02 junho 2016

Fatores a considerar

O principal erro de Temer e por que Dilma pode voltar
Sidney Rezende, no Jornal GGN
Uma parcela da sociedade não quer o PT no poder, Lula e nem a volta de Dilma. O interessante é que, entre estes, há um contingente em crescimento que também não quer Michel Temer e o PMDB no Planalto. A paciência destes brasileiros está se esgotando. Mas onde está o problema central com o atual Governo?
Há uma exaustão com a corrupção "generalizada", má administração e desgaste dos chamados políticos "tradicionais" que mandam no país há mais de 30 anos. O anseio por mudança não morreu. 
Volta a ser real a possibilidade de grandes manifestações públicas também no período dos Jogos Olímpicos. O povo certamente dará um recado nítido de insatisfação para que tenha ressonância internacional. A imprensa mundial estará em peso no Rio de Janeiro. E a antiga capital do Brasil será, mais uma vez, o palco central da irritação do cidadão.
Boa parte dos brasileiros não reconhece Michel Temer como presidente legítimo. De nada adiantará grandes meios de comunicação forjarem a falácia do "governo eficiente" X "governo perdulário". O risco da perda da credibilidade de quem fizer isso é real.
A lentidão do Supremo Tribunal Federal no julgamento de questões cruciais e as constantes citações em gravações de políticos dizendo que têm "trânsito" com ministros do STF contaminam a isenção indispensável deste poder da República. O comportamento do ministro Gilmar Mendes, sem reprimendas dos seus pares, pode agravar a forma pura como vemos a atuação dos juízes da mais alta corte. O cultivo do status de pop star de alguns ministros não convém com o perfil low profile que se espera de magistrados.
Outra pedreira. O deputado Eduardo Cunha dá as cartas às claras. É outro problema que parece insolúvel e está cutucando com vara curta o cidadão brasileiro. A persistir este escárnio de impunidade, anote aí, enfrentaremos desfechos imprevisíveis.
Mas voltemos ao tema deste artigo: o que há de errado com Temer?
O presidente interino prometeu ministério de notáveis e ofereceu à nação o que temos aí. O prometido é muito diferente do oferecido. Em política, o eleitor detesta quando não se entrega o que foi combinado.
O time de Temer parece refúgio de suspeitos da Lava-Jato. Só citados, sete. E, para complicar, o líder do governo na Câmara, André Moura (PSC-SE), é réu em três ações penais. E envolvido numa tentativa de homicídio, além de suspeito de desvios do petrolão. E, em 21 dias, dois ministros já deixaram o governo que prega no seu slogan "ordem e progresso". O que se diz não é o que se faz.
Os ministros não têm sido felizes em suas aparições públicas. E, para piorar, são obrigados a assistir aliados serem hostilizados nas ruas, aeroportos, praia e outros ambientes de convivência pública.
A comunicação do Governo precisa se ajustar. O ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, é visto enviesado pelo Ministério Público depois que defendeu mudanças nas regras para escolha do Procurador-Geral da Republica.
O mesmo acontece entre educadores depois que o ministro Mendonça Filho escolheu como interlocutor para sua pasta o ator pornô Alexandre Frota, que lhe foi oferecer sugestões para "melhorar" o ensino no país.
O atropelo em acabar e depois retornar com o Ministério da Cultura. A possível desmontagem do Iphan, a forma de trato dado à EBC, a escolha equivocada do presidente do IPEA e a desmontagem de áreas ditas como "aparelhadas" só somam contra o Governo e não a favor. A flecha se voltará, como bumerangue, contra o peito dos que os petistas chamam de "golpistas".
O enfrentamento às causas históricas defendidas por mulheres, índios, negros e trabalhadores é um outro problema. A forma arrogante como o ministro José Serra trata a política externa também não ajuda a apaziguar os ânimos. O desprestígio internacional do Governo é algo sério.
O ministro da Saúde, Ricardo Barros (PP-PR), já chegou ao posto dizendo que o tamanho do Sistema Único de Saúde (SUS) deveria ser reduzido no futuro dado à falta de dinheiro. O destino incerto de programas indispensáveis como o Samu e a Farmácia Popular assustam usuários e servidores que prestam serviços a eles.
Os religiosos, especialmente católicos, estão aborrecidos com a defesa do ministro do Turismo Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) pela legalização de "todos os tipos de jogos de azar".
Por tudo isso e pelo que não foi listado, a volta da presidente Dilma Rousseff não é mais uma miragem. Ela foi afastada por 55 votos favoráveis e 24 contra. Foram três ausências e 1 abstenção. Para que o impeachment se consuma e se homologue a cassação, serão necessários 54 votos.
Embora a política pareça canalizar para novas eleições sem Dilma e sem Temer.
Mas a pergunta central deste texto não foi respondida. E será agora. O maior erro de Michel Temer é não ter feito um governo de conciliação nacional. Uma condução que unisse o que todos os brasileiros mais querem: seriedade, honestidade, probidade e compromisso com o país. Ao botar para dentro de casa uma chibarrada, ele está ficando sem espaço para andar. Temer e seus aliados flertam com a vingança e o ódio. Temer esquece que não pode dizer que tudo o que foi feito até hoje por Lula e Dilma está errado se ele próprio estava lá como vice-presidente. Por que não pediu para sair antes?
E quando for a hora de se anunciar novas fases da operação Lava-Jato, os caciques do PMDB sabem que não terão muito para onde ir. O Palácio ficará pequeno. E o Legislativo ouriçado. A hora do povo está chegando.

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