Qual a contribuição efetiva do governo federal para o enfrentamento da pandemia? Geraldo Julio esclarece.
A construção coletiva das idéias é uma das mais fascinantes experiências humanas. Pressupõe um diálogo sincero, permanente, em cima dos fatos. Neste espaço, diariamente, compartilhamos com você nossa compreensão sobre as coisas da luta e da vida. Participe. Opine. [Artigos assinados expressam a opinião dos seus autores].
31 março 2020
Refratário
O ministro Mandetta, da Saúde, agora anunciou que o Ministério vai trabalhar “com planejamento“. Por que só agora!?
Vida e economia se cruzam
Pandemia: isolamento acelera recuperação econômica, mostra estudo
Estudo divulgado nos
Estados Unidos analisou efeitos da gripe espanhola na economia em 1918. Cidades
que tomaram medidas mais duras mais cedo tiveram recuperação econômica mais
rápida.
Marianna Branco, portal Vermelho
De acordo com o estudo, as cidades com mortalidade mais alta durante a gripe de 2018 registraram um crescimento econômico mais baixo. Por outro lado, cidades que implementaram medidas de combate à pandemia por um tempo mais longo registraram baixa mortalidade e um crescimento econômico maior no período subsequente.
Marianna Branco, portal Vermelho
De acordo com o estudo, as cidades com mortalidade mais alta durante a gripe de 2018 registraram um crescimento econômico mais baixo. Por outro lado, cidades que implementaram medidas de combate à pandemia por um tempo mais longo registraram baixa mortalidade e um crescimento econômico maior no período subsequente.
“Cidades que intervieram mais cedo
e de forma mais agressiva experimentaram um aumento relativo do emprego e
produção industrial e ativos bancários em 1919, após o fim da pandemia”, afirma
o estudo. Os efeitos, destacam os especialistas, são quantificáveis.
“Reagir 10 dias antes da chegada da pandemia em uma determinada cidade aumenta o emprego industrial em cerca de 5% no período posterior. Da mesma forma, implementar intervenções não-farmacêuticas [isolamento] por 50 dias adicionais aumenta o emprego industrial em 6,5% depois da pandemia”, ressalta o estudo.
“Reagir 10 dias antes da chegada da pandemia em uma determinada cidade aumenta o emprego industrial em cerca de 5% no período posterior. Da mesma forma, implementar intervenções não-farmacêuticas [isolamento] por 50 dias adicionais aumenta o emprego industrial em 6,5% depois da pandemia”, ressalta o estudo.
“Descobrimos que cidades que
intervieram mais cedo e de forma mais agressiva não têm uma performance pior,
na verdade, crescem mais rápido depois do fim da pandemia. Nossos resultados,
portanto, indicam que as intervenções não-farmacêuticas não apenas diminuem a
mortalidade; elas também mitigam as consequências econômicas adve rsas de uma
pandemia”, conclui o estudo.
A análise foi divulgada na
quinta-feira (26) e passou por atualização na segunda (30). É assinada por
Sergio Correia e Stephen Luck, do Federal Reserve (o banco central dos Estados
Unidos) e por Emil Verner, da Escola de Administração do Massachussets
Institute of Technology (MIT).
É um estudo histórico, de um
momento um pouco diferente, mas que mostra algo que outros estudos já apontavam
nesse sentido. Se você conseguir tomar as medidas sanitárias adequadas no tempo
certo o impacto sanitário e econômico é menor, porque não dá para separar as
duas coisas.
Medidas precoces
O economista Guilherme Mello,
professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), afirma que as
conclusões estão em linha com o que outros estudos têm mostrado. “Se você consegue
conter de forma mais eficaz a epidemia e sair do isolamento mais cedo, os danos
econômicos prolongados são menores. Agora, se a epidemia sobrecarrega muito seu
sistema de saúde, provoca muita morte, perdas para famílias e empresas, a perda
de longo prazo é enorme. Você perde capital humano, as empresas fecham e você
tem que manter as medidas de isolamento por mais tempo, porque a epidemia se
alastrou de maneira mais intensa”, afirma.
Como exemplos de países reagiram
rápido à epidemia do novo coronavírus, Mello cita China, Coreia do Sul e Japão,
na Ásia, e a Dinamarca, na Europa. “A China talvez seja um bom exemplo, porque
o pessoal diz que demorou [a reagir]. Não demorou. Com muito menos casos que
outros países orientais, ela já tomou medidas bastante extremas. L&aa cute;
no comecinho da pandemia teve uma certa resistência em admitir, tanto que o
prefeito de Wuhan teve que pedir desculpas. Mas, assim que se percebeu, tanto
China quanto Coreia e Japão, que já tinham passado pela Sars [Sars-CoV, uma síndrome
respiratória grave], tomaram medidas muito duras”, comenta.
No caso de Coreia do Sul, a
testagem em massa foi determinante para o sucesso da estratégia de combate ao
vírus. “No caso da Coreia, além das medidas duras, teve essa questão de
produzir os testes e fez testagem em massa. E isso permite um isolamento um
pouco mais seletivo. Se você tem teste, você consegue ver, mirar, isolar as
pessoas. É uma coisa mei o que es perada”, destaca.
Segundo Mello, os países que
tomaram medidas precoces são os que começam a discutir o fim do isolamento.
“Além da China, no caso da Europa, isso vale para a Dinamarca. Logo que a
Itália começou a ficar grave, a Dinamarca já tomou várias medidas de isolamento
e agora está começando a cogitar uma saída gradual”, diz.
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Que não se repita!
31 de março – a democracia novamente sob ameaça
Portal Vermelho
No transcurso dos 56 anos do golpe militar de 1964, a democracia está em risco. O processo de ataque às
instituições começou com a Operação Lava Jato, criada sob a alegação de
combater a corrupção, que se partidarizou e afrontou permanentemente o Estado
Democrático de Direito, adotando práticas típicas de Estado de exceção.
Associada, à época, à grande mídia,
ela empreendeu uma prolongada campanha para criminalizar os partidos políticos,
em especial a esquerda. Essa escalada culminou com o golpe jurídico-parlamentar
midiático que, com o impeachment fraudulento, retirou o mandato da presidenta
Dilma Rousseff, legitimamente eleita.
Esse
golpe, somado à campanha que criminalizou a esquerda e desmoralizou o sistema
político como um todo, abriu caminho para que a extrema direita assumisse o
governo pela primeira vez desde a redemocratização.
Desde a posse de Bolsonaro, as
instituições e Poderes da República têm sido permanentemente atacados pelo
presidente e seu clã. O Congresso Nacional, expressão do Poder Legislativo, e o
Supremo Tribunal Federal (STF) – a quem cabe papel de ser guardião da democracia
– também sofrem ataques.
Nesse
um ano e três meses de governo, Bolsonaro tem utilizado o método de ir testando
os limites da resistência democrática, atacando sempre as instituições e
recuando após ser rechaçado para logo em seguida desferir outro ataque. Mesmo
na atual situação, de pandemia do coronavírus, quando está em risco a saúde a
vida dos brasileiros, ele segue com o seu intento de criar as condições para
uma ruptura com o regime democrático.
Nesse
sentido, chama a atenção a “Ordem do dia alusiva ao 31 de março de 1964” dos
comandantes militares, que nega os fatos hoje já consensuado pela imensa
maioria dos historiadores do pais, pelas instituições e os Poderes da
República, e mesmo por veículos da grande imprensa que fizeram autocrítica sobre
suas posições durante o regime militar.
Ao contrário do que dizem os
comandantes militares, o regime instaurado com o golpe de 1964 foi
substantivamente antidemocrático. Ele ceifou a democracia, liquidou as
liberdades, baniu o sufrágio universal, amordaçou a imprensa e o parlamento, e
instituiu a tortura e o assassinato como prática de Estado para calar a
oposição.
Nesse
momento, vai emergindo, face ao desastre do governo Bolsonaro em relação ao
momento crítico do país e ao seu autoritarismo, uma ampla convergência de
forças políticas, sociais, econômicas e culturais que, a um só tempo, se
levantam para salvaguardar a democracia e defender a vida, a saúde, o emprego,
a renda e economia nacional. Uma frente de salvação nacional.
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Será?
Entre eles impeachment já é uma hipótese
Leio no Valor Econômico e
transcrevo:
O fundador e presidente da Eurasia Group,
Ian Bremmer, cogitou pela primeira vez, ao falar dos impactos da pandemia de
coronavírus no mundo emergente, um cenário de impeachment de Jair Bolsonaro no
Brasil. Em mensagem semanal aos clientes e contatos da consultoria de risco
político, distribuída ontem, Bremmer dedica parte do texto para uma análise dos
reflexos da covid-19 sobre as respostas de países em desenvolvimento à
emergência sanitária. No caso do Brasil, menciona que Bolsonaro tem feito
campanha contra governadores defensores do isolamento social e acusado a mídia
de incitar o pânico na sociedade. “Ele diminuiu a importância do vírus, dizendo
que as escolas deveriam ser abertas porque crianças não estão em risco e que as
pessoas deveriam voltar à sua vida cotidiana”, escreve. Bremmer explica aos
seus leitores que, como nos Estados Unidos, o sistema político no Brasil é
“fortemente descentralizado”, mas avalia que as declarações do presidente
brasileiro minam a eficácia das medidas adotadas por administrações estaduais.
Ele, então, alerta: “O avanço da doença, que sobrecarrega o sistema de saúde,
recairá solidamente sobre os ombros de Bolsonaro - arriscando o desenrolar de
sua aliança reformista no Congresso e potencialmente até levando ao seu próprio
impeachment.”
Nas redes sociais, Bremmer tem sido crítico do
modo como o presidente Bolsonaro está lidando com a crise. No domingo, ele
tuitou que nunca viu “um nível de irresponsabilidade” tão grande em líderes
democraticamente eleitos e que “Bolsonaro faz [Donald] Trump parecer Churchill”
no enfrentamento ao coronavírus, mas não havia usados os próprios relatórios de
sua empresa para fazer esse tipo de advertência.
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Anêmico
Pesquisa Atlas Político, da última quinta-feira, indica que 61% reprovam e apenas 33% aprovam a conduta de Bolsonaro diante da pandemia do coronavírus. Contrariado no próprio governo, isolado nas ruas.
Ordem desunida
‘Bolsonaro passa a dividir ministros entre aqueles que o defendem e outros que não.’ [O Palácio do Planalto vira uma “casa de mãe Joana”. E a crise do País se aprofunda].
Angu de caroço
‘Moro se opõe a Bolsonaro e forma bloco de apoio a Mandetta com Guedes. Isolamento político do chefe da República também aumenta diante do aval das cúpulas do Legislativo e do Judiciário ao ministro da Saúde’ [Bolsonaro e o tal “núcleo do ódio” em maus lençóis].
30 março 2020
Em declínio
Xadrez do
novo período, em que Bolsonaro não mais governa
Haverá
inevitavelmente o choque final, no qual os Bolsonaro tentarão envolver bases
das Polícias Militares, os caminhoneiros ligados a ele (que não são maioria) e
mais aliados. Quanto menos poder institucional, maior gritaria.
Luis Nassif, Jornal GGN
Os sinais de que Jair Bolsonaro
não mais governa estão nítidos. É um fato que muda totalmente o jogo político.
Peça 1 – o poder militar
No
dia seguinte ao pronunciamento de Bolsonaro, conclamando o fim da quarentena, o
comandante do Exército, general Edson Leal Pujol, falou para a tropa,
recomendando a quarentena e enfatizando que respondia ao Ministro da Defesa e
às autoridades da Saúde.
Ecos de Brasília,
através de alguns jornalistas com fontes militares, mostraram a indignação
dentro do Palácio, sustentando que não iriam participar de semelhante massacre.
Há muito chute no ar, de jornalistas que exercitam
probabilidades como se fossem informações objetivas. De objetivo tem-se o
descontentamento do Alto Comando com Bolsonaro.
Peça 2 – o grupo da saúde
A reação do Ministério da Saúde foi nítida. Antes de ontem, o
grupo de técnicos que toca a guerra contra o coronavirus divulgou um manifesto
reiterando a ordem para manter a quarentena.
Veja bem: o presidente da República decreta o fim da quarentena;
e os técnicos da saúde reiteram a ordem de mantê-la. Não foi nem a título
de recomendação. Foi ordem mesmo. Foi o sinal mais nítido do fim do comando de
Bolsonaro sobre o governo.
Ontem, o Ministro
da Saúde Luiz Henrique Mandetta fez longa apresentação pela Internet, onde
reiterou todas as recomendações iniciais, de manter a quarentena para permitir
o movimento das pessoas trabalhando em atividades essenciais.
Desqualificou as declarações sobre gripezinhas e mortes de
poucos mil, mostrando o efeito sobre a rede do SUS e as consequências
posteriores. Condenou as carreatas visando acabar com a quarentena.
Em suma, desdisse ponto por ponto as
tolices do presidente da República. No final, em um jogo claro de
“engana-o-bobo”, fez um ataque desnecessário à imprensa, mas necessário para
manter o louco sob controle.
Há informações
fidedignas de que qualquer movimento de Bolsonaro, visando inibir os trabalhos
de prevenção, será respondido com renúncia coletiva de toda a turma da saúde.
Peça 3 – o grupo da economia
A economia nunca foi a praia de Bolsonaro e, agora, menos ainda.
É curioso que Paulo Guedes, sem dimensão pública, sem noção das estratégias
necessárias de combate à depressão, tem compensado a falta de ousadia com
discursos de solidariedade e de apoio aos mais fracos. É um mero recurso
retórico, para compensar a falta de medidas mais substantivas. Mas é curioso
que seja utilizado pelo tecnocrata, enquanto o presidente se limita a gracejos,
tipo o brasileiro entra em esgoto e não fica doente.
Aliás, Guedes é o mais assustado com o coronavirus, a ponto de
se ausentar de todos os eventos do governo.
No meio empresarial, acabou definitivamente qualquer veleidade
em relação a Bolsonaro. Sabe-se que, ficando ou saindo, não terá mais a menor
influência sobre reformas, nenhuma interlocução com o Congresso, nenhum
respeito do Supremo, nenhuma ascendência sobre a área econômica.
Peça 4 – a direita virtual
A aposta na minimização do coronavirus minou amplamente sua
ascendência sobre grupos de direita. É um fenômeno similar ao que está
ocorrendo nos Estados Unidos.
No âmbito da grande mídia, cessou a época dos influenciadores
negacionistas. Esta semana, foi demitida uma das principais âncoras da Fox News
– a empresa que descobriu o público de direita e explorou até o limite os fake
News políticos -, devido ao fato de ter minimizado a epidemia e atribuído as
estatísticas a uma conspiração para derrubar Donald Trump. Esse mesmo processo
vai se dar na mídia tradicional brasileira.
Pesquisas feitas logo após os últimos pronunciamentos de
Bolsonaro mostraram uma ampla queda entre eleitores de direita. Hoje em dia, o
bolsonarismo está restrito a um grupo minoritário de terraplanistas, sem massa
crítica para grandes manifestações. Tanto que as carreatas deste final de
semana se tornaram um rotundo fracasso.
Peça 5 – o Judiciário
Até agora, majoritariamente o Judiciário e o Ministério Púbico
se alinhavam com o bolsonarismo. Aparentemente, o noivado foi rompido. Houve
sentenças em vários estados proibindo as carreatas. E uma sentença da Justiça
Federal em Brasília proibindo a veiculação da campanha da Secom estimulando a
quebra da quarentena.
Comprovando o enfraquecimento final de Bolsonaro, a Secom voltou
atrás a ponto de negar que tivesse planejado a campanha.
Peça 6 – a queda de braço com os governadores
Outra derrota foi para os governadores, em sua tentativa de
quebrar o isolamento para enfrentar o coronavirus. A maioria dos governos
relevantes manteve sua posição de não quebrar o isolamento. E as capitais
mostraram que a maioria da população acatou a ordem de não se juntar em grandes
aglomerados.
Completou o ciclo a fala de Mandetta, fortalecendo a posição dos
governadores, recomendando que não alterem sua estratégia.
A frente dos governadores, de enfrentamento do coronavirus, não
é unânime apenas devido a alguns personagens extremamente medíocres, como Romeu
Zema, governador de Minas.
Peça 7 – o papel de Rodrigo Maia
Nesse vácuo de poder, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, se
fortalece definitivamente como o grande interlocutor do mundo político, das
empresas e dos partidos políticos em geral.
Peça 8 – próximos passos
Stricto sensu, Jair Bolsonaro tem os seguintes instrumentos de
exercício do poder de Presidente:
1.
O acesso a rede nacional para pronunciamentos.
2.
A rede de fake News do gabinete do ódio.
3.
Os resmungos do general Augusto Heleno, provavelmente o mais
inepto militar que já passou pela área pública.
4.
Haverá mais dois movimentos previsíveis.
5.
Do lado dos Bolsonaro, o inconformismo resultando em novos
crimes virtuais. Do lado dos órgãos de investigação, a aceleração dos
inquéritos sobre seus filhos.
6.
Fosse um grupo minimamente racional, os Bolsonaros recolheriam
as armas e tentariam se recompor para um novo confronto mais adiante. Mas são
toscos demais. Acuados, tenderão a dobrar a aposta.
7.
Haverá inevitavelmente o choque final, no qual os Bolsonaro tentarão
envolver bases das Polícias Militares, os caminhoneiros ligados a ele (que não
são maioria na classe) e mais grupos aliados, já esvaziados. Tem-se, agora, uma
hiena desdentada.
8.
Quanto menos poder institucional, maior gritaria.
9.
O que irá acontecer daqui para diante tem uma certeza e uma
incógnita. A certeza é do fim de seu poder como presidente. A incógnita é a
maneira como será tirado do poder.
10. Saindo,
é questão de tempo para que ele e a família sejam julgados por tribunais
nacionais e cortes internacionais e se faça Justiça com algumas décadas de
atraso: ele deveria ter sido preso no momento em que foi expulso do Exército.
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Vida sob impacto
Ninguém sairá o mesmo desta quarentena
FERNANDA TORRES, Folha de S. Paulo
FERNANDA TORRES, Folha de S. Paulo
Devo a João Ubaldo Ribeiro a indicação do livro “A Distant Mirror”, da
historiadora americana Barbara Tuchman, sobre o calamitoso século 14 na Europa.
Trata-se do período da peste negra, originada na Ásia central, que dizimou dois
terços da população europeia e deu um fim à Idade Média.
É uma leitura e tanto para a quarentena de agora.
A Guerra dos Cem Anos, o príncipe negro e a Batalha de Crecy; os dois papados, um romano e um francês empenhadíssimo no ignóbil mercado de indulgências; a corrupção na Igreja e os primeiros cristãos indignados que, décadas depois, influenciariam a reforma protestante de Lutero. Está tudo lá.
Mas nada, no relato de Tuchman, se compara às procissões de penitentes em meio à peste. “Monty Python em Busca do Cálice Sagrado”, do Monty Python, e “O Incrível Exército de Brancaleone”, de Mario Monicelli, têm cenas impagáveis sobre o tema. A diferença é que a autora descreve o caos com realismo e minúcia desoladora.
Clamando pela proteção do Senhor, os tementes se juntavam às romarias ainda sãos, caíam doentes no decorrer do trajeto e terminavam o périplo em covas rasas. Foi necessário o alarmante milagre da multiplicação de óbitos para que a Igreja suspendesse missas, procissões e aglomerações de fiéis.
Sete séculos depois, Edir Macedo solta um vídeo na internet afirmando que o medo da Covid-19 é obra de Satanás.
Não satisfeito, procura fundamentar a tese com o depoimento de um patologista, doutor Beny Schmidt, que deveria ter o registro de CRM cassado.
“Morrer é o destino humano”, diz o doutor. “A gente morre de hipertensão, de diabetes, de câncer e de hemorragia, mas de coronavírus a gente não morre, porque Deus não quis.”
Sete séculos depois da disseminação da peste, Jair Bolsonaro desce a rampa do Planalto para trocar gotículas com seus seguidores como se não houvesse amanhã.
O Posto Ipiranga da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, preferiu não comentar a indiferença do superior à curva exponencial de contágio pela Covid-19. O ministro tem crédito, estaríamos perdidos na mão do Weintraub. E os panelaços falaram por ele.
Jair governa para o próprio gueto. Se reinasse na Europa do século 14, pregaria o Apocalipse e incitaria o autoflagelo em cortejos suicidas.
Janaina Paschoal pediu a cabeça do presidente depois do abraça e beija dominical. Arrependida confessa do voto que concedeu ao capitão, a deputada representa uma fatia considerável de eleitores conservadores que começam a perceber que o ódio ao PT não pode servir de justificativa para o apoio a um furioso.
A aliança entre o ultraliberalismo econômico e o populismo de extrema direita enfrenta seu primeiro desafio com uma crise que mais parece lição divina.
A iniciativa privada será incapaz de substituir o Estado no atual salve-se quem puder. Todos os países do mundo estão abrindo as torneiras. Paulo Guedes será obrigado a agir na direção contrária de tudo o que aprendeu em Chicago e sonhou e planejou e prometeu. Duro acaso.
Torço para que o centro ressurja dessa emergência. E que o coronavírus, a exemplo da peste negra na Europa do século 14, venha abreviar o obscurantismo medieval travestido de liberal em que nos metemos.
É isso ou a procissão do “FODA-SE” dos possuídos do domingo passado, dispostos a se imolar pelo capitão. Na Europa trecentista, pelo menos, morria-se por Deus.
Há método na loucura de Macedo e de Messias. Quanto mais fatalidades, mais temor ao Altíssimo e mais Altíssimo para confortar. O bispo tem razão, o medo é a arma de Satanás.
No lado pagão, é preciso reconhecer, nota-se o mesmo estado de negação. Por não se sentirem ameaçados pela doença, os jovens descumprem o resguardo e lotam praias, bares e baladas. O egoísmo também serve de instrumento para o Capeta.
Ninguém sairá o mesmo desta quarentena. Daqui a quatro meses atingiremos, dizem, a imunidade de rebanho. Enterrados os mortos, espero que voltemos às ruas mais humanos e menos afeitos a fundamentalismos religiosos, políticos e econômicos.
Talvez esse vírus seja mesmo o recado de Deus. Deus natureza cansado do ódio, da ignorância, da irracionalidade, da brutalidade, da violência e da vileza dos mitos e profetas. Um Deus farto das trevas e ansioso por um Renascimento.
Aconteceu na Europa, 700 anos atrás.
É uma leitura e tanto para a quarentena de agora.
A Guerra dos Cem Anos, o príncipe negro e a Batalha de Crecy; os dois papados, um romano e um francês empenhadíssimo no ignóbil mercado de indulgências; a corrupção na Igreja e os primeiros cristãos indignados que, décadas depois, influenciariam a reforma protestante de Lutero. Está tudo lá.
Mas nada, no relato de Tuchman, se compara às procissões de penitentes em meio à peste. “Monty Python em Busca do Cálice Sagrado”, do Monty Python, e “O Incrível Exército de Brancaleone”, de Mario Monicelli, têm cenas impagáveis sobre o tema. A diferença é que a autora descreve o caos com realismo e minúcia desoladora.
Clamando pela proteção do Senhor, os tementes se juntavam às romarias ainda sãos, caíam doentes no decorrer do trajeto e terminavam o périplo em covas rasas. Foi necessário o alarmante milagre da multiplicação de óbitos para que a Igreja suspendesse missas, procissões e aglomerações de fiéis.
Sete séculos depois, Edir Macedo solta um vídeo na internet afirmando que o medo da Covid-19 é obra de Satanás.
Não satisfeito, procura fundamentar a tese com o depoimento de um patologista, doutor Beny Schmidt, que deveria ter o registro de CRM cassado.
“Morrer é o destino humano”, diz o doutor. “A gente morre de hipertensão, de diabetes, de câncer e de hemorragia, mas de coronavírus a gente não morre, porque Deus não quis.”
Sete séculos depois da disseminação da peste, Jair Bolsonaro desce a rampa do Planalto para trocar gotículas com seus seguidores como se não houvesse amanhã.
O Posto Ipiranga da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, preferiu não comentar a indiferença do superior à curva exponencial de contágio pela Covid-19. O ministro tem crédito, estaríamos perdidos na mão do Weintraub. E os panelaços falaram por ele.
Jair governa para o próprio gueto. Se reinasse na Europa do século 14, pregaria o Apocalipse e incitaria o autoflagelo em cortejos suicidas.
Janaina Paschoal pediu a cabeça do presidente depois do abraça e beija dominical. Arrependida confessa do voto que concedeu ao capitão, a deputada representa uma fatia considerável de eleitores conservadores que começam a perceber que o ódio ao PT não pode servir de justificativa para o apoio a um furioso.
A aliança entre o ultraliberalismo econômico e o populismo de extrema direita enfrenta seu primeiro desafio com uma crise que mais parece lição divina.
A iniciativa privada será incapaz de substituir o Estado no atual salve-se quem puder. Todos os países do mundo estão abrindo as torneiras. Paulo Guedes será obrigado a agir na direção contrária de tudo o que aprendeu em Chicago e sonhou e planejou e prometeu. Duro acaso.
Torço para que o centro ressurja dessa emergência. E que o coronavírus, a exemplo da peste negra na Europa do século 14, venha abreviar o obscurantismo medieval travestido de liberal em que nos metemos.
É isso ou a procissão do “FODA-SE” dos possuídos do domingo passado, dispostos a se imolar pelo capitão. Na Europa trecentista, pelo menos, morria-se por Deus.
Há método na loucura de Macedo e de Messias. Quanto mais fatalidades, mais temor ao Altíssimo e mais Altíssimo para confortar. O bispo tem razão, o medo é a arma de Satanás.
No lado pagão, é preciso reconhecer, nota-se o mesmo estado de negação. Por não se sentirem ameaçados pela doença, os jovens descumprem o resguardo e lotam praias, bares e baladas. O egoísmo também serve de instrumento para o Capeta.
Ninguém sairá o mesmo desta quarentena. Daqui a quatro meses atingiremos, dizem, a imunidade de rebanho. Enterrados os mortos, espero que voltemos às ruas mais humanos e menos afeitos a fundamentalismos religiosos, políticos e econômicos.
Talvez esse vírus seja mesmo o recado de Deus. Deus natureza cansado do ódio, da ignorância, da irracionalidade, da brutalidade, da violência e da vileza dos mitos e profetas. Um Deus farto das trevas e ansioso por um Renascimento.
Aconteceu na Europa, 700 anos atrás.
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Numa mesma direção
Luciana Santos: Barrar
Bolsonaro com uma ampla frente de salvação nacional
Blog do Renato
O
Brasil e o mundo enfrentam uma situação com singularidade e enormes desafios.
Enfrentá-los é uma questão que exige a compreensão dessa complexa realidade e
muito disposição de luta.
Definitivamente, somos protagonistas uma mudança de época. A pandemia do
coronavírus – certamente a mais grave do último século – precipitou mudanças de
ordem geopolítica, econômica, social e no imaginário coletivo. O mundo não será
mais o mesmo.
No pós-epidemia, um novo cenário internacional tende a emergir, com
total descrédito das políticas de austeridade fiscal e grande papel da China
socialista. Serão ainda mais acirradas as disputas no tabuleiro geopolítico.
Ameaças autoritárias e novos modelos de dominação tendem a surgir. Neste bojo,
a questão da alternativa permanecerá no centro do debate, seja para nosso
campo, seja para o sistema capitalista.
São nestas condições que celebramos os nossos 98 anos do Partido
Comunista do Brasil (PCdoB), um partido engajado nas grandes causas nacionais,
seja no enfrentamento ao governo de extrema direita, seja fazendo frente à
grave crise sanitária que vivemos com a Covid-19. Assim são os comunistas,
indissociáveis da luta do povo.
Um vírus de propagação exponencial
A epidemia se encontra em seu início no Brasil, com somente 10,8% de
população idosa. Mas temos singularidades. Somos um país profundamente
desigual, com grandes comunidades com uma urbanização precária
As estimativas de agências internacionais é de que a economia mundial
sofra fortes retrações neste ano, e o rico de recessão não está descartado. A
OCDE estima que pela primeira vez em anos a China crescerá abaixo de 5% (4,9%).
A OIT estima, em sua primeira projeção, que a Covid-19 pode eliminar 25 milhões
de postos de trabalho. Contudo, a mesma organização afirma que irá atualizar
suas projeções na próxima semana; o número tende a subir.
No Brasil, quando o vírus começou a assustar o mundo já tínhamos de 11,6
milhões de desempregados e 26,2 milhões de pessoas subutilizadas. O governo
Bolsonaro nada vez para enfrentar este drama. De acordo com um estudo da FGV, o
Brasil poderá ter um PIB negativo de – 4,4%; alguns analistas falam que poderá
chegar a -8%.
Vivemos o momento mais agudo de nosso desnorteamento enquanto nação
No Brasil, este quadro se torna mais complexo por vivermos uma
justaposição de crises. Crise na saúde, na política, na economia e na proteção
social. É o momento mais agudo do nosso desnorteamento enquanto nação. Estando
diante do maior desafio dos últimos anos; nos encontramos sem uma liderança
capaz de unir o país para fazer o enfrentamento à pandemia.
Bolsonaro tem adotado a postura de negar a sua gravidade da Covid-19,
considerada por ele como uma “gripezinha”, chamando de histeria as inciativas
adotadas para a sua contenção. Esta atitude se agrava pelo fato de que o
presidente, ao invés de liderar os esforços de coordenação no combate ao
coronavírus, busca politizar a situação e estabelecer um enfrentamento aberto
aos governadores e prefeitos que vêm seguindo as orientações do próprio Ministério
da Saúde e da OMS.
Sua equipe econômica afirmava, até a poucos dias, que a melhor forma de
enfrentar a crise era fazer a “reformas” e privatizar a Eletrobrás, ou
suspensão dos salários por quatro meses. E, apesar do discurso priorizar a
economia, o governo praticamente não adotou medidas neste sentido.
O fato é que, mesmo diante de uma crise desta envergadura, Bolsonaro
prefere manter sua estratégia de enfrentamento, ante a necessidade de
construção de convergência. Sua postura, que já vinha sendo criticada, o deixou
ainda mais isolado após um vergonhoso pronunciamento em cadeia nacional.
Bolsonaro viu seu isolamento político subir de modo vertical. Foi
desconsiderado pelos governadores, desautorizado pelo Supremo Tribunal Federal
(STF) e deixado de lado pelo parlamento. Até mesmo aliados como o governado do
estado de Goiás Ronaldo Caiado, com grande participação no agronegócio, rompeu
publicamente com o presidente.
Acuado, Bolsonaro parte para o ataque, se desresponsabilizando com as
consequências de suas ações. Elegeu como alvo o isolamento social, tentando
jogar no colo dos governadores a responsabilidade pela crise econômica que,
independente de confinamento, existirá.
Bolsonaro dobra a aposta – “O Brasil não pode
parar”
O novo factoide é a necessidade de retomada da atividade econômica,
frente a qual defende medidas mais brandas, como o chamado isolamento vertical,
para conter a propagação do vírus e não parar a atividade econômica.
O
tempo para as populações mais vulneráveis é outro. Para elas, com uma semana de
reclusão o armário vazio chega antes do coronavírus. Chegam as contas para
pagar, a falta dinheiro e a ausência de perspectiva. Neste momento, bate o
desespero e o medo, sentimentos instrumentalizados pelas redes bolsonaristas.
Com esse discurso, Bolsonaro busca se dirigir a uma parcela mais
vulnerável, tentando dizer que são os “políticos”, os prefeitos e os
governadores, com suas medidas exageradas, que estão colocando em risco o
emprego e a sobrevivência das pessoas.
Não há dúvidas de que se trata de uma estratégia articulada, com uso
pesado de bigdatas, de pesquisas qualitativas e mensagens segmentadas, fazendo
uso inclusive da máquina do Estado.
Constrói um discurso que lhe deixa em sua zona de conforto, a de ser vítima,
de estar isento das decisões de governar.
Busca, desse modo, responder à pressão dos agentes do mercado e da
bolsa, de setores dos empresários do varejo, que pleiteiam a retomada imediata
das atividades econômicas.
Estamos para iniciar mais uma semana da crise e as medidas da equipe
econômica permanecem sem aparecer. Após a edição da Medida Provisória chamada
de MP da morte, que deixava as pessoas por quatro meses sem salário, nada mais
surgiu de concreto.
Bolsonaro fala em priorizar a economia, mas as iniciativas do governo
não avançam, não chegam ao Congresso Nacional, não saem dos anúncios. Os
recursos anunciados aos governos estaduais e municipais ainda não saíram do
papel.
Mesmo o mais básico do básico não foi realizado. Até agora as primeiras
inciativas não saíram das palavras. Se mantêm os atrasos no acesso aos
benefícios do INSS, pessoas esperando o benefício do BPC, e mais de 1,5 milhão
na fila do Bolsa Família.
Tímidas iniciativas na esfera econômica
Diante da magnitude da atual crise econômica do Brasil, a equipe do
Ministério da Economia aparenta continuar dançando com uma música que já não
existe mais. O mundo de políticas de autoridades do ministro da Economia, Paulo
Guedes, perderá completamente o sentido, fazem parte do mundo que o coronavírus
levou.
É
hora de política econômica expansionista; e este tem sido o consenso entre os
economistas das mais distintas matizes mundo afora.
A natureza da crise dificulta o sucesso de medidas tradicionais de
política fiscal, em decorrência justamente da necessidade de isolamento. É uma
variedade de medidas que vêm sendo adotadas, sua grande maioria busca ter como
base a rapidez.
São mais de 30 países ao redor do mundo que adotaram medidas novas ou
fortaleceram os já existentes programas de transferência direta de renda para
socorrer trabalhadores, desempregados e os mais pobres.
Na grande maioria, os países adotaram medidas econômicas para enfrentar
a Covi-19. Medidas de política monetária, como a redução da taxa de juros, que
em vários países se encontra em 0%, ou mesmo negativo. No Brasil a taxa de
juros se mantém em 3,75%.
Políticas fiscais para pôr dinheiro na mão das pessoas, garantir renda
mínima, apoio às empresas que garantam o emprego, pagar parte dos salários e
ampliar e melhorar o acesso ao seguro-desemprego.
Ampliar o acesso ao crédito de forma ampla, rápida, fácil e barata para
as pequenas e medias empresas.
Diante das tensões e disjuntivas – qual é a tática a ser adotada? Como
nos posicionarmos neste ambiente instável, imprevisível e de uma crise
múltipla? O que fazer diante deste quadro?
O jogo de Bolsonaro é de tensionar ao máximo possível, levar a disputa
política para o terreno do caos e da confrontação aberta entre os Poderes da
República. Deixou claro em uma de suas declarações na porta do Palácio do
Planalto que o Brasil corre o risco de convulsão social, de que as esquerdas
gostariam de se utilizar disso para o retirar do poder. Ambiente perfeito
para a construção de um autogolpe.
Ampla convergência de salvação nacional
Mas qual é a saída política para este quadro? O centro da tática da luta
continua sendo o esforço de construir uma ampla convergência contra Bolsonaro.
É isto que tem dado liga a reunião dos govenadores. Se opor aos excessos do
governo e fazer com que se estabeleça uma agenda paralela para enfrentar os
desafios da pandemia.
Há
uma preocupação grande de setores da sociedade com o avanço da Covid-19, que
demandam dos governantes o seguimento de medidas das autoridades sanitárias e
da Organização Mundial de Saúde – como o isolamento social, ampliação da
infraestrutura de atendimento no sistema de saúde, entre outras.
É hora de deixar Bolsonaro na corda, de ampliar o seu isolamento. Ele
deve responder por seus atos irresponsáveis. Haverá o momento. Devemos
fortalecer as iniciativas dos governadores e prefeitos no combate à pandemia.
O parlamento terá como papel fazer avançar, de modo célere, as medidas
destinadas a mitigar o sofrimento da população mais carente e vulnerável, como
a aprovação da renda mínima. Terá papel importantíssimo no intuito de conter os
arroubos autoritários e possíveis aventuras que Bolsonaro venha a tomar.
Em outra frente, é necessário ampliar a interlocução com as forças vivas
da sociedade, com vistas a abrir veredas, contribuindo para que este desnorteamento
tenha um fim. A Frente Ampla ganha múltiplos e variados contornos a partir de
cada momento da luta política. Ela vem demonstrando ser o caminho viável para
impor uma derrota ao governo Bolsonaro e construir um novo caminho para o
Brasil.
Não há tempo a perder. Vamos cuidar das vidas!
No enfrentamento ao coronavírus, a grande variável que permeia todo o
debate é a variável tempo. Seja porque o grande perigo do vírus e a rapidez com
que ele se alastra, seja porque ser ágil na adoção de medidas preventivas podem
salvar vidas, seja porque, ser rápido nas ações econômicas protegem a renda e o
emprego dos mais vulneráveis. E desperdiçar tempo é o que mais Bolsonaro tem
feito nas últimas semanas.
Não há tempo a perder. Vamos fortalecer a solidariedade, cuidar das
vidas.
Basta de Bolsonaro!
Se inscreva.
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Futebol em transe
Muitos
treinadores do país têm dificuldade em seguir a evolução do futebol
O
futebol brasileiro piorou porque não aproveitou a evolução técnica e científica
das últimas décadas
Tostão, Folha de
S. Paulo
Existem treinadores que acreditam muito mais no que acham, no
que fizeram e que um dia deu certo, do que na evolução do futebol e da ciência
esportiva. Além disso, muitas coisas no futebol dão certo, mesmo erradas, já
que há inúmeros fatores envolvidos no resultado e na atuação das equipes.
A mesma postura ocorre com políticos, dirigentes e profissionais
de diversas áreas. É uma mistura de superstição, prepotência, ignorância,
fanatismo e negação psicológica.
Por isso e por vários outros motivos, muitos treinadores
brasileiros têm tido grande dificuldade em acompanhar a evolução do futebol,
que foi marcante nos últimos 20 anos.
É uma das causas do 7 a 1,
de o Brasil não ganhar o
Mundial desde 2002 e de os times terem enormes problemas contra
adversários sul-americanos mais fracos e/ou com muito menos investimentos.
O futebol brasileiro não piorou porque perdeu sua essência, o
brilho, o jogo irreverente, surpreendente, dos anos 1960.
Isso tudo é importante, mas o futebol brasileiro piorou porque não aproveitou a
evolução técnica, tática e científica das últimas décadas.
Isso contribuiu também para a diminuição do número de grandes
craques. Não se deve confundir os fenomenais atletas, que são poucos, com os
bons, ótimos. Estes continuam sendo formados em grande quantidade no Brasil.
De vez em quando, ouço alguém dizer que um treinador precisa
optar entre ter um forte conjunto ou ter muitos craques, como se estes
atrapalhassem o coletivo da equipe. Nada a ver.
Retorno à seleção de 1970,
assunto da coluna anterior, que, 50 anos atrás, em junho, ganhou o terceiro
título mundial. Era uma equipe que tinha o melhor de todos os tempos, além de
vários craques, que estão entre os grandes da história. Tinha ainda um
excepcional conjunto, além de praticar um jogo revolucionário para a época.
Parreira, em 1970, era uma mistura de auxiliar da preparação
física e observador. Ele assistiu, no estádio, à semifinal entre Itália e
Alemanha.
Parreira bateu dezenas de fotos e as colocou em sequência, para
mostrar a marcação individual da equipe italiana e o posicionamento do zagueiro
que ficava na cobertura, atrás dos quatro outros defensores.
Zagallo e
todos nós decidimos que eu jogaria entre os quatro defensores e o zagueiro da
sobra, para evitar que ele saísse na cobertura. Resolvemos ainda que, quando
Jairzinho entrasse em diagonal e fosse acompanhado pelo lateral-esquerdo
Fachetti, Carlos Alberto avançaria
e ocuparia esse espaço no ataque.
Assim, saiu o quarto gol. Neste e no gol de Gérson, o zagueiro
da sobra não saiu na cobertura, porque eu estava à sua frente. Foi também uma
vitória tática.
No vestiário, logo após a conquista, dei ao dr. Roberto Abdalla
Moura minha medalha de campeão e a camisa com que joguei o primeiro tempo.
Guardei, porque sabia que a do segundo tempo seria arrancada de meu corpo após
a conquista do título, como ocorreu. Dr. Roberto foi o médico que me operou do
olho nos Estados Unidos, oito meses antes da Copa.
Ele, convidado pela comissão técnica, viajava de Houston até o
México, dormia no hotel da concentração com os jogadores e acompanhava as
partidas da seleção no estádio.
Horas depois da final, houve um jantar, uma festa da Fifa para o
time campeão. Antes da sobremesa, saí de fininho, peguei uma carona com um
mexicano e fui para o hotel, onde encontrei meus pais. Choramos, abraçados.
[Ilustração: Mario Zanini]
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