03 abril 2020

"Ficar em casa não é ficar calada"


A pandemia e a violência doméstica
Cida Pedrosa *

Em meio à pandemia do novo coronavírus, que colocou mais de dois bilhões de pessoas de todo o planeta em isolamento social, vemos com muita preocupação as notícias de aumento dos casos de violência doméstica. Afinal, quando pessoas que já enfrentam problemas no relacionamento são postas em convívio permanente, forçado, as tensões tendem a aumentar e não somente as mulheres, mas os filhos também podem ser alvo de violência. Na França, por exemplo, em uma semana de confinamento, as autoridades registraram um acréscimo de 36% nas queixas de agressão somente no entorno da capital, Paris. No Brasil, Rio de Janeiro e Paraná também já constatam aumento de casos.
Aqui no Recife, não há comprovação desse aumento, levando-se em conta os registros de atendimento do Centro de Referência Clarice Lispector ou de denúncias recebidas pela delegacia especializada nessas duas semanas. Mas, infelizmente, isso não significa que agressões não estejam ocorrendo. Apenas que as mulheres podem estar enfrentando mais dificuldade para acessar os serviços.
Atenta à questão, a Prefeitura do Recife lançou na semana passada, em redes sociais, o alerta: Ficar em casa, não é ficar calada, com a divulgação de telefones e horários de atendimentos dos serviços de enfrentamento. O Clarice Lispector está funcionando das 8h às 18h, com o apoio da Brigada Maria da Penha, para acompanhar vítimas de violência à delegacia, se for preciso, e o Liga, Mulher (0800 2810107), nosso serviço telefônico gratuito para orientação, está ativo no mesmo horário.
Apesar de a prefeitura ter destinado 208 leitos no Hospital da Mulher para atender às vítimas da Covid-19, essa medida não vai interferir em nada no atendimento do Centro Sony Santos, que funciona 24 horas na unidade e oferece até exame de corpo de delito a vítimas de estupro. Assim, estamos apenas a uma ligação de distância da mulher agredida, prontas para socorrê-la.
Por uma decisão do meu partido (PC do B), esta semana me despeço das atividades à frente da Secretaria da Mulher do Recife para disputar uma vaga no legislativo municipal. Sigo com a reconfortante sensação do dever cumprido quando percebo que os serviços de atendimento à mulher foram ampliados no últimos três anos. Reforçamos o programa Maria da Penha vai à Escola, hoje em quase toda a rede municipal; incluímos as propostas das mulheres (pela primeira vez) no Plano Diretor do Recife; legalizamos a situação das catadoras que integram a Cooperativa Ecovida Palha de Arroz; desenvolvemos programas de empoderamento feminino como o Hoje Menina, amanhã mulher, em parceria com o Unicef; criamos a Brigada Maria da Penha e ampliamos o atendimentos dos Centro Clarice Lispector e Júlia Santiago.
Estamos deixando o front, é verdade, mas jamais abandonaremos a luta em defesa da autonomia e contra as desigualdades que tanto sacrificam as mulheres. Essa batalha está apenas começando.
*Secretária da Mulher do Recife

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