[Um curto período de descanso com a família na praia, até o Réveillon, me fazem quase ausente aqui no Blog. A partir do dia 2 voltaremos a nos comunicar com a intensidade de sempre.]
A construção coletiva das idéias é uma das mais fascinantes experiências humanas. Pressupõe um diálogo sincero, permanente, em cima dos fatos. Neste espaço, diariamente, compartilhamos com você nossa compreensão sobre as coisas da luta e da vida. Participe. Opine. [Artigos assinados expressam a opinião dos seus autores].
27 dezembro 2017
26 dezembro 2017
Do contra
Sete em cada dez brasileiros são contra privatizações, diz Data Folha. [Mas Temer segue firme tentando entregar tudo.]
22 dezembro 2017
Cenário em formação
Papai Noel não frequenta a política
Luciano Siqueira, no Blog de Jamildo/portal ne10
Participa não, nunca participou. O bom velhinho que ainda povoa a imaginação de muitas crianças mundo afora, fantasia de fim de ano, permanece a anos luz de distância das expectativas, dos planos e das condições concretas do embate político-eleitoral.
Mas tem gente que não pensa assim. Alimenta ilusões. Ou se deixa levar por puros devaneios.
Costuma-se dizer — os mais experientes dizem — que o cenário eleitoral se desenha mesmo a partir de janeiro, após o peru de Natal e os fogos do réveillon. Antes disso, tudo não passa de especulação.
Mais ainda no ambiente de extrema instabilidade e imprevisibilidade que prevalece no país, inclusive acerca das regras do pleito vindouro, sempre sujeitas a modificações casuísticas por parte do TSE.
Em Pernambuco, começa pelo traçado das alianças. Nada é imutável, tanto na esfera governista como no campo das oposições.
Permanecerá a atual composição da coalizão em torno do governo Paulo Câmara? Tanto pode se ampliar como se reduzir. A variável amplitude e bom senso tende a ganhar peso.
Nas oposições, por enquanto o ajuntamento inicial tanto pode prevalecer, como se desmembrar, a depender do equacionamento das desejadas candidaturas ao Executivo estadual.
Há pretensões de certo modo distintas, entre partidos que se sentem em condições de almejar o governo estadual e outros que focam suas pretensões em espaços nas casas legislativas. Uns e outros pautam sua política de alianças conforme o foco escolhido.
Outra distinção diz respeito ao ritmo de cada um. Diferenciam-se claramente os precipitados e os pacientes. Os primeiros arrotam vantagem e vão com excessiva sede ao pote. Os mais sensatos, consideram a experiência acumulada, observam atentamente as tendências em curso e não fecham nenhuma porta.
É o que Tancredo Neves ensinava: por mais aparentemente sólida que seja a situação, é indispensável manter uma porta aberta; ou pelo menos uma janela...
Demais, pela legislação atual o prazo de filiação partidária dos que pretendem disputar o pleito, antes findado em outubro, agora se estende até abril de 2018.
Assim, melhor trabalhar duro e com parcimônia, do que se iludir com promessas ou hipóteses apressadas, descoladas da realidade concreta.
Quem acreditar em Papai Noel na política estará fadado ao fracasso.
Luciano Siqueira, no Blog de Jamildo/portal ne10
Participa não, nunca participou. O bom velhinho que ainda povoa a imaginação de muitas crianças mundo afora, fantasia de fim de ano, permanece a anos luz de distância das expectativas, dos planos e das condições concretas do embate político-eleitoral.
Mas tem gente que não pensa assim. Alimenta ilusões. Ou se deixa levar por puros devaneios.
Costuma-se dizer — os mais experientes dizem — que o cenário eleitoral se desenha mesmo a partir de janeiro, após o peru de Natal e os fogos do réveillon. Antes disso, tudo não passa de especulação.
Mais ainda no ambiente de extrema instabilidade e imprevisibilidade que prevalece no país, inclusive acerca das regras do pleito vindouro, sempre sujeitas a modificações casuísticas por parte do TSE.
Em Pernambuco, começa pelo traçado das alianças. Nada é imutável, tanto na esfera governista como no campo das oposições.
Permanecerá a atual composição da coalizão em torno do governo Paulo Câmara? Tanto pode se ampliar como se reduzir. A variável amplitude e bom senso tende a ganhar peso.
Nas oposições, por enquanto o ajuntamento inicial tanto pode prevalecer, como se desmembrar, a depender do equacionamento das desejadas candidaturas ao Executivo estadual.
Há pretensões de certo modo distintas, entre partidos que se sentem em condições de almejar o governo estadual e outros que focam suas pretensões em espaços nas casas legislativas. Uns e outros pautam sua política de alianças conforme o foco escolhido.
Outra distinção diz respeito ao ritmo de cada um. Diferenciam-se claramente os precipitados e os pacientes. Os primeiros arrotam vantagem e vão com excessiva sede ao pote. Os mais sensatos, consideram a experiência acumulada, observam atentamente as tendências em curso e não fecham nenhuma porta.
É o que Tancredo Neves ensinava: por mais aparentemente sólida que seja a situação, é indispensável manter uma porta aberta; ou pelo menos uma janela...
Demais, pela legislação atual o prazo de filiação partidária dos que pretendem disputar o pleito, antes findado em outubro, agora se estende até abril de 2018.
Assim, melhor trabalhar duro e com parcimônia, do que se iludir com promessas ou hipóteses apressadas, descoladas da realidade concreta.
Quem acreditar em Papai Noel na política estará fadado ao fracasso.
Leia mais sobre temas da
atualidade: http://migre.me/kMGFD
21 dezembro 2017
Feliz Natal, Novas conquistas em 2018!
20 dezembro 2017
Palavra de Manuela
As violências em que pensei ao decidir
ser pré-candidata
Manuela D’Ávila, na Folha de S. Paulo
Ao
ler o apanhado legal e histórico sobre violência
política de gênero, escrito por minha amiga Senadora Vanessa Grazziotin,
para o especial sobre violência contra a mulher na política, publicado neste mesmo blog [Folha],
me pus a refletir sobre a provocação que as gurias
do #AgoraÉQueSãoElas me fizeram: o que eu, apenas eu, enquanto
mulher, havia pensado ao aceitar o desafio de ser pré-candidata à presidência
da República. E percebi que tudo o que eu havia ponderado estava relacionado
com o fato de eu ser mulher. Sim, pensei muito nisso. Pensei em todas as formas
de violência política de gênero que já sofri, nos últimos 19 anos, e se estava
disposta a encarar tudo isso numa potência muito mais elevada.
Claro
que uma militante como eu, que desde os 17 anos está organizada num partido, se
sente desafiada e honrada de, aos 36 anos, representar nossos sonhos num
processo eleitoral emblemático como o que viveremos em 2018. Mas esse
pensamento ficou embaçado, nos primeiros dias, pela lembrança, também por vezes
amarga, de minhas seis disputas eleitorais.
Todo
o tempo pensei em minha filha Laura, que ainda é amamentada. Nós somos
muito parceiras uma da outra, consegui incorporá-la na rotina de deputada
estadual completamente. Mas quais serão as condições adversas para levá-la
comigo aos longínquos roteiros?
Pensei
na violência física que ambas já sofremos pelo simples fato de eu ter opiniões.
Não ignoro que 2018 será uma disputa daqueles que organizam o ódio e o medo
contra nós que queremos encontrar saídas para a crise brasileira.
Pensei
nas montagens virtuais asquerosas que já fizeram e farão com meu marido e
enteado. Pensei em quão doído é, para nós mulheres, esse envolvimento que os
adversários fazem de nossas famílias nas disputas eleitorais. Acaso alguém já
viu esse tipo de trucagem com as esposas e filhos dos homens que concorrem?
Pensei
também naquela postura de permanente subestimação de minha capacidade política
e intelectual, oposta à bajulação que vivem os homens.
Imaginem
como a sociedade e a imprensa tratariam a um homem que, aos 36, sem “parentes
importantes e vindo interior” , já estivesse em seu quarto mandato parlamentar
e tivesse sido em todas as eleições o mais votado? Imaginem se esse homem
estive terminando o mestrado em políticas públicas, mesmo cuidando de um bebê
de dois anos?
Imaginaram?
Agora imaginem que essa é a minha história, mas que a minha valoração sempre
foi a partir da aparência. Pensei se estava disposta novamente a ver fóruns e
mais fóruns de discussão sobre meu peso. Logo eu, que tenho transtorno de
imagem, como milhares de mulheres no mundo.
Uma
das primeiras matérias comprovou que eu estava certa. O tom de meu cabelo
estava em debate. Por que eu estava pintando de castanho? Por que não mais
loiro? Estratégia política, disseram. Pra que abordarem meu discurso sobre
indústria 4.0 e a necessidade do Estado para as mulheres? Respondi irônica:
ficar loira cansa. Estou naturalmente morena grisalha. Aguardo matérias sobre
cabelos de Doria, Alckmin e Ciro.
Mas
existem duas questões que tornam toda a violência política de gênero que
sofrerei pequena.
A
primeira é a tarefa que eu mesma me dei de debater as saídas para crise
brasileira também sob a perspectiva de gênero. Falar para as mulheres
brasileiras que atentem, pois a diminuição do Estado numa sociedade machista é
uma punição a mais pra nós, mulheres. Falar em todos os espaços que reforma
trabalhista é ainda mais cruel com as mulheres trabalhadoras. Nós somos parte
essencial da construção de um Brasil diferente!
A
segunda é a existência de um movimento feminista revigorado e que não cala. Uma
roda de sororidade, de empatia. Um grau de relacionamento muito mais solidário
entre a maior parte das mulheres que fazem política. Uma identidade mais nítida
do que nos une. Sei que conto com milhares de mulheres que, mesmo não
concordando com minhas ideias, são minhas parceiras na luta contra a violência
política de gênero. “Tamo” juntas!
* Manuela D’Ávila é deputada estadual
pelo PCdoB e pré-candidata à presidência da República.
Hoje
Densidade e leveza.
Você vai gostar. às 19,30, no Cinema São Luiz, em primeira exibição no
Recife, “Amores de chumbo“. Uma história de amor e de resistência. Um
filme da cineasta pernambucana Tuca Siqueira.
Vamos?
Vamos?
Uma crônica para descontrair
Meus amigos na
varanda
Luciano Siqueira, no Blog
da Folha e no portal Vermelho
Costumo dizer que tenho um milhão de amigos —e isso me faz um bem enorme!
Costumo dizer que tenho um milhão de amigos —e isso me faz um bem enorme!
Inimigos pessoais não os tenho.
Pelo menos que eu saiba.
Alguns desafetos, certamente. Nas redes
sociais. Todos em razão das minhas posições políticas, quer dizer: gente que
não concorda comigo e que se deixa contaminar pelo vírus antidemocrático da
intolerância.
Estes se manifestam de vez em
quando. Agressivos, desrespeitosos, odientos. Mau humorados. Não querem
debater, limitam-se ao desaforo. Não tenho tempo sequer para me deter em suas
diatribes; os ignoro tranquilamente e os bloqueio.
Já os amigos e amigas me dão um enorme
prazer, inclusive quando me criticam e expressam opiniões diferentes das minhas.
Conservo boas amizades construídas
no curso da luta política, desde o movimento estudantil na década de 60 do
século passado, exatamente com pessoas de correntes políticas divergentes. Afinidades que perduram até hoje e que, paradoxalmente, brotaram em meio a
intensas polêmicas.
Essa é uma das razões da minha
profunda gratidão a duas entidades que me educaram assim: a minha mãe Oneide,
para quem desrespeitar a opinião do outro era “falta de caridade”; e ao PCdoB,
que forma seus militantes para a busca da unidade entre os diferentes.
Pois bem. Nessa matéria de
amizades prazerosas acrescento também uma penca de beija flores e canários da
terra, que visitam a varanda, a área de serviço e a janela do meu quarto, em meu
apartamento, onde encontram estrategicamente dependurados pequenos bebedouros
contendo uma garapa feita de água e mel.
Especialmente na varanda, onde me
quedo numa rede e alterno a leitura, o devaneio, o sonho e o sono.
Na rede, à noite, quando posso, às
vezes admiro a lua, outras vezes converso com as estrelas.
Durante o dia, bem cedinho, antes
de sair para a caminhada matinal, ou em momentos vespertinos do sábado ou
domingo (quando a agenda permite), meu diálogo é com eles, meus amigos beija
flores e canários da terra.
Falamos linguagens diferentes, é
verdade. Mas creio que nos entendemos muito bem. Eles bebem da água adoçada,
circulam pela varanda, pousam sobre os punhos da rede, emitem sons harmoniosos
e me olham com afetuosa curiosidade.
Eu os observo encantado e me
permito reminiscências de criança, quando imaginava o teor de conversas entre
os pássaros e atribuía papéis e “missões” aos muitos guerreiros do meu exército
de canários, pintassilgos, galos de campina, azulões...
Nunca fui inclinado a ter em casa
animais de estimação — cães, gatos e que tais. Por um período curto, quando na
clandestinidade, um pequeno cágado circulava pela casa.
Passarinhos, sim — porém
preferencialmente dessa forma como convivo com os beija flores e os canários da
terra: livres para virem até aqui quando necessitarem e sair quando quiserem,
jamais presos em gaiolas.
Da mesma forma como desejo que
vivam meus amigos e amigas: livres para sonhar, amar, pensar e lutar segundo suas
crenças e ideais. Sempre.
Leia mais sobre temas da
atualidade: http://migre.me/kMGFD
18 dezembro 2017
Disfarce
Para disfarçar seu vínculo com o Mercado financeiro, Meirelles flexibiliza discurso e inclui atenção à área social. Para enganar a quem?
17 dezembro 2017
Cegueira
Não é sensato perdoar todos os erros da corrente política a que se pertence e atacar indiscriminadamente aliados com os quais se tem divergências pontuais.
Poesia sempre
David Martiashivili
Primeira palavra
Mia Couto
Aproxima o teu coração
e inclina o teu sangue
para que eu recolha
os teus inacessíveis frutos
para que prove da tua água
e repouse na tua fronte
Debruça o teu rosto
sobre a terra sem vestígio
prepara o teu ventre
para a anunciada visita
até que nos lábios umedeça
a primeira palavra do teu corpo.
Leia mais sobre poesia
e temas da atualidade: http://migre.me/kMGFD
15 dezembro 2017
Parcial
Adiamento da votação da reforma previdenciária para depois do carnaval é derrota parcial do governo Temer. Um ponto de destaque na agenda da resistência popular de 2018.
Lesa pátria
A suspensão do pagamento de R$ 1 trilhão das petroleiras internacionais em tributos devidos é crime de lesa pátria. Temer não tem limites. Impõe-se a defesa da Nação - nas redes e nas ruas.
14 dezembro 2017
Batalha prolongada
A corrupção e a chantagem não foram suficientes: votação da reforma previdenciária fica para fevereiro. Até lá é preciso aumentar a resistência nas ruas e nas redes.
13 dezembro 2017
Uma crônica para descontrair
Palavras fora de lugar
Luciano Siqueira
Esforçado, arisco, curioso – se é livro, ele traça; debate não perde um, nem que seja sobre a educação de crianças no Japão ou a interferência do estresse no ciclo menstrual. E assim vai amealhando conhecimento sobre temas vários, padecendo, entretanto, de uma enorme dificuldade de concatenar as ideias. E as palavras.
Aliás, palavra que mereça ser pronunciada pelo dito cujo tem que ter sonoridade e um traço de raridade. Uma óbvia vocação para sucessor do Marquês de Pombal, que tanto se esforçou para recuperar termos em desuso.
Certa vez eu me referia a Miguel Arraes e ouvi aquela voz grave: “Um ínclito homem!”. Paulo Maluf, no outro extremo, dele mereceu a qualificação de “energúmeno!” Com exclamação.
No meio de uma campanha eleitoral o encontro em cima do palanque e pergunto por que não o via nas atividades de rua: “Um interregno estratégico, líder, que, com efeito, resultará num contra-ataque tático específico e sobejo.” Claro que não entendi por que a sua ausência em algumas caminhadas teria sentido estratégico, muito menos o que vinha ser “contra-ataque específico e sobejo”.
Pois bem. O tempo passou, nunca mais o vi, julgava-o em terras distantes, talvez levado pelo desejo de figurar em algum sodalício lítero-cultural, tipo Academia de Letras do Município de Ribeirão das Almas, coisa assim. Mas eis que o encontro na Livraria Siciliano, em São Paulo, alentado volume à mão (que preferi não olhar o título, já me prevenindo de uma indecifrável resenha). Fiz que não o reconhecia, num gesto que minha mãe classificaria como falta de caridade. Mas fui reconhecido e, como estava só, tive o desprazer de sua ilustrada companhia:
“- Excelência, quanto tempo! Apresento-lhe minhas congratulações pela conquista do pódio no último pleito e renovo meus pretéritos e sempre congruentes votos de confiança em vossa inexorável atuação. E pergunto: em que consonância pretende legislar, em se tratando de um parlamentar filosoficamente nutrido por uma teoria científica que, conforme meus alumiados estudos, tem na contemporaneidade o seu apogeu?”
- Só conversando com calma, amigo. Comprometi-me com um conjunto de temas, tendo como referência a ideia de um novo projeto nacional de desenvolvimento...
"- Ora, nada mais edificante do que tamanha pretensão, de valoração insofismável e ao mesmo tempo profícua e, por que não?, assaz inovadora, pois que um novo projeto direcionado à Nação tendo como mola-mestra o desenvolvimento quiçá...”
Não o deixei continuar. Mirei o relógio, um compromisso imediato salvou-me de tão “insólito colóquio” (uso a expressão naturalmente em homenagem ao meu insigne interlocutor). Despedi-me prometendo que marcaríamos um encontro caso ele visitasse a terra natal. Pura falsidade, pois no íntimo, bem desejo que a egrégia personagem não retorne ao Recife tão cedo. Para que as palavras permaneçam em seu devido lugar. E as ideias também.
Luciano Siqueira
Esforçado, arisco, curioso – se é livro, ele traça; debate não perde um, nem que seja sobre a educação de crianças no Japão ou a interferência do estresse no ciclo menstrual. E assim vai amealhando conhecimento sobre temas vários, padecendo, entretanto, de uma enorme dificuldade de concatenar as ideias. E as palavras.
Aliás, palavra que mereça ser pronunciada pelo dito cujo tem que ter sonoridade e um traço de raridade. Uma óbvia vocação para sucessor do Marquês de Pombal, que tanto se esforçou para recuperar termos em desuso.
Certa vez eu me referia a Miguel Arraes e ouvi aquela voz grave: “Um ínclito homem!”. Paulo Maluf, no outro extremo, dele mereceu a qualificação de “energúmeno!” Com exclamação.
No meio de uma campanha eleitoral o encontro em cima do palanque e pergunto por que não o via nas atividades de rua: “Um interregno estratégico, líder, que, com efeito, resultará num contra-ataque tático específico e sobejo.” Claro que não entendi por que a sua ausência em algumas caminhadas teria sentido estratégico, muito menos o que vinha ser “contra-ataque específico e sobejo”.
Pois bem. O tempo passou, nunca mais o vi, julgava-o em terras distantes, talvez levado pelo desejo de figurar em algum sodalício lítero-cultural, tipo Academia de Letras do Município de Ribeirão das Almas, coisa assim. Mas eis que o encontro na Livraria Siciliano, em São Paulo, alentado volume à mão (que preferi não olhar o título, já me prevenindo de uma indecifrável resenha). Fiz que não o reconhecia, num gesto que minha mãe classificaria como falta de caridade. Mas fui reconhecido e, como estava só, tive o desprazer de sua ilustrada companhia:
“- Excelência, quanto tempo! Apresento-lhe minhas congratulações pela conquista do pódio no último pleito e renovo meus pretéritos e sempre congruentes votos de confiança em vossa inexorável atuação. E pergunto: em que consonância pretende legislar, em se tratando de um parlamentar filosoficamente nutrido por uma teoria científica que, conforme meus alumiados estudos, tem na contemporaneidade o seu apogeu?”
- Só conversando com calma, amigo. Comprometi-me com um conjunto de temas, tendo como referência a ideia de um novo projeto nacional de desenvolvimento...
"- Ora, nada mais edificante do que tamanha pretensão, de valoração insofismável e ao mesmo tempo profícua e, por que não?, assaz inovadora, pois que um novo projeto direcionado à Nação tendo como mola-mestra o desenvolvimento quiçá...”
Não o deixei continuar. Mirei o relógio, um compromisso imediato salvou-me de tão “insólito colóquio” (uso a expressão naturalmente em homenagem ao meu insigne interlocutor). Despedi-me prometendo que marcaríamos um encontro caso ele visitasse a terra natal. Pura falsidade, pois no íntimo, bem desejo que a egrégia personagem não retorne ao Recife tão cedo. Para que as palavras permaneçam em seu devido lugar. E as ideias também.
Leia mais sobre temas da
atualidade: http://migre.me/kMGFD
Meio bilhão
Prefeitura do Recife paga o 13° sexta-feira próxima (15) e o salário de dezembro dia 28. Com o salário de novembro, pago no último dia 1°, meio bilhão de reais são injetados na economia local em apenas 28 dias.
E o chefe?
Advogados de Eduardo Cunha e Geddel Vieira Lima – acusados de formarem quadrilha junto com Temer – pedem ao STF que pare o andamento de denúncia alegando a exclusão do chefe por decisão da Câmara dos Deputados. Faz sentido.
Agilidade
Tribunal da Lava Jato marca julgamento de Lula para 24 de janeiro. Tramitação excepcionalmente rápida, mirando as eleições presidenciais.
12 dezembro 2017
Pau a pau
Temer combina com grandes empresários a pressão sobre os parlamentares pela reforma previdenciária. A resistência nas ruas e nas redes contra a reforma precisa crescer.
Fio da meada
No embaralhado jogo de forças políticas em Pernambuco, a demarcação de campos se fará pelas propostas programáticas. Mais do que o passado, pesará a visão de futuro.
Além da realidade
Cada um com seu sonho, possível ou não
Luciano Siqueira, no portal Vermelho e no Blog da Folha
O sonho é
livre, fundado na realidade ou não. Ou no tempo. Como nesses últimos dias do
ano que finda, quando manda a tradição fazer planos para o futuro, ainda que no
horizonte limitado do ano vindouro.
Certa vez
Millor Fernandes, numa coluna “livre pensar é só pensar”, escreveu que uma das
ironias da vida é que quando crescemos, nos tornamos adultos, temos emprego e
salário, já não queremos comprar um imenso saco de bombons!
Ou seja, a
criança a quem os pais negam a quantidade (exagerada) de bombons desejada,
constata que a ameaça que fizera há 18 a 20 anos atrás já não tem sentido.
Mas há
adultos, como um tal Elon
Musk, bilionário fabricante de
foguetes, que simplesmente
quer colonizar Marte em 10 anos!
Ele fala sério,
conforme atestam diversos órgãos da imprensa norte-americana. Tanto que o cara
controla duas poderosas empresas de TI e resolveu criar a SpaceX, que constrói foguetes e
alimenta o sonho planetário do seu dono.
Na política
também é assim. Há sonhos para todos os gostos – sérios ou delirantes. De
objetivos estratégicos alicerçados na compreensão cientifica da realidade a
pretensões que, imediatistas, projetam aspirações tão audaciosas quanto
inviáveis.
É que a leitura
do curso histórico nem sempre considera toda a gama de variáveis que
concorreram para determinado desenlace tido como imprevisível e, por premiar a
ousadia, se convertem em falsos paradigmas.
Fernando
Collor, por exemplo, venceu as eleições presidenciais de 1989 como se fora um
outsider, batendo concorrentes que ostentavam muito mais bagagem e prestígio.
Desde então, são recorrentes as tentativas de repetir a proeza, mas sem a menor
consideração para o fato de que, então, se iniciava novo ciclo político e as
forças tradicionais, digamos assim, se subdividiram em mais de uma dezena de
candidaturas.
Em meio à dispersão
e à busca pelo novo por parte do eleitorado, no segundo turno se confrontaram
Collor e Lula.
As eleições
presidenciais de outubro se enquadram no novo ciclo conservador pós-impeachment
e, no estado atual, inicialmente comporta múltiplas candidaturas. Porém, em sua
essência, em nada se compara ao pleito de 1989.
Agora mesmo,
cá na província, já tem gente arrotando poder de fogo que na verdade não tem,
no intuito de criar o clima desejado para abocanhar o poder local em peleja
cujo cenário ainda não está definido.
Equilíbrio e
bom senso não fazem mal a ninguém, mais ainda quando se apoiam na avaliação da
real correlação de forças e na boa percepção de tendências no comportamento
futuro do eleitorado.
Enfim, nem
tanto o mar, nem tanto a terra. Nem a fragilidade do garoto sequioso por se
empaturrar de bombons, nem a ousadia do magnata que deseja povoar o planeta
Marte. Na política, vale sonhar sim, numa perspectiva dimensionada pela
realidade objetiva.
Leia mais sobre temas da
atualidade: http://migre.me/kMGFD
Ilustração: Kandinski
Pressão
Apesar de todo tipo de negociata, Temer e aliados ainda não fecharam a conta e admitem a possibilidade de deixar para fevereiro a votação da reforma da Previdência. da. Jogo duro na lama.
11 dezembro 2017
Gênero e raça
Uma jovem negra no Brasil corre risco 2,2 vezes maior de ser morta do que uma jovem branca, segundo o relatório Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência, da ONU. Fator de estímulo à luta pela igualdade de gênero e raça.
Fuga
— Amigo, resolvi me alienar, não vejo noticiário na TV, nem
leio jornais. No rádio só escuto música.
— Por quê?
— Não aguento essa corja do Temer. É o meu protesto...
— Protesto mudo ninguém ouve, ora!
#diálogospertinentes
— Por quê?
— Não aguento essa corja do Temer. É o meu protesto...
— Protesto mudo ninguém ouve, ora!
#diálogospertinentes
Lama comum
Aliado íntimo de Eduardo Cunha, Marun assume posto estratégico no governo Temer. Tão natural quanto o parto aos 9 meses de gestação. Cunha e Temer são gêmeos.
08 dezembro 2017
Jogo duro
Apesar da cooptação e da chantagem, a dez dias da votação, Temer ainda não tem votos para aprovar reforma da Previdência. Imagine se houvesse forte pressão nas ruas.
07 dezembro 2017
06 dezembro 2017
Vozes da diversidade
A revista ‘Propágulo’ e a construção coletiva das ideias
Luciano Siqueira, no Blog de Jamildo
Pelas mãos de Pedro, meu neto, aluno da área de comunicação da Universidade Federal de Pernambuco, conheço a revista 'Propágulo' — sob todos os títulos, uma bela iniciativa.
Luciano Siqueira, no Blog de Jamildo
Pelas mãos de Pedro, meu neto, aluno da área de comunicação da Universidade Federal de Pernambuco, conheço a revista 'Propágulo' — sob todos os títulos, uma bela iniciativa.
Começa pelo nome escolhido, tomado
da botânica, que sugere a intenção de se multiplicar e de propagar.
Ótimo projeto gráfico, textos
consistentes.
Tudo sob a responsabilidade de estudantes,
que a editam e a mantêm.
Lembrei-me de pronto do tosco
jornal 'Iniciativa', da nossa turma do segundo ano de Medicina da UFPE, nos
anos sessenta do século passado. Mimeografado, mas igualmente ousado e feito a
muitas mãos por um grupo de colegas sintonizados com o ambiente da época, de resistência
ao regime militar e de ânsia por conhecer, opinar e se fazer ouvir.
Sou um apaixonado pela construção
coletiva das ideias, que pressupõe espírito aberto à crítica e ao debate e
muita ousadia em subverter verdades supostamente pétreas, imutáveis.
Nada é imutável, como nos ensina a
dialética; o repouso é relativo, o movimento é absoluto. Como diria Karl Marx,
tudo o que é sólido se desmancha no ar.
Ainda não li os artigos deste
primeiro número da 'Propágulo', passei os olhos rapidamente - pelos textos e
pelas ilustrações. Amor à primeira vista. E entusiasmo com o propósito dos seus
editores, de "proporcionar uma conversa entre inúmeras vozes que compõem a
diversidade presente nas artes visuais".
Isto a partir do ambiente da UFPE,
de larga tradução de rebeldia.
Numa cidade como o Recife, que
nascida porto, ocupada na exportação de produtos primários para Portugal e
Europa, e na importação de manufaturados, fez-se congenitamente cosmopolita.
Desde sempre troca mercadorias e
ideias, dialoga com gentes e culturas de todo o mundo.
Uma das razões para que nossa
cidade (e Pernambuco) historicamente tenha sediado revoltas libertárias que
marcaram a construção da nacionalidade.
No projeto de Constituição
redigido pelo Frei Caneca, na Confederação do Equador, por exemplo, se vê clara
influência da Revolução Francesa.
A despeito disso, desse caráter
cosmopolita, construímos uma forte identidade cultural — que se renova
incessantemente, preservando, entretanto, suas raízes. A exemplo de Chico
Sciense e seus companheiros, que assimilaram o rock e o devolveram ao mundo
impregnado do toque do maracatu.
Nos tempos cinzentos que
atravessamos, sob a onda obscurantista que se espraia mundo afora, em que o
sectarismo, a intolerância e até o ódio conspiram contra o bom e criador debate
de ideias, exemplos como o da turma que faz a revista 'Propágulo' devem
prosperar.
Leia mais sobre temas da
atualidade: http://migre.me/kMGFD
05 dezembro 2017
O real e o imaginário
Proporções e perspectivas
Luciano Siqueira, no Blog da Folha e no portal Vermelho
Eu devia ter uns seis anos de idade e exultava quando meu pai me mandava
comprar o pão na padaria do seu Antenor, na esquina. Uma aventura, pois
imaginava uma distância enorme — embora anos após, em visita à Lagoa Seca,
nosso bairro em Natal, me dei conta de que separava nossa casa e a padaria apenas
um quarteirão.
Tudo é uma questão de perspectiva, dizem.
E é mesmo.
Tanto que hoje fico sabendo que um asteroide de 5 km vai passar ‘raspando’ na
Terra antes do Natal – e já não me assusto tanto com o termo ‘raspando’.
De fato, nos parâmetros da
astronomia a distância é medida numa escala quase infinita. Os cientistas chamam
‘perto’ distâncias que a gente sequer consegue imaginar.
O 3200 Phaeton (como é chamado esse asteroide)
passará a 10 milhões de quilômetros da Terra!
Ou seja, uma rocha espacial de cerca de 5 km
de extensão tirará um “fino” do nosso belo e contraditório Planeta.
Você acha longe? Então anote aí: essa distância é
27 vezes mais perto do que a distância daqui até a Lua.
A Nasa (agência espacial dos EUA) garante que o 3200 Phaeton é totalmente inofensivo.
Muito diferente é a
distância entre o desejo e a realidade na política. Não são poucos os exemplos
de pretensões astronômicas alimentadas sobre a base do simples desejo, sem
qualquer aproximação com a realidade concreta.
São erros de avaliação e
de perspectiva. Em geral por deficiente percepção da correlação de forças.
Quando se contar a
história do impeachment da presidenta Dilma, por exemplo, com um mínimo de
isenção que o distanciamento no tempo permite, se terá a dimensão exata dos
erros táticos cometidos pela força hegemônica em seu governo, o PT, por
considerar riscos reais como se fossem semelhantes ao do asteróide.
Os resultados do pleito
de 2014 foram lidos apenas parcialmente. A quarta vitória consecutiva na
disputa presidencial, em si mesma uma grande conquista, terminou ofuscando a
justa avaliação da nova configuração da Câmara dos Deputados e do Senado.
Com o apoio praticamente de
um quarto apenas das forças em presença, o PT insistiu numa candidatura própria
à presidência da Câmara, meio caminho para a eleição de Eduardo Cunha e todas
as consequências que se seguiram.
Observando a trajetória
do 3200 Phaeton, numa perspectiva mais ampla, os cientistas fazem inúmeras
ilações e formulam novos projetos de pesquisa destinados a elucidar os
mistérios que ainda os desafiam na compreensão do Universo.
Sem descortino estratégico
amplo, embalados pelo imediatismo reducionista, muitos ainda se debatem com
enorme dificuldade de compreender o enigma sociedade brasileira.
Leia mais sobre temas da
atualidade: http://migre.me/kMGFD
Desengano
O assaltante, revólver em punho:
— A bolsa ou vida!
— Não importa, moço, ambas estão vazias.
[Ilustração: Tela de Gil Vicente]
— A bolsa ou vida!
— Não importa, moço, ambas estão vazias.
[Ilustração: Tela de Gil Vicente]
04 dezembro 2017
Quem?
Aliados avaliam que Meirelles para presidente teria uma dificuldade: não é conhecido. [Quando o povo o conhecer a rejeição será imensa.]
Imponderável
Qualquer palpite agora sobre as eleições de 2018 em Pernambuco tem a mesma chance de adivinhar os números da mega sena. Zero.
Presunção
Temer diz que apoiará para presidente quem estiver disposto a defender o seu 'legado'. [Ou seja: um candidato suicida.]
03 dezembro 2017
Manu
Manuela chega a 3% no Datafolha. Muito bom para uma pré-candidatura que ainda dá seus primeiros passos.
Na lona
DataFolha: Temer continua apoiado por apenas 5% dos brasileiros. Merecida estabilidade no fundo do poço.
Poesia sempre
Alan Schaller/Instagram
E então, que quereis?
Vladmir Maiakovski
Fiz ranger as folhas de jornal
abrindo-lhes as pálpebras piscantes.
E logo
de cada fronteira distante
subiu um cheiro de pólvora
perseguindo-me até em casa.
Nestes últimos vinte anos
nada de novo há
no rugir das tempestades.
abrindo-lhes as pálpebras piscantes.
E logo
de cada fronteira distante
subiu um cheiro de pólvora
perseguindo-me até em casa.
Nestes últimos vinte anos
nada de novo há
no rugir das tempestades.
Não estamos alegres,
é certo,
mas também por que razão
haveríamos de ficar tristes?
O mar da história
é agitado.
As ameaças
e as guerras
havemos de atravessá-las,
rompê-las ao meio,
cortando-as
como uma quilha corta
as ondas.
é certo,
mas também por que razão
haveríamos de ficar tristes?
O mar da história
é agitado.
As ameaças
e as guerras
havemos de atravessá-las,
rompê-las ao meio,
cortando-as
como uma quilha corta
as ondas.
Tradução: E. Carrera Guerra
Leia mais sobre poesia
e temas da atualidade: http://migre.me/kMGFD
Drinque
- "Doce ou salgado?"
- "Salgado", porque tomo a água como se fosse vodka..."
A sete mil metros de altura, imaginar não ofende.
Sem ruptura
“Conte conosco”, diz Alckmin a Temer durante inauguração de moradias em São Paulo. Ou seja, saída dos tucanos do governo não muda apoio às reformas anti povo.
02 dezembro 2017
Compra e venda
Temer diz que trabalha para 'convencer' Congresso a votar reforma previdenciária. [Jogo sujo que custa mais de 14 bilhões em liberação de emendas e benesses fiscais!]
Veneno
Butantan descobre nove novas espécies de aranhas venenosas. [O amigo Epaminondas pergunta: “Aonde? No gabinete de Temer?”]
Ao debate
Uma nova carta de Lula aos brasileiros 'voltada ao povo"? Bom. Pode contribuir para o inadiável debate sobre os rumos do país.
01 dezembro 2017
Polos opostos
Mercado financeiro pressiona base parlamentar de Temer pela reforma da Previdência. Greve geral da terça-feira, 5 será a pressão dos trabalhadores em sentido contrário.
Em vão
Temer fará agenda em busca de popularidade. [Abordará o povo imitando o carrasco que se diz amigo da vítima].
30 novembro 2017
Uma crônica para descontrair
Leitura de bordo
Luciano Siqueira, no Vermelho
É sempre assim, mesmo em viagens curtas: leio e escrevo sempre. Pelo prazer em desvendar o sentido das coisas e, confesso, para evitar a conversa nem sempre agradável de quem viaja no assento ao lado.
Luciano Siqueira, no Vermelho
É sempre assim, mesmo em viagens curtas: leio e escrevo sempre. Pelo prazer em desvendar o sentido das coisas e, confesso, para evitar a conversa nem sempre agradável de quem viaja no assento ao lado.
De viajantes incômodos tenho boa
experiência acumulada. Tanto que desenvolvi modos próprios de me desvencilhar
deles.
Mas nem sempre com sucesso.
Como da vez que, por descuido
imperdoável, admiti ser (ou ter sido) médico. O que me rendeu longa e
entediante conversa com a jovem primípara, que me bombardeou com perguntas
intermináveis sobre o futuro parto e cuidados com recém-nascidos.
Ou quando eu lia 'O velho e o
mar', de Ernest Hemingway, e o cidadão ao lado, que se dissera missionário
evangélico (sem que eu o perguntasse), a ensaiar perguntas sobre a
"terceira idade" e as praias do Nordeste!
Diante do meu evidente mau humor,
enfim se tocou, cessaram as perguntas impróprias, porém me pediu "um livro
para que eu também leia, se o senhor tiver aí". Vinguei-me passando às
mãos do dito cujo um exemplar de 'Salário, preço e lucro’, de Karl Marx, que
folheou, tentou ler algumas passagens e logo me devolveu.
Pois bem. Melhor mesmo é, tão logo
me acomodar na aeronave, sacar da pasta um livro ou o iPad e me dedicar ao
prazer solitário da leitura ou da escrita.
Agora mesmo manuseei rapidamente a
revista da Gol e a refuguei de pronto.
O manuseio se prende às fotos, muito
boas, que ilustram algumas matérias.
O refugo fica por conta da
absoluta inutilidade (para mim) dos textos, um misto de "autoajuda"
para empresários ou pretendentes a tal e, à guisa de reportagem, propaganda de
hotéis e restaurantes de luxo.
Com licença da nostalgia, registro
em ata minha saudade dos tempos em que líamos nas revistas de bordo gente como
Luís Fernando Veríssimo e outros do mesmo naipe. Ótimas crônicas, puro
deleite.
Hoje em dia parece que os editores
dessas revistas nos tratam como leitores frívolos, desprezíveis e meros
consumistas.
Verdadeiro oásis é alguma
entrevista ocasional com personagem digno de atenção, como o ator Lázaro Ramos,
por exemplo, que pude ler alguns meses atrás.
Feito o registro, dêem-me licença
que vou concluir a leitura de 'Sobre a China', de Henry Kissinger e encarar o
novo romance de Milton Haroum, 'A noite da espera'.
Boa viagem!
Leia mais sobre temas da
atualidade: http://migre.me/kMGFD
29 novembro 2017
Bom que se esclareça
Estadão: ‘Depoimento no Caso Fifa volta a ligar TV Globo a pagamento de propina.’ [Custa nada investigar, né? No mínimo se esclarecerá o assunto.]
O prazer da fotografia
Cena urbana: Pão de Açúcar visto de Niterói (Foto: LS) #cenaurbana#riodejaneiro #lucianosiqueira
lucianosiqueira.blogspot.com
lucianosiqueira.blogspot.com
Já era
“Em Pernambuco, quem não é Cavalcanti é cavalgado”. Isso foi antigamente. Hoje a arrogância e a presunção não ganham eleição.
Debate necessário
Entre quem banca e quem precisa
Luciano Siqueira, no Blog de Jamildo/portal ne10
Não se trata de sincronia entre esses dois elementos, antes uma dissonância, abissal dissonância.
Luciano Siqueira, no Blog de Jamildo/portal ne10
Não se trata de sincronia entre esses dois elementos, antes uma dissonância, abissal dissonância.
No Brasil de hoje, quem banca é o
Mercado; enquanto a nação e o povo é que precisam. Em direções diametralmente
opostas.
A lógica do Mercado é a da
ultrafinanceirização — mundo afora e aqui. Da ruptura da bolha imobiliária em
2008, nos EUA, aos pesados investimentos dos bancos centrais na Europa para
salvar bancos privados e a regressão de direitos visando à redução dos custos
de produção e a recuperação da taxa média de lucro e, portanto, da capacidade
de reinvestimento. Tudo sob o modelo do enfraquecimento dos Estados nacionais e
o borramento de fronteiras soberanas.
No outro extremo, a lógica é a do
Estado imprescindível como indutor do desenvolvimento e a inclusão produtiva
como fator de redução da pobreza e de valorização do trabalho. Não há solução
para a crise global aprofundando o apartheid social.
Esse é o pano de fundo das
eleições gerais no Brasil, em outubro de 2018.
Por enquanto, a dimensão dos
problemas e o acirramento das contradições parecem ser maiores do que a
capacidade subjetiva das correntes políticas em presença.
Nem a reverberação do passado
recente dá conta dos desafios atuais, nem a trama midiática artificiosa. Ferir
os problemas centrais e apontar respostas consistentes e factíveis é
imprescindível.
Por enquanto, prevalece a
dispersão — tanto no campo das atuais forças governistas como na oposição.
Na oposição, sobretudo as pré-candidaturas
de Lula (PT), Ciro (PDT) e Manuela (PCdoB) são chamadas a darem um passo
adiante na construção de plataformas, que podem se cruzar desde o primeiro
turno, ou não.
Entre os governistas, obedientes
antes de tudo aos ditames do Mercado, experimentam-se fórmulas discrepantes,
que envolvem ensaios de possíveis outsiders a nomes tradicionais do PSDB e do
PMDB, que alguns imaginam possa ser o próprio Temer. Ou o seu mentor, o
ministro Meirelles.
Alckmin, pelo PSDB, vem insinuando
ideário a um só tempo "de direita e de esquerda". Ou, melhor dizendo,
um programa frankstein. Ideias que transitam nos interesses antagônicos entre
quem banca e quem precisa. Dificilmente colará.
Uma coisa é atrair forças situadas
ao centro como aliadas, fieis da balança do jogo eleitoral. Outra coisa é
empolgar o eleitorado com programa centrista numa sociedade a cada dia mais
polarizada entre interesses extremos.
O buraco é mais embaixo, como se
costuma dizer. E implica amplo debate desde já.
28 novembro 2017
Bobagem
“Alckmin presidirá o PSDB, portanto será o próximo presidente da República” — dizem ‘analistas’. [Ridículo. Falta combinar com o povo, ora!]
27 novembro 2017
Nosso chão
A cada desistência de um suposto outsider, confirma-se que a negação da política no Brasil esbarra na realidade concreta —muito mais dura, instigante e radicalizada do que as frias sociedades europeias.
Decadente
Com todo respeito à sul-africana Demi-Leigh Nel-Peters, recém-eleita, existe algo mais ultrapassado do que o concurso de Miss Universo?
Fez por onde
Folha de S. Paulo se queixa, em editorial, que a Operação Lava Jato perdeu a aura de ‘intocabilidade’. [Há que se reconhecer que, partidarizada, inúmeras são as razões para tanto.]
Opressão
“A desigualdade racial não é uma questão de classe, é uma questão de oportunidade “, diz a ‘especialista’. Errado, moça. Justamente a opressão de classe impede oportunidades iguais para todos.
26 novembro 2017
Poesia sempre
Quase um Poema de Amor
Miguel Torga
Há muito
tempo já que não escrevo um poema
De amor.
E é o que eu sei fazer com mais delicadeza!
A nossa natureza
Lusitana
Tem essa humana
Graça
Feiticeira
De tornar de cristal
A mais sentimental
E baça
Bebedeira.
Mas ou seja que vou envelhecendo
E ninguém me deseje apaixonado,
Ou que a antiga paixão
Me mantenha calado
O coração
Num íntimo pudor,
— Há muito tempo já que não escrevo um poema
De amor.
De amor.
E é o que eu sei fazer com mais delicadeza!
A nossa natureza
Lusitana
Tem essa humana
Graça
Feiticeira
De tornar de cristal
A mais sentimental
E baça
Bebedeira.
Mas ou seja que vou envelhecendo
E ninguém me deseje apaixonado,
Ou que a antiga paixão
Me mantenha calado
O coração
Num íntimo pudor,
— Há muito tempo já que não escrevo um poema
De amor.
Leia mais sobre poesia
e temas da atualidade: http://migre.me/kMGFD
24 novembro 2017
Crise de perspectiva
Sociedade do
desencanto
Eduardo Bomfim
Ao
final da década de 90 passada, o historiador britânico Eric Hobsbawm expressou
a preocupação na sua obra O breve século XX o temor de que as novas gerações
fossem levadas a uma espécie de presente contínuo, sem referências do passado
nem a perspectiva de futuro.
De lá para os dias atuais suas previsões mostraram-se corretas, mas as coisas foram bem mais além, porque como diz recente estudo europeu, no século XXI emergiu uma nova constatação: desde o final da Idade Média, pela primeira vez os mais jovens deixam de ter alguma esperança no futuro.
Afirma o referido estudo “o individualismo pós-moderno, a globalização financeira, vêm debilitando o desenvolvimento dos povos”, à exceção de alguns países como a China, com seu grande salto econômico, e a Rússia, como novas potências globais etc.
Na verdade, a civilização ocidental vem mergulhando em uma crise sem precedentes, conduzida a uma fragmentação dos vínculos entre as pessoas, no seio do próprio corpo social, no sentimento de pertencimento a uma comunidade nacional etc.
A globalização financeira, com sua agenda do politicamente correto, negação ao desenvolvimento dos países, vem promovendo ataques contra os estados nacionais e às respectivas sociedades civis, especialmente aqueles com destacado protagonismo como o Brasil, o quinto maior País do planeta, com dimensões continentais, mais de 200 milhões de habitantes, sétima economia do mundo, riquezas naturais estratégicas.
Existe um óbvio processo de tentativa de controle, através da interconectividade das redes, no mundo digital, dos extratos sociais mais propensos à tomada de consciência tanto do presente quanto ao futuro do País, uma clara fratura coletiva pautada pela grande mídia global.
Na promoção do ódio de uns contra todos e todos contra qualquer um, em selvagem canibalismo cultural e ideológico.
Na indução de agendas de grupos destituídas de qualquer horizonte de construto unificado e negação histórica do País, através de movimentos quase sempre financiados por ONGs, como a Open Society do megaespeculador financeiro George Soros. Onde tudo é permeável por um discurso efêmero, mutante e descartável.
Um projeto de Brasil exige, além de propostas concretas, factíveis via soluções políticas amplas, a luta de ideias contra o obscurantismo dos tempos atuais.
De lá para os dias atuais suas previsões mostraram-se corretas, mas as coisas foram bem mais além, porque como diz recente estudo europeu, no século XXI emergiu uma nova constatação: desde o final da Idade Média, pela primeira vez os mais jovens deixam de ter alguma esperança no futuro.
Afirma o referido estudo “o individualismo pós-moderno, a globalização financeira, vêm debilitando o desenvolvimento dos povos”, à exceção de alguns países como a China, com seu grande salto econômico, e a Rússia, como novas potências globais etc.
Na verdade, a civilização ocidental vem mergulhando em uma crise sem precedentes, conduzida a uma fragmentação dos vínculos entre as pessoas, no seio do próprio corpo social, no sentimento de pertencimento a uma comunidade nacional etc.
A globalização financeira, com sua agenda do politicamente correto, negação ao desenvolvimento dos países, vem promovendo ataques contra os estados nacionais e às respectivas sociedades civis, especialmente aqueles com destacado protagonismo como o Brasil, o quinto maior País do planeta, com dimensões continentais, mais de 200 milhões de habitantes, sétima economia do mundo, riquezas naturais estratégicas.
Existe um óbvio processo de tentativa de controle, através da interconectividade das redes, no mundo digital, dos extratos sociais mais propensos à tomada de consciência tanto do presente quanto ao futuro do País, uma clara fratura coletiva pautada pela grande mídia global.
Na promoção do ódio de uns contra todos e todos contra qualquer um, em selvagem canibalismo cultural e ideológico.
Na indução de agendas de grupos destituídas de qualquer horizonte de construto unificado e negação histórica do País, através de movimentos quase sempre financiados por ONGs, como a Open Society do megaespeculador financeiro George Soros. Onde tudo é permeável por um discurso efêmero, mutante e descartável.
Um projeto de Brasil exige, além de propostas concretas, factíveis via soluções políticas amplas, a luta de ideias contra o obscurantismo dos tempos atuais.
Leia mais sobre temas da
atualidade: http://migre.me/kMGFD
Contra o povo
Chegam a 14,5 bilhões benesses de Temer para comprar votos de deputados em favor da reforma previdenciária. Contra o povo.
23 novembro 2017
Uma crônica para descontrair
Produtivos lapsos de insônia
Luciano Siqueira, no Vermelho
Uma velha amiga me confidencia que, quando muito jovem, sonhava em poder dormir até mais tarde sem precisar levar as crianças à escola, no início da manhã.
Agora que a idade chegou e que já não tem crianças em casa, o sono é pouco e rarefeito.
Ou seja, até em matéria de dormir bem tudo tem o seu tempo. Saber lidar com essa estranha cronologia é um desafio.
Creio que pelo hábito de dormir pouco, que conservo desde a adolescência, gastei muito menos horas de sono do que a maioria dos viventes e agora, como uma espécie de punição, dei para sofrer com lapsos de insônia.
Acontece assim. No meio da noite, sem ter nem pra quê, perco o sono por umas duas ou três dezenas de minutos e me deparo com uma espécie de monólogo, com pauta bem definida.
Leia
também: De volta à Idade Média https://bit.ly/3bAk6iT
Tem vez que continuo a reflexão do dia anterior sobre um problema de governo, uma questão de ordem política ou teórica que vem me acicatando a mente ou mesmo sobre lances do bom jogo de futebol, que vi na TV.
Os temas até que são prazerosos. Ruim é a sensação de que despertarei no início manhã com a desagradável sensação de que fiquei devendo uma cota de repouso ao meu já sambado corpo e ao sempre irrequieto espírito.
Mas bem que poderia ter uma pauta mais suave. Ao invés de problemas pendentes, quem sabe versos de Neruda, ou de Drummond, ou de Bandeira ou de Mia Couto, ou um trecho de boa crônica de Rubem Braga ou uma canção de Lenine ou Chico.
Não sei por que razão, minha sina é ter os lapsos insones ocupados invariavelmente por temas mais densos ou áridos.
Então, resolvi tirar proveito do estranho fenômeno. A depender do assunto que venha à tona, faço mentalmente o esboço do meu próximo artigo ou crônica. Ou do roteiro de uma intervenção num debate próximo.
Aqui mesmo, confesso a vocês que me brindam com a generosidade de me lerem, vários dos meus últimos textos foram "rascunhados" em plena madrugada, naquele vácuo que antecede a volta ao reino de Morfeu.
Apenas lamento não ter o dom dos poetas para poder dizer, como Carlos Pena Filho: “Lembranças são lembranças, mesmo pobres,/olha pois este jogo de exilado/e vê se entre as lembranças te descobres.”
Leia mais sobre temas da
atualidade: http://migre.me/kMGFD