30 novembro 2014

Menos ruim?

Azul compra 35 aviões A320neo, a nova geração do jato de um corredor da Airbus e entra na concorrência direta com a TAM e a Gol. Tomara que ajude no tratamento aos usuários, que em geral é ruim.

Mais uma

Torcendo hoje pela terceira vitória consecutiva do povo no Uruguai, com Tabaré Vázquez, da Frente Ampla, na presidência da República. 

O poeta canta a liberdade de amar

Edgar Degas
As sem-razões do amor
Carlos Drummond de Andrade

Eu te amo porque te amo,
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.

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Resgate histórico

Queda do muro virou mito de vencedores
Breno Altman, no portal da Fundação Maurício Grabois

O noticiário internacional está marcado, nos últimos dias, pelas festividades comemorativas dos 25 anos da queda do Muro de Berlim. A maioria da imprensa celebra o evento com galhardia.
Trata-se, afinal, do símbolo mais emblemático da derrocada do socialismo e da possibilidade histórica de qualquer sistema distinto do capitalismo triunfante.
A conjugação de uma incrível máquina de propaganda com o complexo de vira-lata comum aos perdedores foi capaz de atrair para essa comemoração amplos setores progressistas e de esquerda, que simplesmente mandaram às favas qualquer espírito crítico.
Alguns porque honestamente concordam com a retórica sobre o muro maligno. Outros porque temem ser apontados como antidemocráticos e fora de moda.
A submissão intelectual chega ao ponto de não se questionar sequer a legitimidade dos grandes agitadores contra a obra do mal.
Onde está, afinal, a autoridade dos Estados Unidos e seus meios de comunicação?
No muro da morte que separa seu território dos aliados mexicanos, matando por ano os oitenta caídos durante três décadas na Berlim dividida?
Na base de Guantánamo, onde centenas de muçulmanos estão presos sem o devido processo legal e são sistematicamente torturados?
Ou teria a Europa ocidental mais credibilidade, com sua política discriminatória contra os imigrantes?
Ou ainda Israel, pródigo em adotar práticas de pogrom contra os palestinos e expeditivos em construir sua própria muralha de isolamento dos territórios ocupados?
A lista de participantes desse festim é bastante longa, vários com muitas contas a acertar, e de cada qual deveria ser solicitado o devido atestado de idoneidade.
Não é o caso, obviamente, de se justificar um pecado com outro, mas evitar comportamentos cuja índole é hipócrita.
Vamos aos fatos, portanto.
O Muro de Berlim costuma ser apresentado, pelos campeões da liberdade, como produto de um sistema político tirânico, cuja natureza seria a divisão dos povos e sua subordinação ao tacape de uma ideologia totalitária.
Quando terminou a 2ª Guerra Mundial, a Alemanha foi dividida em quatro zonas de influência, entre norte-americanos, ingleses, franceses e soviéticos.
A capital histórica, Berlim, pertencente ao território controlado pelo Exército Vermelho, acabou igualmente repartida em áreas controladas pelos países vitoriosos.
Quem se der ao trabalho de ler as atas das conferências de Ialta, Potsdam e Teerã, se dará conta que Moscou era contrário a essa divisão.
Sua proposta era dotar a Alemanha de um governo provisório, sem divisão do território, que organizasse em dois anos um processo eleitoral nacional.
Os demais aliados, temerosos que o país caísse nas mãos dos comunistas, exigiram o modelo adotado.
A União Soviética acatou, depois que viu garantido seu direito de hegemonia sobre os demais países fronteiriços, além de preservado seu controle militar sobre a antiga Prússia Oriental.
Em nome de sua política de segurança e da manutenção da aliança que derrotou o nazismo, abdicou de parte da sua influência na porção ocidental da Alemanha e do antigo Império Austro-Húngaro, apesar de os comunistas já serem maioria na Áustria.
Outro compromisso que constava da agenda pós-guerra era a constituição de um fundo mundial para a reconstrução europeia.
O papel principal, nesse trâmite, cabia aos Estados Unidos, a potência que menos havia sofrido com o esforço de combate, cuja economia havia sido vitaminada pelo conflito e dispunha de imensos recursos financeiros.
Mas a vitória eleitoral dos comunistas na então Tchecoslováquia, seguida de resultados espetaculares na Itália e França, em 1946, provocou uma reviravolta.
A Casa Branca decidiu-se por quebrar o pacto da reconstrução e inundar de financiamento apenas sua área de influência, dando origem ao Plano Marshall, em 1947. Cerca de 140 bilhões de dólares, em valores atualizados, foram injetados no ocidente europeu.
Tinha início a chamada Guerra Fria, antecipada, em março de 1946, pelo famoso discurso de Winston Churchill em Fulton.
A União Soviética, que havia arcado com um incalculável custo humano e material ao ser o grande vetor da vitória contra Hitler, passou a enfrentar uma outra guerra, financeira e de sabotagem, contra suas posições. Especialmente na Alemanha Oriental, constituída em 1949 como República Democrática da Alemanha.
A estratégia norte-americana era roubar os melhores profissionais alemães, atrai-los a peso de ouro a partir de sua cabeça-de-ponte em Berlim Ocidental, que recebia aportes formidáveis para ser exibida como vitrine esplendorosa da pujança capitalista.
A fuga de cérebros e braços asfixiava a jovem RDA, que pouco podia contar com a ajuda material soviética, pois estava o Kremlin às voltas com o dificílimo reerguimento do próprio país.
Foram mais de 12 anos em uma batalha árdua e desigual.
A URSS tinha quebrado a máquina de guerra do nazismo, retesando cada músculo e cada nervo da nação, e se via diante de uma situação que poderia levar à desestabilização de suas fronteiras, exatamente a aposta maior da Casa Branca.
Essa escalada teve seu desfecho no dia 13 de agosto de 1961, data inaugural do Muro de Berlim.
O fluxo entre os dois países e as duas áreas da antiga capital foi militarmente interrompido, obstaculizado por uma construção que chegou a ter 66,5 km de redeamento metálico e murado.
Famílias e amigos foram separados por quase 30 anos.
Aprofundou-se a fratura entre ocidente e oriente na Europa.
Uma nação histórica foi dividida. Oitenta pessoas morreram e 142 ficaram feridas ao tentar ultrapassar o muro, finalmente derrubado em 1989.
Sua construção foi um ato de guerra, mas de caráter defensivo. As hostilidades e operações de sabotagem, que impediram a permanência de uma Alemanha unida e a coexistência pacífica de dois sistemas, foram iniciadas pelas potências que romperam o acordo de paz, impondo ao leste europeu e socialista, com sua economia ferida pela guerra, um longo estado de exceção.
Claro, havia outras alternativas.
A URSS e seus aliados poderiam, por exemplo, ter capitulado de antemão à ideia de desenvolver outro sistema de produção e poder, pois era essa tentativa dissidente o motivo da Guerra Fria. Afinal, não foi assim que tudo terminou, lá se vão 25 anos?
Mas com seus erros e seus acertos, suas glórias e seus desastres, seus feitos e até seus crimes, o socialismo foi, durante gerações, a bandeira e o sonho de povos que aceitaram pagar com sacrifício, dor e sangue por um outro mundo possível.
Teria sido impensável, se assim não fosse, a extraordinária vitória na guerra de trinta anos que vai da Revolução Russa à caída de Berlim nas mãos do Exército Vermelho, em 1945.
O muro de Berlim talvez tenha sido a criatura disforme de um processo no qual seus protagonistas tiveram que enfrentar circunstâncias e teatros de batalha escolhidos, no fundamental, por inimigos poderosos.
De certo modo foi, durante décadas, marco de resistência e de equilíbrio entre dois sistemas. Caiu quando a força propulsora de um dos lados já tinha se esgotado.
O resto é a mitologia dos vencedores.
Observação: este texto é uma adaptação, com poucas alterações, de artigo que escrevi há cinco anos. Também foram poucas as mudanças na narrativa tendenciosa e falsificada dos fenômenos históricos que precederam a queda do Muro de Berlim.

Publicado em Opera Mundi

Pluralidade

No início do primeiro governo Lula, escrevi um artigo - O vermelho é verde-amarelo -, que deu título ao meu primeiro livro publicado pela Editora Anita Garibaldi, sublinhando que o presidente não deveria ser “do PT”, mas de todos os brasileiros. Vale para o segundo governo da presidenta Dilma, que há de ser, sim, de ampla coalizão, da qual obviamente o PT participa com destaque. Sem prejuízo da pluralidade, que deve corresponder ao alargamento de sua base de sustentação parlamentar e social.

29 novembro 2014

Fantasia

Tem "analista" garantindo (sic) que a assunção de Nelson Levy ao ministério da Fazenda inibirá o PSDB em sua sanha oposicionista... porque o novo ministro adotaria fundamentos do pensamento tucano sobre o rumo de nossa economia. Ledo engano. Nem o PSDB dará tréguas ao governo, nem a presidenta Dilma soltará as rédeas, como deseja o tal "mercado" (ou seja, a oligarquia financeira).

O sentido das palavras

Almeida Junior
Meus versos são meu sonho dado

Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor
Se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu
Tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor,
Se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca
Escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas…
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Palavra do PCdoB

Renato: "Nós renovamos o apoio a Dilma na garantia do emprego e renda"
O presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo, no seu programa de rádio Palavra do Presidente, desta sexta-feira (28), avaliou o cenário político diante do anúncio da nova equipe econômica da presidenta Dilma Rousseff e ressaltou a importância da confiança e apoio mútuo ao novo mandato. Para ele, é preciso compreender “o quadro da realidade de cada momento. A presidenta tem que enfrentar no terreno político e econômico uma série de obstáculos. Um novo governo depende dessa reorganização”. Leia mais http://migre.me/natcr

Sinais positivos

Em ambiente de pessimismo alimentado diariamente pela grande mídia e pelo chamado “mercado”, e ainda sob a pressão da crise global, há que de valorizar o aumento de 0,1% do PIB no terceiro trimestre deste ano, ainda que muito modesto, e a expansão de 1,7% da indústria e de 1,3% dos investimentos.

Super-homem?

Por que tratar o novo ministro da Fazenda de “super-herói”? Coisa de quem pensa em “pacotes” (frustrados) de antigamente e numa inexistente falta de pulso da presidenta Dilma. Entra para o rol das bobagens de fim de ano.

28 novembro 2014

Uma crônica para descontrair

Vicente Romero
Quando dezembro passar
Luciano Siqueira

Dessas conversas que a gente ouve no elevador quase sem querer, no breve transcurso da garagem ao sétimo andar da Prefeitura:
- Ah! Dezembro é o mês que mais gosto.
- Pra mim é horrível.
- Por que, menina?
- Porque é só tristeza.
- Tristeza!? Diga isso não, que coisa! É Natal, minha filha, a gente sonha com todas as coisas boas que deseja pro ano que vem.
- Esse é o meu problema. Já não tenho mais com que sonhar.
Deu apenas para ver de relance que a pessimista tinha feições joviais, bonita nos seus prováveis quarenta anos, mas de olhar triste. A outra, entre vinte e vinte e cinco anos, irradiando entusiasmo. A porta do elevador se abriu para nossos afazeres, o diálogo entre as duas findou partido.
Entre um despacho e outro, e durante a primeira reunião do dia, aquelas palavras não saíram da mente, recorrentes: “Já não tenho mais com que sonhar”.
Como se pode renunciar aos desejos mais caros, assim tão jovem? Que sonhos terão se frustrado na curta vida daquela criatura? Será um momento, ou uma definitiva sentença de morte em vida? Por que tamanha infelicidade? Que será para ela, afinal, a felicidade?
Em meio a uma inquietude solidária e um vago desejo de reencontrá-la para, quem sabe, uma palavra de apoio e estímulo, a resposta parece surgir no belo poema A felicidade de Adalberto Monteiro:
E não dura uma tarde.
A felicidade às vezes está à nossa volta
E à procura dela,
Saímos pelo mundo dando voltas.
A felicidade talvez nem exista,
Talvez seja somente,
O nome de uma menina, de uma cidade.
A felicidade
É um trem que a gente espera, espera,
Ela atrasa, às vezes ela vem,
Às vezes nunca vem.
Não, moça triste, jamais renuncie ao sagrado ato de sonhar, nem condene todas as esperanças ao doloroso fracasso de um sonho. Quando esse seu melancólico dezembro passar, você verá que “a felicidade às vezes está à nossa volta”, como diz o poeta. E é preciso vivê-la.
(Publicado no portal Vermelho, no Blog de Jamildo e no Jornal da Besta Fubana).

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A vida do jeito que é

A Internacional
Marco Albertim, no Vermelho
O corredor é estreito. Em um dos lados há três celas vizinhas; também não são grande coisa, em que pese o comprimento; mas a largura é tão pouca que infunde a impressão de que as paredes estão se movendo para se juntarem, não importa quem esteja no meio. O teto é bolorento, não desmente a suspeita de que absorvera suores diversos; ao invés de sorvê-los e fechar-se sem deixar indícios de contatos, devolve-os em forma de fungos e deixa soltar o bodum de alvenaria velha, coberta de poeira, de furos de estropícios.
Respirar aquele ar causa impacto logo nos primeiros bafejos; em seguida, não se sente a impureza do ar engordado. A transpiração mistura-se às bactérias. A promiscuidade entre a água dos corpos e os microorganismos converte-se em cumplicidade. Resistir é impossível, porque o próprio corpo torna-se agente de doenças. Quem sobreviveu logrou a cura, inda que a doença tenha deixado seus achaques.
Jaciara Bonaires viu-se sozinha na cela. Os esbirros trancaram a porta de madeira; como as paredes e o teto, a madeira se deixara estropiar, sobretudo nos pés da porta, expondo fendas e taliscas soltas. No lado em que a porta se abria, ela encostou seu rosto; deitada no chão, viu o preso deitado no chão do corredor. Os esbirros, depois da sessão de tortura, deixaram-no ali, espremido entre a parede e a porta da cela.
"Eles ainda estão aqui. Botaram um gravador no meu pensamento. Estão lendo o meu pensamento..." De cueca, deu para perceber que tinha os colhões inchados; o corpo, sobretudo o tórax, exibia marcas de socos, de pontapés; o rosto, todo ele com  inchações; não via pelos olhos por causa das escoriações, enxergava traços indistintos que cresciam conforme a errância das alucinações.  Queria pôr-se deitado de bruços; as dores no tórax não deixavam; acomodou-se num dos lados do corpo, em decúbito lateral.
"Tenha calma. Procure dormir. Você está sozinho no corredor." Jaciara estranhou a sonoridade cadenciada da própria voz. Nos encontros, expondo a orientação do Partido sobre qual tática assumir nos enfrentamentos com o inimigo, fora escorreita, sem lesão na voz. Preocupara-se com duas coisas: expor o pensamento com clareza, combinando a austeridade dos meios de luta com o padrão uniforme da voz. Descobriu-se também portadora de infusões do coração. Fosse cristã, faria uma prece, aconselharia uma reza; mas rezas, pensou, pensou e sentiu-se irredenta por isso, carregam humilhação e talvez o indício da rendição ao inimigo. Viu os dois joelhos do preso chagados, iguais às feridas de sangue do Cristo na cruz. O contralto na voz de Jaciara Bonaires, não soltou-se das cordas da garganta, desentranhou-se das vísceras. Então...
            De pé, ó vitimas da fome
            De pé, famélicos da terra
            Da idéia a chama já consome
            A crosta bruta que a soterra
            Cortai o mal bem pelo fundo
De pé, de pé,  
Na terceira frase, não evitou distinguir nas feridas dos joelhos do preso, a ideia crepitando na chama. Estava de calcinha e sutiã, do jeito que a trouxeram da cadeira do dragão. Queria chorar e chorou porque viu nos beiços pregados do preso, envoltos numa crosta quase bruta, um traço de riso, inda que embotado de tanta dor.
Os esbirros voltaram da sala de reuniões do Doi-Codi; todos de gravata sobre a camisa de manga comprida, branca, arregaçada. Levantaram o preso pelos braços, ouvindo seus gemidos. Irritou-os o esboço de sorriso na boca sinistrada. Trancafiaram-no na cela vizinha. Jaciara Bonaires sentiu falta das chagas do preso.

Quem governa?

Com todo respeito a tanta gente que anda deitando regra a respeito da conduta supostamente correta da presidenta Dilma, essa de que ele deve governar, mas a política econômica precisa ser formulada "autonomamente" pelos ministros da área não faz o menor sentido. Ela viraria uma rainha da Inglaterra.

Diálogo

As eleições aconteceram em outubro. O novos governos federal e estaduais começam em janeiro. A vida segue, o tempo não para. Partidos que estiveram em palanques opostos podem e devem conversar entre si. A vida democrática é assim. Trocar impressões é sempre útil e não tira pedaço de ninguém. 

Ridícula

Com ridícula arrogância, a colunista Dora Kramer afirma que a presidenta Dilma "não entende nada de política" (sic). Realmente, papel aceita tudo - inclusive uma aberração como essa!

Poema da mulher guerreira

Roberto Ploeg
Assim vejo a vida
Cora Coralina

A vida tem duas faces:
Positiva e negativa
O passado foi duro
mas deixou o seu legado
Saber viver é a grande sabedoria
Que eu possa dignificar
Minha condição de mulher,
Aceitar suas limitações
E me fazer pedra de segurança
dos valores que vão desmoronando.
Nasci em tempos rudes
Aceitei contradições
lutas e pedras
como lições de vida
e delas me sirvo
Aprendi a viver.

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Questão de rumo

Amplitude política e "blindagem" do investimento
Elias Jabbour, no portal da Fundação Maurício Grabois
Quatro derrotas seguidas foram mais do que suficientes para escancarar, de vez, o ódio de classe assumido pela “militância” oposicionista. E o ódio não é um fim em si mesmo. Ele traveste uma situação onde o grupo político que nos contrapõe não tem, simplesmente, nada a dizer em matéria de alternativa séria ao país. Eles têm um projeto, o que não significa novidade. Eles têm uma não-alternativa, uma caixa vazia que só se preenche na base do fascismo. Neles, existe o ponto de encontro perfeito entre banditismo neoliberal e fascismo aberto.
Eles são isso e podem ser isso diante da falta de responsabilidade sobre o presente e o futuro do Brasil. De nosso lado, as tarefas são imensas. O momento não pode ser de confusão entre – por exemplo – o que vem primeiro, a política ou a economia. Uma leitura na conjuntura deixa claro que sem uma recomposição do nosso campo no Congresso Nacional, não será possível a execução de uma agenda que possibilite um conserto nacional em torno no desenvolvimento. E isso ocorre, justamente, por conta da radicalização de posições e do clima policialesco que toma conta do país e que já alcança – e tem como alvo – grandes empresas executoras das maiores, e mais importantes, obras em andamento.
Evidente que o objetivo de quem cria, alimenta e retroalimenta esse clima de terror pouco está longe de acabar com a corrupção. O objetivo é sangrar o governo paralisando o país até que o terror se transforme em recessão econômica e, consequentemente, em regressão social. Trata-se de uma alta aposta contra o país, numa prática digna de uma quinta-coluna, antinacional e objetivamente antipopular.
O antídoto residirá na capacidade do governo em reinventar a si mesmo, construindo um novo ciclo de mudanças, persuadindo aliados ao centro da necessidade de um pacto em torno, e em defesa do país. Inclui amplitude elevada à décima potência para um olhar de conjunto das forças do Congresso e da própria sociedade. Visão de Estado desprovida de mesquinharias ideológicas, pois o momento é de nos colocarmos acima de nossa condição de esquerda. É perceber, de forma fria que hoje temos uma oposição irresponsável, porém lastreada nas urnas e numa base social em processo de solidificação no Congresso e nas ruas e com força política e domínio sobre os meios de comunicação suficientes para travar, quase que completamente, o debate de ideias. É o caso em que a política deverá sobrepor-se a um clima de censura imposta pela imprensa golpista em torno de temas que encetem o futuro do Brasil. O momento deles é o presente, não o futuro.
É neste contexto que uma ampla, e difícil, costura política faz-se impor sobre nós. A retomada do crescimento tem uma relação de causa e efeito com este processo. As dificuldades do momento político impõem-se sobre o futuro da economia. Não esperemos uma retomada do crescimento de forma imediata. Diante do momento político difícil e radicalizado, o mais importante no momento está na manutenção de uma agenda em torno das concessões das infraestruturas ao setor privado. Não se trata de uma agenda tocada como foi tocada até aqui. A conjuntura política nacional deve fazer o governo perceber a necessidade dessas concessões passarem por um verdadeiro processo de blindagem. E a oposição sabe calcular a ponto de saber que o país só não entrou em recessão aberta por conta das oportunidades de investimento abertas ao setor privado neste setor e da elevação, recente, do próprio investimento público.
Além da blindar o investimento, o outro campo de observação está na ampla possibilidade de a taxa de juros chegar a 13% no mês de junho e, ainda assim, a inflação continuar a bater no dito “teto da meta”. Este cenário, muito possível, pois a inflação no Brasil tem obedecido muito mais a induções políticas do que ao próprio sistema de formação de preços, demandará de nós ao menos uma luta econômica no próximo ano: o governo deverá impedir de toda a forma que a valorização abrupta da taxa de câmbio. Seria intolerável para a nossa indústria um dólar abaixo dos R$ 2,40. Se é difícil impedir que o Banco Central aumente a taxa SELIC, que ao menos não  intervenha no mercado de dólares.
Enfim, retomar o crescimento demanda uma recomposição de nossas forças no Congresso e na sociedade. Algum grau de ajuste fiscal deverá ocorrer no próximo ano. Neste cenário, retomar o crescimento em 2015 será muito difícil, restando no horizonte a necessidade de blindar, com todas as forças, o investimento privado em infraestruturas e uma taxa de câmbio minimante suportável à nossa indústria.
________________________
* Professor Adjunto da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (FCE-UERJ). Membro do Comitê Central do PCdoB

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27 novembro 2014

Apes em festa

Hoje à noite, com muito prazer, estarei na festa de posse do presidente Edivaldo Guilherme e diretoria da Associação Pernambucana de Supermercados. No Paço Alfandega.

Poema da felicidade possível

Richard Piloco
Sonho
Clarice Lispector

Sonhe com aquilo que você quiser.
Seja o que você quer ser,
porque você possui apenas uma vida
e nela só se tem uma chance
de fazer aquilo que se quer.

Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.
Dificuldades para fazê-la forte.
Tristeza para fazê-la humana.
E esperança suficiente para fazê-la feliz.

As pessoas mais felizes
não têm as melhores coisas.
Elas sabem fazer o melhor
das oportunidades que aparecem
em seus caminhos.

A felicidade aparece para aqueles que choram.
Para aqueles que se machucam.
Para aqueles que buscam e tentam sempre.
E para aqueles que reconhecem
a importância das pessoas que passam por suas vidas.

O futuro mais brilhante
é baseado num passado intensamente vivido.
Você só terá sucesso na vida
quando perdoar os erros
e as decepções do passado.

A vida é curta, mas as emoções que podemos deixar
duram uma eternidade.
A vida não é de se brincar
porque um belo dia se morre.


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Mérito

Flávio Dino (PCdoB), governador eleito do Maranhão, recebeu ontem a Medalha Mérito Legislativo, em cerimônia na Câmara dos Deputados. Justa homenagem pelo mandato destacado que exerceu quando deputado federal.

Caindo na real

O indicador tem muito mais de política do que referência na economia real, mas vale o registro. A chamada “confiança da indústria” aumentou pelo segundo mês consecutivo em novembro, revertendo a trajetória de queda observada no terceiro trimestre do ano, segundo a Fundação Getúlio Vargas. Aos poucos, desmontados os palanques, como diz a presidenta Dilma, a realidade concreta é que vai contar.

Pressão contínua

Da segunda-feira após o pleito de outubro até hoje, a pressão midiática era para que Dilma apresentasse de imediato os nomes que com porão a nova equipe econômica. A se confirmar o anúncio hoje, como previsto, a pressão será sobre os novos ministros da Fazendo e do Planejamento e o presidente do banco Central – para que adotem o receituário do chamado “mercado”, ou seja, da oligarquia financeira hegemônica nas elites dominantes, insatisfeita com a derrota de Aécio e mentora do “terceiro turno”. O sonho dessa gente é repetir a fórmula que funcionou no governo Itamar Franco: não tinham o presidente, mas controlavam a sua equipe econômica. Com Dilma jamais acontecerá, pelos compromissos reiterados pela presidenta e pelo seu modelo de governança, que a faz chefe do governo de fato.

26 novembro 2014

Avançar com equilíbrio

É certo que em tudo na vida é necessário avançar com equilíbrio. Sobretudo na luta política. Dilma constrói sua equipe de governo com um olho no compromisso de avançar mais ainda nas mudanças em curso desde 2003 e o outro na necessidade de formatar uma maioria parlamentar que lhe permita governar, em meio a uma correlação de forças difícil. Daí o desenho amplo, plural e heterogêneo do futuro ministério. A amplitude há que ter como contraponto a presença de um núcleo mais avançado que ajude a presidenta a conduzir a luta política e a gestão administrativa com firmeza e habilidade. 

O poeta canta o amor com rara sensibilidade

Carlos Ygoa
Para ti
Mia Couto

Foi para ti
que desfolhei a chuva
para ti soltei o perfume da terra
toquei no nada
e para ti foi tudo

Para ti criei todas as palavras
e todas me faltaram
no minuto em que talhei
o sabor do sempre

Para ti dei voz
às minhas mãos
abri os gomos do tempo
assaltei o mundo
e pensei que tudo estava em nós
nesse doce engano
de tudo sermos donos
sem nada termos
simplesmente porque era de noite
e não dormíamos
eu descia em teu peito
para me procurar
e antes que a escuridão
nos cingisse a cintura
ficávamos nos olhos
vivendo de um só
amando de uma só vida
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25 novembro 2014

Geografia do voto

No site da Fundação Maurício Grabois:
As cores das eleições para governadores
Oswaldo Bertolino:
O enfrentamento entre forças ideológicas antagônicas no plano nacional se reproduziu nos estados. A disputa política, embora muitas vezes sem uma definição clara das alianças por um campo ou outro, evidenciou bem o sentido do acirramento das campanhas, que reproduziu tendências históricas da sociedade brasileira.
Vermelho ou azul? As cores usadas para marcar a geografia dos votos dos candidatos no segundo turno das eleições presidenciais de 2014, Dilma Rousseff e Aécio Neves, servem também para colorir o mapa dos governadores eleitos. Elas estampam, convencionalmente, o pano de fundo da disputa, os fatores conjunturais que determinaram os resultados. No curso dos debates eleitorais não houve praticamente nenhum aspecto dessa conjuntura que não se converteu em polêmica renhida. A realidade permeada por problemas que se complicaram à medida que o país avançou nas mudanças desde que Luis Inácio Lula da Silva se elegeu presidente da República em 2002 impôs a necessidade de propostas que respondessem a novas demandas.
As eleições, portanto, ocorreram em um cenário de elevação da complexidade dos obstáculos ao desenvolvimento do país e se constituíram um relevante acontecimento da luta historicamente travada pelas forças progressistas contra agrupamentos ligados a interesses oligárquicos e conservadores. A intensidade das cores espalhadas pelo mapa do país, contudo, leva à indagação sobre o grau em que houve o choque entre essas duas correntes e em qual medida os ideais mudancistas se confrontaram com os da direita. Teriam sido esses os fatores determinantes para definir os campos na campanha eleitoral — embora essa contraposição nem sempre tenha se revelado nitidamente nos estados — e configurariam o cenário composto pelas mãos do eleitorado brasileiro? Pode-se dizer que sim.
Fiel aliado tucano
Considerando as cores convencionadas, o vermelho encarnado obteve uma ligeira vantagem sobre o azul turquesa no mapa dos governadores eleitos. Acre, Ceará, Piauí, Bahia e Minas Gerais elegeram candidatos do Partido dos Trabalhadores (PT); o Maranhão elegeu, pela primeira vez na história, um governador do Partido Comunista do Brasil (PCdoB). O Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) ganhou no Paraná, no Mato Grosso do Sul, em São Paulo, em Goiás e no Pará. No balanço de perdas e ganhos, o vermelho também leva ligeira vantagem: o PT perdeu o Distrito Federal e o Rio Grande do Sul, mas ganhou o estratégico estado de Minas Gerais, governado atualmente pelo PSDB. O fiel aliado tucano, o Democratas (DEM), por sua vez, desapareceu do mapa de governadores.
O Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), uma força ponderável no jogo político nacional, fez sete governadores: Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Sergipe, Alagoas, Tocantins e Rondônia. Já o Partido Socialista Brasileiro (PSB), que se dividiu nos estados entre o vermelho e azul, fez três (Distrito Federal, Pernambuco e Paraíba), seguido do PSD e do PDT, que venceram em dois estados cada (Santa Catarina e Rio Grande do Norte, Mato Grosso e Amapá, respectivamente). O Partido Republicado da Ordem Social (PROS) e o Partido Popular (PP) elegeram um governador cada (Amazonas e Roraima, respectivamente).
Deficiências políticas
As forças de esquerda ampliaram suas posições (o PT tinha cinco governadores e o PSDB elegeu oito em 2010), mas é necessário assinalar que nos estratégicos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná os resultados foram pífios. Pode-se dizer que concorreram para isso, basicamente, as dificuldades para se formar um campo de centro-esquerda mais amplo; nos três estados, a disputa se deu com a presença de fortes candidatos do PMDB. As campanhas das coligações de esquerda nesses estados tiveram dificuldades para dialogar com camadas substanciais da população, revelando contradições, deficiências políticas e debilidades organizativas.
Durante a campanha, os demais partidos oscilaram entre o vermelho e o azul. Os governadores eleitos do PMDB (que fez parte da coligação presidencial liderada pelo PT) no Rio Grande do Sul, José Ivo Sartori, e no Espírito Santo, Paulo Hartung, assumiram a campanha do tucano Aécio Neves; já o candidato do PSB (partido que em 2010 elegeu seis governadores e no segundo turno de 2014 apoiou o candidato do PSDB) da Paraíba, Ricardo Coutinho, fez campanha para Dilma Rousseff (os demais governadores do PSB eleitos, Paulo Câmara em Pernambuco e Rodrigo Rollemberg no Distrito Federal, apoiaram o candidato tucano).
Forças partidárias
No PDT, o governador eleito do Amapá, Waldez Góes, apoiou Dilma Rousseff, enquanto Pedro Taques, do Mato Grasso, optou por Aécio. Já a governadora eleita de Roraima, Suely Campos (PP), se disse neutra — assim como José Melo, do Amazonas (PROS), apesar do espaço aberto para Aécio em seu programa na TV e no rádio, atendendo pedido do seu principal cabo eleitoral, o prefeito de Manaus, Artur Virgílio Neto (PSDB). Essas posições indicam, na verdade, que o quadro partidário brasileiro não contempla, em sua plenitude, a acentuada disparidade de propostas que disputam a hegemonia do país, formando dois leques principais de opções com polos antagônicos.
Para se compreender as tendências reveladas nas eleições, portanto, precisa-se de uma análise dos resultados obtidos pelas diversas forças partidárias. Ao empreendê-la, porém, deve-se ter em conta as particularidades dos partidos e não tomar cada sigla como expressão global e unitária de determinada posição política. Muitas vezes eles são agrupamentos mais ou menos heterogêneos, sem conteúdo programático definido, incluindo forças com interesses sociais e políticos contraditórios, marcados por regionalismos e até pelo personalismo. Como decorrência desses fatores, as alianças fechadas principalmente em torno dos postos de governadores influíram para tornar o panorama extremamente complexo.
Correntes ideológicas
Nem sempre as forças se cristalizaram suficientemente como propostas unitárias. Mas isso não significa que as coligações nos estados inviabilizam esforços para a ampliação, em âmbito nacional, do campo governista. As injunções partidárias, os interesses pessoais e contradições secundárias muitas vezes dificultaram a unificação de todas as correntes governistas em torno de candidaturas comuns. Quando as forças progressistas se dividiram ficou evidente que a contradição maior não apareceu claramente diante do eleitorado, impossibilitando que ele se decidisse levando em conta o panorama nacional.
Em muitos casos, questões regionais ou locais da competição, interesses personalistas, alianças de conteúdo puramente utilitário e ausência de princípios programáticos se sobrepuseram às visões das tendências fundamentais em disputa. Em essência, porém, elas estavam presentes e se opunham sob as mais variadas formas de combinações políticas. Disputas que aparentemente se deram em torno de nomes ou de interesses de grupos, sem qualquer conteúdo ideológico ou sem relação perceptível com os problemas nacionais, expressavam, no fundo, o conflito fundamental — não é possível existir líderes ou grupos sem ligação direta ou indireta, consciente ou inconscientemente, com as aspirações dos interesses representados pelas grandes correntes ideológicas opostas.
Caminho viável
Seria esquematismo, ou até mesmo ingenuidade, portanto, conceber algo alheio à complexidade do fenômeno político brasileiro, à essência do acirramento da disputa que varou o país de alto a baixo. A temperatura elevada da polêmica nada mais é do que a tradução do crescimento da influência do pensamento progressista brasileiro, que elevou-se à medida que o país gerou novas demandas. As forças governistas, antes tidas como esperança, apareceram como caminho viável para o desenvolvimento do país; os êxitos relativos dos conservadores foram tendenciosamente exagerados pela mídia e maquiados por seus representantes para apresentá-los como aprovação de suas propostas. 
Examinados mais de perto, eles em nada indicam uma inclinação da população brasileira para a orientação direitista, traduzida na falácia midiática da divisão do país. A campanha dos candidatos dessa coloração, feita à base de ódios e vaticínios catastróficos, não ocultou a essência das aspirações por mais mudanças. O voto desorientado, patrocinado pela sistemática e brutal campanha da mídia contra o campo governista, foi o grande responsável por votações expressivas em candidatos da direita em alguns estados — principalmente em São Paulo e no Paraná —, favorecidos também pela dispersão das forças de centro-esquerda.
Caso omisso
A apreciação objetiva dos resultados, portanto, desmente as análises capciosas que tentam desqualificar os resultados do campo governista. O poder de atração das causas sociais se manifestou com sua transformação em bandeira eleitoral também de numerosos candidatos com notória coloração conservadora. Mascarados de adeptos do progresso social, por saberem que se ousassem combatê-lo frontalmente seriam fragorosamente derrotados, venderam para o eleitorado a ideia de que suas aspirações independiam de princípios políticos e ideológicos. Nos estados em que o campo governista se apresentou unido, ficou mais difícil para a direita enganar os potenciais influenciados pela propaganda falaciosa da direita.
É preciso constatar, ainda, que algumas campanhas não sensibilizaram grande parte do eleitorado pela falta de vinculação entre as soluções gerais dos problemas brasileiros e os interesses imediatos vitais do povo. Ficou demonstrado que o campo governista não pode, em hipótese alguma, fazer caso omisso das condições de vida das massas, não só porque o bem-estar é um dos requisitos essenciais como também a participação popular é imprescindível para o desenvolvimento econômico e social do país. Essa dinâmica política, nem sempre devidamente compreendida, possibilitou ao conservadorismo capitalizar o descontentamento de certos setores da população diante da ausência de soluções efetivas para as dificuldades enfrentadas em serviços públicos essenciais.

Proteção do trabalho

No Vermelho www.vermelho.org.br
Sindicalistas e governo discutem emprego em tempo de crise
Representantes das centrais sindicais estiveram, nesta terça-feira (25), no Ministério da Fazenda, para apresentar uma alternativa que garanta a proteção ao emprego em tempos de crise e evite, por exemplo, o layoff que, na prática, suspende o contrato de trabalho sem demissão.

A alternativa apresentada pelas centrais sindicais é de que a medida seja adotada a partir de um acordo entre os trabalhadores e os patrões. De acordo com Vagner Freitas, presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), a proposta é baseada em práticas adotadas na Europa e não significa a alteração na Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT).

“Não modifica nenhuma das leis existentes. Se for implementado, é mais (um) instrumento com as seguintes características: tem que ser opcional em concordância entre trabalhador e empregado, tem que ter um atestado de crise por parte do governo e ser aprovado em assembleia de trabalhadores”, explicou.

Outra preocupação das centrais sindicais é que durante o regime do layoff, como o contrato é suspenso temporariamente, o empregado perde no futuro por deixar de contribuir, principalmente, com a Previdência Social. Isso acarreta em consequências ao cálculo do tempo de serviço e da aposentadoria. “Não queremos reinventar a roda. Queremos aperfeiçoar de modo que os trabalhadores sejam menos prejudicados”, destacou Freitas.

Os sindicalistas, que estiveram com o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Márcio Holland, criticaram as desonerações implementadas pelo governo para que as empresas enfrentassem a crise, iniciada em 2008.

Para eles, as medidas não trouxeram ganhos para o país e para os empregados. “Inclusive, setores que tiveram acesso as desonerações demitiram mão de obra. Quando se fala em desoneração temos que ter cuidado com relação a isso”, frisou Freitas.

Participaram do encontro, além da CUT, a União Geral dos Trabalhadores (UGT), Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) , a Nova Central e a Força Sindical. Uma nova reunião deverá acontecer em Brasília, na próxima semana, para discutir o assunto.

Da Redação em Brasília
Com Agência Brasil

Corrução em debate

Nossa "roda de conversa" de ontem ensejou excelente debate - a mais participativo de todas - acerca da corrupção em geral e, em particular, da corrupção institucional. Percorremos desde os pequenos deslizes costumeiros na vida cotidiana, que ferem a ética, até os casos de grande repercussão nacional. As instituições devem ser fortalecidas através de ajustes que as habilitem a fiscalizar e a punir os corruptos, porém será essencial - no caso da corrupção institucional - ir além dos dispositivos punitivos adotados pelo governo Dilma (que tem avançado muito nesta matéria), agindo no sentido da prevenção. Para tanto, a realização da reforma política democrática, na linha proposta pela OAB e a CNBB e mais de 90 entidades da sociedade civil, que tem como um dos pilares a extinção do financiamento de campanhas eleitorais por empresas, mostra-se essencial e urgente. Com um Congresso Nacional de maioria conservadora, impõe-se a necessidade da pressão popular em favor dessa reforma. O lançamento da Campanha pela Reforma Política dia 3 próximo, às 10 horas, no auditório da OAB (Rua do Imperador, Recife) surge como atual ponto de partida dessa luta em Pernambuco.

Cai desigualdades entre Regiões Metropolitanas

A desigualdade entre as regiões metropolitanas do país caiu entre 2000 e 2010, de acordo com relatório lançado nesta terça-feira pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) – leio no Valor Econômico. Todas as regiões metropolitanas pesquisadas apresentam alto desenvolvimento humano. Além disso, a pesquisa mostrou que, “embora as disparidades ainda sejam marcantes no Brasil, elas estão diminuindo, tanto entre as próprias regiões metropolitanas [...] quanto no âmbito intramunicipal”. Leia mais http://migre.me/n6OaB

O poeta exalta os que lutam sempre

Foto: Blog de Ação Cultural
Aos que cuidam das bandeiras
Marcelo Mário de Melo

Há aqueles que levantam uma bandeira
e prosseguem.
Aqueles que afrouxam as mãos
e abandonam as bandeiras no caminho.
Aqueles que rasgam queimam
renegam bandeiras e se recolhem.
Aqueles que se bandeiam
e passam a defender
bandeiras contrárias.
Aqueles que refletem
e escolhem bandeiras melhores.
Aqueles que encerram as bandeiras
em gavetas vitrines e altares.
Aqueles que colocam as bandeiras à venda.

É triste ver bandeiras abandonadas
vendidas ou sacralizadas no céu distante.
As bandeiras não são entidades
para comércio adoração e arquivo

Expostas ao vento e ao tempo
as bandeiras são coisas simples da vida
exigem cuidado:
como uma casa
uma roupa
um filho
uma flor.

Leia mais sobre poesia e temas da atualidade: http://migre.me/kMGFD

A vida do jeito que é

Na prisão
Marco Albertim, no Vermelho

O sol no Cariri purga o penitente de suas culpas. Adolfo Boiares não tinha culpas, mas observou com cismas purgativas o menino trajando batina de padre; tão escura a seda viscosa, misturando-se à cor terrosa do rosto, aos pés nus no chão de terra batida da praça com meia dúzia de bancos.

Era conduzido pela mãe, cuja palidez, inda que doentia, tinha traços de resignação por nunca descrer nas chances de melhora graças aos milagres de padre Cícero. O sol tinia na cabeça dos ralos transeuntes. Nenhuma queixa, nem mesmo dos troncos gretados de estrias das algarobeiras no quadrilátero acanhado da praça

Não deu tempo Adolfo Boiares presumir-se no juízo sobre a mãe e o filho penitentes. Antes de ajuizá-los incapazes de segurar uma carabina para assegurar a posse de um punhado de terras para o plantio, foi agarrado por três homens. Negou sem resistência, ser Adolfo Boiares. Quando ia ser solto, apareceu um outro, por certo o chefe.

- Esperem.

Boiares foi agarrado outra vez. O quarto homem tirou do bolso um retrato. Pôs a mão no rosto de Boiares, cobrindo o seu bigode.

- É ele mesmo. Ponham-no na camionete!

Há dois anos, Adolfo Boiares se pusera à frente de uma marcha de estudantes, para resistir à cassação de quarenta alunos do curso de medicina da Universidade Federal de Pernambuco. A adesão à resistência se dera sem cálculos de perigos, de riscos. Usava uma camisa xadrez, em tons marrons e pretos.

Agora, preso pelos quatro homens, negando a identidade real, viu-se pisoteado no chão de borracha dura da camionete. A camisa, que resistira sem desbote ou manchas à reverberação do calor, do sol, foi forçoso enxergar que havia pouca diferença entre o algodão roto e o piso de borracha da camionete, com o bodum dos pés daqueles homens. Pés com solados marcados pela escolha de pisões cegos, duros.

- Tire a roupa! - ordenou o mesmo homem que o identificara pelo retrato.

Como tirar a roupa!? - pensou Boiares. Tirar a roupa seria o primeiro indício de capitulação.

Àquela altura, o preso tinha o rosto encapuzado.

- Confesse que você é Adolfo Boiares!

O silêncio foi seguido pelo bofetão no rosto. Os pontapés vieram em seguida. Logo viu-se sem roupas, pendurado no pau de arara. Os choques elétricos, nos testículos, além da dor, percorriam todo o corpo, infundindo a convicção de que toda a bolsa dos escrotos convertera-se num tição fumacento. Não abriu a boca para gritar. Da última vez que gritara, fizera-se ouvir rouco, cavernoso, do modo como previra o fim da ditadura. Mas berrara contra as cassações dos estudantes. A rouquidão da voz, inda que rompendo as cordas da garganta, davam conta da insanidade dos milicos que queriam pôr fim a seu fôlego. Não gritou. A boca ficou uma pasta de sangue, sem se mover por causa dos cortes dos próprios dentes jungidos pelos socos.

Os polícias encontraram no bolso de Adolfo Boiares, uma nota fiscal com seu endereço. Numa cidade próxima a Juazeiro, Jati, Jaciara Boiares, sua mulher, foi presa. Conduzida na mesma camionete que levara o marido.

- Cheire o piso que seu marido pisou - disse o polícia com os pés no rosto dela.

Na véspera, os dois tinham combinado que, se presos fossem, teriam os ossos triturados mas não se identificariam como marido e mulher. Trazidos para o Recife, submetidos a novas torturas, Boiares reconheceu os gritos de Jaciara sob os choques.

Tiraram-no da cela, viu Jaciara Boiares sentada com os mamilos e os pés presos aos fios elétricos.

- Você é ou não é Adolfo Boiares? - insistiram.

A estatura pequena da mulher, com os cabelos em desalinho cobrindo seu rosto redondo; tudo nela, sobretudo o nariz pequeno, ressonava a um cheiro acerbo de quem se tornara refém de répteis que se refestelam de babugem. Dar as costas à pequena Jaciara Boiares, tão ou mais miúda do que quando a pusera no regaço para enxergar no sonho carregado de promessas, a revolução que nunca traíram...?

- Sim, eu sou Adolfo Boiares.

Combate à violência contra a mulher

Em comemoração ao movimento internacional de 16 dias de ativismo pelo fim da violência contra a mulher, a Prefeitura do Recife, por meio da Secretaria da Mulher lança a campanha “Ser feliz. Eu vou. É meu direito.”. A apresentação será nesta terça-feira, às 14h, no auditório do Banco Central, na Rua da Aurora, no bairro de Santo Amaro. A iniciativa visa combater o feminicídio no Recife, além de incentivar a denúncia dos crimes, através do Liga, Mulher, telefone do Centro de Referência Clarice Lispector, equipamento municipal especializado no acolhimento e orientação de mulheres em situação de violência doméstica e/ou sexista. A ligação é gratuita e o serviço funciona de domingo a domingo, das 7h às 19h. Leia mais http://migre.me/n6a2p (Foto: Jornal do Dia)

A palavra de Humberto

Divulgo como ato de solidariedade e de confiança total e irrestrita no amigo senador Humberto Costa: 
NOTA DE ESCLARECIMENTO
Em relação à publicação do jornal o Estado de São Paulo deste domingo que relata supostas acusações do Sr. Paulo Roberto Costa dirigidas a mim em delação premiada, afirmo que:

1. Todas as doações de campanha que recebi na minha candidatura ao senado em 2010 foram feitas de forma legal, transparente, devidamente declaradas e registradas em minha prestação de contas à justiça eleitoral e inteiramente aprovadas, estando disponíveis a quem queira acessá-las;

2. Assim, nego veementemente ter pedido a quem quer que seja que solicitasse qualquer doação de campanha ao Sr. Paulo Roberto;

3. Tal denúncia padece de consistência quando afirma que a suposta doação à campanha teria sido determinada pelo Partido Progressista (PP) por não haver qualquer razão que justificasse o apoio financeiro de outro partido à minha campanha;

4. Mais inverossímil ainda é a versão de que se o Sr. Paulo Roberto não tivesse autorizado tal doação, correria o risco de ser demitido, como se eu, à época sem mandato e tão somente candidato a uma vaga ao Senado, tivesse poder de causar a demissão de um diretor da Petrobrás;

5. Causa espécie o fato de que ao afirmar a existência de tal doação, o Sr. Paulo Roberto não apresente qualquer prova, não sabendo dizer a origem do dinheiro, quem fez a doação, de que maneira e quem teria recebido;

6. Conheci o Sr. Paulo Roberto em 2004 e minha relação com ele se deu no campo institucional, no processo de implantação da refinaria de petróleo em Pernambuco, do qual participei assim como vários políticos, empresários e representantes de outros segmentos da sociedade pernambucana o fizeram;

7. Conheço e sou amigo de infância do Sr. Mário Beltrão, presidente da Associação das Empresas do Estado de Pernambuco (ASSINPRA), que também foi partícipe da mesma luta pela refinaria. Porém, em nenhum momento eu o pedi e ele muito menos exerceu o papel de solicitar recursos ao Sr. Paulo Roberto para a campanha ao Senado de 2010. 

8. Tenho uma vida pública pautada pela honradez e seriedade, não respondendo a qualquer ação criminal, civil ou administrativa por atos realizados ao longo de minha vida pública; 

9. Sou defensor da apuração de todas as denúncias que envolvam a Petrobrás ou qualquer outro órgão do Governo. Porém, entendo que isso deve ser feito com o cuidado de não macular a honra e a dignidade de pessoas idôneas. O fato de o Sr. Paulo Roberto estar incluído em um processo de delação premiada não dá a todas as suas denúncias o condão de expressar a realidade dos fatos. 

10. Aguardo com absoluta tranquilidade o pronunciamento da Procuradoria-Geral da República sobre o teor de tais afirmações, ocasião em que serão inteiramente desqualificadas. Quando então, tomarei as medidas cabíveis.

11. Informo ainda que me coloco inteiramente à disposição de todos os órgãos de investigação afetos a esse caso para quaisquer esclarecimentos e, antecipadamente, disponibilizo a abertura dos meus sigilos bancário, fiscal e telefônico.

Recife, 22 de novembro de 2014,

Humberto Costa
Senador da República
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24 novembro 2014

Núcleo avançado

Oportuna a proposta do governador do Ceará, Cid Gomes, de constituição de uma frente de esquerda em apoio ao governo Dilma. Pode significar um núcleo mais avançado de uma necessária coalizão bem mais ampla e diversificada que a presidente haverá de construir no Parlamento e na sociedade, para assegurar as condições políticas de superar as contra-pressões da oposição golpista e cumprir os compromissos de campanha, avançando mais ainda nas mudanças em favor do povo.

O poeta canta a saudade

Soneto oco
Carlos Pena Filho

Neste papel levanta-se um soneto,
de lembranças antigas sustentado,
pássaro de museu, bicho empalhado,
madeira apodrecida de coreto.

De tempo e tempo e tempo alimentado,
sendo em fraco metal, agora é preto.
E talvez seja apenas um soneto
de si mesmo nascido e organizado.

Mas ninguém o verá? Ninguém. Nem eu,
pois não sei como foi arquitetado
e nem me lembro quando apareceu.

Lembranças são lembranças, mesmo pobres,
olha pois este jogo de exilado
e vê se entre as lembranças te descobres.

(Foto: LS)
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Armando & Paulo

Armando Monteiro ministro, Paulo Câmara governador: bom para Pernambuco. Só se pode esperar que ambos não tenham desmontado seus palanques de campanha e agora dêem o melhor de si no cumprimento de suas novas responsabilidades. Têm estatura para tanto.

Amadorismo de quem, cara pálida?

E ainda há quem “acuse” a presidenta Dilma de “amadorismo” por não ter anunciado ainda a equipe econômica do novo governo! Como se o assunto fosse que nem escalar um time de futebol antes de começar o campeonato, e o técnico considerado “amador” por não precipitar suas decisões. Piada de fim de ano, só pode ser.

Pressão vã

Hoje cedo, na Globo News, três repórteres comentavam, entre a ironia e a presunção, a suposta lentidão (sic) da presidenta Dilma na montagem da equipe do seu segundo governo, que se iniciará apenas em janeiro. Mais: diziam ser um "risco" - vejam só! - ela continuar exercendo influência determinante sobre a condução da economia. Ou seja: para eles, a presidenta preside tudo, menos a economia, que deve seguir os ditames da oligarquia financeira. Mas Dilma não se dobrará a pressões da oposição midiática.

23 novembro 2014

Ardiloso caminho da entrega

Wellington Virgolino
Estratégia e tática
Mario Benedetti

Minha tática é olhar-te
aprender como és
querer-te como sois
minha tática é
falar-te e escutar-te
construir com palavras
um poente indestrutível
minha tática é
permanecer em tua recordação
não sei como
nem sei com que pretexto
porém ficar-me em vós
minha tática é
ser franco
e saber que sois franca
e que não nos vendamos
com mentiras
para que entre os dois
não haja cortinas
nem abismos
minha estratégia é
por outro lado
mais profundo e mais
simples
minha estratégia é
que um dia qualquer
nem sei como
nem sei com que pretexto
para que fim me necessites.

Capoeira, patrimônio mundial

Dança, luta e símbolo de resistência, a capoeira de roda deverá ser reconhecida como Patrimônio Cultural da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Na semana que vem, em Paris, o Comitê Intergovernamental para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural e Imaterial da Unesco anuncia sua decisão. Foram feitos 46 pedidos de registro pelos Estados-Membros, sendo que 32 foram recomendados pelo órgão técnico do comitê, entre os quais está o da capoeira – o único apresentado pelo Brasil e um dos três bens da América Latina na lista. Com o reconhecimento, a capoeira de roda se iguala ao Cristo Redentor como patrimônio da humanidade. (Fonte: Agência Brasil).

Para o lixo

A revista Veja - de há muito convertida em panfleto ultradireitista - insiste em seus propósitos golpistas. Afronta o bom senso e o sentimento democrático dos brasileiros que, através do voto, reelegeram a presidenta Dilma. Não demorará muito irá para o depósito de lixo da História.

Mais médicos aprovado

Pesquisa divulgada no final de outubro, realizada pela Universidade Federal de Minas Gerais ouviu 4 mil usuários do  Mais Médicos em 200 cidades do país.

Cerca de 95% dos entrevistados declararam-se muito satisfeitos ou satisfeitos com uma iniciativa condenada por amplos segmentos da classe médica brasileira.

Notas  de 8 a 10 foram dadas ao programa por 87% dos entrevistados.

Mas, sobretudo, os usuários elogiaram o comportamento mais atencioso dos médicos.

Mais interessados em ouvir e habituados a dialogar revelaram-se mais competentes em diagnosticar e tratar.

Médicos cubanos representam 80% do alvo desse elogio.

Por quê?  Porque apenas 1.846 brasileiros se inscreveram no programa.

Se dependesse da adesão local, 45 milhões de cidadãos continuariam apartados da assistência no país.

Fonte: Carta Maior