Sidney Rezende, no Jornal GGN
Uma parcela da sociedade não quer o PT no poder, Lula e nem a volta de
Dilma. O interessante é que, entre estes, há um contingente em crescimento que
também não quer Michel Temer e o PMDB no Planalto. A paciência destes
brasileiros está se esgotando. Mas onde está o problema central com o atual
Governo?
Há uma exaustão com a corrupção "generalizada", má
administração e desgaste dos chamados políticos "tradicionais" que
mandam no país há mais de 30 anos. O anseio por mudança não morreu.
Volta a ser real a possibilidade de grandes manifestações públicas
também no período dos Jogos Olímpicos. O povo certamente dará um recado nítido
de insatisfação para que tenha ressonância internacional. A imprensa mundial
estará em peso no Rio de Janeiro. E a antiga capital do Brasil será, mais uma
vez, o palco central da irritação do cidadão.
Boa parte dos brasileiros não reconhece Michel Temer como presidente
legítimo. De nada adiantará grandes meios de comunicação forjarem a falácia do
"governo eficiente" X "governo perdulário". O risco da
perda da credibilidade de quem fizer isso é real.
A lentidão do Supremo Tribunal Federal no julgamento de questões
cruciais e as constantes citações em gravações de políticos dizendo que têm
"trânsito" com ministros do STF contaminam a isenção indispensável
deste poder da República. O comportamento do ministro Gilmar Mendes, sem
reprimendas dos seus pares, pode agravar a forma pura como vemos a atuação dos
juízes da mais alta corte. O cultivo do status de pop star de alguns ministros não
convém com o perfil low profile que se espera de magistrados.
Outra pedreira. O deputado Eduardo Cunha dá as cartas às claras. É outro
problema que parece insolúvel e está cutucando com vara curta o cidadão
brasileiro. A persistir este escárnio de impunidade, anote aí, enfrentaremos
desfechos imprevisíveis.
Mas voltemos ao tema deste artigo: o que há de errado com Temer?
O presidente interino prometeu ministério de notáveis e ofereceu à nação
o que temos aí. O prometido é muito diferente do oferecido. Em política, o
eleitor detesta quando não se entrega o que foi combinado.
O time de Temer parece refúgio de suspeitos da Lava-Jato. Só citados,
sete. E, para complicar, o líder do governo na Câmara, André Moura (PSC-SE), é
réu em três ações penais. E envolvido numa tentativa de homicídio, além de
suspeito de desvios do petrolão. E, em 21 dias, dois ministros já deixaram o
governo que prega no seu slogan "ordem e progresso". O que se diz não
é o que se faz.
Os ministros não têm sido felizes em suas aparições públicas. E, para
piorar, são obrigados a assistir aliados serem hostilizados nas ruas,
aeroportos, praia e outros ambientes de convivência pública.
A comunicação do Governo precisa se ajustar. O ministro da Justiça,
Alexandre de Moraes, é visto enviesado pelo Ministério Público depois que
defendeu mudanças nas regras para escolha do Procurador-Geral da Republica.
O mesmo acontece entre educadores depois que o ministro Mendonça Filho
escolheu como interlocutor para sua pasta o ator pornô Alexandre Frota, que lhe
foi oferecer sugestões para "melhorar" o ensino no país.
O atropelo em acabar e depois retornar com o Ministério da Cultura. A
possível desmontagem do Iphan, a forma de trato dado à EBC, a escolha
equivocada do presidente do IPEA e a desmontagem de áreas ditas como
"aparelhadas" só somam contra o Governo e não a favor. A flecha se
voltará, como bumerangue, contra o peito dos que os petistas chamam de
"golpistas".
O enfrentamento às causas históricas defendidas por mulheres, índios,
negros e trabalhadores é um outro problema. A forma arrogante como o ministro
José Serra trata a política externa também não ajuda a apaziguar os ânimos. O
desprestígio internacional do Governo é algo sério.
O ministro da Saúde, Ricardo Barros (PP-PR), já chegou ao posto dizendo
que o tamanho do Sistema Único de Saúde (SUS) deveria ser reduzido no futuro
dado à falta de dinheiro. O destino incerto de programas indispensáveis como o
Samu e a Farmácia Popular assustam usuários e servidores que prestam serviços a
eles.
Os religiosos, especialmente católicos, estão aborrecidos com a defesa
do ministro do Turismo Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) pela legalização de
"todos os tipos de jogos de azar".
Por tudo isso e pelo que não foi listado, a volta da presidente Dilma
Rousseff não é mais uma miragem. Ela foi afastada por 55 votos favoráveis e 24
contra. Foram três ausências e 1 abstenção. Para que o impeachment se consuma e
se homologue a cassação, serão necessários 54 votos.
Embora a política pareça canalizar para novas eleições sem Dilma e sem
Temer.
Mas a pergunta central deste texto não foi respondida. E será agora. O
maior erro de Michel Temer é não ter feito um governo de conciliação nacional.
Uma condução que unisse o que todos os brasileiros mais querem: seriedade,
honestidade, probidade e compromisso com o país. Ao botar para dentro de casa
uma chibarrada, ele está ficando sem espaço para andar. Temer e seus aliados
flertam com a vingança e o ódio. Temer esquece que não pode dizer que tudo o
que foi feito até hoje por Lula e Dilma está errado se ele próprio estava lá
como vice-presidente. Por que não pediu para sair antes?
E quando for a hora de se anunciar novas fases da operação Lava-Jato, os
caciques do PMDB sabem que não terão muito para onde ir. O Palácio ficará
pequeno. E o Legislativo ouriçado. A hora do povo está chegando.
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