Luciano Siqueira
Governo é governo, oposição é oposição – assinala o jargão
da política. Verdade. Mas isso não significa que forças díspares não dialoguem
em torno dos destinos do País. Seja em favor do bom e esclarecedor debate de
ideias, seja no sentido de, pelo menos pontualmente, somarem esforços numa dada
direção.
Quando a presidenta reeleita Dilma Rousseff chama a Nação ao
diálogo, não discrimina nenhuma corrente de opinião, demonstra a grandeza que a
inspira no exercício do cargo.
Quando Aécio Neves e seguidores, com todo o ranço dos
perdedores, torpedeiam esse apelo ao diálogo, nada mais fazem do que uma
tentativa de levar adiante um imaginário “terceiro turno” das eleições.
Ou seja, aos olhos dos tucanos e aderentes, tudo o que puder
ser feito para dificultar os passos da presidenta, deve ser feito. E, a bem da
verdade, há que se reconhecer aí uma boa dose de coerência no esforço de
impedir que prossiga a transição do modelo neoliberal derrotado em 2002 a um
novo projeto de desenvolvimento soberano, democrático e socialmente inclusivo,
em gestação nos últimos doze anos.
Não é uma luta fácil, já assinalava o PCdoB em sua 9ª.
Conferência Nacional, realizada em 2003, meses após a assunção de Lula à
presidência da República. Essa transição a um novo projeto nacional se daria,
como está ocorrendo, mediante trajetória complexa, sinuosa, sujeita a idas e
vindas, a vitórias e recuos cuja essência está na contradição entre as elites
dominantes, sob a hegemonia da oligarquia financeira, e os interesses da nação
e do povo brasileiro.
Assim, o ódio disseminado contra o PT, que teve ápice na
recente campanha eleitoral, se alimenta muito menos dos erros cometidos por
petistas e muito mais, e, sobretudo, dos acertos verificados nos governos Lula
e Dilma. A ascensão social de pouco mais de quarenta milhões de brasileiros
miseráveis ou extremamente pobres não acontece impunemente aos olhos da
oposição conservadora.
Ora, estima-se que precisamente um terço dos lares
brasileiros sejam habitados por famílias beneficiárias não exclusivamente do
Bolsa Família, mas igualmente de uma gama de programas de largo alcance, como o
Minha Casa, Minha Vida, o Luz para Todos, o ProUni, o Pronatec e outros tantos.
Outro terço e um pouco mais, não diretamente beneficiárias desses programas
sociais, teve a vida melhorada pela política de valorização do salário mínimo, do
aumento progressivo da renda média dos assalariados, do acesso ao crédito e da
possibilidade de consumir bens e serviços antes inalcançáveis.
Aí está a base social determinante da vitória de Dilma, em
todas as regiões do País, e não apenas no Nordeste (Em números absolutos, Dilma
obteve mais votos no Sul e Sudeste do que no Nordeste).
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