04 maio 2020

Aldir Blanc, presente!


Aldir Blanc, o cronista do Brasil na corda bamba

Antonio Carlos Queiroz, portal Vermelho

Há coisa de mês e meio, o Evandro, um projeto de concunhado, quis me mostrar seu gosto musical, e a primeira canção que botou pra tocar foi a Resposta ao Tempo do Aldir Blanc e Cristóvão Bastos, um hit de Hilda Furacão, minissérie da Globo. Lá pelas tantas, no verso “E o tempo se rói com inveja de mim”, cravei com certeza científica, quer dizer, cheio de dúvidas: Ahá! O Aldir se inspirou no poeta latino Horácio Flaco (65 a.C. – 8 a.C.)!
Nessa música, Aldir relata um diálogo do Eu lírico apaixonado com o Tempo, com letra maiúscula e tudo. O Tempo zomba do Eu que chora pelos amores perdidos, “porque sabe passar, / eu não sei…”. O Tempo se compara com o Eu, “pois não sabe ficar/ e eu também não sei…”. Quando o Tempo lhe “sussurra que apaga os caminhos/ que amores terminam no escuro, sozinhos”, o Eu responde que “ele aprisiona, eu liberto, / que ele adormece as paixões, eu desperto!”. É aqui que o Eu diz que “o Tempo se rói com inveja de mim, / me vigia querendo aprender/ como eu morro de amor/ pra tentar reviver”. Por fim, o Eu chega à conclusão de que, no fundo, o Tempo “é uma eterna criança/ que não soube amadurecer. / Eu posso e ele não vai poder me esquecer”.
O Aldir, psiquiatra, cronista e poeta cultíssimo, obviamente bebeu na fonte do Horácio Orelhão (Flaccus) para compor essa canção, mais exatamente nos dois versos finais de sua Ode 1.XI, aquela do Carpe diem. Ali, o Horácio exorta uma moça, Leucônoe, a se abster de adivinhar o futuro, aceitando o que a vida lhe oferece agora. Beba vinho, minha filha (como diria o Dráuzio!), e, já que a vida é breve, afaste as longas esperanças. A ode termina assim: dum loquimur, fugerit invida/ aetas: carpe diem quam minimum credula postero. Mais ou menos o seguinte:“A gente conversa e o tempo foge invejoso: goze o hoje, refugue o futuro”

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