Jogo duro

China enfatiza status legal do Estreito de Taiwan para impedir provocação dos EUA

Hu Xijin, Global Times

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Wang Wenbin, disse na segunda-feira que, de acordo com a UNCLOS e as leis chinesas, as águas do Estreito de Taiwan, que se estendem de ambas as margens até o meio do Estreito, são divididas em várias zonas, incluindo águas internas, mar territorial, zona contígua e a Zona Econômica Exclusiva. A China tem soberania, direitos soberanos e jurisdição sobre o Estreito de Taiwan. Ao mesmo tempo, respeita os direitos legais de outros países em águas relevantes. Esta é uma importante reiteração da China sobre o status legal do Estreito de Taiwan.

Recentemente, houve muitos relatos da mídia americana e ocidental, alegando que a China nega que o Estreito de Taiwan seja águas internacionais, citando palavras de autoridades americanas que reclamaram que a China enfatizou repetidamente esse ponto para eles recentemente. Eles acusaram a China de tentar mudar unilateralmente o status quo do Estreito de Taiwan. Os comentários de Wang são obviamente uma resposta clara a essas vozes.  

Como todos sabemos, o Estreito de Taiwan tem cerca de 220 milhas náuticas em seu ponto mais largo e aproximadamente 70 milhas náuticas em seu ponto mais estreito, mas a zona econômica exclusiva pode se estender a 200 milhas náuticas do litoral. De qualquer forma, os Estreitos de Taiwan não são as chamadas águas internacionais, sem mencionar que não existe o conceito de "águas internacionais" na UNCLOS. "Águas internacionais" é apenas um termo informal, que geralmente se refere ao alto mar fora das zonas econômicas exclusivas sem qualquer propriedade ou jurisdição nacional. 

A zona econômica exclusiva pode ser atravessada por navios e aeronaves, incluindo navios de guerra e aviões militares, de outros países, em passagem inocente. Por ser uma passagem inocente, os navios de guerra e aeronaves não podem ameaçar o país que tem jurisdição sobre as águas. Esta é a premissa mais básica. 

A razão pela qual a China está enfatizando o status legal do Estreito de Taiwan e negou claramente suas chamadas águas internacionais é porque os navios de guerra e aeronaves militares dos EUA realizaram atividades provocativas muitas vezes que violaram seriamente os direitos soberanos da China. Segundo as estatísticas, desde o início de 2019 até fevereiro deste ano, os navios de guerra dos EUA passaram pelo Estreito de Taiwan 38 vezes. Todos esses trânsitos são declarações flagrantes de apoio às autoridades de Taiwan e flexões de força contra o continente. Eles constituíram absolutamente violações contra os direitos soberanos da China.

No passado, os navios de guerra dos EUA raramente transitavam pelo Estreito de Taiwan e eram basicamente silenciosos ao passar. Agora, os navios de guerra dos EUA navegam pelo Estreito de Taiwan com alto perfil e alta frequência, considerando-o uma maneira importante de interferir nos assuntos através do Estreito. São os EUA que primeiro fizeram provocações para mudar o "status quo" da situação no Estreito de Taiwan, e é inevitável que a China dê uma resposta forte.

Nos últimos anos, quando navios de guerra dos EUA passaram pelo Estreito de Taiwan, o Exército de Libertação do Povo Chinês (PLA) enviou navios de guerra e aeronaves para monitorá-los. Como a China negou abertamente a falácia de que os Estreitos de Taiwan são "águas internacionais", é perfeitamente possível que o ELP tome ações mais determinadas contra os navios de guerra dos EUA e os movimentos prejudiciais de aeronaves no Estreito de Taiwan. Acredito que isso se tornará uma tendência.

"Os Estados Unidos continuarão a voar, navegar e operar onde quer que a lei internacional permita, e isso inclui transitar pelo Estreito de Taiwan", disse um porta-voz do Pentágono. 

A atitude dos dois lados está obviamente em desacordo. Portanto, pode-se esperar que o Estreito de Taiwan possa se tornar mais tenso no futuro. Mas devido à crescente força do ELP e nossos preparativos para a luta militar no Estreito de Taiwan, acredito que os militares dos EUA não ousarão escalar a provocação contra a China na região. Eles vão manter a cautela para não desencadear uma crise.

Gostaria de lembrar a todas as partes que o Estreito de Taiwan está às portas do continente chinês. Os EUA não podem igualar a capacidade da China de mobilizar forças militares nesta região, bem como a vontade da China de lutar. Seria uma escolha sábia para os militares dos EUA não entrarem em conflito com o ELP aqui.

Alguns analistas em Taiwan acreditam que a declaração do continente chinês é uma preparação legal para a solução militar final para a questão de Taiwan. Eles também podem pensar assim, porque os dois lados do Estreito de Taiwan acabarão por ser unificados.

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Veja: Amizade Brasil-China faz bem https://bit.ly/3u4eZOu

Barra pesada

Há quem faça uma conta pesada para Bolsonaro (e seu clã) em relação à quantidade de processos judiciais que terá de responder após perder o fórum privilegiado e deixar o cargo de presidente.

Será aceitável que 9 crimes tão graves fiquem impunes? https://youtu.be/sJ2lSvc193E

Sem espaço

Analistas avaliam que é decisivo para as chances de Bolsonaro nas eleições de outubro reduzir o índice de rejeição dele entre as mulheres. Se for por aí ele não terá chances.

As muitas cores da vida https://bit.ly/3n47CDe

Novos ventos na América Latina

Eleição na Colômbia coroa virada histórica na América Latina

Para o cientista político Luis Fernandes, a eleição de Gustavo Petro será importante para todo o continente e confirma o esgotamento neoliberal
Cezar Xavier, Vermelho www.vermelho.org.br

 

Enquanto a maioria dos países latino-americanos alternavam entre governos de direita e esquerda, a Colômbia sempre foi aquele quartel-general da direita no continente. Sendo uma das principais economias do continente, o país acabava sendo um ponto fora da curva para governos de esquerda nas articulações estratégicas da Unasul, o bloco regional criado por governos de esquerda no início deste século. 

Com a eventual eleição da chapa Lula-Alckmin, a vitória na Colômbia coroa uma virada histórica no continente e vai consolidar a integração regional e uma iniciativa que dará nova voz no mundo, não só ao Brasil, mas à América Latina. Esta é a opinião expressa pelo cientista político e professor da UFRJ, Luis Fernandes.

Com a vitória inédita da esquerda de Gustavo Petro e Francia Márquez, anuncia-se uma virada importante nas relações regionais. Para o analista internacional, este resultado eleitoral não foi importante apenas para a esquerda.

Leia também: Celso Amorim: Com vitória na Colômbia, integração será feita de laços de afeto, além de confiança

“Mais do que para a esquerda, é importante para a democracia no continente, porque a Colômbia é um país com uma trajetória de grande polarização interna, de dificuldade de construção de um projeto comum nacional, onde a presença de grupos paramilitares sempre foi uma força nociva na vida política e uma ameaça à democracia”, diz ele. O analista diz que a violência de paramilitares de direito sempre foi convenientemente mobilizada e dirigida contra forças de esquerda e centro-esquerda, e era um fator de intimidação da democracia. Ele se refere aos recordes de assassinato de lideranças ambientais, camponesas e sindicais que a Colômbia sempre liderou no continente.

Para ele, o resultado da eleição, em primeiro lugar, mostrou que uma força originária de esquerda dentro de uma plataforma de união ampla é uma força legítima para governar a Colômbia. “Isso me parece que tolhe e enfraquece ações de polarização, movidas por uma lógica de milícia e ações paramilitares para coibir a democracia na região”, reafirmou.

Mas a governança progressista naquele país também amplia estratégias de integração regional, especialmente, se houver um triunfo de esquerda nas eleições do Brasil, em outubro. Para além da Unasul, seria possível ampliar a integração continental para o Norte.

Leia também: A Colômbia precisa do Estado para impulsionar a industrialização, diz economista Renan Vega

“No coração da América do Sul, junto com os ventos favoráveis as forças progressistas e democráticas, ela estabelece uma plataforma firme de integração regional, em que deixará de ser uma plataforma de integração apenas sul-americana para ser uma integração latinoamericana, com as mudanças democráticas favoráveis vividas no México e outros países da América Central”. 

Esgotamento de um modelo

A vitória da esquerda após o período de ascenção neoliberal nos anos 1990, já era apontada como uma consequência do esgotamento daquele modelo econômico. Agora, principalmente após a pandemia e o modo como se explicitou o desmonte do estado de proteção social, a esquerda volta ao poder na maioria dos países do continente. 

Os colombianos escolheram a esquerda este ano, na opinião de Luis Fernandes, no fundo, pelo esgotamento do modelo que a direita tradicional colombiana representa. “É um desgaste social gerado por esse modelo, mas também uma clara condenação do não cumprimento e tentativa de desvirtuar os acordos de paz. É uma condenação da presença muito forte de grupos paramilitares entre estas forças da direita tradicional”, disse. Ele se refere aos acordos feitos com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farcs), guerrilha de esquerda, desmobilizada e traída pelos governos recentes, enquanto as milícias de direita continuam atuando.

Leia também: França e Colômbia: devemos comemorar?

“Isso chegou a um ponto de esgotamento e se traduziu no próprio segundo turno, porque o candidato da direita não era representativo das elites tradicionais da Colômbia. Era uma espécie de candidato do sistema, mas que se apresentou com um discurso antissistema. Ele não era exatamente igual a figura do Bolsonaro, mas ecoava algumas características da trajetória dele. Esta direita tradicional da Colômbia foi a grande derrotada nessas eleições”, resumiu. 

Com todos os fatores de instabilidade democrática observados na Colômbia e a própria força da direita expressa nas eleições, o sociólogo avalia que foi muito importante que todos os atores da direita reconheceram o resultado. “Não houve questionamento do resultado. Isso é muito importante para nós aqui no Brasil, porque sabemos que está em curso uma tentativa de natureza golpista de deslegitimar o resultado da eleição”, comparou. 

O fato tanto no Chile, quanto na Colômbia da direita derrotada ter reconhecido prontamente a soberania popular expressa nos resultados das eleições, é, para ele, um bom sinal. “Para que, nós também não demos guarida a qualquer pensamentos ou devaneios golpistas no Brasil”, concluiu.

Leia também: Cinco respostas que explicam a importância da vitória de Petro na Colômbia

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As muitas cores da vida https://bit.ly/3n47CDe

Predatório

Escreve Cínthia Leone que nos últimos dois anos houve forte aumento de ações na justiça contra governos ou empresas por danos ao clima. Dos 2002 casos abertos desde 1986 em 44 países quase 25% (475) foram apresentados após 2020. Capitalismo predatório, acrescento.

As muitas cores da vida https://bit.ly/3n47CDe

Precários

Ontem vi na TV quase todo o jogo Nátuco 1 x 1 Crisciúma. Descobri que a mediocridade também diverte.

A gente se encontra em várias trincheiras https://bit.ly/3vhYCww

O peso do que se diz

Sobre palavras-charlatãs

Por mais absurdas que sejam à cognição, elas não são inócuas
Muniz Sodré, Folha de S. Paulo

 

Do jornalista e político Carlos Lacerda, dono de tiradas verbais desconcertantes, está na memória o debate parlamentar em que o interlocutor o provocava, dizendo que "suas palavras entram por um ouvido e logo saem por outro". A resposta, fulminante: "Impossível, o som não se propaga no vácuo".

Mas isso é reminiscência de um momento em que, à direita ou à esquerda, personalidades de temperamento e manifestações fortes como Lacerda demonstravam alguma elegância para com o discurso social. Até nas ofensas, como aquela dirigida a um deputado gaúcho: "Este centauro mitológico dos pampas, metade cavalo e a outra metade... cavalo também!".

É hoje muito evidente a crise do discurso civil nas tecnodemocracias ocidentais, mas ela é particularmente aguda no contexto brasileiro, onde palavras-charlatãs circulam sem qualquer ancoragem no real-histórico ou no senso comum e, ainda assim, produzem efeitos de comportamento.

[Veja; Prenúncio de guerra suja nas eleições de outubro https://bit.ly/3Hr4Mz9 ]

Por exemplo, carecem de sentido muitos dos nomes das "igrejas" em expansão. Já nas redes digitais, bolhas protofascistas obtêm melhor desempenho do que as progressistas. Discursivamente, o meme abre portas ao fenômeno. Exemplo abstruso é a palavra "Ratanabá", que designa cidade inventada por um ufólogo bolsonarista, suposta "capital do mundo" localizada na Amazônia e com ouro suficiente para "tornar todos os brasileiros milionários". Transformada em meme, a palavra-charlatã adquire força viral na rede, por mais absurda que seja à cognição. E não é inócua: junto com ela são viralizadas ideias antiambientalistas e anti-indigenistas.

À consciência letrada tudo isso pode parecer remoto, mas esse é o real da boçalidade pública, que penetra na fadiga da institucionalidade cívica. Vale recordar o versículo: "Todas as palavras estão gastas (...) O que foi é o que será. O que aconteceu é o que há de acontecer. Não há nada de novo debaixo do sol" (Ecl. 1,9-9).

O texto bíblico abrange hoje as palavras que, destituídas de valor e de peso, embora carregadas de força emocional, apenas acentuam o vazio das vozes. Temia Nietzsche em 1882: "Mais um século de jornalismo e as palavras começarão a feder".

Não se trata, porém, de jornalismo, e sim do "vácuo" a que se referiu o polemista no debate, aquele onde o som não se propaga. Só que isso acontece agora como disfunção societária, isto é, como zeramento progressivo dos valores cívicos e morais, que fazem exigências internas e externas de obrigações coerentes por meio de falas lógicas. O "fedor" nietzscheano foi profético. Mas o mal-estar nauseante que contamina a sociabilidade nacional transparece na corrupção das palavras públicas. É hora de, em silêncio, trocá-las por ações mobilizadoras.

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Veja: A mentira o desgasta e enfraquece; mas o mantém conectado à sua base https://t.co/Dp8f13AzZ4

29 junho 2022

Cena eleitoral em Pernambuco (1)

Eleição em Pernambuco: nem lama, nem sangue

Luciano Siqueira

 

Não são poucas as vozes qualificadas e experientes que têm comentado o risco de rebaixamento do debate nas eleições deste ano em Pernambuco.

Não pela disputa presidencial, marcada aqui pela polarização entre Lula e Bolsonaro, sob alta temperatura, com larga vantagem para o ex-presidente.

O risco maior está na disputa pelo governo do Estado, que em meio a uma multiplicidade de candidaturas destacam-se 5 potencialmente competitivas: a do deputado Danilo Cabral pelo PSB, à testa da Frente Popular, versus quatro ex-aliados, hoje oposicionistas — Marília Arraes, Solidariedade; Raquel Lyra, PSDB; Miguel Coelho, União Brasil e Anderson Ferreira, PL.

Todos buscam um veio por onde possa ampliar sua base eleitoral.

Marília aposta no recall da última eleição municipal no Recife, em que recebeu o apoio explícito de Lula. Porém concentra suas baterias num combate ao PSB, um dos seus ex-partidos, com tamanha ferocidade que beira o ódio.

Os demais tentarão, por mil argumentos, consistentes ou não, negar os feitos da Frente Popular nos últimos quatro governos liderados pelo PSB, com os governadores Eduardo Campos e Paulo Câmara.

Correndo por fora e sem maior expressão eleitoral, há outras candidaturas, na quase totalidade situadas à esquerda, que igualmente concentram o ataque nos socialistas.

Todos estão "com sangue nos olhos", dizem. 

O que faz lembrar uma "tese" que circulava aqui nos anos 80, segundo a qual campanha majoritária vitoriosa haveria de conter sangue e lama.

Na terceira década do século XXI e em estado historicamente politizado como Pernambuco, retroceder a esse baixo nível de disputa seria lamentável. Pois mais do que nunca é necessário situar o debate acerca de alternativas para o desenvolvimento de Pernambuco no âmbito de um projeto de reconstrução nacional.

O país está destroçado pelo desgoverno Bolsonaro. O Estado nacional fragilizado. A busca de saídas para tamanha crise há de repercutir aqui aplicada aos desafios próprios da vida pernambucana.

Pois em que pese a integração completa das economias regionais à condição de economia nacional una, desde meados dos anos 70, persiste o recorte regional em qualquer projeto sério de desenvolvimento do país.

Na hipótese de um novo governo Lula, explorar plenamente o lugar próprio da economia instalada em território pernambucano traduz-se em desafio e possibilidade.

Nesse cenário, será possível elevar o nível do debate entre os contendores majoritários em Pernambuco? Se houver vontade política, sim.

Iniciada a campanha propriamente dita pós-convenções partidárias, que acontecerão entre julho e início de agosto, veremos.

[ILustração: Tereza Costa Rêgo]

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Leia também: Lula-Alckmin e o gesto taticamente contido: https://bit.ly/3A39tiS

28 junho 2022

Vitória possível

Eleitor está mais decidido e mudou muito desde Lula 1

Quase 40% não votaram em 2002, voto parece mais decidido e país rachou com ódio e economia
Vinicius Torres Freire, Folha de S. Paulo

 

Lula da Silva (PT) foi preso em abril de 2018. Em junho, liderava o Datafolha, com 30% dos votos para presidente. Em segundo lugar vinha "Ninguém", com 21%: isto é, a soma de nulos, brancos e indecisos. Jair Bolsonaro (PL), então PSL, tinha 17%.

No outro cenário da pesquisa, Fernando Haddad era o candidato petista, com 4%. "Ninguém" liderava, com 33%. Bolsonaro vinha a seguir, com 19%.

Foi uma eleição esdrúxula e lúgubre. Parece compreensível que, em meados do ano, "Ninguém" tivesse tantos votos, que acabariam tendo outro destino quando o país entrou em surto terminal.

Mas houve outras eleições em que havia tantos ou mais votos nulos, brancos e indecisos no meio do ano. Na campanha de 2022, o nível de abstinência eleitoral e indecisão é do mais baixo na redemocratização.

Óbvio que o voto pode mudar até outubro, mas mais gente tomou partido mais cedo. É mais um dado para pensar o que pode mudar o destino da eleição, assim como é o caso do voto feminino, da rejeição maior de pobres e pretos a Bolsonaro ou do peso que podem ter os estelionatos eleitorais.

Veja: Pesquisas eleitorais revelam tendências que devem ser estudadas https://bit.ly/3Ixrze0

Parece óbvio, mas a gente se esquece ainda de como o eleitor mudou desde Lula 1. Há continuidades, de experiência socioeconômica, política ou outra. Mas massas de cidadãos passam a votar ou deixam de fazê-lo, em condições muito diferentes de debate público.

Das pessoas que ora têm idade para votar, quase 40% não podiam fazê-lo ou nem haviam nascido em 2002, na vitória de Lula 1. Quase um quarto do eleitorado tinha menos de 16 anos quando Lula deixou o poder, em 2010. Devem ter memória diferente dos "bons anos petistas". Os evangélicos eram 15% da população em 2000, são mais de 30% agora.

Em 2006, o número de celulares equivalia a 53% da população _não quer dizer que fosse essa a parcela dos brasileiros com celular: alguém tinha mais de um, outrem nenhum. Em 2018, equivalia a 109%; agora, a 120%.

O número de contas em redes sociais passou de 86 milhões em 2014 para 130 milhões em 2018 e 171 milhões em 2022 (dados de várias fontes compilados no site Datareportal, a serem tomados com grãos de sal).

Lula tem 56% contra 20% de Bolsonaro entre as famílias que ganham até dois salários mínimos; perde ou empata nas demais faixas de renda. É uma eleição "de classe" ou da revolta da pobreza, mas não é história tão diferente pelo menos desde 2006. Bolsonaro, de resto, ainda tem 20% dos pobres na pior crise da República.

Como se sabe, 36% dos homens e 21% das mulheres votam em Bolsonaro. É diferença expressiva, ainda maior que na votação de Lula em 2002 e 2006, também mais votado por homens.

"Ninguém" (nulos, brancos, indecisos) teve 11% dos votos no Datafolha desta semana, tão pouco quanto no junho ou julho da eleição de Lula 1 (2002) e Dilma 1 (2010).

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Veja: A gente se junta no WhatsApp e depois nas ruas. Combinado? https://bit.ly/3LcXQYD

Integração no subcontinente

Celso Amorim: Com vitória na Colômbia, integração será feita de laços de afeto, além de confiança

Cezar Xavier, Vermelho www.vermelho.org.br

 

No domingo (19), em que Gustavo Petro e Francia Marquez foram eleitos para a Presidência da República na Colômbia, o chanceler Celso Amorim viajava com o ex-presidente Lula num avião. “Por essa coincidência, eu me atrevi a ligar diretamente e tive a sorte de falar com ele [Petro] no dia mesmo da eleição”, relatou ao Portal Vermelho, o embaixador. “Para você ter uma ideia da solidariedade que existe hoje na região, quem me deu o telefone dele foi o Alberto Fernandez [presidente da Argentina]. É assim que estamos vivendo este novo momento na América Latina”, completou.

Para Amorim, que foi um dos idealizadores mais entusiasmados da integração da América Latina, quando dirigiu as Relações Exteriores do Brasil, este episódio exemplifica a importância da vitória inédita da esquerda na Colômbia. 

Leia também: Eleição de Francia e Petro na Colômbia mostra ao Brasil a necessidade de mudar

Na opinião dele, a integração da América Latina é importante “de qualquer maneira”, independente de uma vitória de esquerda. “Nós conseguimos construir laços de confiança, mesmo entre diferentes e diversos. Mas quando a gente tem semelhantes, como é o caso agora, é muito melhor, porque além dos laços de confiança, a gente pode construir laços de ternura e afeto, de visões comuns de mudança da sociedade, de eliminação das discriminações”, defendeu ele. 

Amorim foi ministro das Relações Exteriores nos governos Itamar e Lula, e ainda ocupou o ministério da Defesa, no governo Dilma Rousseff. Neste período, ele encabeçou uma orientação diplomática de traçar uma política que visava reduzir a dependência dos Estados Unidos e da Europa, não só do Brasil, mas da América do Sul como um todo, com a consolidação do Mercosul, a criação da Unasul, entre outros organismos regionais.

Por isso, conforme explica ele, esta eleição é tão importante na sequência da Bolívia e do Chile. “Um país que nunca teve sequer um governo de centro-esquerda é uma grande e importante vitória”. São mais de 200 anos de República elegendo governos de direita no país, ininterruptamente.

Leia também: Colombianos celebram a vitória da paz, da justiça social e ambiental

“Conheci bem a elite colombiana, que aliás é muito preparada, e se gaba de falar o melhor espanhol, etc. Mas o povo estava à margem. Eu nunca vi uma pessoa como a Francia [Marquez], que acabou de ser eleita, circulando no meio da elite. Não é uma questão de dizer que vi um ou dois. Eu nunca vi ninguém”, disse Amorim sobre o fato da vice-presidenta ser representante dos afrodescendentes. Francia construiu sua história como militante ambiental, em defesa dos recursos naturais de suas comunidades quilombolas e indígenas, contra a exploração predatória das elites estrangeiras.

“O que você vê, agora, é, de fato, uma maior integração do país com base na igualdade e não discriminação”, observou.

Correlação de forças

O ex-ministro brasileiro está otimista com as potencialidades do novo governo colombiano. Embora a correlação de forças no país seja complexa e desfavorável, ele acredita que o cenário de solidariedade continental ajuda. 

Leia também: Cinco respostas que explicam a importância da vitória de Petro na Colômbia

“Nada é facil, sobretudo quando se quer fazer algo ousado. Mas eu acredito que o ambiente no conjunto da América Latina é muito mais favorável nesse momento”, disse. Amorim acha muito mais difícil haver golpes como ocorreram no passado. “Há uma solidariedade que vai fazer com que esses países encontrem um caminho de progresso e justiça social”. 

A Colômbia tem graves problemas estruturais de segurança, tendo consolidado uma relação dependente dos EUA, devido ao enfrentamento de guerrilhas e milícias internas, além do tráfico de drogas. Governos vizinhos desconfiam do enclave militar americano que a Colômbia se tornou no continente. 

“Essas coisas vão ser resolvidas cada uma a seu tempo. Não adianta querer chegar varrendo tudo, porque não é assim que as coisas acontecem e se solidificam. Acho que a Colômbia vai encontrar seu caminho e vai fazer isso de maneira pacífica, em benefício do seu povo, da paz e evitando conflitos desnecessários. Eu confio na lucidez do Petro”, avaliou. 

Leia também: A Colômbia precisa do Estado para impulsionar a industrialização, diz economista Renan Vega

Mais fome

Fome se espalha: 26% dos brasileiros não têm comida suficiente em casa

Situação é ainda pior para quem não tem emprego e para as camadas mais pobres da população
André Cintra, Vermelho www.vermelho.org.br

 

Um a cada quatro brasileiros não têm comida garantida para alimentar diariamente a família. É o que aponta pesquisa Datafolha divulgada nesta segunda-feira (27) pela Folha de S.Paulo e reveladora da insegurança alimentar no País.

Nos últimos anos, sob o governo Jair Bolsonaro e com o quadro de pandemia, a fome se espalhou. De acordo com o Datafolha, 26% dizem não ter comida o suficiente em casa. Apenas 12% têm mais do que o suficiente.

O cenário de insegurança alimentar está em alta desde que o Datafolha passou a pesquisar esse tema, em maio de 2021. Mesmo com os refluxos da crise sanitária e a reabertura da economia, a falta de alimento nos lares brasileiros não retrocedeu.

Leia também: A influência do general Inflação https://bit.ly/3Oa6IAz

A situação é ainda pior para quem não tem emprego e para as camadas mais pobres da população: falta comida a 42% dos desempregados e a 38% dos que ganham até dois salários mínimos (R$ 2.424).

Na comparação entre as regiões, o problema é maior no Nordeste (32%) e no Norte (30%). Mesmo no Sudeste, região menos atingida, embora mais populosa, a escassez de comida chega a 22% dos moradores.

Folha lembra outros dados que confirmam a crise alimentar no País. “Em uma cidade como São Paulo, a renda dos 5% mais pobres não é suficiente para comprar dois pratos feitos ou 1 quilo de carne por mês”, registra o jornal. “Além disso, 33 milhões de pessoas passam fome no País, segundo apontou a segunda edição do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil – um patamar semelhante ao que havia sido registrado há três décadas.”

O Datafolha ouviu 2.556 brasileiros, presencialmente, em 181 cidades, nos dias 22 e 23 de junho. A margem de erro é de dois pontos percentuais.

Veja: A fome por si mesma não esclarece https://bit.ly/3sorzHH

Fotografia: Cena urbana

 

Rosalva Silva*


*Doutoranda em Saúde Pública pela FIOCRUZ, fotógrafa amadora
 Janelas abertas para o mundo https://bit.ly/3n47CDe     



Sono intranquilo

66% dos brasileiros dormem mal e mulheres são mais afetadas, aponta estudo

Chegada da Covid afetou a qualidade do sono e 'igualou para pior' ocorrência entre classes sociais
Matheus Moreira, Folha de S. Paulo

 

Um estudo publicado na revista Sleep Epidemiology (Epidemiologia do Sono, em tradução livre) indica que 65,5% dos brasileiros têm sono de má qualidade. As mulheres são as mais afetadas: quando comparadas às dos homens, as chances de dormir mal são 10% maiores para elas.

A qualidade do sono é definida pela pesquisa por fatores como duração (falta ou excesso), regularidade (interrupções durante a noite) e estados (leve, profundo e REM). A satisfação pessoal com o sono também é considerada.

O sono ruim compromete a retenção de informações e de memórias e causa irritabilidade e cansaço, entre outros problemas.

Os dados foram coletados entre os dias 16 e 30 de março de 2020, poucos dias depois de a OMS (Organização Mundial da Saúde) decretar a pandemia de Covid-19.

A iminência da alta de casos no Brasil, a possibilidade de lockdowns e o medo de perder o emprego contribuíram para aumentar a ansiedade e depressão entre os brasileiros, levando à piora do sono, segundo Luciano Drager, presidente da ABS (Associação Brasileira do Sono) e professor da Faculdade de Medicina da USP.

Leia também: De volta à Idade Média https://bit.ly/3bAk6iT 

Os fatores de risco são maiores para habitantes do Centro-Oeste, do Sudeste e do Sul. Viver em qualquer uma dessas regiões aumenta em 12% a chance de ter pior qualidade de sono em comparação com a região Norte. Quem mora nessa área, segundo o estudo, está mais protegido contra sono ruim.

"Para nossa surpresa, a região Centro-Oeste é a que teve o indicativo de pior qualidade de sono. O ritmo dos grandes centros, que nunca param, pode influenciar. Por isso esperávamos que o Sudeste fosse a região com pior índice."

Ser jovem também é um fator de risco para dormir mal, devido a hábitos como uso excessivo de celulares antes de dormir, consumo de café, energéticos e outros estimulantes, além de trabalho e estudo em ritmo acelerado.

Cruzando fatores de risco, o perfil que se destaca é o da mulher jovem que vive no Centro-Oeste. O homem que vive na região Norte é o perfil mais protegido contra o sono de má qualidade.

Em relação a rotinas, usar celulares antes de dormir é outro fator que diminui a chance de uma noite bem dormida. Atividades interativas como curtir fotos ou fazer comentários em redes sociais deixam o cérebro em alerta e atrasam o sono.

Entre os achados, chamou a atenção dos pesquisadores o que está relacionado a pessoas que têm companheiros mas não dormem na mesma cama ou no mesmo cômodo.

"O sono dessas pessoas é pior. Já sabemos que quando um parceiro tem um distúrbio do sono ou ronca, o outro tem mais chance de dormir mal. Porém, dormir separado também pode estar associado a piora do sono, o que nos leva a alguns questionamentos", diz Drager.

Uma das hipóteses levantadas é um problema de relacionamento. A dificuldade neste caso se traduziria em estresse e ansiedade, afetando a noite de sono.

Os pesquisadores também destacam o papel irrelevante da classe socioeconômica dos voluntários nos resultados obtidos.

Dalva Poyares, neurologista e professora da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e membro da ABS, afirma que a chegada da Covid-19 "igualou para pior" a relação entre a qualidade do sono e a classe socioeconômica analisada.

"Um exemplo é alguém de classe alta [A] que tem ou tinha seu negócio, mas passou a ter medo dos riscos e imprevistos causados pelo vírus. A situação gera aumento do estresse e queda da qualidade do sono."

COMO FOI FEITA A PESQUISA

A pesquisa recebeu 2.635 respostas de voluntários com 18 anos ou mais ao questionário PSQI (Índice de Qualidade do Sono de Pittsburgh, em português).

O PSQI é composto por 19 itens divididos em sete componentes que somam pontos de 0 a 3 cada. O resultado máximo do teste é 21 pontos. Quanto mais próximo de zero for a pontuação de uma pessoa, melhor é o seu sono. Valores superiores a 5 indicam sono ruim.

Os participantes responderam ao questionário online aplicado pelo Ibope Intelligence. O resultado médio do PSQI brasileiro foi de 7,3, indicando que o brasileiro dorme mal.

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Veja: Em ambiente de instabilidade tudo é possível https://bit.ly/3uEnGxa

Palavra de Renildo

Renildo: “aumento de 63% nas bandeiras de energia é coisa de um governo irresponsável”
Blog do Renato

 

O líder do PCdoB na Câmara, deputado Renildo Calheiros (PE), afirmou que o aumento de até 63% no valor das bandeiras tarifárias para energia, determinada pelo governo Bolsonaro, serve para “engordar os lucros já exorbitantes da iniciativa privada no setor de energia” e tornou inútil a redução de impostos.

“Nós votamos a redução dos impostos para baratear energia e o governo aumenta as bandeiras em 63%! Ou seja, o aumento é muito superior à economia gerada ao consumidor através dos projetos que votamos”, disse.

“É um governo completamente irresponsável que mente para as pessoas, mente para a sociedade, estabelecendo um custo cada vez mais alto para as famílias brasileiras”, completou.

“Isso não é uma coisa séria, não é uma coisa responsável, não é uma coisa pensada. É um governo que vive da improvisação com um detalhe: nessa improvisação sempre ganha a iniciativa privada e sempre perde o consumidor, as famílias brasileiras”, continuou o parlamentar.

O aumento, aprovado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), aumentou em 59,5% a taxa da bandeira amarela, chegando a R$ 2,99 para cada 100 kWh consumidos.

A chamada bandeira vermelha patamar 1 foi a mais elevada pela Aneel, com um reajuste de 63,7%, passando de R$ 3,97 para R$ 6,50 a cada 100 kWh. Por fim, a bandeira vermelha patamar 2 subiu 3,2% e chegou a R$ 9,79.

A bandeira verde, quando não é cobrada nenhuma tarifa extra, poderá ser mantida pelo governo Bolsonaro somente até depois da eleição, em uma clara manobra eleitoreira.

Renildo Calheiros lembrou que o governo Bolsonaro pressionou pela aprovação de leis que diminuem a cobrança do ICMS, que é um imposto estadual, para a energia, argumentando que isso reduziria o custo final para as famílias. Logo em seguida, o governo anunciou a elevação das bandeiras tarifárias.

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“Vejam o que aconteceu no setor de energia: votamos o PLP 18, que reduziu o ICMS para produtos e serviços essenciais. Eles terão taxação de 17% a 18%, uma grande redução na arrecadação de Estados e Municípios, com repercussão na saúde e educação. A argumentação apresentada foi que a redução no ICMS serviria para diminuir o preço da energia”.

“Nós fizemos essas duas mudanças na tributação da energia. E, agora, o governo anuncia aumento da bandeira tarifária. Que país é este?!”, criticou Renildo.

“Então, todo esforço de redução de impostos serviu não para baratear a conta de luz, mas para engordar os lucros já exorbitantes da iniciativa privada no setor de energia”.

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