29 fevereiro 2012

Por e-mail: ¨Corruptos e corruptores¨

A opinião do professor Tadeu Colares:
. Nos últimos tempos (bote últimos tempos nisto!...) vemos e ouvimos uma campanha pela mídia em geral e pela WEB de modo mais sorrateiro contra nossos políticos corruptos. Tenho recebido em enxurrada de mensagens demonstrando o quanto ganham os políticos e seus funcionários e subalternos comparando com os salários de diversas categorias como professores, médicos e militares...
. Então, refletindo me veio uma pergunta simples e curiosa: por que nunca aparecem nas denuncias contra os políticos em geral os nomes dos corruptores!
Neste momento me veio uma situação que vivi em 1985, ainda em plena Ditadura. Passava de férias, eu com meu filho garotinho, pela porta da antiga MESBLA da rua da Palma quando me deparei com dois policiais segurando duas crianças de uns nove para doze anos que carregavam "enrolados" nos braços um bocado de relógios.Os policiais diziam para os garotos: " vocês roubaram.."Ao que os garotos respondiam:"não roubamos". Eu fiquei intrigado e fiz uma perguntinha que abalou ou dois policiais: "Quem são as vitimas do roubo?". Espantados pela minha pergunta inoportuna responderam: "mas eles são ladrões..." Ao que retruquei: "pode até serem, mas quem são as vitimas!?" E "de repente, não mais que de repente", soltam as crianças me dão uma "chave de braço" e me dão ordem de prisão por impedir a ação da Lei. Dois senhores altos e bem vestidos com forte sotaque sulista se aproximam dos policiais dizem algo no ouvido deles mostrando um documento. Os policiais me soltam e ficam em "ordem unida" empertigados. Eram dois oficiais do Exército a paisana numa missão especial segundo me disseram. Me convidam a ir com eles num carro do Exército levando os dois policiais para o quartel do Derby. Paro, penso rapidamente e digo que não vale a pena, que tenho mulher e filho pra criar, sou um civil... e eles (os policiais) poderão facilmente saber onde moro... Ficam indignados, creio sincero...enquanto os oficiais conversam com os policiais me afasto rapidamente.
. Noutro dia...vou resolver a cidade fazer umas compras e ao dobrar a Rua Das Flores...levo um susto! Deparo-me justo com aqueles policiais do dia anterior. Sabe aquela historia do bode e a onça!? Pois é, eu apavorado pelo inesperado e eles, não menos, pediam mil desculpas pelo "engano".
. Confesso que dei o caso por encerrado, e rápido entro na primeira loja e fico simular compras com os olhos neles, sumindo no fim da rua. Pois, voltando ao inicio: por que a mídia nunca pergunta pelos corruptores!? E mais, esta campanha sistemática de igualar todos os políticos com os corruptos me parece algo muito grave. É como se estivessem "preparando" a opinião publica para um eventual "substituição do congresso" por uma pletora preparada de véspera para ocupar o lugar desses políticos...Espero ser esta minha interpretação, uma historinha pra boi dormir. Parece filme de terror... mas este filme já vi certa vez...

Criatividade rima com voto

Campanha: carnaval, mídia e rua
Luciano Siqueira

Publicado no Blog da Folha

Veja as retrospectivas do Carnaval na TV. Parece que tudo se resumiu aos superproduzidos desfiles de escolas de samba no Rio e em São Paulo e dos trios elétricos em Salvador. Aqui e acolá uma breve concessão às multidões reunidas nas praças e nas ruas do Recife, de Olinda, de Ouro Preto. No entanto, a verdade é que a festa contagiou milhões pelo Brasil afora, a imensa maioria em torno de pequenas agremiações, muitas delas improvisadas, que com criatividade e garra arrastaram muita gente nos bairros e vilas.

Vi isso no litoral do Rio Grande do Norte. La Ursa ainda faz muito sucesso, minha gente. Ou uma burrinha à frente de batuqueiros. É um vai-e-vem danado, um sobe e desce ladeiras intermináveis.

Bom que seja assim. Ótimo que a TV ainda não tenha destruído esse jeito simples e inventivo do povo se divertir. O que dá razão aos governos municipais – como os de Olinda e Recife – que se desdobram em ajudar blocos, caboclinhos, maracatus, troças. Eles ainda fazem a alegria do povo. E mantêm viva a nossa cultura.

Boa lição para quem se prepara para a campanha eleitoral. Sobretudo para os que contarão com parcos recursos. Oportunidade de reinventar a campanha de rua, apoiada no corpo-a-corpo, no contato direto com o eleitor, na conquista de adeptos pelas idéias e pela emoção, na mobilização criativa, alegre, boa de participar; onde se misturem com força e leveza o protesto, a proposta e a poesia.

O inverso do estilo norte-americano de campanha, que no Brasil, nas duas últimas décadas, ganha força através do uso cada vez mais sofisticado da TV (e também do rádio).

Nada contra a campanha midiática. Tudo a favor, desde que conectada com a rua. Para que os efeitos especiais cedam passagem à legítima expressão da alma do povo.

Antigamente era assim. Lembra da campanha da Frente Brasil Popular, em 1989? Tínhamos apenas cinco minutos, os adversários mais do que o dobro. Mas não tinham o encontro de Lula com as multidões, verdadeiro delírio. Fomos ao segundo turno e quase vencemos. Ganhou Collor, que mesclava demagogia com atos públicos (que a seu modo, mesmo artificial, também levava ao vídeo).

Façamos uma campanha em que o calor da rua invada o vídeo e chegue à casa de cada de cada um como argumento e apelo. Capaz de ganhar o voto e o apoio para a conquista de mais votos.

Para qualificar o debate político

Palavras devem ser mais do que palavras
Luciano Siqueira

Publicado no Blog da Revista Algomais
Na década de setenta, a rede Globo exibia um programa humorístico em que o personagem Walfrido Canavieira - criado e interpretado por Chico Anysio -, ao discursar para a multidão, à guisa de comício, concluía sua fala, em geral vazia, com a expressão: “palavras são palavras, nada mais do que palavras”.

Essa afirmação do discurso demagógico, que pretende conquistar votos sem firmar compromissos claros e factíveis diante do povo, vem à tona com certa força na atual fase pré-eleitoral. Pré-candidatos a prefeito em todo o País – segundo se lê na imprensa e se observa cá na província -, devidamente instruídos por suas assessorias de marketing, pinçam de pesquisas de opinião os problemas mais sentidos pela população e em torno de cada um deles antecipam uma promessa – de preferência apresentada em termos plásticos e atraentes. Pouco importa a viabilidade do que se anuncia, vale a conquista do aval partidário e a simpatia do eleitor.

Há demagogia para todos os gostos. Sem nenhuma consideração para com os dispositivos constitucionais, nem para com as dificuldades de financiamento relacionadas com os limites da arrecadação municipal e com os rigores da Lei de Responsabilidade Fiscal.

De outra parte, mesmo em cidades de grande e médio porte, muitos tratam o município como uma entidade apartada do Estado e da União, como se ente federativo não fosse. Descuidam das implicações de políticas públicas federais no equacionamento de problemas municipais – como desemprego, segurança, saúde, educação, saneamento básico, desenvolvimento de atividades produtivas diversas, etc. E ignoram o peso da mobilização da sociedade local em favor do desenvolvimento nacional.

Nas plataformas (termo mais apropriado do que “programa”) dos candidatos majoritários, o destaque óbvio está nos problemas e soluções locais, porém o elemento nacional não pode está ausente. Todo candidato progressista, mormente os situados à esquerda no espectro das forças que dão respaldo ao governo Dilma, deve se posicionar, por exemplo, sobre projetos e programas do governo federal que, uma vez concretizados, melhorarão em muito as condições de vida nas cidades – como a política de investimento visando acelerar o crescimento econômico, incrementada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Demais, a ideia de um pacto nacional pelo desenvolvimento e pelo emprego, com a valorização do trabalho, no período pós-eleitoral precisa encontrar nos prefeitos eleitos mediadores qualificados junto aos partidos da base do governo, ao movimento social e a segmentos e personalidades expressivas na vida local.

Promessas de futuro candidato não podem ser simples palavras, nada mais do que palavras. Devem expressar propostas de conteúdo responsável, para que o eleitor possa fazer uma escolha consciente.

Por e-mail, sobre a minha crônica “A quarta-feira que deixou de ser ingrata”

De José Amaro Santos da Silva: ¨Sua crônica é oportuna ao revelar dados históricos relativos à Quarta Feira de Cinzas e à Semana Santa. Com o passar dos tempos, muitos dos símbolos que sempre guiaram a humanidade vão perdendo seus sentidos, o que é uma pena. Com a perda dos símbolos, outras perdas acontecem. Quando vossa avó Neném chamava a atenção dos mais jovens pelo respeito à Quarta Feira de Cinzas, certamente estava ela a prever toda sorte de iniquidades, de destruições, da amoralidade que campeia, das dissoluções do núcleo mais importante na construção de uma Pátria que é a família. Onde estará o cerne de toda esta destruição? Parece-me que no interesse pecuniário. Os interesses giram em torno do vil metal. Uma encenação da Paixão de Cristo no passado, era uma coisa na qual se passavam os simbolismos e lições do cristianismo. Essa encenação, entretanto, virou um grande espetáculo, mudou o sentido. No rastro do espetáculo, outros vêem seguindo com os mega shows na trilha da Paixão, com as músicas mais reles de qualidade inferior, onde o desrespeito aos seres humanos, preferencialmente a mulher, são os focos de maior destruição. Até os Protestantes hoje montam seus shows, onde seu produto de vendas é o Cristo, logo, em tudo estão presentes os interesses pecuniários. É possível que com a sua visão do passado e sua recente contribuição e grito, a escola, através de seus mestres, passem a mostrar outros caminhos para a juventude, pois, a geração que hoje participa ativamente da destruição dos símbolos, que guiaram e poderá voltar a guiar com novos valores, oxalá, as futuras gerações venham a ter mais respeito pela pessoa, a partir dos caminhos de uma boa educação.¨
.
De Maria Neuma Pinto: ¨Não sou daquelas que brincam o carnaval como se fosse a última festa da minha vida... mas quando brinco, vou até o fim. Antigamente tudo acabava na quarta-feira, hoje vai até o domingo, o que é muito bom para quem está na festa, por que não? Sempre haverá o profano e o religioso e as pessoas que aproveitam o feriado para se dedicarem a orações e coisas assim. Não deve haver choque entre uma coisa e a outra, apenas se deve respeitar a opção de cada um. Os costumes mudam com o tempo e devemos aceitar isso naturalmente.¨

26 fevereiro 2012

Fim de noite

Paulo Leminski: “A noite/me pinga uma estrela no olho/e passa”.

Apelo poético

A sugestão de domingo é da amiga Fabianne, nos versos de Tereza Halliday: “Digite no teclado do meu corpo/mensagens de carinho.”

A prosa instigante de Verissimo

Minha turma
Luis Fernando Verissimo, publicado na Gazeta de Alagoas

Agora que o sangue serenou e todas as garrafas que lancei ao mar com mensagens ao desconhecido voltaram sem resposta, ou com o texto corrigido, agora que nem o eco responde aos meus gritos no precipício, ou responde mas com o tom enfarado de quem não aguenta mais repetir sempre a mesma coisa, sempre a mesma coisa, sempre a mesma coisa, agora que descobri que nenhum dos meus gurus tinha a resposta certa e um até confessou que nem ouvia as minhas perguntas e só fazia sim com a cabeça por boa educação, o que explica ele ter respondido sim quando eu perguntei se deveria seguir o Bhagavad Gita, o Kama Sutra, o Capital ou uma combinação dos três, agora que já não se distingue a voz de uma secretária de outra no telefone pois todas são eletrônicas e iguais, e da última vez que implorei por um contato humano, alguma coisa viva – uma hesitação, um erro de concordância, um resfriado, até, em último caso, uma reação irritada – a voz disse “para reação irritada, digite 4”, agora que eu não quero mais respostas, agora que eu desisti, vem você me dizer que eu não estou sozinho, que há outros como eu que já não esperam mais nada salvo a resignação dos mortos num bom sofá com controle remoto e talvez pipoca, que abominam a despersonalização, principalmente das pessoas, a pulverização de todas as certezas, o espargimento de todas as dúvidas, a eterização de todas as coisas – e que eles têm um site na Internet!

Mas acho que você me deu o endereço errado pois, na minha caça desesperada a ávidos de resignação e burrice programada como eu, já dei num site que ensina a fazer bombas caseiras, outro de quem tem tara por Matildes, outro de um homem que propõe a troca de fotografias do seu bigode ridículo com as de bigodes ridículos de todo o mundo com a possibilidade de casamento e, veja você, um de alguém que propôs comprar vários dos meus órgãos para comer. Não que eu fosse aceitar, sou muito apegado a todos os meus órgãos apesar do que alguns têm me feito passar, mas só por curiosidade perguntei como ele prepararia, por exemplo, meu fígado e, num rasgo de sentimentalismo, sugeri que o servisse acompanhado de um Sauterne de boa safra. Talvez seja esta a auto-indulgência que nos reste, no momento do nosso desencanto, antes do último sofá. O tal cara que estava a fim das minhas tripas à moda de Caen não respondeu mas descobri que eu tinha entrado num fascinante mundo doente, ao entrar na Internet atrás da minha turma. Quando tudo se volatiza e vira impulso pelo ar o que sobra é isso, o ser humano reduzido às suas fomes e às suas esquisitices primevas, livre de qualquer controle ou compunção. A cara mais terrível da liberdade: cara nenhuma, ou apenas a cara que se quiser mostrar na net. Terroristas, fetichistas e canibais são – ou espero que sejam – minorias entre os habitantes deste mundo. Mas, sei não. Há algo de assustador nessa variedade de prospecções predatórias, de buscas globais por afinidades estranhas, só esperando o toque numa tecla de computador para entrar na nossa casa e na nossa vida. Sei lá se eu não tenho alguma obsessão secreta (pés de noviças, por exemplo) só esperando um correspondente para se manifestar. Desisti de localizar meus similares na Internet, os revoltados até com a revolta, começando por secretárias com voz de máquinas, quando me dei conta que a primeira condição para ser mesmo da minha turma seria não frequentar a Internet.

25 fevereiro 2012

Boa noite, Rainer Maria Rilke

Dançarina espanhola

Como um fósforo a arder antes que cresça
a flama, distendendo em raios brancos
suas línguas de luz, assim começa
e se alastra ao redor, ágil e ardente,
a dança em arco aos trêmulos arrancos.

E logo ela é só flama, inteiramente.

Com um olhar põe fogo nos cabelos
e com arte sutil dos tornozelos
incendeia também os seus vestidos
de onde, serpentes doidas, a rompê-los,
saltam os braços nus com estalidos.

Então como se fosse um feixe aceso,
colhe o fogo num gesto de desprezo,
atira-o bruscamente no tablado
e o contempla. Ei-lo ao rés do chão, irado,
a sustentar ainda a chama viva.
Mas ela, do alto, num leve sorriso
de saudação, erguendo a fronte altiva,
pisa-o com seu pequeno pé preciso.

Dilema do PSDB em São Paulo

Tucanos no samba de uma nota só
Luciano Siqueira

Publicado no portal Brasil 247 

Mesmo cá da província, necessário acompanhar o que se passa na maior cidade do país, São Paulo. Até porque o Brasil é um todo e o pleito municipal na capital paulista terá óbvia influência em 2014, local e nacional.

Assim, três anotações são possíveis – e úteis para a compreensão do que se passa igualmente em outros lugares, guardadas as especificidades regionais e locais.

A primeira se refere à complexidade da situação, que envolve alternativas várias – seja no campo das forças que nacionalmente se perfilam em apoio ao governo Dilma, seja nas hostes contrárias. O PT, com a candidatura do ex-ministro Fernando Haddad a tiracolo, movimenta-se no sentido de atrair o apoio do PSD do prefeito Kassab, a cujo governo os petistas fazem oposição. O PCdoB, que empunha o nome do vereador Netinho de Paula, de grande apelo popular, empenha-se em viabilizar essa candidatura própria brandindo argumentos mais do que justos, com respaldo em tendências reveladas por pesquisas. O PMDB do vice-presidente da República Michel Temer apresenta o deputado Gabriel Chalita. O PSB, nacionalmente alinhado ao PT e ao PCdoB, parte da premissa de que deve fortalecer o PSD do qual espera solidariedade em outras cidades importantes do País.

A segunda anotação apenas reforça as pretensões dos diversos partidos, mesmo entre aliados que se dispõem à disputa entre si: o pleito se dará em dois turnos e, com uma boa dose de espírito democrático, bom senso e flexibilidade política, comportará discrepâncias sem prejuízo de alianças num provável segundo turno.

A terceira anotação lança luz sobre as dificuldades do maior partido de oposição ao governo federal, o PSDB, envolto no dilema de absorver uma prévia entre quatro postulantes ou lançar mão, uma vez mais, do ex-prefeito (e também ex-governador, senador, deputado, ministro) e duplamente fracassado candidato à presidência da República, José Serra. Serra, nos últimos tempos, converteu-se numa espécie de Geni tucana: execrado quando se insinua para uma nova aventura presidencial, porém saudado como heroica solução para a disputa municipal. Mesmo carregando nas costas acidentes de percurso anteriores, como o da promessa não cumprida de que exerceria o mandato de prefeito até o fim.

O dilema tucano e o apego à solução Serra soam como melodia incômoda de um samba de uma nota só própria de um partido que não tem sido capaz de se renovar, cronicamente anêmico de ideias e propostas programáticas. Partido sem ideias é como saco vazio: dificilmente se mantém de pé.

Uma derrota do PSDB em São Paulo teria profundas consequências sobre as suas possibilidades nas eleições gerais de 2012.

Down e Alzheimer: a ciência avança

Pesquisadores acompanharam em tempo real a formação de placas amiloides (em verde) em neurônios gerados a partir de células reprogramadas de paciente de Down, fenômeno que também ocorre no cérebro de quem tem Alzheimer. (imagem: Science/ AAAS).
Ciência Hoje Online:
Reprogramação campeã
Usando células-tronco reprogramadas de paciente com síndrome de Down, pesquisadores conseguem estudar o desenvolvimento precoce do Alzheimer. Na ‘Bioconexões’ de fevereiro, Stevens Rehen descreve o feito, que consagra a aplicação da técnica na biomedicina.
. Assim como os blocos carnavalescos proliferaram pelas ruas do Rio de Janeiro em fevereiro, ótimos artigos sobre o Alzheimer foram publicados nas melhores revistas científicas do mundo ao longo deste mês, mostrando avanços no entendimento dessa doença que acomete mais de 1 milhão de brasileiros.
. Aproveito esta coluna para descrever um deles, que se baseia na técnica de reprogramação celular. Dessa vez o mérito é de cientistas da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, e do Instituto de Células-Tronco de Harvard, nos Estados Unidos.
. Como sabemos, há uma concordância impressionante entre a doença de Alzheimer e a síndrome de Down – a última caracterizada pela presença de três cromossomos 21, em vez de dois. Essa concordância é tamanha que a incidência de Alzheimer entre os portadores da síndrome de Down com idade superior a 50 anos é de 100%.
. A alta prevalência de Alzheimer nos portadores da síndrome de Down é atribuída ao excesso de produção da proteína precursora amiloide (APP), cujo gene se localiza justamente no cromossomo 21. Há outros genes no cromossomo 21 que contribuem para o risco aumentado de demência em pessoas com síndrome de Down, como o que codifica a enzima que fosforila a tau, uma proteína que ajuda a estabilizar o citoesqueleto celular.
. Leia a matéria na íntegra http://goo.gl/T5swa

Conflito e luta no canteiro de obras

No Vermelho, por João Guilherme Vargas Netto
Construção pesada e prá valer

Já estamos bem avançados na folhinha agora que passou a folia do carnaval. Embora seja ano de eleições e a política esquente nos municípios, a preocupação de todos é com o enfrentamento e a derrota da crise externa e a preservação da conjuntura positiva.

Que sabemos o que queremos e sabemos o que fazer, está provado. Um ano atrás o mal estar nos grandes canteiros de obras explodiu em greves e rebeliões. Os trabalhadores agrupados aos milhares, exigiram melhores condições de trabalho e foram ouvidos. As direções sindicais, que no primeiro momento, foram também surpreendidas, recuperaram o controle da situação e encaminharam às empreiteiras e ao governo as reivindicações sensíveis, justificadas e urgentes de seus representados.

As reuniões tripartites entre empresários, trabalhadores e representantes do governo avançaram na pauta e nas garantias dos direitos e atendimento das exigências dos trabalhadores; registro, com justiça, o papel positivo desempenhado pelo ministro Gilberto Carvalho, incansável em conduzir o processo à negociação transparente e eficaz, cujo resultado poderá ser avaliado na grande reunião entre as partes no início de março.

Os sindicatos representativos da construção pesada de São Paulo, seja o patronal, seja o dos trabalhadores, puderam apresentar como um dos subprodutos de uma negociaçõa legítima e da preocupação de todos, o resultado de seus programas de inclusão de trabalhadores com deficiência, graças ao empenho do doutor José Carlos do Carmo. Este esforço – reportado no livro “Construindo a inclusão da pessoa com deficiência no trabalho” - é um dos que têm que ser levados em conta quando descrevemos a trajetória desde as rebeliões do ano passado até a reunião solene que se anuncia.

História: 25 de fevereiro de 1981

A Justiça Militar condena Lula e mais 10 sindicalistas do ABC, com base na Lei de Segurança Nacional, pela greve de 1980. As penas mais tarde serão revogadas. (Vermelho www.vermelho.org.br).

Brasil em perspectiva

No Vermelho, por Eduardo Bomfim
Um projeto de nação

Muitos de nós temos a devida clareza sobre o atual momento em que vive o País de persistente crescimento econômico, a incorporação de dezenas de milhões de brasileiros no mercado de trabalho, o acesso em massa a bens de consumo jamais imaginado pelas maiorias.

Com a multiplicação da massa salarial houve o aquecimento do comércio e da indústria. Além disso, as nossas exportações avançaram nesses últimos nove anos fazendo com que o PIB tenha aumentado substancialmente.

O Brasil vive uma época de respeitáveis índices de crescimento econômico (apesar da crise internacional do capitalismo) e da presença do Estado nacional em suas responsabilidades indeclináveis interrompendo, em parte, uma tendência de ortodoxia neoliberal que durou oito anos.

Mas as heranças da época hegemônica das políticas do novo liberalismo ortodoxo não desapareceram em aspectos decisivos dos fundamentos da economia e esses entulhos têm dificultado um salto em relação a um novo e mais avançado ciclo Histórico brasileiro.

A dificuldade torna-se maior quando associamos esses entraves estruturais à ausência de imprescindíveis valores políticos, culturais e ideológicos.

É preciso muita relativização das coisas para não se constatar que além do chamado "ciclo virtuoso" econômico existe uma sociedade se expandindo de maneira estabanada meio sem lenço e sem documento.

As políticas governamentais contra óbvias enfermidades sociais vão se mostrando paliativas e meramente compensatórias para males que se agravam como o aumento da violência generalizada, o lucrativo negócio das drogas pesadas, problemas em educação, saúde pública etc.

A opinião da maioria do povo brasileiro é que a nação jamais deve retornar às nefastas políticas neoliberais de ontem mas isso é pouco para enfrentar manifestações perversas no tecido social, várias delas impostas ao povo brasileiro através de valores culturais importados do que é pior entre as nações imperiais em declínio.

Se não houver edificação ideológica, cultural de uma sociedade progressista, solidária, humanista, podemos nos transformar num País economicamente próspero, mas regido pela lei do cão, do cada um por si do mais predador dos capitalismos dessa nova ordem mundial.

O projeto de nação do povo brasileiro reivindica a unidade dos trabalhadores, a luta engajada da juventude na construção de uma nova cultura política libertária e transformadora.

Uma questão de atitude

Dica de sábado: Mais do que uma virtude, a paciência é a medida da sinceridade. Na política e no amor.

23 fevereiro 2012

Onde não cabe o amadorismo

Candidatura majoritária é obra de engenharia. Complexa. Movimenta partidos e segmentos organizados da sociedade. Sem improvisos.

Bom dia, Cida Pedrosa

urbe

hoje na minha boca
não cabem girassóis

cabe um poemapodre
cheiro de mangue capibaribe

um poemaponte
galeria esgoto chuvas de abril

um poemacidade
fumaça ferrugem fuligem

22 fevereiro 2012

Carnaval de ontem e de hoje

A quarta-feira que deixou de ser ingrata
Luciano Siqueira

Publicado no portal Vermelho www.vermelho.org.br  

Desde os tempos de criança aprendi a ver a quarta-feira de cinzas como algo solene, religioso e até mórbido. “A missa de cinzas é para tirar os pecados do carnaval”, dizia a avó Neném, contrita e ameaçadora. E aos meninos da casa aquilo naturalmente parecia estranho. Afinal, que pecados teríamos cometido levados ao corso pelo próprio pai, folião entusiasta?

Depois, já na adolescência, a quarta-feira assumia um tom de tristeza, de perda, de fim de festa embalado pela canção de Luis Bandeira: “É de fazer chorar/quando o dia amanhece/e obriga o frevo acabar/ó quarta-feira ingrata/chega tão depressa/só pra contrariar...”.

Hoje não é mais assim. A quarta-feira deixou de ser ingrata há muito tempo, aqui, na terra do frevo e praticamente em todos os lugares onde se cultuam os dias de Momo. A missa de cinzas continua, claro, conforme a tradição católica; e suponho que tenha cultos correspondentes nas demais vertentes religiosas. Mas quem disse que a folia acaba? No mínimo vai até o domingo, com o “Bloco do Camburão”, no Recife, na praia de Boa Viagem e com o desfile das escolas de samba vencedoras no Rio de Janeiro, só para citar dois exemplos.

No Recife e em Olinda a algazarra prossegue e a todo vapor. Tem “Os Irresponsáveis”, no bairro de Água Fria, na capital, o “Bacalhau na Vara” e o “Segura a Coisa”, pelas ladeiras de Olinda, e por aí vai.

A modernidade e o ritmo frenético da vida nas cidades se subrepõe à tradição religiosa e a necessidade de prolongar a alegria prevalece. “É o fim do mundo, meu filho”, certamente diria a avó Nenén se viva estivesse. Fim do mundo certamente não é, mas a expressão de novos costumes, sim.

O mesmo acontecerá logo mais na Semana Santa, outrora consagrada tão somente à reverência diante do sangue do Cristo derramado, mormente na sexta-feira. Basta dar uma olhada nos prospectos das agências de turiusmo para constatar o quanto se prevê de espetáculos musicais que nada têm a ver com os dobrados, marchas e peças típicas da tradição clássica ocifental ligada à liturgia católica. Pelo interior de Pernambuco avultam bandas brega (incluindo repertório irreverente e de duplo sentido), duplas sertanejas, DJs e grupos de rock'n'roll.

Tudo isso envolve também, ao lado da mudança de comportamento, sobretudo de parcelas expressivas da população mais jovem, a chamada economia da cultura. O calendário assim mesclado de religioso e profano movimenta milhões. Caso de Fazenda Nova, no Agreste Pernambucano, onde se realiza a concorrida Paixão de Cristo, e enseja ao lado rentáveis empreendimentos que vão da hotelaria às casas de espetáculo, gerando lucros e empregos temporários que justificam inclusive o suporte governamental.

Enfim, a quarta-feira de cinzas deixou de ser ingrata e cedeu seu lugar ao domingo... E assim caminha a Humanidade.

No reverso do desenvolvimento regional

Alagoas: as aparências não enganam
Luciano Siqueira

Publicado no Blog de Jamildo (Jornal do Commercio Online)

Do vizinho estado das Alagoas já tive visões diversas – do início dos anos 70 do século passado, quando lá vivi em Maceió e em Santana do Ipanema, na condição de vendedor ambulante e militante clandestino, até sermos presos, Luci e eu, em 1974, aos anos recentes, de passagem, usufruindo da beleza do seu litoral, em férias. Antes, o dever de compreender a realidade local em sua inteireza, parte que era aquele território de toda uma área determinada pelo PCdoB sobre a qual, como dirigente regional, tinha responsabilidade. Hoje, muito de relance, superficialmente, pois ainda que permaneça dirigente do Partido, outra é a distribuição geográfica de responsabilidades.

Pois bem. Ao olhar assim superficial, chama a atenção de quem percorre as cidades praianas, exceto Maceió, de orla exuberante e pungente atividade turística, os sinais evidentes de pobreza e de desigualdade social. De atraso, inclusive político e cultural. As aparências são de que o estado permanece em semi-estagnação, convivendo com bolsões de fausto inseridos num mar de pobreza.

Mas, nesse caso, as aparências não enganam, espelham a dura realidade como ela é. É o que revela reportagem do Valor Econômico, intitulada “Estagnada, Alagoas perde o boom nordestino”.

A razão disso, segundo a reportagem, está na dependência da economia local em relação ao setor sucroalcooleiro, ao que se ajunta a carência de infraestrutura, a pequenez do mercado consumidor e a anemia do poder público incapaz de oferecer contrapartidas à tomada de recursos federais. Ao contrário de Pernambuco – em primeiro lugar no pódio regional -, da Bahia e do Ceará, a capacidade de atração de novos investimentos que diversifiquem a economia alagoana e ampliem as oportunidades de trabalho é perto de zero.

Assim, nos últimos anos – assinala a reportagem -, o Produto Interno Bruto (PIB) de Alagoas avançou abaixo da média do Nordeste, ainda assim puxado pelo crescimento do consumo, na esteira da expansão do crédito e do Bolsa Família, em um modelo conhecido por "renda sem produção". E, conforme dados do Banco Central, Alagoas é o estado segundo colocado no ranking regional do crédito ofertado a pessoas físicas e o último no crédito para empresas.

Em consequência, em cinco anos, Alagoas criou pouco mais de 48 mil empregos, o pior desempenho do Nordeste.

Teoricamente essa realidade se compreende pela ação de uma lei objetiva do sistema capitalista, a do desenvolvimento desigual. Porém politicamente chama as forças vivas locais, perfiladas no campo progressista, a arrostarem o desafio de romper com o crônico subdesenvolvimento.

Por e-mail, sobre o meu artigo “Na contramão da folia autêntica”

De Jandira Lins: “Meu caro, concordo com você em quase tudo, mas faço a ressalva de que nem todo político cai no frevo ou no samba em busca de votos... Você mesmo, que vi em carnavais passados, nunca me passou essa impressão. Então, para sermos justos, temos que reconhecer isso, não acha?”
.
De Claudio Ferreira: “Seu artigo está correto, mas faltou dizer duas coisas: 1) ainda há políticos que comparecem aos festejos carnavalescos como simples foliões, sem oportunismo eleitoral; 2) o povo não engole a mensagem falsa de quem se mete nas troças e blocos em busca de votos.”
.
De Maria Anunciada Lima: “Nem tudo o que reluz é ouro, Luciano. Tem cara que vai para a folia para ganhar votos, mas tem também quem vai porque gosta. E tem também aqueles que são convidados e não têm como declinar do convite, por exemplo, Lula, que só perdeu o desfile da Escola de Samba Gaviões da Fiel, em São Paulo, por ordem médica. Agora esse barulho infernal de carros de som com propaganda de candidato em pleno carnaval, isso eu também já vi muito e acho horrível!”
*
Realmente, vocês têm razão. Meu texto, apressado, faltou fazer a ressalva que vocês propõem. Também concordo que essa de patrocinar ou de se intrometer indevidamente em agremiações carnavalescas cola cada vez menos. (LS).

A prosa poética de Luiz Otávio

Conto de Carnaval
Luiz Otavio Cavalcanti*
Ele até tentou negar. Tinha programado ler alguns livros durante o Carnaval. E reler. Carpeaux se dizia obrigado a reler a Divina Comédia todo ano. Mas o apelo insistente dos amigos foi mais forte. Há anos não ia ao Recife antigo no Carnaval. Com o tempo, tornou-se observador distante da festa. Cedeu.

Ao chegar à rua do Bom Jesus, integrou-se ao grupo de amigos. E começou a beber seu uisquinho. Black and White. Era terça feira. A multidão tomava calçada e rua. Pessoas de todas as idades, de todos os risos. Encontrou conhecidos, cumprimentou velhos camaradas, sentiu o gosto de ver e ser visto. Rua, gente, prédios, tudo formava paisagem de cores. Uma pintura moderna de Lula Cardoso Ayres. O bloco Cordas e Retalhos encerrava sua passagem.
Então, a uns cinco metros, ele a viu. Ela se encontrava em outro grupo. O mesmo jeito brincalhão, risonho. Os mesmos cabelos curtos deixando ver a nuca cheirosa e sensível, sua conhecida. O corpo, equilibrado na própria elegância, mostra doce envergadura de vinte anos atrás. Não parece ter a idade que tem. Aparenta ser bem mais jovem do que é. Tem a pele branca e morna. E o ar atento de uma garça. Os caminhos que a vida impõe a cada um os tinham afastado. Ele tinha casado e se divorciado. Ela tinha feito exitosa carreira de publicitária e não casara.

De repente, seus olhares se cruzaram. E a circunstância em volta deles desmanchou-se como um borrão. Nítidos, na paisagem, somente ele e ela. Como se provisório cineasta ajustasse o foco da lente apenas para os dois. Acenaram um para o outro, demorando-se no olhar. Uma corrente elétrica parecia prender a atenção entre eles. Em dez minutos, a distância que os separava tinha sido vencida.
A noite calorosa do Recife viu nascerem, ali, pierrô bissexto e colombina casual. Envolvidos por frevo canção de Capiba. Extraídos da multidão solitária, pierrô e colombina embarcaram no primeiro barco que deslizou, cúmplice, no Capibaribe. No céu silencioso de estrelas, estava escrito: Lua breve, lua de antiga mulher nublada, renascida em madura infância. 
* Escritor, ensaista. Ex-secretário estadual da Fazenda.

21 fevereiro 2012

Na contramão da folia autêntica
Luciano Siqueira

Publicado no Blog da Folha

Diz-se que uma das serventias da arte é criar o maravilhoso (ou o surpreendente), para satisfazer a inquietação, o sonho e o encanto que habita as pessoas. O carnaval, essa festa popular que empolga milhões em algumas regiões do país, dá azo a que artistas e gente comum reinventem a realidade e traduzam de múltiplas formas o que vivem ou imaginam o ano todo.

Por razões pessoais, há mais de uma década valho-me do antigamente chamado tríduo momesco para descansar, em geral pelas praias desse fantástico litoral nordestino. Tornei-me ex-folião, mas não deixo de observar, de perto ou à distância (pela TV), a criativa folia carnavalesca.

A cada dia nosso povo se mostra reiteradamente capaz de viver esses dias com leveza e esperança e com um traço quase ingênuo em suas manifestações de alegria.

Na contramão dessa expressão genuína do que somos, infelizmente, entram em cena os que pensam obter dividendos eleitorais contaminando a festa popular com mensagens explícitas ou indiretas mediante uma presença que chega a incomodar pela grosseria.

Cá onde estou com Luci, no litoral alagoano, justamente o fator de perturbação, destoando da espontaneidade geral, é a presença de carros de som irradiando um ruído terrivelmente incômodo – a música de péssima qualidade, que nada tem a ver com o carnaval -, em altíssimo volume, ostentando fotos e slogans de conhecidos políticos da região. Além de propaganda eleitoral antecipada, sujeita às penas de lei, das quais os intrusos se sentem a salvo (sic), uma péssima contribuição à cultura local. “Coerente com eles pensam e fazem”, comenta em tom crítico um nativo revoltado.

Pode ser. Não são poucos os que por nosso país tropical preferem interditar a evolução cultural da população justamente com receio de que brotem pensamentos e condutas renovadoras, ameaçando suas posições.

Mas em nível macro, digamos assim, o mesmo se observa, por exemplo, no desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro e de São Paulo. Algumas presenças, e o modo como se comportam, traem o mais reles oportunismo eleitoral. O que certamente se repete em desfiles “oficiais” em muitos outros lugares.

Tenho cá com meus botões, entretanto, que ninguém ganha votos por esse caminho, se não os perde (diante de públicos esclarecidos). Que assim seja – para a preservação da autenticidade de nossas manifestações culturais e para separar o joio e o trigo em nossa representação política.

Projeto nacional é o desafio

Encruzilhadas
No Vermelho, por Eduardo Bomfim

O redirecionamento, em parte, das orientações neoliberais na economia brasileira associado ao processo de crescimento econômico do País vem provocando nos últimos nove anos modificações na realidade nacional.

Esse crescimento tem possibilitado uma expressiva geração de emprego e renda incorporando dezenas de milhões de brasileiros ao mercado de trabalho criando uma massa salarial que vem dinamizando os diversos segmentos produtivos, impulsionando fortemente o consumo.

Ao mesmo tempo os produtos primários que o Brasil exporta, especialmente os agrícolas, valorizaram-se substancialmente configurando uma permanente fonte de divisas associada à intensificação de parcerias comerciais, com a China por exemplo, que tem ampliado o escoamento da nossa produção.

A alteração da realidade econômica sul-americana que vem se caracterizando por contínuas taxas de crescimento deu impulso à integração continental ensejando mais ainda a liderança regional brasileira.

Tudo isso e um conjunto de outros fatores positivos tem mostrado que o Brasil vem sendo beneficiado por situações especialmente favoráveis nesse novo cenário econômico internacional.

Nesse contexto evidencia-se uma mudança de atitudes em relação ao papel estratégico do Estado nacional, o empenho na defesa da competitividade dos nossos produtos no mercado externo assim como a implementação de políticas sociais que tem provocado significativas alterações nos trágicos indicadores sociais de pobreza.

Mas é verdade também que os nosso gargalos econômicos são de natureza estrutural porque jamais algum País conseguiu alcançar o desenvolvimento sem investimentos prioritários, de longo curso, em ciência, tecnologia de ponta, infraestrutura, saúde e educação em geral.

O crescimento nacional tem sérios problemas em seus fundamentos econômicos porque ele se encontra imbricado ao capital rentista criando graves dificuldades, a exemplo das absurdas taxas de juros e das tendências de desindustrialização do parque produtivo nacional.

O País ainda não tem um projeto de sociedade, de civilização mesmo, e não vem reunindo as condições subjetivas essenciais para tanto. Encontra-se vulnerável em relação ao bombardeio político e ideológico do complexo midiático hegemônico mundial, e congêneres nativos, associados ao capital financeiro internacional promotores dessa "nova ordem mundial" inimiga das nações e dos povos.

Bom dia, Mariane Bigio

Engraçada essa coisa de inspiração
- instantânea -
ontem
dispersa
rabisquei em qualquer canto
na pressa
não notei…
escrevia no verso
d'um poema já impresso
ou melhor, expresso.
um verso avesso do outro.
é como a poesia me é, agora:
de todos os lados de mim.

Violência como mercadoria o tempo todo

Sangue, mídia e lucro
Luciano Siqueira
Publicado no Blog da Revista Algomais
Em São Paulo, um jovem de 18 anos atira em alunos, professores e funcionários de uma escola e depois se mata. Um médico é acusado de esquartejar a namorada. As duas notícias, destaques no noticiário dos jornais, TV e rádio de todo o País, reforçaram, na última terça feira, o cotidiano de sangue, dor e tragédia que fazem parte do nosso universo urbano.
Muitos fatores concorrem para o incremento da violência em nossas cidades, dentre os quais o desemprego e o achatamento da massa salarial, a baixa escolaridade, a impunidade, a falência das instituições encarregadas da segurança, o distanciamento (crescente) do Estado em relação à maioria da população.

Ganha força, na atualidade, um outro fator: a violência-mercadoria.

Não se trata apenas da indústria de armamentos, nem da rede privada de empresas de segurança, que se agigantam e ostentam faturamentos altíssimos. Trata-se sobretudo da mídia eletrônica. Na grade de programação das redes de TV e das emissoras de rádio, programas e filmes centrados na temática da violência ocupam os espaços ditos nobres, detentores dos mais elevados índices de audiência - promovendo o que o sociólogo Laurindo Leal Filho (da USP e da Ong "Tver") denomina de "espetacularização da notícia".

O tema, via de regra, além do tom sensacionalista, recebe abordagem muito nociva, seja pela banalização da vida, seja pela exaltação de personagens (resguardados pela condição de autoridade constituída ou não) que se destacam pela prática da violência através de meios cada vez mais sofisticados e de grande poder destrutivo. Cultuam-se conceitos e valores que ferem os Direitos Humanos e, na prática, "justificam" o emprego da violência como forma de manutenção da ordem vigente ou da realização de interesses pessoais escusos.

Tal programação eleva os índices de audiência das emissoras e proporciona que os anúncios veiculados naqueles horários sejam negociados a preços altíssimos. As empresas anunciantes, por seu turno, obtêm grandes resultados em suas vendas.

Tinha razão Karl Marx ao demonstrar (no volume 1 de "O Capital") que no capitalismo tudo se converte em mercadoria, "uma coisa que, por suas propriedades, satisfaz necessidades humanas, seja qual for a sua natureza, a origem delas, provenham do estômago ou da fantasia."

Daí se entender por que a mídia transforma gente como o jovem suicida e o médico assassino em produtos rentáveis.

(Este artigo, de 2003, republico-o agora por oportuno: nem os dias de carnaval nos livraram dos mórbidos programas policiais na TV).

19 fevereiro 2012

Você no carnaval

A sugestão de domingo é da amiga Zélia: “Neste Carnaval, saia fantasiada de si mesma – sem máscaras e com muito brilho.”

Uma crônica para relaxar

O prazer do manuscrito
Luciano Siqueira

Publicado no portal Vermelho http://www.vermelho.org.br/ em janeiro de 2008

Volto a escrever à mão, sempre que me é possível. Uma espécie de retorno às origens. Desde garoto, alimento o hábito de botar no papel quase tudo o que penso. Fichas de leituras e pequenas resenhas. Antes, em cartões pautados; os textos mais longos em cadernos. Com o advento do computador, digito ao invés de escrever. Muito mais prático: apago e refaço trechos inteiros facilmente, e ainda me beneficio do corretor ortográfico. Quando percebo que escrevi bobagens, deleto imediatamente e me livro para sempre do equívoco.

O computador ajuda e atrapalha. Permite escrever rápido, mas precipita o raciocínio e limita a abordagem do tema. A pressa é o cotidiano convite à superficialidade.

Escrever à mão é diferente. As idéias fluem na mesma velocidade da escrita: naturalmente. Há tempo para ler o que escrevo e refletir sobre o que virá a seguir.

Bem sei que minha escrita é sofrível, apenas libero as palavras – parto natural, sem dor nem demora. Escrevo por necessidade e prazer, mas não por dever irrecusável. Então não tenho porque brigar com as palavras, com elas tenho um pacto de convivência pacífica. Sem estilo nem brilho.

Minha relação com as palavras é de puro amor. Passeamos de mãos dadas, em terra plana, sem armadilhas. Desavenças ficam para quem tem talento e pretensões literárias. Quase sempre quero apenas dizer o que penso e o que sinto. Nada mais que isso, e quase tudo para mim mesmo – um diálogo solitário, secreto e cúmplice. O resto ponho nas colunas que assino semanalmente em alguns sites.

São dois ambientes, dois estágios: a cadernetinha de notas curtas, o caderno para divagações; e o computador para os registros definitivos. A mão e a máquina. A máquina guiada pela mão, que traduz a idéia e o sentimento, a descoberta e o desejo.

Aqui no Vermelho tudo vale a pena. Uma divagação como essa, coisa de fim de ano; ou uma opinião sobre o que acontece ou se deseja que aconteça na vida nacional ou na província. O texto curto, quase um artigo ou um arremedo de crônica, depende do tema e do momento. É a liberdade concedida pelo editor. Em outros sites onde escrevo regularmente sinto-me preso à obrigação de falar invariavelmente de grandes problemas e desejáveis soluções. Nem sempre em tom ameno. Anteontem mesmo escrevi sobre a importância estratégica dos 38 institutos federais de educação, ciência e tecnologia objeto de lei sancionada pelo presidente, segunda-feira. Ontem tratei da omissão do controle do fluxo de capitais no discurso de Lula em cadeia de rádio e TV.

Mas voltando ao gosto pelo manuscrito, dou-me conta de que essa boba confidência de Ano Novo contém em si a obrigação de escrever um pouco melhor. Para merecer a atenção dos meus leitores, que bem sei não são tão numerosos.

18 fevereiro 2012

A força do povo

A dica de sábado é do amigo Mariano, nas palavras do compositor carioca Monarco: “A força do povo não tem prazo de validade. É sempre.”

17 fevereiro 2012

Na estrada

Dezenas de convites para troças, blocos e camarotes. Com a permissão de Momo e a compreensão de todos, fujo para o litoral sul de Alagoas.

Boa noite, Verônica Brayner

Foto: Tuca Siqueira
Dupla naturalidade

Riacho me acho do Mel,
desemboco no Moxotó,
matutice que me preserva
uma esperança semi–árida.

Rio me refiz Capibaribe,
prometido a uma Veneza indecisa,
ilusão que me atravessa
uma paixão litoral.

16 fevereiro 2012

Esperança e sorriso

De Suélen Brito sobre o poema “Assim vejo a vida” de Cora Coralina (veja mais abaixo): “Lindo poema! Uma boa forma de começar o dia, percebendo e observando o horizonte, independente da paisagem em que se vive. Porém esperança e sorriso.”

Por e-mail sobre a magia da poesia

De Carmem Moreira da Silva: “Vou confessar um ‘pecado’, acesso seu blog para me informar, mas principalmente por causa dos versos e poemas que você divulga... É muito bom vê que uma pessoa como você, muito ocupado que é, acha tempo para a literatura, para a arte e a poesia... Acho que isso faz a pessoa mais sensível tanto na política como no cotidiano.”
.
De Anamaria Nogueira: “Esse último poema que você postou, de Cora Coralina, tão simples, mas de uma beleza impar. Versos assim ajudam a gente a encarar o dia que começa com mais ânimo, pode crer. Ouvi você dizer numa rádio, acho que foi a Rádio Olinda, que sempre lê poesia e achei isso muito legal, sendo você do meio político onde poucos se dedicam à literatura.”
.
Anamaria e Carmem: Registro seus breves comentários com enorme prazer, pois só reforçam a minha satisfação de alimentar nesse blog – feito de modo improvisado, sem pretensões – o misto de notas e artigos políticos com poesia, literatura, história e humor. Continuaremos juntos. (LS).

História: 16 de fevereiro de 1868

Aberta ao público a Santos-Jundiaí. Até 1930 a ligação litoral-planalto é monopólio da S. Paulo Railway, a Inglesa, tida como a ferrovia mais lucrativa do mundo. Mas forma-se aí também um núcleo pioneiro da luta proletária. (Vermelho http://www.vermelho.org.br/).

Tem gosto musical pra tudo...

A sensibilidade e o prazer ao longo do tempo
Luciano Siqueira

Publicado no portal Vermelho www.vermelho.org.br

O tempo não para, ensinava o finado Cazuza. O repouso é relativo, o movimento é absoluto, aprendemos da dialética. E é assim mesmo. A vida dá suas voltas e envolve gerações que se sucedem e evoluem no modo de viver, sofrer, amar e experimentar dor e prazer. Daí, por exemplo, o gosto musical hoje nem se comparar com o que foi em épocas passadas.

Ruy Castro escreveu sobre isso na Folha de S. Paulo um dia desses. Reclamou que o site da revista britânica "NME" -"New Musical Express"- fez enquete com seus leitores sobre os "20 maiores cantores de todos os tempos". Nada menos que dez milhões de internautas responderam. Na lista do escolhidos Michael Jackson apareceu logo em primeiro, vindo logo atrás Freddie Mercury, Axl Rose, John Lennon, David Bowie, Robert Plant, Paul McCartney... Da turma da geração do articulista, que também é a minha, apareceram apenas Ray Charles e Elvis Presley.

Duas grandes ausências, com toda a injustiça do mundo: Frank Sinatra e Bing Crosby, dois grandes nomes da canção norte-americana com fãs no mundo inteiro.

Imagine se enquete semelhante for feita no Brasil. Voaria no pau muita gente boa, pois a memória da maioria dos internautas não vai tão longe. Não fosse os especiais de TV que de vez em quando ressuscitam gente que já se foi e deu grande contribuição à música popular brasileira, em diversas fases, quase ninguém saberia de Sílvio Caldas, Cauby Peixoto, Luis Gonzaga, Dalva de Oliveira e muitas outras feras. Correríamos o risco de em breve ninguém falar mais em Ellis, em Nara Leão e até nos que ainda estão aí vivinhos da silva, feito João Gilberto e Carlos Lyra.

Se você não ouve, como pode gostar? O problema, portanto, não é apenas de gosto musical, que muda através do tempo, é de desconhecimento mesmo. No Recife, nos anos recentes levamos artistas e músicos de qualidade aos bairros de periferia, e também a Orquestra Sinfônica até para o ambiente de uma fábrica. Sucesso absoluto!

O que tem valor é reconhecido por plateias pouco letradas. Porque a música penetra por todos os poros e envolve a alma, desperta sentimentos e sensações nunca antes experimentados. Em qualquer um, a qualquer tempo.

Contradição tucana

Serra é a Geni do PSDB: execrado quando insinua uma nova candidatura à presidência da República e tido como “solução” para a Prefeitura paulista.

Bom dia, Lucila Nogueira

Aldemir Martins
Falarão meus poemas pelas ruas...

Falarão meus poemas pelas ruas
de cor como receita de viver
e aqueles que sorriam pelas costas
recitarão meus versos sem os ler

Falarão meus poemas pelas ruas
de cor como receita de viver
dirão que fui um mar misterioso
onde quem navegou não esqueceu

Falarão meus poemas pelas ruas
de cor como receita de viver
dirão que era poesia e não loucura
meu jeito de sonhar todos vocês

Falarão meus poemas pelas ruas
de cor como receita de viver
perguntarão por que vivi tão pouco
sem dar-lhes tempo de me perceber

— e aqueles que sorriam pelas costas
recitarão meus versos sem os ler

15 fevereiro 2012

Nem só de frevo se faz a festa de Momo

Carnaval, frevo e política
Luciano Siqueira

Publicado no Blog de Jamildo (Jornal do Commercio Online)

Festa é festa, reunião é reunião, assim como o frevo rasgado é uma coisa e debate político é outra coisa bem diferente. Mas a mistura é inevitável, sobretudo em ano eleitoral. Pelo menos no meu caso, onde estiver, sempre haverá alguém perguntando sobre candidaturas a prefeito e que tais. E se é assim comigo, que nem tenho essa responsabilidade toda na cena política, avalie com o pessoal que está no foco das decisões – e das escolhas.

Demais, por mais que se saiba que estar ou não presente aos festejos de Momo nem tira nem dá votos, poucos são os que resistem e se retiram para lugar distante. E ainda há os chatos de sempre que lhe pressionam para cumprir roteiro “político”, como se algazarra tivesse necessariamente que obedecer a hipotéticos cálculos da relação custos e benefícios eleitorais.

Dito isto, soa como bobagem dizer que fulano, sicrano ou beltrano estarão nas ruas junto com este ou aquele aliado sem que isso nada signifique. Ou que entre um palanque e outro nenhuma palavra será dita sobre a batalha eleitoral que se avizinha. Isto no Recife é praticamente impensável.

E não tem nada de errado nisso. Quem está na chuva tem mesmo é que se molhar. A militância política é sempre, quaisquer sejam as circunstâncias.

Agora mesmo, nos primeiros dias de janeiro, caminhava com Luci numa praia distante, Pontal do Peba, litoral sul de Alagoas, próximo à foz do Rio São Francisco, quando inesperadamente fui interpelado por um cidadão que queria saber se o prefeito João da Costa seria candidato à reeleição ou não. Era um morador de Casa Amarela, em férias, mas atento aos lances da política local.

Não terá sido essa a razão principal de haver me aposentado do frevo e do maracatu, embora não me recorde de nenhum carnaval, anos a fio, em que não tenha sido abordado por alguém interessado em discutir política em plena folia. Tenho cá outros motivos, todos ligados à comodidade pessoal e familiar. Mas, à distância, tenho certeza que, mesmo disfarçadas por máscaras e fantasias, muitas especulações vão rolar aqui e alhures. E alguns sonhos serão alimentados, ainda que predestinados a se dissiparem já na quarta-feira ingrata.

O fato é que as convenções partidárias, previstas para junho, baterão à porta de todos já na primeira segunda-feira após o carnaval pedindo agilidade nos entendimentos, pé no chão na busca de alternativas e descortino nas decisões. Até porque, rigorosamente, em Pernambuco o ano começa mesmo a partir daí e vai terminar no sábado de Zé Pereira de 2013.