Debates na TV, pra quê?
Luciano Siqueira
Desde o histórico confronto entre Kennedy e Nixon nas eleições
presidenciais dos EUA, em 1960, em que se atribuiu em boa parte a vitória do
democrata ao desempenho superior ao adversário em debate na TV, essa passou a
ser uma das principais referências das campanhas eleitorais.
Inclusive no Brasil, mesmo quando engatinhávamos no formato
televisivo.
Muita coisa evoluiu desde então.
E as campanhas foram incorporando cada vez mais o elemento
midiático se sobrepondo à abordagem direta do eleitor.
O debate Lula x Collor, em 1989, recebeu da rede Globo, no dia
seguinte, no Jornal Nacional, versão manipuladamente favorável ao candidato da direita, ao final vitorioso nas urnas.
No último pleito presidencial, visível era o esforço de Bolsonaro,
no confronto direto com Lula, em pronunciar frases desconectadas do contexto e
praticar gestos ofensivos diante das câmeras, como que de encomenda, para
edição e divulgação imediata nas redes sociais.
É onde a forma importa mais do que o conteúdo, o eleitor é submetido
a um jogo de aparências e privado da percepção da essência de cada
candidatura.
E os tais "analistas" da grande mídia, deliberadamente,
completam esse jogo de artifícios dando mais atenção a frases de efeito e a gestos histriônicos do que ao conteúdo.
Tudo a ver com a dominante comunicação digital, superficial e
instantânea, que mais explora as aparências e a emoção do que o conteúdo — em
sintonia com um ambiente da chamada guerra cultural, onde navega em plena
ofensiva extrema direita.
Em certa medida, as tais “sabatinas” a que são submetidos os
candidatos nas diversas mídias se prendem ao mesmo conceito.
Ao G1, arguido pela jornalista Natuza Nery, o deputado Guilherme
Boulos foi insistentemente pressionado a explicar em detalhes sua posição sobre
os acontecimentos na Venezuela, como se esta fosse uma questão crucial para a
governança da capital de São Paulo.
Às forças que pelejam nessas eleições com um olho na cidade e o
outro nos destinos do país cabe explorar competentemente, e a seu modo, todas
as possibilidades da campanha conjugada nas ruas, nos salões e nas redes.
Texto da minha coluna desta quinta-feira no portal Vermelho
LeiLeia também: https://lucianosiqueira.blogspot.com/2022/10/minha-opiniao_17.html
E além de tudo os debates de São Paulo são transmitidos em rede nacional, pautando as discussões política de todo país. As pessoas se esquecem da rua, onde a política de fato acontece. Tudo fica adstrito à tela. E hoje em dia o efeito BBB domina. Só vale se tiver muito seguidor. Estamos no fundo do poço. Mas vamos pegar um impulso e sair desse buraco!
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