A
pandemia e a violência doméstica
Cida Pedrosa *
Em meio à pandemia do novo
coronavírus, que colocou mais de dois bilhões de pessoas de todo o planeta em
isolamento social, vemos com muita preocupação as notícias de aumento dos casos
de violência doméstica. Afinal, quando pessoas que já enfrentam problemas no
relacionamento são postas em convívio permanente, forçado, as tensões tendem a
aumentar e não somente as mulheres, mas os filhos também podem ser alvo de
violência. Na França, por exemplo, em uma semana de confinamento, as
autoridades registraram um acréscimo de 36% nas queixas de agressão somente no
entorno da capital, Paris. No Brasil, Rio de Janeiro e Paraná também já
constatam aumento de casos.
Aqui no Recife, não há comprovação
desse aumento, levando-se em conta os registros de atendimento do Centro de
Referência Clarice Lispector ou de denúncias recebidas pela delegacia
especializada nessas duas semanas. Mas, infelizmente, isso não significa que
agressões não estejam ocorrendo. Apenas que as mulheres podem estar enfrentando
mais dificuldade para acessar os serviços.
Atenta à questão, a Prefeitura
do Recife lançou na semana passada, em redes sociais, o alerta: Ficar em casa, não é ficar calada, com a
divulgação de telefones e horários de atendimentos dos serviços de
enfrentamento. O Clarice Lispector está funcionando das 8h às 18h, com o apoio
da Brigada Maria da Penha, para acompanhar vítimas de violência à delegacia, se
for preciso, e o Liga, Mulher (0800 2810107), nosso serviço telefônico gratuito
para orientação, está ativo no mesmo horário.
Apesar de a prefeitura ter
destinado 208 leitos no Hospital da Mulher para atender às vítimas da Covid-19,
essa medida não vai interferir em nada no atendimento do Centro Sony Santos,
que funciona 24 horas na unidade e oferece até exame de corpo de delito a
vítimas de estupro. Assim, estamos apenas a uma ligação de distância da mulher
agredida, prontas para socorrê-la.
Por uma decisão do meu partido
(PC do B), esta semana me despeço das atividades à frente da Secretaria da
Mulher do Recife para disputar uma vaga no legislativo municipal. Sigo com a
reconfortante sensação do dever cumprido quando percebo que os serviços de
atendimento à mulher foram ampliados no últimos três anos. Reforçamos o
programa Maria da Penha vai à Escola, hoje em quase toda a rede municipal;
incluímos as propostas das mulheres (pela primeira vez) no Plano Diretor do
Recife; legalizamos a situação das catadoras que integram a Cooperativa Ecovida
Palha de Arroz; desenvolvemos programas de empoderamento
feminino como o Hoje Menina, amanhã
mulher, em parceria com o Unicef; criamos a Brigada Maria da Penha e
ampliamos o atendimentos dos Centro Clarice Lispector e Júlia Santiago.
Estamos deixando o front, é
verdade, mas jamais abandonaremos a luta em defesa da autonomia e contra as
desigualdades que tanto sacrificam as mulheres. Essa batalha está apenas
começando.
*Secretária da Mulher do Recife
Nenhum comentário:
Postar um comentário