29 agosto 2024

Minha opinião: jogo midiático

Debates na TV, pra quê?
Luciano Siqueira  

Desde o histórico confronto entre Kennedy e Nixon nas eleições presidenciais dos EUA, em 1960, em que se atribuiu em boa parte a vitória do democrata ao desempenho superior ao adversário em debate na TV, essa passou a ser uma das principais referências das campanhas eleitorais. 

Inclusive no Brasil, mesmo quando engatinhávamos no formato televisivo.

Muita coisa evoluiu desde então. 

E as campanhas foram incorporando cada vez mais o elemento midiático se sobrepondo à abordagem direta do eleitor.

O debate Lula x Collor, em 1989, recebeu da rede Globo, no dia seguinte, no Jornal Nacional, versão manipuladamente favorável ao candidato da direita, ao final vitorioso nas urnas.  

No último pleito presidencial, visível era o esforço de Bolsonaro, no confronto direto com Lula, em pronunciar frases desconectadas do contexto e praticar gestos ofensivos diante das câmeras, como que de encomenda, para edição e divulgação imediata nas redes sociais.

É onde a forma importa mais do que o conteúdo, o eleitor é submetido a um jogo de aparências e privado da percepção da essência de cada candidatura. 

E os tais "analistas" da grande mídia, deliberadamente, completam esse jogo de artifícios dando mais atenção a frases de efeito e a gestos histriônicos do que ao conteúdo.

Tudo a ver com a dominante comunicação digital, superficial e instantânea, que mais explora as aparências e a emoção do que o conteúdo — em sintonia com um ambiente da chamada guerra cultural, onde navega em plena ofensiva extrema direita. 

Em certa medida, as tais “sabatinas” a que são submetidos os candidatos nas diversas mídias se prendem ao mesmo conceito.

Ao G1, arguido pela jornalista Natuza Nery, o deputado Guilherme Boulos foi insistentemente pressionado a explicar em detalhes sua posição sobre os acontecimentos na Venezuela, como se esta fosse uma questão crucial para a governança da capital de São Paulo.

Às forças que pelejam nessas eleições com um olho na cidade e o outro nos destinos do país cabe explorar competentemente, e a seu modo, todas as possibilidades da campanha conjugada nas ruas, nos salões e nas redes.

Texto da  minha coluna desta quinta-feira no portal Vermelho

LeiLeia também: https://lucianosiqueira.blogspot.com/2022/10/minha-opiniao_17.html 

Um comentário:

Àna disse...

E além de tudo os debates de São Paulo são transmitidos em rede nacional, pautando as discussões política de todo país. As pessoas se esquecem da rua, onde a política de fato acontece. Tudo fica adstrito à tela. E hoje em dia o efeito BBB domina. Só vale se tiver muito seguidor. Estamos no fundo do poço. Mas vamos pegar um impulso e sair desse buraco!