Minha neta de 8 anos, ao me ver diante do computador numa videoconferência:
- A vida em reunião!A construção coletiva das idéias é uma das mais fascinantes experiências humanas. Pressupõe um diálogo sincero, permanente, em cima dos fatos. Neste espaço, diariamente, compartilhamos com você nossa compreensão sobre as coisas da luta e da vida. Participe. Opine. [Artigos assinados expressam a opinião dos seus autores].
31 julho 2021
Energúmeno
O tal Mario Frias, secretário nacional de Cultura, é aquele cara que foi a Veneza para um encontro de arquitetura e disse não saber quem foi Lina Bo Bardi? Ai de ti, cultura nacional!
Variante Delta: ameaças
Altamente
contagiosa, variante Delta pode ser transmitida por vacinados, mostra relatório
interno de agência americana
Variante
da Covid-19 é tão transmissível quanto catapora e pode ter maior probabilidade
de levar a doenças graves; descoberta acende alerta nos EUA: 'a guerra mudou'
Raphaela
Ramos, com o New York Times/O Globo
A
variante Delta é muito mais contagiosa, tem maior probabilidade de romper as
proteções oferecidas pelas vacinas contra a Covid-19 e parece causar mais
doenças graves do que todas as outras versões conhecidas do coronavírus. É o
que mostra uma apresentação interna divulgada nos Centros de Controle e Prevenção
de Doenças (CDC) dos EUA a que o New York Times teve acesso.
A
variante, identificada pela primeira vez na Índia e registrada também no
Brasil, é mais transmissível do que os vírus que causam MERS, SARS, Ebola, resfriado
comum, gripe sazonal e varíola, e é tão contagiosa quanto a catapora, segundo a
cópia do documento dos CDC. A agência deve publicar dados adicionais sobre a
Delta ainda nesta sexta-feira.
O
próximo passo imediato para a agência é “reconhecer que a guerra mudou”,
enfatiza o documento. O conteúdo foi divulgado pela primeira vez pelo
Washington Post na noite de quinta-feira.
Rochelle
P. Walensky, diretora da agência, já havia reconhecido na terça-feira que as
pessoas vacinadas que contraem as chamadas infecções invasivas da variante
Delta carregam tanto vírus no nariz e garganta quanto as não vacinadas. E que
podem espalhar o vírus com a mesma rapidez, embora com menos frequência. Mas o
documento interno apresenta uma visão mais ampla e ainda mais preocupante da
variante.
A
infecção pela Delta também pode ter maior probabilidade de levar a doenças
graves, destaca o documento. Estudos realizados no Canadá e na Escócia
mostraram que as pessoas infectadas pela variante têm maior probabilidade de
serem hospitalizadas, enquanto pesquisas em Cingapura indicaram que é mais
provável a necessidade de uso de oxigênio hospitalar.
Ainda assim, os números do CDC mostram que os imunizantes são altamente efetivos na prevenção de formas graves da doença, hospitalização e morte para as pessoas vacinadas, enfatizaram especialistas ao NYT.
— A Delta é problemática— disse John Moore, virologista da Weill Cornell Medicine, em Nova York. — Mas o céu não está caindo e a vacinação ainda protege fortemente contra os piores resultados.
O documento obtido pelo NYT se baseia em dados de vários estudos. Nesta sexta-feira, os CDC publicaram um relatório que se concentrou principalmente em um surto em Provincetown, Massachusetts, que aumentou rapidamente em quase 469 casos no estado na quinta-feira, dos quais três quartos estavam totalmente imunizados. O episódio apoia fortemente a ideia de que mesmo pessoas totalmente vacinadas podem espalhar o vírus involuntariamente.
O
surto surgiu depois que mais de 60 mil foliões celebraram o feriado de 4 de
julho em Provincetown, reunindo-se em bares lotados, restaurantes e casas
alugadas, muitas vezes em ambientes fechados.
As
vacinas continuam sendo o único escudo confiável contra o vírus, em qualquer
forma. Nos EUA, cerca de 97% das pessoas hospitalizadas com Covid-19 não foram
vacinadas, de acordo com dados dos CDC.
Tanuri: 'é preciso mais cuidado com flexibilizações no Brasil'
O
Ministério da Saúde informa que, até 29 de julho, 247 casos da variante Delta
foram notificados no Brasil e 21 óbitos foram confirmados. "Os dados são
atualizados a partir das notificações das secretarias estaduais de saúde e são
dinâmicos", informou, em nota, a pasta.
O
virologista e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Amilcar Tanuri afirma que, com base nos dados dos CDC, será preciso ter mais
cuidado com as medidas de flexibilização e o uso de máscaras para evitar a
transmissão do vírus no Brasil. Mas destaca: "a boa notícia" é que as
vacinas continuam efetivas para bloquear mortes e o agravamento da doença.
—
Os dados mostram que mesmo os vacinados, se infectados com a Delta, são mais
infecciosos do que com as outras formas do vírus. Não é um problema de quem
está vacinado e protegido contra a hospitalização, mas para a comunidade. Essa
pessoa pode ter contato com idosos, por exemplo, para quem a Delta pode ter um
efeito mais devastador — explica o virologista.
A epidemiologista e professora da Universidade
Federal do Espírito Santo (UFES) Ethel Maciel avalia que os dados "mudam a
forma como estávamos pensando a Covid-19". Ela explica que as
especificações da Delta mostram que a doença definitivamente será mais parecida
com a influenza e menos com o sarampo, por exemplo. A vacina vai diminuir
bastante a gravidade, mas não a transmissão, ao contrário do que estava sendo
observado antes da variante Delta.
—
Até agora estávamos observando que os vacinados tinham uma diminuição de
transmissão. Mas os novos dados dos EUA mudam o jogo. O vírus não vai embora.
Vamos precisar de capilaridade de testagem e sistemas de vigilância
epidemiológica fortes, mesmo após 70% da população vacinada. E precisamos ter
homogeneidade na vacinação, principalmente para garantir a segunda dose dos
idosos e grupos com comorbidades — diz a pesquisadora.
Com
a queda do número de óbitos pela Covid-19, as principais
capitais brasileiras ensaiam a flexibilização de medidas de
distanciamento. Tanuri destaca que será preciso acompanhar "com muito
cuidado" o espalhamento da Delta e a incidência da doença para, se
necessário, retomá-las. Já Maciel avalia que maiores flexibilizações, como o
anúncio no Rio de Janeiro da reabertura da cidade com uma
celebração em setembro e previsão de liberação de máscaras a partir de novembro,
são "irresponsabilidade diante de incertezas que não podemos
controlar".
Delta acendeu alerta nos EUA
Até
quinta-feira, havia 71 mil novos casos de Covid-19 por dia, em média, nos EUA.
Os novos dados sugerem que as pessoas vacinadas estão espalhando o vírus e
contribuindo para o aumento desses números — embora provavelmente em um grau
menor do que os não vacinados.
A
diretora dos CDC Rochelle P.Walensky classificou a transmissão por pessoas
vacinadas de evento raro, mas outros cientistas sugerem que ela pode ser mais
comum do que se pensava.
As
novas diretrizes de uso de máscara da agência para vacinados nos EUA,
apresentadas na terça-feira, foram baseadas nas informações apresentadas no
documento. Os CDC recomendaram que as pessoas imunizadas também usem máscaras
em ambientes fechados em locais públicos localizados em comunidades com alta
transmissão do coronavírus.
Agora,
o documento interno sugere que mesmo essa recomendação pode não ser suficiente.
“Dada a maior transmissibilidade e a cobertura atual da vacinação, o uso de
máscara universal é essencial”, afirma o relatório.
Os
dados da agência sugerem ainda que pessoas com sistema imunológico enfraquecido
devem usar máscaras mesmo em locais onde não haja alta transmissão do vírus. O
mesmo deve acontecer com as pessoas vacinadas que estão em contato com crianças
pequenas, adultos mais velhos ou pessoas mais vulneráveis.
Hoje
são detectadas cerca de 35 mil infecções sintomáticas por semana entre os 162
milhões de americanos vacinados, de acordo com dados coletados pelos CDC a
partir de 24 de julho, citados na apresentação interna. Mas a agência não
rastreia todas as infecções leves ou assintomáticas, então a incidência real
pode ser ainda maior.
A
infecção com a variante Delta produz uma quantidade de coronavírus nas vias
aéreas dez vezes maior do que a observada em pessoas infectadas com a variante
Alfa, que também é altamente contagiosa, observou o documento. E a quantidade
de vírus em uma pessoa infectada com a Delta é mil vezes maior do que a
observada em pessoas infectadas com a versão original do coronavírus, de acordo
com um outro estudo recente.
.
Veja: Não
é fácil, mas saber onde pisamos nas redes sociais importa para que não nos
deixemos manipular mais do que o inevitável pelo jogo de algoritmos https://bit.ly/2ZzvEJO
Cuidado
As infecções por COVID-19 aumentaram 80% nas últimas quatro semanas na maioria das regiões do mundo, informa o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus. Custa crer que no Brasil possamos afrouxar as medidas preventivas sem risco.
Origem de tudo?
A MÁQUINA PRIMORDIAL
Cristina França*
Não sei se o debate se põe nesta perspectiva. Sei, porém, que se faz
urgente e pelo princípio. Precisamos separar a vagina do útero (a máquina
primordial). O direito ao aborto é intocável. Acesso a anticoncepcionais como
séria política pública é fundamental. Toda forma de amor vale amar. E cada
útero se constitui uma possibilidade de mudança de rota, não apenas pessoal,
mas da raça como um todo.
Já acreditamos, em eras matriarcais, que a gestação nada tinha a ver com o macho. Que forças da natureza engravidavam as fêmeas e a vida se reproduzia de modo soberano na barriga do mundo. A contribuição do espermatozoide ao ser intuída trouxe as nefastas consequências que conhecemos. E desde então a vagina foi subordinada ao útero na perspectiva da esposa e do capital. Quando vejo vidinhas nas calçadas fadadas a serem um problema social, sempre penso se ao menos foram consequências de um orgasmo vaginal múltiplo.
Cada vez que leio um texto sobre desenvolvimento sustentável penso no útero insustentável. Cada vez que leio um texto sobre criação de riqueza penso no útero pobre. Cada vez que leio um texto sobre inclusão e diversidade penso no útero excluído e personalizado, abandonado antes, durante e depois de produzir a força de trabalho (foco nela, visto que o capital já nasce incluído). Cada útero cria um problema sob qualquer perspectiva.
Imagino um futuro com úteros externos. Máquinas reprodutoras de mão de obra em grandes galpões climatizados comandadas pelo capital. Imagino se chegaremos lá uterinamente empoderadas – mais que o amor pelo produto que mama, a posse incontestável da máquina primordial. Em um dos percursos formativos do PC do B levantei a questão do útero deste ponto de vista e até fêmeas tiraram onda.
O que entendo dizer é: teorizamos e experimentamos a luta capital/trabalho sem nos debruçarmos realmente sobre de onde vêm os capitalistas, socialistas, comunistas, liberais, conservadores, milionários, miseráveis. E, para completar e atualizar a lista, de onde vêm também ambientalistas e negacionistas do clima. A abordagem feita é empírica. O que posso dizer é que discutir a alienação do útero é um propósito meu. Parafraseando Marx, que ele seja vetor de satisfação de uma necessidade e não um meio para satisfazer necessidades externas às fêmeas.
[Ilustração: "Útero", Victor Galdino]
*Cristina França é jornalista
Veja: Nas redes sociais, você quer ser cão ou gato? https://bit.ly/3adg1y6
Sonhos temporariamente desfeitos
O
menor ENEM da história
José Luís Simões*
A queda no número de
estudantes inscritos no ENEM 2021 é a maior prova do quanto a pandemia afetou
os estudantes, suas perspectivas e sonhos. Professores e estudantes não estavam
preparados para uma rápida mudança nas relações que envolvem o processo
ensino-aprendizagem.
Quem brincou o
carnaval 2020 mal podia esperar que os dias seguintes seriam de incertezas, lockdowns e restrições no trabalho e no
estudo, para tentar conter a pandemia. As escolas fecharam seus portões, as
universidades também. Algumas instituições rapidamente aderiram ao ensino
remoto; outras hesitaram um pouco, mas foram levadas pela grande onda da
Covid-19 a aderir a essa modalidade de aulas. As consequências naturais do
despreparo da comunidade estudantil para essa mudança abrupta na relação
aluno-professor aparecem agora: muitos estudantes estão inseguros, não se
sentem preparados para o ENEM 2021 e por isso não se inscreveram.
Apesar do grande
esforço docente em preparar lives, aprender a usar plataformas de ensino
virtual em tempo recorde e manter o diálogo com estudantes pela internet, o
prejuízo na preparação de jovens para o ENEM é fato. Da mesma forma, a formação
acadêmica dos universitários sofreu com a impossibilidade de aulas e
experiências ou atividades práticas, que requer convívio e contato presencial.
Enfim, a educação foi prejudicada com o alongar das restrições impostas pela
pandemia no Brasil.
O governo Bolsonaro,
lamentavelmente, foi inepto e inconsequente no processo de compra de vacinas, o
que ampliou ainda mais o tempo de pandemia, as restrições de contato físico e,
consequentemente, a manutenção de aulas remotas. Qualquer estudante consequente
preferiria deixar de frequentar o ambiente escolar, assumir prejuízos em sua
formação, do que colocar a vida de familiares em risco. Ora, historicamente, as
escolas sempre foram ambientes de muito contato físico, proximidade, sociabilidade
e interatividade, mas também facilitadoras na proliferação de vírus e
bactérias.
A baixa procura pelo
ENEM 2021 é a ponta do iceberg. O Brasil amarga perto de 550 mil mortes pela
Covid-19. A CPI da pandemia no Senado Federal expõe a excrescência que é parte
da classe política que, ao invés de agilizar a compra de vacinas, se preocupava
em combinar esquema de propinas com empresas com objetivo precípuo da
maracutaia, do ganho fácil no comércio dos imunizantes.
Bestializados, é
assim que ficamos com a incompetência do governo no combate à pandemia, com
elevado número de vidas perdidas e famílias em sofrimento, além do aumento do
desemprego, da fome e da corrupção endêmica. O descompromisso da classe
política é latente, uma vergonha.
A queda no número de inscritos
no ENEM e o prejuízo na formação dos estudantes são alguns dos sintomas de um
Brasil que está doente. O país foi atacado pelo vírus da ignorância, da
incompetência, do desrespeito e da falta de empatia com os de baixa renda. A
Covid-19 ampliou o sofrimento, ela foi o projétil. O governo foi o revólver. O
povo foi o alvo.
Mas a tempestade há
de passar. O povo clama por dias melhores. Os estudantes e profissionais da educação
merecem dias melhores. Mais do que promessas, precisamos de ações e reações que
coloquem o tema da educação como prioridade, afinal de contas, a elevação dos
índices educacionais e ampliação do acesso ao conhecimento são instrumentos de
mudança e de retomada da esperança no futuro.
*Professor do Centro de Educação-UFPE
Veja: Nas redes
sociais, você quer ser cão ou gato? https://bit.ly/3adg1y6
Contraditório
Em todo debate, ouvir e compreender argumentos contrários é indispensável ao desenvolvimento dos nossos próprios argumentos. Simples, né? Mas muita gente logo perde a paciência.
Menos
Comemoremos nossos bronzes e raros prata e ouro. Mas não esqueçamos que o Projeto Olímpico brasileiro afundou sob o governo Bolsonaro.
Invencionisse
Sob condições normais de tempo, temperatura e lucidez teríamos 2 alternativas de sistema democrático de governo possíveis no Brasil: o atual presidencialismo ou o parlamentarismo. Porém do tumulto mental surge essa ideia esquisita de "semipresidencialismo." Aí de ti, República!
Aqui é diferente
Não dá para flexibilizar as medidas sanitárias contra a Covid no Brasil apenas reproduzindo o que se faz em outros países. Fator decisivo é o percentual da população vacinada, que aqui ainda é muito insuficiente, apesar dos avanços recentes.
Sem ele
Museu da Língua Portuguesa é reinagurado em São Paulo sem a presença de Bolsonaro. Ele seria um elemento absolutamente estranho ali.
Bufão
O cara passa 3 anos acusando fraude no sistema de votação eletrônica e agora reconhece que não tem provas... E não é aquele sujeito que conversa bobagem na esquina, ele presidente o maior país da América do Sul! Tragicômico.
Os números e a realidade
As
manobras estatísticas para ocultar o desastre do mercado de trabalho
Luís Nassif, Jornal GGN
A propaganda oficial costuma recorrer a uma
“pegadinha” para edulcorar os dados de desemprego. Trata-se de divulgar, de
forma isolada, os dados sobre a População Ocupada. Pelos dados que acabaram de
ser divulgados, do trimestre mar-mai 2021, houve aumento de 809.000 pessoas
ocupadas, uma alta de 0,94% em relação ao trimestre dez 2020-fev 2021.
Ocorre
que, no mesmo período, a População Economicamente Ativa (PEA) – ou seja,
pessoas em idade de trabalho – aumentou em 1.180.000 de pessoas. Portanto,
houve um aumento de 372.000 na população desocupada. Ou seja, para manter o
mesmo nível de ocupação, a geração de emprego tem que, no mínimo, acompanhar o
crescimento da PEA.
As curvas de desalentados na Força de Trabalho e de subocupação teve mudanças mínimas e se mantêm em patamares muito mais elevados depois da reforma trabalhista do governo Temer. O mesmo ocorreu com a subocupação.
Outro dado que comprova o desmonte do
mercado de trabalho, a partir de Temer, é a relação entre contribuintes (com
pagamento ao INSS) e força de trabalho.
Repare
que, em períodos de aprofundamento da crise – 2015 e no ano passado – aumenta a
proporção de contribuintes na força de trabalho. Significa a demissão maior foi
de trabalhadores com contratos informais de trabalho.
Veja: A CPI continua botando mais caroço para o indigesto
angu de Bolsonaro https://bit.ly/3dkvSvC
30 julho 2021
Rejeitado
Rejeição a Bolsonaro vai a 62% após casos de corrupção, diz pesquisa. Com tamanho desgaste, Bolsonaro não teria chances de vitória se as eleições presidenciais fossem hoje. Leia mais https://bit.ly/3yaT5ca
Doença social
Conselho Federal de Farmácia estima alta de 13% do consumo de antidepressivos e estabilizadores de humor desde que se iniciou a pandemia no País. Sensação de infelicidade bate à porta.
Receio saudável
Estudo da CNI revela que 34% da população brasileira sente medo grande ou muito grande de frequentar bares ou restaurantes e locais públicos em razão da Covid-19. Dado positivo no sentido de maior receptividade às medidas sanbitárias de prevenção.
Mais perícia
Controladoria Geral da União realiza 7º Seminário sobre Análise de Dados na Administração Pública. Bom seria que melhorasse a acuidade para reconhecer as irregularidades nos documentos relativos à tentativa do governo em adquirir a Covaxin com sobrepreço...
Conflito
Ação do MPF consegue que normativa da Funai que fragiliza proteção de terras indígenas seja suspensa em 8 estados da Federação. Menos mal.
Expedientes suspeitos
Emendas ao Orçamento Geral da União são um instrumento legal e possibilita que deputados e senadores possam traduzir em recursos a satisfação de reivindicações, em princípio procedentes, de Estados e Municípios. Mas sob o gpverno Bolsonaro, a tentativa de dar um mínimo de estabilidade a uma maioria parlamentar porosa, essa passou a ser um questão suspeita. Transcrevo a matéria a seguir por considera-la uma informação objetiva sobre a questão. (LS)
A FARRA DAS EMENDAS PIX NO
CONGRESSO
Deputados e senadores já liberaram mais de 1 bilhão
de reais em dinheiro público transferido diretamente para o caixa de estados e
municípios, sem finalidade definida nem transparência
MARTA
SALOMON, revista Piauí
Mais de 2.500 km separam os municípios de
Carapicuíba, na região metropolitana de São Paulo, e a pequena Parambu, no
sertão de Inhamuns, no Ceará. Um tem treze vezes a população do outro. Em
comum, os dois municípios são os primeiros destinatários dos maiores repasses
no Orçamento da União deste ano – 8 milhões de reais cada – oriundos de um tipo
especial de emenda parlamentar. Populares entre deputados e senadores de todos
os partidos, as transferências especiais de dinheiro público a estados e
municípios, conhecidas como emendas pix, já liberaram até 28 de julho mais de 1
bilhão de reais, quase 70% a mais do que no ano passado inteiro. Os prefeitos
poderão gastar os recursos como acharem melhor. E cabe a eles escolher se
tornam público o destino do dinheiro em plataforma de acompanhamento de gastos
do governo.
A prefeitura de Carapicuíba informou que os 8 milhões de reais irão para obras de infraestrutura, como o recapeamento de ruas, reforma de prédios públicos e obras de prevenção de enchentes. “A transferência especial facilita a burocracia e agiliza o andamento de obras, pois não precisa passar pela Caixa Econômica Federal”, argumentou em nota à piauí a assessoria do prefeito Marcos Neves, do PSDB, mesmo partido a que se filiou o autor da emenda, Alexandre Frota (SP), há quase dois anos. Quando foi eleito pelo PSL em 2018, Frota teve menos de 1% dos votos para deputado do município.
A prefeitura de Parambu não informou como
pretende usar os seus 8 milhões de reais, que correspondem a cerca de 10% de
todo o orçamento municipal. O deputado Genecias Noronha (Solidariedade-CE)
também não quis comentar se o fator parentesco contou para garantir o envio do
dinheiro ao município governado pelo sobrinho, Rômulo Noronha – e do qual
também já foi prefeito. Nas eleições de 2018, Genecias teve quase 70% dos votos
na cidade.
As transferências especiais mais do que
triplicaram no Orçamento de 2021 em relação à lei orçamentária do ano anterior.
Passaram de 621 milhões de reais no ano passado, o primeiro em que vigoraram,
para quase 2 bilhões de reais neste ano. Entre os 594 deputados e senadores,
400 parlamentares propuseram emendas desse tipo, sem finalidade definida. Como
em 2020, todo o dinheiro será liberado até o final do ano, porque são emendas
impositivas, reiterou a Secretaria de Governo da Presidência da República, responsável
por administrar o fluxo das emendas. Desde que as transferências especiais
começaram, essa modalidade de emendas já garantiu 2,6 bilhões de reais, ou
quase meio fundão eleitoral aprovado pelo Congresso para financiar as
candidaturas em 2022, de 5,7 bilhões de reais.
A piauí perguntou à ministra Flávia Arruda, da
Secretaria de Governo, se defende maior transparência para as transferências
especiais, mas ela não respondeu. Em 15 de junho, Arruda assinou, com o
ministro Paulo Guedes, da Economia, portaria com normas para a liberação do
dinheiro. O documento diz que prefeituras e governos estaduais beneficiados
poderão registrar informações sobre o gasto do dinheiro na Plataforma +Brasil,
“para fins de transparência e controle social das transferências especiais”.
Mas trata-se de uma opção, não de uma obrigação.
Ainda não é possível saber quantos estados e municípios serão beneficiados ao todo em 2021 com as emendas pix. Os detalhes só aparecem no momento em que as despesas são empenhadas, passo que antecede o pagamento. Cada parlamentar tem uma cota de até 16,2 milhões de reais para emendas individuais. Dentro desse total, o limite para emendas especiais é de 8,1 milhões. Os maiores valores liberados até o momento nessas transferências especiais são de 8 milhões, como os destinados a Parambu e Carapicuíba. O deputado Vaidon Oliveira (Pros-CE), por exemplo, rateou seus 8 milhões de reais de uma única emenda pix entre cinco municípios cearenses: Quiterianópolis, Ipu, Nova Russas, Croatá e Pentecoste. Até 28 de julho, 4,7 bilhões de reais já haviam sido comprometidos com o pagamento dessas emendas individuais.
Legalmente, o dinheiro das transferências
especiais não pode ser usado para pagar pessoal nem juros de dívidas. Sete a
cada dez reais transferidos devem ir para investimentos. Caberá aos tribunais
de contas apurar eventuais desvios. A identificação de irregularidades não
bloqueará novas transferências especiais, liberadas mesmo para municípios
inadimplentes.
Não é pouco dinheiro. O valor repassado aos
municípios de Carapicuíba e Parambu – 8 milhões de reais – equivale a mais de
três vezes todo o gasto previsto para o Instituto Nacional de Pesquisas
Especiais (Inpe) monitorar desmatamento e queimadas na Amazônia e no Cerrado
(2,6 milhões de reais), por exemplo. Menos de oito emendas como as que
beneficiam os dois municípios seriam suficientes para bancar todo o programa de
construção de cisternas para água, tanto para o consumo humano como para a
produção de alimentos no Nordeste, que nem começou a ser executado neste ano.
No bolo das emendas individuais
apresentadas por deputados e senadores ao Orçamento da União, de 9,7 bilhões de
reais, as emendas pix só perdem para o aumento temporário de verbas para o
custeio dos serviços de atenção básica de saúde, a porta de entrada do Sistema
Único de Saúde.
Governistas e oposicionistas usam as
emendas pix. A Secretaria de Governo da Presidência não informou por que alguns
parlamentares têm o dinheiro liberado para suas emendas na frente de outros.
Nem por que o PSL, legenda de Jair Bolsonaro na eleição, dona da segunda maior
bancada, recebeu menos até
agora do que o MDB e o PSD,
partidos que detêm bancadas menores. O PT lidera o rateio.
São seis os parlamentares que não tiveram
nenhum centavo de suas emendas empenhado até o dia 28. O senador Vanderlan
Cardoso (PSD-GO) é um deles. “O fluxo de liberação está normal”, comentou o
aliado do governo, que espera ter os 16.279.986 reais de emendas – o limite a
que cada parlamentar tem direito – integralmente liberados até o final do ano.
Diferentemente de outros quatrocentos colegas, Cardoso não propôs nenhuma
transferência especial, por uma preferência de sua base eleitoral. “Adotamos o
critério de pesquisar antes, e os próprios prefeitos têm optado por
equipamentos como tomógrafos, ônibus escolares, transportes de pacientes para
hemodiálises e salas de parto”, completou.
O presidente da Câmara, Arthur Lira
(PP-AL), atua na liberação de emendas dos parlamentares, mas só conseguiu
liberar para suas emendas 34,6 mil até o momento. No fluxo de liberações, Lira
está uma posição atrás do deputado Luis Miranda (DEM-DF), que denunciou
pressões para a compra de vacinas do laboratório Covaxin contra a Covid-19. O
presidente da Câmara comentou apenas que a liberação do dinheiro segue o
calendário do governo e depende da análise e trâmite nos ministérios.
Viver pe preciso
Num encontro casual, um amigo da minha geração confessa:
— Hoje a minha maior preocupação é com a finitude da condição humana. Sinto que estou no fim da vida...
— Estou noutra, cara. O fim é inevitável a todos nós, claro; porém estou mesmo é concentrado em viver intensamente!No prejuizo
Crise global agravada pela pandemia: quem tem quer vender e poucos querem comprar, inclusive os donos do dinheiro. O Brasil entra nisso em desvantagem e sem projeto próprio. Uma lástima.
Palavra de poeta: Patricia Peterle
Um
sentido lógico do ilógico
Para Giorgio
Patricia Peterle
É verdade não
importa a distância.
Hoje nos reencontramos e você sabe
um pouco de ti carrego comigo:
óculos e bigode não podem faltar.
O cheiro do filé de
bacalhau frito de Santa Barbara
se mistura ao sabor das alcachofras
um lançamento de livro parada no lago Bracciano
e um aperitivo
afinidades siderais não passam
com o passar das estações
como a perspectiva da cidade se renova
garupa rasante em carros e monumentos
viagens num punhado tomado da lembrança.
Lembrança desejo
irrompente quando
as baterias do controle se tornam mais fracas.
Aqui a distância
não importa nada
as regras do jogo são outras
não sabemos
as inventamos
hoje nos reencontramos na praia
vestes elegantes num jogo sem sentido
sem sentido lógico sentindo a areia e
as nossas vozes que se falavam por números
alógicos. Você dizia 26 e eu respondia 12
você 234 e eu 71. Subterrâneos cinzeis
ampulhetas infindáveis
precipícios de um sonho.
É verdade a
distância não importa.
*
O que não devo fazer
para me livrar dessa
mente inimiga
perene hostilidade
diante da feliz culpa
de ser o que sou
ouriço, joaninha
[Ilustração: Anita Malfatti]
Na defensiva
Bolsonaro faz “live desvairada” e enterra voto impresso. A reação política aos ataques de Bolsonaro ao trabalho do TSE veio em forma de vergonha alheia e desqualificação da argumentação precária usada. Avalia-se que a live constrangedora tenha contribuído para consolidar a posição dos parlamentares em enterrar a PEC do voto impresso. Leia mais https://bit.ly/3lhrG4H
Humor de resistência
Insanidade
Se o cara foi mesmo aluno de escola militar deve saber que atacar vários inimigos, reais ou imaginários, ao mesmo tempo é grosseiro erro tático.
Desvio de função
Péssimo para uma instituição como as Forças Armadas que militares em cargos civis travem batalha campal por espaços com o Centrão no interior do governo. Nada a ver com a soberania nacional e a defesa da integridade do nosso território.
Bate-boca
Mais um bate-boca entre a presidência da República e o Supremo Tribunal Federal em torno da conduta (irresponsável) de Bolsonaro no enfrentamento da pandemia. Até quando?
Vale o todo
Num mundo tão atribulado, o jeito é praticar a atenção difusa: focar no principal, mas sem descuidar do que acontece em torno.
Isso mesmo!
O ex-ministro Pazuello dizia que o presidente mandava e ele cumpria... Disse hoje à PF que recebeu apenas uma sugestão verbal de Bolsonaro para apurar o caso da Covaxin e que passou a tarefa a um subalterno e nem soube do resultado. Prevaricação é isso.
Elementar
No mar de mediocridade que circunda os Palácios Planalto e Alvorada, quem for capaz de confirmar que 2 + 2 = 4 será considerado sábio.
Múltiplo
Ao longo da História, o Brasil já teve presidente incompetente, ridículo, autoritário, insensível e tresloucado. Pela primeira vez temos todos esses atributos num mesmo presidente.
29 julho 2021
Mundo do trabalho
A novíssima maquinaria e o trabalho no início do século 21
Desindustrialização
não significa que a produção de manufatura tenha perdido relevância econômica
Marcio Pochmann, portal
Vermelho www.vermelho.org.br
A busca pela elevação na taxa de lucro do sistema econômico promove o aparecimento de uma novíssima maquinaria a reconfigurar o trabalho neste primeiro quarto do século 21. Por maquinaria compreende-se a incorporação de novas tecnologias que permite tanto ampliar a capacidade de produção como reduzir o tempo de trabalho necessário, cujas consequências políticas na sociedade, sobretudo para a classe trabalhadora, são significativas.
Desde o nascimento da grande indústria, ainda na Inglaterra do século 18, o desenvolvimento da maquinaria se associou aos processos de inovação tecnológica. Ao englobar os saberes dos trabalhadores, a industrialização crescente nas mais diversas atividades econômicas garantiu maiores ganhos de produtividade pela captura de maior parcela do trabalho não-pago.
Neste sentido, o avanço atual do trabalho em plataformas digitais e pela difusão da inteligência artificial guarda relação com o passado da mecanização que transformou o antigo labor artesanal dos trabalhadores de ofício. Ainda que linguagens de base ideológica esteja sendo introduzidas (“parceira”, “empreendedorismo” e “colaboracionismo”), parecendo diferenciarem da tradicional relação capital-trabalho, a estrutura básica das classes sociais proprietárias e não proprietárias permanecem intocadas.
Em não havendo alteração na separação entre proprietários e não proprietários dos meios de produção, a novíssima maquinaria termina por reproduzir a clássica e longeva forma industrial de produção. Em vez da perspectiva pós-industrial, consolida-se a superindustrialização dos serviços em busca da elevação na taxa de lucro assentada no apresamento do trabalho não pago através da crescente digitalização da economia.
Por indústria, concebe-se a forma de produzir padronizada e em larga escala, conforme origem na esfera da manufatura, e se que espraiou também para a agropecuária e serviços, mais acentuadamente no período recente. Na realidade, a superindustrialização que se expressa pela digitalização do sistema econômica ancora-se no uso recorrente da inteligência artificial em simultânea metamorfose da riqueza submetida à lógica rentista do capitalismo ocidental nos últimos anos.
Com a globalização sendo conduzida pelo aprofundamento da competição entre as grandes corporações transnacionais, a produção foi reespecializada no mundo, permitida pela difusão de novas tecnologias que mudou a natureza e o conteúdo do trabalho em todos os três setores econômicos, sobretudo o terciário. Pela dinâmica dos serviços ao longo do tempo se pode melhor considerar a trajetória do desenvolvimento da indústria.
Em geral, o apogeu da industrialização no capitalismo transcorreu na manufatura que possibilitou elevar a participação do setor secundário na composição do PIB em simultâneo decréscimo do setor primário e da estabilização dos serviços. Mais recentemente, com a superindustrialização, assiste-se à continuidade do declínio da participação relativa da agropecuária (setor primário) acompanhada da indústria (setor secundário), com expansão dos serviços (setor terciário) no PIB.
Embora seja identificada como desindustrialização, isso não significa que a produção de manufatura tenha perdido relevância econômica, uma vez que pode haver maior densidade industrial caracterizada pela sofisticação tecnológica cada vez mais relacionada ao desenvolvimento dos serviços. Assim, a produção industrial tende a catalisar maior geração de riquezas com a contínua incorporação de novas tecnologias e inovação em melhores condições de apropriação do trabalho não pago.
Justamente por isso que se reconhece a associação positiva da participação do setor com o desempenho industrial. Pela novíssima maquinaria que se pode observar a evolução dos dois distintos comportamentos no interior do setor terciário: os serviços tradicionais (pessoais e sociais) e o avançado (distribuição e produção).
Quanto maior o grau de internalização da novíssima maquinaria, mais avançada presença dos serviços (financeiros, comunicação, informática e técnica jurídica, publicidade, negócios e outras) a transformar profundamente o trabalho submetido às tecnologias de informação que favorecem a comercialização transfronteiras nacionais. Com menor o grau de internalização da novíssima maquinaria, mais ampla tende a ser a manifestação dos serviços tradicionais (segurança privada, trabalho doméstico e outras formas de atividades sociais e pessoais) vinculados às especificidades de cada nação, por isso não comercializáveis.
Por outro lado, a interpenetração da maquinaria na economia desde o século 18 tem provocado a apropriação de forças de trabalho suplementares pelo capital, com a flexibilização do uso e remuneração da mão de obra, o prolongamento da jornada laboral e a intensificação do trabalho. Como reação à crescente exploração dos trabalhadores, a progressão dos conflitos e resistências laborais têm sido perseguida por intervenção política que através de legislações nacionais reconhecem a representação laboral e buscam regular a relação entre o capital e trabalho.
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Palavra de poeta: Thiago de Mello
A boca da noite
Thiago de Mello
O que não fiz ficou vivo
pelo avesso. O que não tive
pertence à dor do meu canto.
A estrela que mais amei
acende o meu desencanto.
Vinagre? Sombra de vinho?
De noite, a vida engoliu
(é doce a boca da noite)
as dores do meu caminho.
O meu voo se apazigua
quando a tormenta me abraça.
O que tenho se enriquece
de tudo que não retive.
Diamante? Flor de carvão.
[Ilustração: Roosevelt de Oliveira Lourenço Roos]
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Veja: A poética ousada e cativante de Joana Côrtes https://bit.ly/3xdnKW8