02 setembro 2015

Em favor da nação

Quem deve salvar quem?

Luciano Siqueira

Como diz o nosso povo, "em casa que falta o pão, todos brigam e nenhum tem razão".
O Brasil atravessa fase crítica de carências e riscos. As carências atingem os que menos têm, os riscos ameaçam a todos – incluindo os que têm muito e que não desejam perder também.
E é evidente que cabe ao governo da República adotar as medidas necessárias. Mas não só ao governo, pois o poder central é tripartite, envolvendo o Congresso Nacional e o Judiciário. 
O governo não aprova sozinho as medidas de reordenamento da economia, submete-as ao Congresso. 
Ressalvadas as naturais divergências e as cenas de pugilato verbal entre governistas e oposicionistas, não há como eximir o Parlamento de responsabilidade. Nem os partidos, sobretudo os mais influentes, que nele estão representados.
Declarações como as do senador Aécio Neves, candidato derrotado no último pleito e presidente do PSDB, escoimando os oposicionistas de qualquer possibilidade de oferecer alternativas; e de diversos outros parlamentares de partidos seus aliados, em face de peça orçamentária deficitária apresentada pelo governo, segundo os quais "cabe exclusivamente ao Planalto resolver as contas públicas", não batem com as exigências da realidade, nem com suas obrigações institucionais.
Criticar tão somente não leva a lugar algum. 
E por que não criticar as proposições do governo apresentando pontos de vista opostos e opções concretas?
Aí o bicho tem pegado, como se diz comumente, por uma dupla deficiência das forças oposicionistas: o descompromisso com os rumos do País, na base do quanto pior, melhor; e a ausência mesmo de idéias consistentes que se diferenciem da receita (dolorosa) que o governo vem apresentando.
De outra parte, se o Orçamento deficitário, recém-encaminhado pelo ministro da Fazenda, Nelson Levy, ao Congresso, provoca reações tão indignadas por parte de tucanos e democratas, por que têm aprovado propostas de claro teor demagógico cujo sentido é de onerar mais ainda os cofres públicos?
Positivas, por outro lado, iniciativas como a do senador Renan Calheiros ao apresentar, em nome do Senado, a Agenda Brasil contendo importantes sugestões passiveis de acordo. Assim como os pronunciamentos das federações das indústrias de São Paulo e do Rio de Janeiro, da CNI, das Centrais sindicais, da UNE e da OAB e dos governadores (que subscreveram manifesto em favor da governabilidade).
A questão concreta e inarredável é: quem deve salvar quem? Ora, a defesa de uma saída para a crise que permita a governabilidade, a superação do ajuste fiscal, a defesa da indústria nacional e dos direitos fundamentais dos trabalhadores via retomada do crescimento econômico é um desafio político central que, hoje, diz respeito ao interesse nacional.
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