08 abril 2016

Fosso antidemocrático

A voz das ruas e os ouvidos do Congresso
Emir Sader, no portal Brasil 247
Se o Congresso fosse, minimamente, o espelho da sociedade brasileira, o tema do impeachment estaria resolvido, com sua ampla rejeição. As manifestações de rua, das entidades civis, das personalidades do mundo da cultura, do direito, das religiões, da etnias, das identidades sexuais, dos jovens, das mulheres, de todos os lugares do Brasil, são incontestáveis: "Não vai ter golpe". Se ouvissem a voz das ruas, a democracia sairia fortalecida da crise.
Mas, incrivelmente, a comissão da Câmara, diante da proposta do impeachment apresentada pelo Miguel Reale Jr. e pela agora tristemente célebre Janaína Paschoal, tende a aceitá-la e a derrotar a proposta de sua rejeição, brilhantemente defendida por José Eduardo Cardoso. Confirma que esse é o Congresso dos lobbies, dos parlamentares eleitos pelo poder do dinheiro, em que Eduardo Cunha teve papel essencial em constituir sua bancada, que predomina nessa comissão.
Basta olhar para a sociedade e para o Congresso, para ver como um é o oposto do outro. Enquanto há uns poucos representantes dos trabalhadores rurais, por exemplo, o lobby do agronegócio conta com uma numerosa bancada. O mesmo acontece com tantos outros setores, em que o poder do dinheiro elegeu grandes bancadas do setor empresarial – na educação privada, nos planos de saúde, nos meios de comunicação privados, além de lobbies como a bancada da bala, de igrejas fundamentalistas, entre outros, que constituem um corpo conversador, desligado dos interesses da grande massa da população.
Se quisessem ouvir a voz da ruas, se tivessem ouvido para elas, se dariam conta que a população tem expressado massivamente sua rejeição de acusações que são apenas disfarces para anular o voto popular mediante interesses escusos. Que a população tem consciência de que são os políticos mais corruptos do Brasil os que dirigem o processo de impeachment. O povo sabe que se trata de um golpe, porque não há razões para interromper o mandato que a Dilma recebeu do voto popular.
Caso a comissão e a Câmara se pronunciem a favor do golpe, vão receber o repúdio da massa de pessoas que começam a se concentrar na Esplanada dos Ministérios. Esse Congresso será repudiado, assim como todos os parlamentares que aderirem ao golpe, terão suas imagens difundidas por todo o país, em todas as manifestações, que não pararão de acontecer, para que todos saibam que eles são golpistas.

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