23 outubro 2018

Ainda há tempo


A escuridão que nos ameaça
Luciano Siqueira 

Não bastassem as inúmeras manifestações de primarismo político e descompromisso com a democracia, o candidato capitão Bolsonaro, que segue à frente nas pesquisas, pronunciou uma fala absurdamente provocadora, domingo último, em mensagem gravada para manifestantes a seu favor reunidos em São Paulo.

Um discurso rasteiro, que sequer os generais que governaram o País, ditatorialmente, por vinte e um anos ousaram fazer. 

Ameaças nominais a líderes políticos oponentes, criminalização de movimentos sociais e desafio aberto às normas constitucionais provocaram em amplos segmentos sociais e políticos, inclusive em setores conservadores, reação imediata mediante múltiplas formas de pronunciamento e protesto.

Terrível é saber os que a maioria eleitoral conquistada pelo capitão ultra direitista em grande parte — sabe-se agora — foi obtida artificialmente, através da manipulação das redes sociais e do aplicativo WhatsApp. 

Podem uma nação da importância geopolítica que tem o Brasil e um povo cuja consciência democrática vem sendo construída a muito custo, admitir um governante dessa estirpe?

Tempos difíceis!

A escuridão nos ameaça. Mas à esperança sobrevive. 

Nos últimos dez dias, acumulam-se revelações graves a respeito da campanha do capitão, inclusive o tsunami de mensagens direcionadas por empresas especializadas em fraudes cibernéticas, financiadas por grandes empresários à margem da legislação atual sobre doações financeiras.

Ao mesmo tempo, a campanha do candidato Fernando Haddad vem agregando novas forças, formais ou não, e alcançado uma comunicação mais consistente junto ao eleitorado.

A própria relevância das redes sociais, em paralelo aos mecanismos tradicionais de campanha, confere à batalha atual uma alteração da variável tempo bem distinta. Um dia vale por uma semana.

Quem sabe possa um percentual elevado de eleitores mudar seu voto nessa reta final.

Lembremo-nos do pleito passado, em que o candidato tucano Aécio Neves parecia vencedor, de acordo com as últimas pesquisas, a ponto de convidar líderes políticos de todo o país para acompanhar, em Belo Horizonte, a apuração dos votos e, em seguida, participarem de uma grande festa comemorativa da suposta vitória.

Exatamente no sábado e no próprio domingo das eleições, Dilma Housseff o ultrapassou   e venceu.

Então, ainda que o capitão venha afirmando sentir-se "com a mão na faixa", o domingo 28 poderá se converter numa festa democrática. 

Como diz o poeta, "faz escuro, mas eu canto".

O canto de liberdade ecoa de várias partes do país, nas capitais e grandes cidades e pelo interior afora. 

A maioria dos brasileiros, mesmo que sob o impacto da crise e da incerteza, enfim poderá se reencontrar com a sua tradição libertária.

Veremos. 

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