétricos, nos testículos, além da dor, percorriam todo o corpo, infundindo a convicção de que toda a bolsa dos escrotos convertera-se num tição fumacento. Não abriu a boca para gritar. Da última vez que gritara, fizera-se ouvir rouco, cavernoso, do modo como previra o fim da ditadura. Mas berrara contra as cassações dos estudantes. A rouquidão da voz, inda que rompendo as cordas da garganta, davam conta da insanidade dos milicos que queriam pôr fim a seu fôlego. Não gritou. A boca ficou uma pasta de sangue, sem se mover por causa dos cortes dos próprios dentes jungidos pelos socos.
Os polícias encontraram no bolso de Adolfo Boiares, uma nota fiscal com seu endereço. Numa cidade próxima a Juazeiro, Jati, Jaciara Boiares, sua mulher, foi presa. Conduzida na mesma camionete que levara o marido.
- Cheire o piso que seu marido pisou - disse o polícia com os pés no rosto dela.
Na véspera, os dois tinham combinado que, se presos fossem, teriam os ossos triturados mas não se identificariam como marido e mulher. Trazidos para o Recife, submetidos a novas torturas, Boiares reconheceu os gritos de Jaciara sob os choques.
Tiraram-no da cela, viu Jaciara Boiares sentada com os mamilos e os pés presos aos fios elétricos.
- Você é ou não é Adolfo Boiares? - insistiram.
A estatura pequena da mulher, com os cabelos em desalinho cobrindo seu rosto redondo; tudo nela, sobretudo o nariz pequeno, ressonava a um cheiro acerbo de quem se tornara refém de répteis que se refestelam de babugem. Dar as costas à pequena Jaciara Boiares, tão ou mais miúda do que quando a pusera no regaço para enxergar no sonho carregado de promessas, a revolução que nunca traíram...?
- Sim, eu sou Adolfo Boiares.
Marco Albertim, no Vermelho
O sol no Cariri purga o
penitente de suas culpas. Adolfo Boiares não tinha culpas, mas observou com
cismas purgativas o menino trajando batina de padre; tão escura a seda viscosa,
misturando-se à cor terrosa do rosto, aos pés nus no chão de terra batida da
praça com meia dúzia de bancos.
Era conduzido pela mãe, cuja palidez, inda que doentia, tinha traços de resignação por nunca descrer nas chances de melhora graças aos milagres de padre Cícero. O sol tinia na cabeça dos ralos transeuntes. Nenhuma queixa, nem mesmo dos troncos gretados de estrias das algarobeiras no quadrilátero acanhado da praça
Não deu tempo Adolfo Boiares presumir-se no juízo sobre a mãe e o filho penitentes. Antes de ajuizá-los incapazes de segurar uma carabina para assegurar a posse de um punhado de terras para o plantio, foi agarrado por três homens. Negou sem resistência, ser Adolfo Boiares. Quando ia ser solto, apareceu um outro, por certo o chefe.
- Esperem.
Boiares foi agarrado outra vez. O quarto homem tirou do bolso um retrato. Pôs a mão no rosto de Boiares, cobrindo o seu bigode.
- É ele mesmo. Ponham-no na camionete!
Há dois anos, Adolfo Boiares se pusera à frente de uma marcha de estudantes, para resistir à cassação de quarenta alunos do curso de medicina da Universidade Federal de Pernambuco. A adesão à resistência se dera sem cálculos de perigos, de riscos. Usava uma camisa xadrez, em tons marrons e pretos.
Agora, preso pelos quatro homens, negando a identidade real, viu-se pisoteado no chão de borracha dura da camionete. A camisa, que resistira sem desbote ou manchas à reverberação do calor, do sol, foi forçoso enxergar que havia pouca diferença entre o algodão roto e o piso de borracha da camionete, com o bodum dos pés daqueles homens. Pés com solados marcados pela escolha de pisões cegos, duros.
- Tire a roupa! - ordenou o mesmo homem que o identificara pelo retrato.
Como tirar a roupa!? - pensou Boiares. Tirar a roupa seria o primeiro indício de capitulação.
Àquela altura, o preso tinha o rosto encapuzado.
- Confesse que você é Adolfo Boiares!
O silêncio foi seguido pelo bofetão no rosto. Os pontapés vieram em seguida. Logo viu-se sem roupas, pendurado no pau de arara. Os choques elétricos, nos testículos, além da dor, percorriam todo o corpo, infundindo a convicção de que toda a bolsa dos escrotos convertera-se num tição fumacento. Não abriu a boca para gritar. Da última vez que gritara, fizera-se ouvir rouco, cavernoso, do modo como previra o fim da ditadura. Mas berrara contra as cassações dos estudantes. A rouquidão da voz, inda que rompendo as cordas da garganta, davam conta da insanidade dos milicos que queriam pôr fim a seu fôlego. Não gritou. A boca ficou uma pasta de sangue, sem se mover por causa dos cortes dos próprios dentes jungidos pelos socos.
Os polícias encontraram no bolso de Adolfo Boiares, uma nota fiscal com seu endereço. Numa cidade próxima a Juazeiro, Jati, Jaciara Boiares, sua mulher, foi presa. Conduzida na mesma camionete que levara o marido.
- Cheire o piso que seu marido pisou - disse o polícia com os pés no rosto dela.
Na véspera, os dois tinham combinado que, se presos fossem, teriam os ossos triturados mas não se identificariam como marido e mulher. Trazidos para o Recife, submetidos a novas torturas, Boiares reconheceu os gritos de Jaciara sob os choques.
Tiraram-no da cela, viu Jaciara Boiares sentada com os mamilos e os pés presos aos fios elétricos.
- Você é ou não é Adolfo Boiares? - insistiram.
A estatura pequena da mulher, com os cabelos em desalinho cobrindo seu rosto redondo; tudo nela, sobretudo o nariz pequeno, ressonava a um cheiro acerbo de quem se tornara refém de répteis que se refestelam de babugem. Dar as costas à pequena Jaciara Boiares, tão ou mais miúda do que quando a pusera no regaço para enxergar no sonho carregado de promessas, a revolução que nunca traíram...?
- Sim, eu sou Adolfo Boiares.
Combate à violência contra a mulher
Em
comemoração ao movimento internacional de 16 dias de ativismo pelo fim da
violência contra a mulher, a Prefeitura do Recife, por meio da Secretaria da
Mulher lança a campanha “Ser feliz. Eu vou. É meu direito.”. A apresentação
será nesta terça-feira, às 14h, no auditório do Banco Central, na Rua da
Aurora, no bairro de Santo Amaro. A iniciativa visa combater o feminicídio no
Recife, além de incentivar a denúncia dos crimes, através do Liga, Mulher,
telefone do Centro de Referência Clarice Lispector, equipamento municipal
especializado no acolhimento e orientação de mulheres em situação de violência
doméstica e/ou sexista. A ligação é gratuita e o serviço funciona de domingo a
domingo, das 7h às 19h. Leia mais http://migre.me/n6a2p
(Foto: Jornal do Dia)
A palavra de Humberto
Divulgo como ato de
solidariedade e de confiança total e irrestrita no amigo senador Humberto
Costa:
NOTA DE ESCLARECIMENTO
NOTA DE ESCLARECIMENTO
Em
relação à publicação do jornal o Estado de São Paulo deste domingo que relata
supostas acusações do Sr. Paulo Roberto Costa dirigidas a mim em delação
premiada, afirmo que:
1. Todas as doações de campanha que recebi na minha candidatura ao senado em 2010 foram feitas de forma legal, transparente, devidamente declaradas e registradas em minha prestação de contas à justiça eleitoral e inteiramente aprovadas, estando disponíveis a quem queira acessá-las;
2. Assim, nego veementemente ter pedido a quem quer que seja que solicitasse qualquer doação de campanha ao Sr. Paulo Roberto;
3. Tal denúncia padece de consistência quando afirma que a suposta doação à campanha teria sido determinada pelo Partido Progressista (PP) por não haver qualquer razão que justificasse o apoio financeiro de outro partido à minha campanha;
4. Mais inverossímil ainda é a versão de que se o Sr. Paulo Roberto não tivesse autorizado tal doação, correria o risco de ser demitido, como se eu, à época sem mandato e tão somente candidato a uma vaga ao Senado, tivesse poder de causar a demissão de um diretor da Petrobrás;
5. Causa espécie o fato de que ao afirmar a existência de tal doação, o Sr. Paulo Roberto não apresente qualquer prova, não sabendo dizer a origem do dinheiro, quem fez a doação, de que maneira e quem teria recebido;
6. Conheci o Sr. Paulo Roberto em 2004 e minha relação com ele se deu no campo institucional, no processo de implantação da refinaria de petróleo em Pernambuco, do qual participei assim como vários políticos, empresários e representantes de outros segmentos da sociedade pernambucana o fizeram;
7. Conheço e sou amigo de infância do Sr. Mário Beltrão, presidente da Associação das Empresas do Estado de Pernambuco (ASSINPRA), que também foi partícipe da mesma luta pela refinaria. Porém, em nenhum momento eu o pedi e ele muito menos exerceu o papel de solicitar recursos ao Sr. Paulo Roberto para a campanha ao Senado de 2010.
8. Tenho uma vida pública pautada pela honradez e seriedade, não respondendo a qualquer ação criminal, civil ou administrativa por atos realizados ao longo de minha vida pública;
9. Sou defensor da apuração de todas as denúncias que envolvam a Petrobrás ou qualquer outro órgão do Governo. Porém, entendo que isso deve ser feito com o cuidado de não macular a honra e a dignidade de pessoas idôneas. O fato de o Sr. Paulo Roberto estar incluído em um processo de delação premiada não dá a todas as suas denúncias o condão de expressar a realidade dos fatos.
10. Aguardo com absoluta tranquilidade o pronunciamento da Procuradoria-Geral da República sobre o teor de tais afirmações, ocasião em que serão inteiramente desqualificadas. Quando então, tomarei as medidas cabíveis.
11. Informo ainda que me coloco inteiramente à disposição de todos os órgãos de investigação afetos a esse caso para quaisquer esclarecimentos e, antecipadamente, disponibilizo a abertura dos meus sigilos bancário, fiscal e telefônico.
Recife, 22 de novembro de 2014,
Humberto Costa
Senador da República
1. Todas as doações de campanha que recebi na minha candidatura ao senado em 2010 foram feitas de forma legal, transparente, devidamente declaradas e registradas em minha prestação de contas à justiça eleitoral e inteiramente aprovadas, estando disponíveis a quem queira acessá-las;
2. Assim, nego veementemente ter pedido a quem quer que seja que solicitasse qualquer doação de campanha ao Sr. Paulo Roberto;
3. Tal denúncia padece de consistência quando afirma que a suposta doação à campanha teria sido determinada pelo Partido Progressista (PP) por não haver qualquer razão que justificasse o apoio financeiro de outro partido à minha campanha;
4. Mais inverossímil ainda é a versão de que se o Sr. Paulo Roberto não tivesse autorizado tal doação, correria o risco de ser demitido, como se eu, à época sem mandato e tão somente candidato a uma vaga ao Senado, tivesse poder de causar a demissão de um diretor da Petrobrás;
5. Causa espécie o fato de que ao afirmar a existência de tal doação, o Sr. Paulo Roberto não apresente qualquer prova, não sabendo dizer a origem do dinheiro, quem fez a doação, de que maneira e quem teria recebido;
6. Conheci o Sr. Paulo Roberto em 2004 e minha relação com ele se deu no campo institucional, no processo de implantação da refinaria de petróleo em Pernambuco, do qual participei assim como vários políticos, empresários e representantes de outros segmentos da sociedade pernambucana o fizeram;
7. Conheço e sou amigo de infância do Sr. Mário Beltrão, presidente da Associação das Empresas do Estado de Pernambuco (ASSINPRA), que também foi partícipe da mesma luta pela refinaria. Porém, em nenhum momento eu o pedi e ele muito menos exerceu o papel de solicitar recursos ao Sr. Paulo Roberto para a campanha ao Senado de 2010.
8. Tenho uma vida pública pautada pela honradez e seriedade, não respondendo a qualquer ação criminal, civil ou administrativa por atos realizados ao longo de minha vida pública;
9. Sou defensor da apuração de todas as denúncias que envolvam a Petrobrás ou qualquer outro órgão do Governo. Porém, entendo que isso deve ser feito com o cuidado de não macular a honra e a dignidade de pessoas idôneas. O fato de o Sr. Paulo Roberto estar incluído em um processo de delação premiada não dá a todas as suas denúncias o condão de expressar a realidade dos fatos.
10. Aguardo com absoluta tranquilidade o pronunciamento da Procuradoria-Geral da República sobre o teor de tais afirmações, ocasião em que serão inteiramente desqualificadas. Quando então, tomarei as medidas cabíveis.
11. Informo ainda que me coloco inteiramente à disposição de todos os órgãos de investigação afetos a esse caso para quaisquer esclarecimentos e, antecipadamente, disponibilizo a abertura dos meus sigilos bancário, fiscal e telefônico.
Recife, 22 de novembro de 2014,
Humberto Costa
Senador da República
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24 novembro 2014
Núcleo avançado
Oportuna a proposta do governador do Ceará, Cid Gomes, de constituição de uma frente de esquerda em apoio ao governo Dilma. Pode significar um núcleo mais avançado de uma necessária coalizão bem mais ampla e diversificada que a presidente haverá de construir no Parlamento e na sociedade, para assegurar as condições políticas de superar as contra-pressões da oposição golpista e cumprir os compromissos de campanha, avançando mais ainda nas mudanças em favor do povo.
O poeta canta a saudade
Soneto oco
Neste papel levanta-se um soneto,
de lembranças antigas sustentado,
pássaro de museu, bicho empalhado,
madeira apodrecida de coreto.
De tempo e tempo e tempo alimentado,
sendo em fraco metal, agora é preto.
E talvez seja apenas um soneto
de si mesmo nascido e organizado.
Mas ninguém o verá? Ninguém. Nem eu,
pois não sei como foi arquitetado
e nem me lembro quando apareceu.
Lembranças são lembranças, mesmo pobres,
olha pois este jogo de exilado
e vê se entre as lembranças te descobres.
Carlos Pena Filho
Neste papel levanta-se um soneto,
de lembranças antigas sustentado,
pássaro de museu, bicho empalhado,
madeira apodrecida de coreto.
De tempo e tempo e tempo alimentado,
sendo em fraco metal, agora é preto.
E talvez seja apenas um soneto
de si mesmo nascido e organizado.
Mas ninguém o verá? Ninguém. Nem eu,
pois não sei como foi arquitetado
e nem me lembro quando apareceu.
Lembranças são lembranças, mesmo pobres,
olha pois este jogo de exilado
e vê se entre as lembranças te descobres.
(Foto: LS)
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Armando & Paulo
Armando Monteiro ministro, Paulo Câmara governador: bom para
Pernambuco. Só se pode esperar que ambos não tenham desmontado seus palanques
de campanha e agora dêem o melhor de si no cumprimento de suas novas
responsabilidades. Têm estatura para tanto.
Amadorismo de quem, cara pálida?
E ainda há quem “acuse” a presidenta Dilma de “amadorismo”
por não ter anunciado ainda a equipe econômica do novo governo! Como se o
assunto fosse que nem escalar um time de futebol antes de começar o campeonato,
e o técnico considerado “amador” por não precipitar suas decisões. Piada de fim
de ano, só pode ser.
Pressão vã
Hoje cedo, na Globo News, três repórteres comentavam, entre a ironia e a presunção, a suposta lentidão (sic) da presidenta Dilma na montagem da equipe do seu segundo governo, que se iniciará apenas em janeiro. Mais: diziam ser um "risco" - vejam só! - ela continuar exercendo influência determinante sobre a condução da economia. Ou seja: para eles, a presidenta preside tudo, menos a economia, que deve seguir os ditames da oligarquia financeira. Mas Dilma não se dobrará a pressões da oposição midiática.
23 novembro 2014
Ardiloso caminho da entrega
Wellington Virgolino
Estratégia e tática
Mario Benedetti
Minha tática é olhar-te
aprender como és
querer-te como sois
minha tática é
falar-te e escutar-te
construir com palavras
um poente indestrutível
minha tática é
permanecer em tua recordação
não sei como
nem sei com que pretexto
porém ficar-me em vós
minha tática é
ser franco
e saber que sois franca
e que não nos vendamos
com mentiras
para que entre os dois
não haja cortinas
nem abismos
minha estratégia é
por outro lado
mais profundo e mais
simples
minha estratégia é
que um dia qualquer
nem sei como
nem sei com que pretexto
para que fim me necessites.
Minha tática é olhar-te
aprender como és
querer-te como sois
minha tática é
falar-te e escutar-te
construir com palavras
um poente indestrutível
minha tática é
permanecer em tua recordação
não sei como
nem sei com que pretexto
porém ficar-me em vós
minha tática é
ser franco
e saber que sois franca
e que não nos vendamos
com mentiras
para que entre os dois
não haja cortinas
nem abismos
minha estratégia é
por outro lado
mais profundo e mais
simples
minha estratégia é
que um dia qualquer
nem sei como
nem sei com que pretexto
para que fim me necessites.
Capoeira, patrimônio mundial
Dança, luta e símbolo de resistência, a capoeira de roda deverá ser reconhecida como Patrimônio Cultural da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Na semana que vem, em Paris, o Comitê Intergovernamental para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural e Imaterial da Unesco anuncia sua decisão. Foram feitos 46 pedidos de registro pelos Estados-Membros, sendo que 32 foram recomendados pelo órgão técnico do comitê, entre os quais está o da capoeira – o único apresentado pelo Brasil e um dos três bens da América Latina na lista. Com o reconhecimento, a capoeira de roda se iguala ao Cristo Redentor como patrimônio da humanidade. (Fonte: Agência Brasil).
Para o lixo
A revista Veja - de há muito convertida em panfleto ultradireitista - insiste em seus propósitos golpistas. Afronta o bom senso e o sentimento democrático dos brasileiros que, através do voto, reelegeram a presidenta Dilma. Não demorará muito irá para o depósito de lixo da História.
Mais médicos aprovado
Pesquisa divulgada no final de outubro, realizada pela Universidade Federal de Minas Gerais ouviu 4 mil usuários do Mais Médicos em 200 cidades do país.
Cerca de 95% dos entrevistados declararam-se muito satisfeitos ou satisfeitos com uma iniciativa condenada por amplos segmentos da classe médica brasileira.
Notas de 8 a 10 foram dadas ao programa por 87% dos entrevistados.
Mas, sobretudo, os usuários elogiaram o comportamento mais atencioso dos médicos.
Mais interessados em ouvir e habituados a dialogar revelaram-se mais competentes em diagnosticar e tratar.
Médicos cubanos representam 80% do alvo desse elogio.
Por quê? Porque apenas 1.846 brasileiros se inscreveram no programa.
Se dependesse da adesão local, 45 milhões de cidadãos continuariam apartados da assistência no país.
Fonte: Carta Maior
Cerca de 95% dos entrevistados declararam-se muito satisfeitos ou satisfeitos com uma iniciativa condenada por amplos segmentos da classe médica brasileira.
Notas de 8 a 10 foram dadas ao programa por 87% dos entrevistados.
Mas, sobretudo, os usuários elogiaram o comportamento mais atencioso dos médicos.
Mais interessados em ouvir e habituados a dialogar revelaram-se mais competentes em diagnosticar e tratar.
Médicos cubanos representam 80% do alvo desse elogio.
Por quê? Porque apenas 1.846 brasileiros se inscreveram no programa.
Se dependesse da adesão local, 45 milhões de cidadãos continuariam apartados da assistência no país.
Fonte: Carta Maior