06 novembro 2014

Linhas conflitantes

Diálogo e conflito a favor do Brasil
Luciano Siqueira

Governo é governo, oposição é oposição – assinala o jargão da política. Verdade. Mas isso não significa que forças díspares não dialoguem em torno dos destinos do País. Seja em favor do bom e esclarecedor debate de ideias, seja no sentido de, pelo menos pontualmente, somarem esforços numa dada direção.

Quando a presidenta reeleita Dilma Rousseff chama a Nação ao diálogo, não discrimina nenhuma corrente de opinião, demonstra a grandeza que a inspira no exercício do cargo.

Quando Aécio Neves e seguidores, com todo o ranço dos perdedores, torpedeiam esse apelo ao diálogo, nada mais fazem do que uma tentativa de levar adiante um imaginário “terceiro turno” das eleições.

Ou seja, aos olhos dos tucanos e aderentes, tudo o que puder ser feito para dificultar os passos da presidenta, deve ser feito. E, a bem da verdade, há que se reconhecer aí uma boa dose de coerência no esforço de impedir que prossiga a transição do modelo neoliberal derrotado em 2002 a um novo projeto de desenvolvimento soberano, democrático e socialmente inclusivo, em gestação nos últimos doze anos.

Não é uma luta fácil, já assinalava o PCdoB em sua 9ª. Conferência Nacional, realizada em 2003, meses após a assunção de Lula à presidência da República. Essa transição a um novo projeto nacional se daria, como está ocorrendo, mediante trajetória complexa, sinuosa, sujeita a idas e vindas, a vitórias e recuos cuja essência está na contradição entre as elites dominantes, sob a hegemonia da oligarquia financeira, e os interesses da nação e do povo brasileiro.

Assim, o ódio disseminado contra o PT, que teve ápice na recente campanha eleitoral, se alimenta muito menos dos erros cometidos por petistas e muito mais, e, sobretudo, dos acertos verificados nos governos Lula e Dilma. A ascensão social de pouco mais de quarenta milhões de brasileiros miseráveis ou extremamente pobres não acontece impunemente aos olhos da oposição conservadora.

Ora, estima-se que precisamente um terço dos lares brasileiros sejam habitados por famílias beneficiárias não exclusivamente do Bolsa Família, mas igualmente de uma gama de programas de largo alcance, como o Minha Casa, Minha Vida, o Luz para Todos, o ProUni, o Pronatec e outros tantos. Outro terço e um pouco mais, não diretamente beneficiárias desses programas sociais, teve a vida melhorada pela política de valorização do salário mínimo, do aumento progressivo da renda média dos assalariados, do acesso ao crédito e da possibilidade de consumir bens e serviços antes inalcançáveis.

Aí está a base social determinante da vitória de Dilma, em todas as regiões do País, e não apenas no Nordeste (Em números absolutos, Dilma obteve mais votos no Sul e Sudeste do que no Nordeste).

Agora, no seu segundo governo, a presidenta terá o desafio de ultrapassar o crescimento lastreado no consumo para avançar na infraestrutura e na produção. Para tanto, terá que refazer a política macroeconômica e, diante de um Congresso Nacional predominantemente conservador, precisará da mobilização ativa de sua principal base social versus a resistência da oligarquia financeira e da oposição partidária e midiática. (Publicado no portal Vermelho, no Blog de Jamildo e no Jornal da Besta Fubana).
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