31 julho 2024

Indústria da defesa

Na 5CNCTI, a discussão sobre a indústria da defesa
Vê-se o conceito de defesa como algo muito mais sistêmico do que tanques velhos soltando fumaças na Esplanada dos Ministérios.
Luis Nassif/Jornal GGN   

Um dos temas relevantes da 5a Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (5CNCTI), que começa dia 30 em Brasília, é a indústria de defesa. Entende-se a defesa como grande geradora de avanços tecnológicos, que podem se propagar por toda a economia.

O evento foi precedido de seminários por todo o país, destinado a levantar dados, conceitos e questões a serem debatidas durante o encontro.

O seminário preparatório, “Base Industrial da Defesa e da Segurança / Financiamento da Inovação e Capacitação de RH” ocorreu em 23 de janeiro, com a participação de instituições da área tecnológica – MCTI, Finep, CGEE -, da indústria e da defesa.

Houve uma defesa da nova política industrial, por ter criado instrumentos concretos de financiamento. 

Papel central será entra a ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial) e a Finep (Financiadora de Estudos e Pesquisas). Como lembrou Perpétua Almeida, da ABDI, há a necessidade de financiamentos estratégicos, que estabeleça conexões cruciais com as áreas de saúde e educação.

Ali, vê-se o conceito de defesa como algo muito mais sistêmico do que tanques velhos soltando fumaças na Esplanada dos Ministérios.

Ressaltou os programas PESE (Programa Estratégico de Sistemas Espaciais), o Amazônia Azul, o SISFRON (Sistema de Integração e Monitoramento das Fronteiras).

Um projeto grande de soberania implica em cuidar dos problemas sociais do país, destacou Perpétua. Por isso, propôs a criação de um Grupo de Trabalho envolvendo Finep, ABDI e CGEE para a discussão e implementação de um GPS (Gestão Pública Sustentável). Há a necessidade, ainda, de definições claras para a proteção estratégica de empresas, sendo crucial a recomposição do orçamento da Defesa, com um limite fixo para gastos com pessoal.

Como “instituições do Estado”, há a necessidade de um amplo debate sobre o papel das Forças Armadas na defesa da soberania.

Já Ronaldo Carmona, da Finep, destacou o programa “Mais Inovação” como uma forma do que ele definiu como “o anacronismo ideológico da mídia”, que associa erroneamente a Política Industrial à Política de Inovação.  

Lembrou que há uma tendência internacional de ver a Defesa como prioridade na política de inovação. No caso do Brasil, esse conceito assume importância adicional, segundo ele, devido à posição geopolítica cada vez mais central do país, que te provocado bloqueios e cerceamento para a aquisição de material de defesa.

Atualmente, 80%  dos recursos da Defesa são destinados a pessoal. A Finep impulsa a inovação com subvenção econômica de R$ 1 bilhão. Para o período 2024/2026, a previsão é de R$ 2,38 bilhões.

A nova política industrial ressaltou especialmente a área de foguetes, diz ele. 

Fábio Borges, do LNCC (Laboratório Nacional de Computação Científica), mais um dos organismos relevantes pouco conhecidos,  alertou para a evolução da segurança cibernética e a iminente revolução trazida pela computação quântica, que alteram significativamente o cenário da guerra. 

Em breve, novos armamentos, mais acessíveis e ágeis, redefinirão estratégias de guerra. Além disso, haverá a presença marcante da Inteligência Artificial, abrangendo desde a análise de dados de inteligência, vigilância e reconhecimento, passando pelo controle de sistemas autônomos letais, pilotagem de drones de vigilância, monitoramento de soldados, cálculos de equipamentos necessários para controle área, naval e terrestre. 

Nos debates que se seguiram, houve algumas conclusões:

  • Marcos Dantas salientou a importância das informações disponíveis no país saírem de plataformas como Google e Microsoft. Houve a defesa da criação de nuvens nacionais.
  • Apontou-se a dificuldade para a retenção de talentos e a ausência de rotas tecnológicas claras;
  • a discussão sobre contratos offset (as compensações exigidas pelo país na compra de bens e equipamentos de outros países) tem que contar com o compromisso da Finep de investir na Defesa.
  • O ciclo dos combustíveis é área sensível, mas sob a vigilância da Agência de Energia Nuclear (AEI). Tem que se pensar em formas autônomas de desenvolvimento;
  • toda atençào para as reservas brasileiras de nióbio, especialmente em Roraima (em áreas indígenas).

Tudo isso ocorre em um quadro de desnacionalização de empresas de defesa, de ausência de regras claras para a transferência de tecnologia, a falta de proteção às tecnologias críticas.

Essas ideias serão debatidas na reunião temática do Eixo 3 – CT&I para Programas e Projetos Estratégicos.

Nas reuniões preparatórias, houve uma organizada pelo Ministério da Defesa, com a participação das 3 Armas, representantes da Academia e da Indústria, sob a coordenação do Brigadeiro Antônio Ferreira de Lima Júnior e do Major Luciano Valentim Rechiuti.

Mas esse debate não foi gravado. 

Aqui, os principais documentos gerados na reunião do Ministério da Defesa:

Reunião Preparatória

Contribuições da Marinha

Contribuições do Exército

Contribuições da FAB

Relator CGEE

Leia também: https://lucianosiqueira.blogspot.com/2024/07/inteligencia-artificial.html

Lula: perspectiva

Ao receber plano sobre IA, Lula diz que Brasil é grande e precisa ter ousadia
Na abertura da 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, presidente também salientou que Plano Brasileiro de Inteligência Artificial é histórico para o país
Priscila Lobregatte/Vermelho  

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou, nesta terça-feira (30), em Brasília, da abertura da 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (CNCTI), que também foi marcada pela entrega do Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA).

Em seu pronunciamento, dirigindo-se aos cientistas presentes que trabalharam no plano, Lula salientou: “O que vocês fizeram hoje, de me entregar um documento sobre uma inteligência artificial (IA), pensada pela universidade brasileira, pensada pelos cientistas brasileiros, é um marco neste país. O dia de hoje é marcante para a sociedade brasileira”.

Lula também salientou que “o Brasil precisa aprender a voar. Nós somos grandes. Nós temos inteligência. O que nós precisamos é ter ousadia de fazer as coisas acontecerem”. 

Segundo o presidente, na próxima semana, ele se reunirá com ministros para apresentar o plano e tomar as providências necessárias para colocá-lo em prática. 

Inteligência Artificial

Ao falar sobre o significado e o caráter da IA, Lula criticou as grandes empresas de tecnologia que controlam as redes sociais e usam esse tipo de ferramenta sem o consentimento do usuário e ferindo direitos individuais.  

“Por que ‘inteligência artificial’ se pode ser manipulada pela inteligência humana? No fundo, é a inteligência humana que pode aperfeiçoá-la, porque a IA nada mais é do que a gente ter a capacidade de fazer a coletânea de todos os dados — e temos as big techs que fazem isso sem pedir licença e sem pagar imposto e ainda cobram e ficam ricas divulgando coisas que não deveriam”, advertiu. 

Lula também enfatizou a capacidade de o Brasil ter o seu próprio plano de IA: “Será que nós, um país de 200 milhões de habitantes, que já completou 524 anos, que tem uma base intelectual respeitada, que tem um povo tão generoso com uma diversidade tão extraordinária, esse país não pode criar seu próprio mecanismo, ao invés de ficar esperando vir de outros países?”. 

Com relação à possibilidade de perda de empregos com a evolução e ampliação do uso da IA, Lula afirmou: “Fico muito assustado quando vejo matérias nos jornais dizendo que a IA pode causar 16 milhões de desempregados. Se é para isso, eu não quero. A nossa IA tem que ser de fato inteligente e a gente quer fazer dela uma fonte para gerar emprego, a gente quer formar milhões de jovens para esse debate”. 

Lula também destacou que sua obsessão pela educação e pela implantação de universidades está relacionada ao fato dele não ter tido acesso ao ensino. “Por isso, quero que todos os brasileiros tenham oportunidade, independentemente da sua origem social, de onde ele nasceu, da sua cor; não quero saber se é evangélico ou católico, quero que tenha oportunidade. É este país que eu quero deixar como legado”, declarou.

Plano e conferência

A fala de Lula foi antecedida pela da ministra de Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos. Ao falar sobre o PBIA, Luciana enfatizou: “Este é um plano ousado, mas, ao mesmo tempo, viável; é robusto e é também factível porque tem um investimento público que se equipara ao da União Europeia”. 

A proposta do PBIA foi aprovada na segunda-feira (29) durante reunião do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia (CCT). O plano prevê R$ 23 bilhões em investimentos entre 2024 e 2028, com recursos de fontes como o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e setor privado.

O futuro da IA e as recomendações de novas políticas ligadas a essa tecnologia será um dos assuntos abordados na 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, cujo tema é “Ciência, Tecnologia e Inovação para um Brasil Justo, Sustentável e Desenvolvido”. 

O evento, que termina na quinta-feira (1º), dará destaque a questões urgentes, como as mudanças climáticas, transição energética, financiamento da ciência, políticas de apoio à inovação nas empresas, transição demográfica, entre outros. 

Serão mais de 50 sessões de debates, com nove agendas simultâneas por turno (manhã e tarde), além de sete plenárias — algumas das quais contarão com a presença de ministros. 

A previsão é que o encontro, que teve todas as vagas presenciais esgotadas, receberá até 2,2 mil participantes por dia, além de mais de 2 mil virtuais. Ao longo do processo, segundo o governo, participaram cerca de 100 mil pessoas de todo o Brasil, em debates presenciais e virtuais. 

Com informações do Palácio do Planalto

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Enio Lins opina

A pândega olímpica em Paris e a intolerância mórbida
Enio Lins  

Tem ocupado mais espaço no noticiário sobre a Olimpíada de Paris uma cena da cerimônia da abertura do que a competição propriamente dita. A celeuma, grande e renitente, se debulha e se renova acerca de uma representação cenográfica onde muitas almas pudicas enxergam uma sátira pecaminosa à Santa Ceia conforme famoso afresco pintado por Leonardo da Vinci numa das paredes da Igreja de Santa Maria Delle Grazie, em Milão.

ALVOS FÁCEIS

Carolas de todo o mundo uniram-se para apedrejar a produção cenográfica assumida por Thomas Jolly, diretor artístico do espetáculo, cuja ousadia como característica profissional foi lembrada pelo Estadão: “Ele ficou conhecido em 2014 com a trilogia Henrique VI, de Shakespeare, uma obra de 18 horas que apresentou no Festival de Avignon. A cerimônia dos Jogos, embora longa, foi um tanto menor: cerca de 3 horas e 45 minutos”. Jolly, desde o início da polêmica, se mantêm firme em negar quaisquer provocações e garante que não se inspirou na obra de Leonardo e sim na tradição pagã grega, berço dos Jogos Olímpicos, e lembra que sua obra “tem Dionísio, que chega nessa mesa. Está lá, porque é deus da festa (...), do vinho, e pai de Sequana, deusa aparentada ao rio [ele vincula ao Rio Sena, usado como passarela para a ab ertura]. A ideia era antes ter um grande festival pagão ligado aos deuses do Olimpo... Olimpo... Olimpíadas”. Mas não adiantou essa óbvia explicação, pois o pecado mortal da produção – segundo quem a ataca – foi ter usado personagens LGBTQI+ - é aí que a hipocrisia fundamentalista pinta e borda.

ERUDIÇÃO DIVERSIONISTA?

Para contestar a gritaria apoplética da cristandade, muitas vozes (várias cristãs) se alevantaram para defender a cenografia olímpica, argumentando que a obra usada como referência teria sido uma das muitas que retratam banquetes entre divindades pagãs, como “A Festa dos Deuses”, trabalho de 1514, do italiano Giovanni Bellini. Na mesma linha de raciocínio, têm sido lembradas tanto a tela homônima “Festa dos Deuses”, pintada em 1640 pelo holandês Jan Harmensz van Bijlert, quanto “O banquete dos deuses”, quadro atribuído à dupla flamenga Hendrick van Balen e Jan Brueghel de Velours, de1610. Fartas teses têm sido escancaradas, apressadamente, como escapatórias para a acusação de blasfêmia desferida contra a cena olímpica. Essa erudição toda, entretanto, não pode ser usada para fugir do debate sobre – pelo m enos – duas questões centrais: Pode-se usar personagens LGBTQI+? Pode-se usar referências religiosas?

ARTE, LIBERDADE E LIMITES

Todo evento público, universal, precisa ter cuidados especiais e limites mais rigorosos que as manifestações artísticas usuais, voltadas para públicos específicos, opcionais (teatro, cinema, literatura, artes plásticas...). A abertura de uma Olimpíada deveria ser concebida para atender a todas as audiências, até por sua proposta universalista – daí, colocar em pauta a temática religiosa, seja pagã, cristã, muçulmana ou quaisquer outras, é gesto arriscado que pode ir além do bate-boca (lembram-se do Charlie Hebdo?). Igualmente é necessária muita atenção para não justificar o que se considera “agressão” para uma fé como algo permissível contra outra crença, e o debate “pictórico” está deixando brechas para interpretações do tipo “o paganismo pod e levar pancada”. Está sendo também desviada a atenção da indispensável defesa do uso livre, leve e solto da representação LGBTQI+, desde que não seja estereotipada.

Em resumo, o ouro está indo mesmo é para os preconceitos de todos os tipos.

Leia também: https://lucianosiqueira.blogspot.com/2024/07/conflitos-nas-olimpiadas.html

Uma crônica de Ruy Castro

Arte, não mais esporte
Os atletas hoje realizam façanhas impensáveis e têm câmeras e recursos para lhes fazer justiça
Ruy Castro/Folha de S. Paulo   

Circula por todos os veículos e redes sociais a foto do francês Jerome Brouillet, da Agência France-Presse, que mostra o surfista brasileiro Gabriel Medina voando nas ondas do Taiti e fazendo com o dedo o número 1, como se adivinhasse a nota 9,9 que os juízes lhe dariam, a maior até hoje na história do surfe olímpico. O que é mais impressionante? A destreza do fotógrafo ao calcular o micromomento do clique, o enquadramento mais que perfeito, a mão firme ao disparar, a exata simetria entre o homem e a prancha? Ou a proeza do surfista, nunca antes registrada —e, se nunca registrada, como comparar possíveis proezas semelhantes no passado?

Não pode haver comparação. Quando o surfe começou, as pranchas eram de bico quadrado, tinham dois metros de comprimento, pesavam 30 quilos e pareciam portas de igreja ou pedaços de um tapume de obra —o que de fato eram. A primeira vez em que alguém foi visto de pé sobre uma delas foi algo de sobrenatural. Hoje, as pranchas são outras, a preparação é outra, os surfistas são outros, até as ondas são outras.

E assim em todos os esportes. Seus praticantes parecem sobre-humanos em relação aos de ontem mesmo. O contraste mais à mão está no futebol: graças ao aparato médico dos clubes, a capacidade dos atletas e o equipamento mais leve e racional, os jogadores correm hoje quilômetros impensáveis —nos anos 1930, havia até profissionais tuberculosos.

Pense agora nos números do basquete, na força dos saques no tênis e no vôlei, na distância e na altura dos saltos, na resistência dos maratonistas, na velocidade das braçadas e nas coreografias da ginástica, dos saltos ornamentais, do skate. As Olimpíadas já não são apenas esporte, mas arte, em dezenas de categorias —e, finalmente, com câmeras e recursos para lhes fazer justiça.

O que me pergunto é qual erro custou a Gabriel Medina o 0,1 que lhe tirou o 10.

Leia também: https://lucianosiqueira.blogspot.com/2024/07/minha-opiniao-luzes-de-paris.html

O tom da Ciência & Tecnologia

O dia 1º do governo Lula
Lula mostrou que, pela primeira vez, há um projeto estruturante para seu governo, feito de fora para dentro, e com participação da sociedade.
Luis Nassif/Jornal GGN  

Se a cobertura da mídia usasse o critério da relevância para hierarquizar suas notícias, a manchete de todos os veículos deveria ser a abertura da 5a Conferência Nacional de Ciência Tecnologia e Inovação. E não as declarações diplomáticas de Lula sobre a Venezuela. Poderá ser o 1º dia de um governo que, até agora, trabalhou em cima dos escombros deixados por Bolsonaro, mas com um Ministério desconjuntado e de pouco brilho.

Para um público composto por representantes das maiores associações empresariais, Ministros, sociedade civil, indígenas e uma multidão de cientistas e funcionários do setor, Lula mostrou que, pela primeira vez, há um projeto estruturante para seu governo, feito de fora para dentro, e com participação da sociedade.

Com a coordenação de Sérgio Rezende – apresentado por Lula como “o maior Ministro de Ciência e Tecnologia” da história -, foi-lhe entregue o arcabouço do desenvolvimento, um conjunto de estudos sobre os temas mais relevantes do país, tudo visto sob a ótica da ciência e da tecnologia.

O CGCEE (Centro de Gestão de Estudos Estratégicos), um relevante órgão público, quase desconhecido da opinião pública, e subordinado ao Ministério de Ciência e Tecnologia, foi incumbido pelo próprio Lula de montar os estudos em cima das novas oportunidades de industrialização e de inovação. E encomendou um estudo especial sobre Inteligência Artificial, para ser utilizado em todas as ações públicas.

Na abertura do encontro, viu-se um Lula que não se via desde os tempos gloriosos de 2010. No discurso, apresentou um objetivo claro de país grande, com o desafio de construir um dos cinco maiores supercomputadores do mundo, de ter sua própria IA e de montar sua nuvem de dados públicos. E conclamou todos os presentes a pensar na grandeza do país. 

Recentemente, o Instituto Roosevelt, dos Estados Unidos, apresentou um estudo sobre a crise das democracias. A única salvação seria o aprofundamento das democracias. Não conseguiu encontrar nenhuma experiência válida no Ocidente. Voltou-se então para outros locais e encontrou no Brasil a melhor experiência participativa, moldada na Constituição de 1988, das Conferências Nacionais.

Não apenas isso. Ao longo de uma história marcada por inúmeros períodos ditatoriais (como 1964-1985) ou autoritários (2016-2022), o país conseguiu desenvolver uma rede impressionante de organizações sociais.

O trabalho da 5CNCTI foi ouvir cientistas, movimentos, empresários, militares (da tecnologia, não do Forte Apache) em cima de temas pré-definidos, abrindo espaço para a proposta de temas pelas organizações sociais.

Depois, as conclusões foram consolidadas em dois ebooks e, de ontem a amanhã, serão discutidas e aprofundadas em vários seminários presenciais e virtuais.

No dia anterior, foi apresentado ao Conselho Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, um órgão colegiado, de caráter consultivo e deliberativo, que se reporta diretamente ao presidente da República.

Mas não se ficará nesses trabalhos. Nos próximos meses, como anunciou Lula, haverá comitês definindo as ações a serem implementadas em cada Ministério, as metas, os passos que têm que ser dados.

Enfim, tudo aquilo que vínhamos cobrando há meses aqui: grupos de trabalho interministeriais e intersetoriais executivos, definindo os projetos, as metas, identificando os obstáculos e reportando-se diretamente ao presidente da República.

Lula foi claro no espaço aberto: quer que o grupo lhe diga o que precisa ser feito, passo a passo.

O projeto grande Brasil vai esbarrar na falta de recursos do país. A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) não tem concursos públicos desde 2013. O INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial) fez um concurso recentemente, mas insuficiente para repor seus quadros. Os trabalhadores de ciência, tecnologia e inovação não têm reajustes há anos.

Mas, pelo menos, agora há um fio condutor e um presidente que acordou para a importância de um plano de metas. 

Em relação ao financiamento, o encontro propôs a saída: a constituição de um novo fundo, com contribuições de dois setores profundamente beneficiados pelos avanços tecnológicos. Um deles, o agronegócio, que deve muito do que tem à Embrapa; outro, o mercado financeiro, que anualmente ganha até 700 bilhões de reais com os juros da dívida pública.

Todos os eventos estão sendo transmitidos (https://5cncti.org.br/conferencia-nacional/) e podem ser consultados.

Leia também: https://lucianosiqueira.blogspot.com/2022/12/o-pcdob-e-ciencia-tecnologia.html

Sylvio: bom sinal

O desemprego cai para 6,9 %, em mais uma conquista do governo, respeitando o equilíbrio fiscal e mais ainda a melhoria de vida da população.

Sylvio Belém 

Minha opinião: oportunidade

Fora da pauta 
Luciano Siqueira    

No mundo de hoje — como dizia meu avô Quincas quando queria acentuar a gravidade de um assunto — nada deve ser posto antes do tempo. 

Porque as coisas acontecem num imenso território de areia movediça, onde a incerteza predomina. 


Caso do cenário político brasileiro, por exemplo. 


Todo esforço do governo Lula se concentra na superação da herança desastrosa de Temer e Bolsonaro e na geração da possibilidade de uma transição para um novo ciclo de transformações progressistas no país. 


Isso em ambiente politicamente tumultuado até nas mínimas coisas. 


As forças do capital financeiro e do agronegócio exportador, sobretudo, que reverberam suas posições largamente através do complexo midiático dominante, reagem a todo instante às iniciativas do governo. 


Tudo para preservar os fundamentos neoliberais da economia e suas consequências que privilegiam a classe dominante. 


Uma das armas dos opositores, daqui e do exterior, é justamente provocar o presidente Lula a propósito de uma hipotética tentativa de reeleição no próximo pleito.


A despeito da experiência acumulada e da inegável habilidade, aqui e acolá o presidente cai na armadilha e se pronuncia sobre o assunto, insinuando que poderá mesmo disputar. 


Segundo meus modestíssimos botões, Lula não deveria entrar nessa. 


Temos pelo menos mais um ano pela frente de trabalho intenso e complexas manobras políticas em favor da governança para que as condições concretas de 2024 possam se explicitar. 

Leia e veja: https://lucianosiqueira.blogspot.com/2023/08/a-intervencao-de-lula-no-brics.html 

Geração de empregos

Em 18 meses, governo Lula gera 2,7 milhões de empregos formais
Se durante os 12 meses do ano passado o saldo foi de 1,4 milhão de vagas, em seis meses deste ano já está em 1,3 milhão
André Cintra/Vermelho  

Desde o início do terceiro governo Lula, o mercado de trabalho brasileiro acumula um saldo de 2,7 milhões de empregos formais. Graças a essa retomada, o País alcançou um estoque recorde de mais de 46 milhões de trabalhadores com carteira assinada – ou, mais precisamente, 46.817.319.

Os dados, divulgados nesta terça-feira (30) pelo ministro do Trabalho, Luiz Marinho, foram extraídos do Novo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados). A cada mês, o indicador mostra a relação entre admissões e desligamentos.

Um olhar atento a esse período de 18 meses (de janeiro de 2023 a junho de 2024) mostra um mercado de trabalho aquecido. Em junho de 2023, foram gerados 157,1 mil postos de trabalho. Agora, em junho deste ano, foram 201,7 mil.

Houve expansão do emprego nos cinco grandes grupamentos de atividades econômicas: Serviços (87.708 vagas a mais), Comércio (33.412), Indústria (32.023), Agropecuária (27.129) e Construção Civil (21.449).  Já ao longo do ano, os setores que mais tiveram saldo positivo de novas carteiras assinadas foram Serviços (716.909), Indústria (242 mil), Construção Civil (180.779), Comércio (86.254) e Agropecuária (73.809).

Mesmo com a tragédia do Rio Grande do Sul – único estado que registrou perda em junho no estoque de empregos –, o balanço de 2024 já é praticamente igual ao de 2023. Se durante os 12 meses do ano passado o saldo foi de 1,4 milhão de vagas, em seis meses deste ano já está em 1,3 milhão.

Leia também: https://lucianosiqueira.blogspot.com/2022/01/desemprego.html

Palavra de poeta: Elizabeth Acevedo

Guardando um poema no corpo
Elizabeth Acevedo   


Hoje, depois do banho,
em vez de encarar partes de mim mesma
eu quero me montar em outro quebra-cabeça,
eu observo minha boca enquanto memorizo um dos
meus poemas.

Mesmo que não planeje deixar ninguém ouvir,
penso naquele vídeo de poesia da aula…

Eu deixo as palavras se formarem sólidas na minha
boca.

Eu deixo minhas mãos fingirem ser marcas de
pontuação

que traçam, apontam e se apertam uma na outra.
Eu deixo meu corpo finalmente ocupar todo o espaço
que quer.

Eu balanço a cabeça, e faço careta,
e mostro os dentes, e sorrio, e ergo os punhos,
e cada um dos meus membros
é um ator tentando dominar o palco.

E aí Mami bate na porta
e pergunta o que estou falando aqui sozinha,
melhor não ser letra de rap,
e eu respondo: “Versos. Estou decorando versos.”
Eu sei que ela acha que estou falando da Bíblia.

Escondo meu caderno na toalha antes de ir para o
quarto,

e me conforto com o fato de que não estava mentindo
de verdade.

[Ilustração: Kees van Dongen]

Leia também: https://lucianosiqueira.blogspot.com/2024/02/palavra-de-poeta-manoel-de-barros.html

30 julho 2024

Controle de dados

Brasil reage a uso indevido de dados de usuários pelo X de Elon Musk
Após o procedimento aberto contra a Meta, a ANPD fica alerta com abusos do X, que sequer pede autorização aos usuários para usar seus dados
Cezar Xavier/Vermelho   

 Nesta segunda-feira (29), a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) informou que instaurou um procedimento de fiscalização para apurar a conduta da rede social X (anteriormente conhecida como Twitter). A investigação visa esclarecer o uso de dados dos usuários para treinar seu sistema de inteligência artificial generativa, Grok, que pretende competir com o ChatGPT, conforme os planos do proprietário da rede, Elon Musk.

A ação da ANPD ocorre após um episódio similar envolvendo a Meta, que resultou em uma Medida Preventiva emitida em 2 de julho, determinando a suspensão imediata da nova política de privacidade da empresa no Brasil. O sociólogo Sérgio Amadeu da Silveira, professor da Universidade Federal do ABC (UFABC), em entrevista ao Portal Vermelho, já havia destacado a importância de limitar essas práticas, elogiando a decisão da Agência por trazer à tona a questão da extração não autorizada de dados para treinamento de modelos de aprendizado de máquina.

Amadeu alertou sobre os riscos do tratamento e cruzamento de dados sem o conhecimento dos usuários. Utilizando a metáfora da radiação, ele explicou que dados dispersos representam pouco risco, mas, quando concentrados em grande volume, podem ser extremamente perigosos. As grandes empresas de tecnologia acumulam dados massivamente, conferindo-lhes um poder significativo sobre o comportamento dos usuários.

A prática aplicada pelo X foi implementada discretamente, apenas com uma atualização na página de configurações, onde os usuários podem permitir ou não o uso de suas postagens e interações para treinar a IA. Entretanto, a opção vem ativada por padrão.

Precedente Zuckerberg

A Meta, que é proprietária do WhatsApp, Facebook e Instagram, foi impedida pela ANPD de usar dados públicos para treinar sua IA no início de julho, uma medida também adotada pela União Europeia. A empresa, liderada por Mark Zuckerberg, adiou o lançamento de sua IA tanto na Europa quanto no Brasil devido a essas restrições.

Em resposta à medida da ANPD, a Meta expressou decepção, argumentando que “o treinamento de IA não é exclusivo de nossos serviços” e que a abordagem da empresa estava em conformidade com as leis de privacidade e regulamentos brasileiros. Especialistas no cenário de privacidade no Brasil, como Amadeu, discutem que a ANPD deveria adotar uma postura similar em relação a outras grandes empresas de tecnologia, como o Google, que mudou sua política de privacidade no ano passado para práticas semelhantes.

Na sexta-feira (26), a ANPD foi questionada por jornalistas sobre possíveis ações contra o X e como responder às críticas. A autoridade informou nesta segunda-feira (29) que enviou um ofício na própria sexta-feira solicitando esclarecimentos à empresa.

A medida contra a Meta foi tomada após o Instituto de Defesa dos Consumidores (Idec) acionar uma autarquia ligada ao Ministério da Justiça. A ANPD concluiu que não havia base legal para o tratamento de dados pessoais para treinamento de IA, faltou divulgação suficiente sobre a mudança nas regras da Meta, e que os usuários enfrentaram dificuldades para se opor ao uso de seus dados pessoais. Além disso, dados de crianças e adolescentes foram tratados para essa finalidade, em desacordo com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).

Em nota, o Idec expressou indignação com mais uma grande empresa de tecnologia explorando consumidores para fins econômicos. Eles criticaram a prática de pré-seleção da opção de uso de dados para IA, defendendo que o consentimento deveria ser explícito, livre e informado, o que não ocorre no caso concreto.

A falta de transparência no tratamento de dados é um problema global, segundo Amadeu. Ele compara as multas no Brasil, de R$ 50 mil, com as penalidades milionárias na Europa por violações semelhantes, onde a transferência de dados sensíveis para fora das fronteiras é restrita. Para resolver esses problemas, Amadeu sugere a aprovação de uma lei específica de regulação das plataformas que defina claramente quais dados podem ser usados para treinar modelos de IA.

O sociólogo também critica a postura da Meta, e de outras bigtechs, ao afirmar que a suspensão prejudicaria a inovação no Brasil, chamando-a de “falaciosa”. Ele destaca a necessidade de controlar o uso de dados, especialmente os sensíveis e de crianças, e menciona o conceito de “capitalismo de vigilância” de Shoshana Zuboff, alertando sobre os perigos da transformação de cliques e comportamentos dos usuários em dados valiosos para as corporações.

O controle massivo de dados pelas grandes empresas de tecnologia também levanta questões de segurança nacional, segundo Amadeu. Ele alerta que essas empresas têm uma compreensão profunda dos humores e comportamentos da população brasileira, conferindo-lhes um poder de influência potencialmente perigoso. O sociólogo conclui enfatizando a necessidade de controlar os dados pessoais, criticando o argumento das empresas de que a coleta de dados é benéfica para os usuários.

Para impedir a coleta de dados pelo X para IA, os usuários devem acessar sua conta pelo computador, ir até “Configurações”, clicar em “Privacidade e Segurança”, selecionar “Grok” e desabilitar o “Compartilhamento de dados”.

Foto: Elon Musks anuncia sua 'GROK AI' baseada nos dados de usuários do X.

Conflitos nas Olimpíadas

Geopolítica dos novos Jogos Olímpicos
Com trens sabotados em toda a França, Paris abre o megaevento esportivo. Conflitos internacionais e questões de segurança marcam o início das competições. Guerra na Ucrânia, exclusão da Rússia e massacre em Gaza são centrais
Carta Capital     

Os olhos do mundo do esporte se voltam para Paris nas próximas duas semanas. E esta edição dos Jogos Olímpicos, que tem abertura oficial nesta sexta-feira 26, pode se tornar uma das mais marcadas da história por manifestações políticas.

As disputas já estão em andamento desde quarta-feira 24, quando começaram as competições do futebol masculino e do rugby, antes mesmo da cerimônia de abertura. O megaevento, porém, já é alvo de resistência desde a escolha da França como sede.

Manifestações por todo o mundo deixam claro que as Olimpíadas não são apenas um palco esportivo, mas também um espaço significativo para questões políticas globais. 

Em entrevista a revista Time, o especialista internacional em política esportiva Jules Boykoff afirmou que os Jogos de Paris podem ser “as Olimpíadas mais politicamente carregadas em décadas”.

A filosofia dos Jogos Olímpicos, que promove a união entre os povos e pede uma trégua nos conflitos internacionais durante as competições, sempre manteve a política presente no evento.

A situação política internacional atual é complexa, com conflitos de grande apelo internacional, como a situação da Ucrânia, invadida pela Rússia em fevereiro de 2022; e o ataque de Israel a territórios palestinos em resposta à ação do Hamas em outubro de 2023.

Ucrânia e Rússia

A invasão russa à Ucrânia e a guerra na Faixa de Gaza figuram como preocupações centrais que podem motivar manifestações durante esta edição.

Com a Rússia banida dos jogos, apenas alguns atletas foram admitidos, sob a condição de não terem expressado apoio ao governo de Vladimir Putin. Belarus, aliada da Rússia, também foi excluída da competição.

Esses atletas participarão sob uma bandeira especial e a designação de “atletas individuais neutros”. Além disso, foi instituído um hino específico para ser tocado durante as cerimônias e premiações desses atletas.

A presidente da Federação Russa de Ginástica Rítmica, Irina Viner, criticou a escolha da melodia do hino, comparando-a a uma “marcha fúnebre” e descreveu a participação sem hino e sem bandeira como “humilhante”. 

Moscou acusou o Comitê Olímpico Internacional (COI) de “destruir as ideias do espírito olímpico”.

Desde 2018, os atletas russos competem sob sanções, inicialmente impostas devido a um escândalo de doping. Nas Olimpíadas de 2018, 2020 e 2022 (ou seja, incluindo os Jogos de Inverno), competiram com o emblema olímpico e foram designados como “Atletas Olímpicos da Rússia” ou “atletas do Comitê Olímpico da Rússia”.

Em 2022, medalhistas russos subiram ao pódio ao som de um concerto de Tchaikovsky, representados pela bandeira do Comitê Olímpico Nacional.

A comentar a decisão, o Ministério das Relações Exteriores da Rússia acusou o COI de “racismo e neonazismo” devido às regras de neutralidade impostas aos atletas olímpicos russos e às possíveis sanções para os atletas.

Maria Zakharova, porta-voz do ministério, afirmou que a decisão do COI “demonstra até que ponto o comitê se afastou dos seus princípios declarados”.

Ainda antes do início dos jogos, o COI fez uma forte nota criticando a Rússia, que promete realizar os Jogos da Amizade logo depois da Olimpíada.

O comitê pediu aos governos que “rejeitem qualquer participação e apoio” à iniciativa russa, acusando Moscou de lançar uma “ofensiva diplomática muito intensa”, o que constitui uma “violação flagrante da Carta Olímpica e das resoluções da ONU”.

O COI expressou preocupação de que os atletas possam ser “forçados por seus governos a participar dos Jogos da Amizade” e serem “explorados como parte de uma campanha de propaganda política”.

A resposta da Rússia foi crítica, reiterando que as sanções do COI se baseiam em critérios específicos que o país alega não ter desrespeitado.

Israel e Palestina

Em meio às tensões persistentes entre Israel e o Hamas, o ministro do Interior da França, Gérald Darmanin, anunciou que os atletas israelenses receberão proteção 24 horas por dia durante as Olimpíadas de 2024 em Paris.

A decisão foi tomada após declarações controversas de um parlamentar francês, que afirmou que a delegação de Israel não era bem-vinda no evento.

Além disso, alguns parlamentares franceses pressionaram o presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach, a aplicar o mesmo tratamento dispensado a Rússia e Belarus a Israel.

Poucas horas antes de embarcarem para Paris, 15 atletas israelenses e suas equipes receberam ameaças de morte por e-mail, afirmando que seriam assassinados ao chegarem à França.

De acordo com o jornal The Jerusalem Post, muitos desses atletas também receberam ligações de números estrangeiros.

A presidente do Comitê Olímpico de Israel, Yael Arad, afirmou: “Estávamos cientes de que essas ameaças poderiam ocorrer. Nos preparamos para isso. Orientamos nossos atletas sobre como proceder diante dessas situações e realizamos muitas conversas e reuniões para discutir o assunto.”

A ameaça à segurança dos atletas israelenses, contudo, não é um fenômeno novo.

Durante os Jogos de Munique, em 1972, 11 atletas e treinadores israelenses foram mortos por militantes em prol da causa palestina na Vila Olímpica, em um episódio que marcou tragicamente a história do esporte e da diplomacia internacional.

A delegação israelense em Paris será composta por 88 atletas. Também paira a preocupação sobre como eles serão recebidos pelos demais competidores.

Recentemente, o time feminino de basquete da Irlanda recusou o aperto de mão habitual com suas adversárias israelenses em uma eliminatória do campeonato europeu, em fevereiro.

Atletas palestinos

Embora Israel não tenha anexado a Faixa de Gaza, seus militares destruíram boa parte da estrutura esportiva da região.

O Estádio Yarmouk, em Gaza, teria sido convertido pelos militares israelenses em um espaço para manter detidos palestinos, uma medida que a Associação Palestina de Futebol denunciou como uma “clara violação da Carta Olímpica”.

No fim de maio, o Comitê Olímpico Palestino estimou que 300 atletas do país foram mortos desde 7 de outubro.

Os Jogos Olímpicos de Paris devem receber entre seis e oito atletas palestinos, entre classificados e convidados, segundo o chefe do Comitê Olímpico Internacional, Thomas Bach.

Há mais de um século

A interseção entre esporte e política e nas Olimpíadas é muito antiga. Já em 1912, nos Jogos de Estocolmo, o corredor finlandês Hannes Kolehmainen protestou durante a cerimônia de entrega de medalhas.

Kolehmainen, que conquistou três medalhas de ouro naquela edição, ficou frustrado ao ver a bandeira russa hasteada em sua homenagem, já que na época a Finlândia fazia parte do Império Russo. Os finlandeses só conquistaram a independência em 1917.

“Preferia ter perdido a ver aquela bandeira no alto”, chegou a afirmar Kolehmainen. Desde então, conflitos e tensões internacionais frequentemente têm reflexos nos Jogos Olímpicos.

Jesse Owens cala Hitler

Em uma das histórias mais marcantes da história do esporte, o atleta negro Jesse Owens, dos Estados Unidos, calou ninguém menos que Adolf Hitler, nos jogos de Berlim, em 1936. 

O próprio site oficial dos Jogos Olímpicos resume Berlim 1396 como os Jogos que “são mais lembrados por Hitler ter falhado ao tentar usar as Olimpíadas para provar suas teorias sobre a superioridade racial ariana. O herói daqueles Jogos foi o afro-americano corredor e saltador Jesse Owens, que ganhou quatro medalhas de ouro, nos 100 metros, 200 metros, revezamento 4 por 100 e salto em distância”.

Boicotes

A história olímpica é marcada, também, por boicotes. Em 1976, o primeiro deles a envolver dezenas de países foi uma resposta a pressões de países africanas pelo banimento da Nova Zelândia. O pedido aconteceu depois que a seleção neozelandesa de rugby viajou à África do Sul em meio ao regime do apartheid – àquela altura os sul-africanos estavam excluídos do cenário esportivo internacional justamente pelo regime de segregação racial.

Quatro anos mais tarde, em 1980, houve o maior boicote da história dos Jogos. Em meio à guerra fria, mais de sessenta países seguiram a decisão dos Estados Unidos e não enviaram atletas para as disputas, que aconteceram em Moscou, na então União Soviética. A resposta veio na edição seguinte, em 1984, quando quinze países acompanharam os soviéticos em boicote aos jogos de Los Angeles.

Tóquio 2020

Em tempos mais recentes, já nas Olimpíadas de Tóquio 2020 (disputadas em 2021 por causa da pandemia de covid-19), o Comitê Olímpico Internacional (COI) permitiu, pela primeira vez, que atletas se manifestassem politicamente durante o evento, em resposta à pressão de movimentos como o ‘Black Lives Matter’ nas grandes ligas dos Estados Unidos em 2020.

A abertura do COI, porém, não foi irrestrita. O comitê permitiu que atletas e demais participantes se expressem apenas antes ou depois das provas. O aval também é garantido em entrevistas à imprensa, em reuniões de equipe e nas redes sociais.

Continua proibido se manifestar durante as cerimônias de abertura e encerramento ou durante a entrega de medalhas nos pódios.

Já na primeira rodada da disputa do futebol feminino, por exemplo, jogadoras das seleções de futebol feminino do Chile, EUA, Grã-Bretanha, Nova Zelândia e Suécia se ajoelharam em protesto antirracista. O mesmo gesto foi visto ao longo de toda a competição.

Leia também: https://lucianosiqueira.blogspot.com/2024/07/minha-opiniao-luzes-de-paris.html

Inteligência Artificial

Plano Brasileiro de Inteligência Artificial é avanço histórico para o País
Após quatro meses de debates e estudos, proposta foi aprovada no Conselho em reunião presidida pela ministra Luciana Santos
André Cintra/Vermelho   

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebe nesta terça-feira (30) a proposta do 1º Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA). A entrega ocorre durante a abertura da 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, em Brasília.

O texto é um avanço histórico do País, que, sob o governo Bolsonaro, ignorou por completo um tema tão estratégico quanto a inteligência artificial. Já Lula, ciente da dimensão e da complexidade dessa pauta, Lula encarregou o Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia de preparar a minuta de um plano nacional.

Após quatro meses de debates e estudos, a proposta foi aprovada no Conselho nesta segunda-feira (29), em reunião presidida pela ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Luciana Santos. A consolidação da proposta foi o ponto culminante de um processo que teve mais de 30 reuniões bilaterais, mobilizando representantes de 117 instituições públicas, privadas e da sociedade civil. Os 38 documentos recebidos pelo CCT no período incluíam mais de 300 sugestões.

“O presidente pediu este plano em março deste ano e pediu que a gente apresentasse na Conferência”, afirmou Luciana. “Foi um processo muito participativo, com mais de 300 pessoas, muitas oficinas, conversas bilaterais com a iniciativa privada, especialistas, sociedade civil organizada, procurando fazer uma sinergia do ecossistema na direção de cuidar para que o Brasil possa garantir sua autonomia, sua soberania.”

Dividido em eixos (Infraestrutura e Desenvolvimento de IA; Difusão, Formação e Capacitação em IA; IA para Melhoria dos Serviços Públicos; IA para Inovação Empresarial; e Apoio ao Processo Regulatório e de Governança da IA), o PBIA tem cinco diretrizes:

  • Transformar a vida dos brasileiros por meio de inovações sustentáveis e inclusivas baseadas em Inteligência Artificial.
  • Equipar o Brasil de infraestrutura tecnológica avançada com alta capacidade de processamento, incluindo um dos cinco supercomputadores mais potentes do mundo, alimentada por energias renováveis.
  • Desenvolver modelos avançados de linguagem em português, com dados nacionais que abarcam nossa diversidade cultural, social e linguística, para fortalecer a soberania em IA.
  • Formar, capacitar e requalificar pessoas em IA em grande escala para valorizar o trabalhador e suprir a alta demanda por profissionais qualificados.
  • Promover o protagonismo global do Brasil em IA por meio do desenvolvimento tecnológico nacional e ações estratégicas de colaboração internacional.

Segundo Luciana Santos, a proposta acerta ao levar em conta tanto os prós quanto os contras da inteligência artificial. “Este é um debate estratégico, que impacta diretamente as cadeias econômicas no mundo e no Brasil”, analisa. “Ao mesmo tempo que a inteligência artificial tem riscos, ela traz muitas oportunidades.”

Para o secretário-executivo do MCTI, Luis Fernandes, o PBIA é um projeto “simultaneamente audacioso, robusto, responsável e realista”. Por isso, “houve um endosso entusiasmado” à proposta do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia. Para viabilizar o plano, estão previstos investimentos da ordem de R$ 23 bilhões.

“Chegamos agora, em julho, com a elaboração desse plano de forma participativa, com todos reconhecendo a solidez da proposta desse tema que é crucial para o desenvolvimento do Brasil”, afirmou o gestor. “A proposta do PBIA será apresentada ao presidente Lula, que dará desdobramentos a esse plano para robustecê-lo ainda mais para que se torne um plano do governo brasileiro”,

Veja: https://lucianosiqueira.blogspot.com/2023/12/ciencia-tecnologia-palavra-de-luis.html

Minha opinião: vira-latas

Esse filme eu já vi 

Luciano Siqueira    


Cada vez mais frequente no complexo midiático brasileiro referências a decisões, gestos e atitudes de governantes e líderes norte-americanos como se inevitavelmente viessem a condicionar conduta semelhante no Brasil. 

Esse filme eu já vi. 

Desde a adolescência ouvia dizer que um espirro nos Estados Unidos poderia provocar uma pneumonia no Brasil — tamanha a concepção subserviente em voga, em razão do alinhamento automático nos planos diplomático e político.

Sobretudo durante o regime militar, que durou 21 anos. 

Agora, no cenário de decadência da condição norte-americana de superpotência e de transição à multipolaridade geopolítica mundial, o complexo de vira-latas de analistas da mídia brasileira mais do que repetição de momentos deprimentes do passado reflete tremendo desencontro com a realidade concreta. 

Leia também: https://lucianosiqueira.blogspot.com/2024/06/influencia-mercado-midia.html

Violência sexista

Violência física e sexual do parceiro afeta 19 milhões de meninas adolescentes
Estudo pioneiro da OMS analisa prevalência do problema em grupo da faixa entre 15 e 19 anos; análise adverte que falta de recursos financeiros próprios é um dos obstáculos para que sejam abandonados relacionamentos abusivos.
ONU News     

Quase um quarto das meninas adolescentes que estiveram envolvidas num relacionamento, ou quase 24% em todo o mundo, terão sofrido violência física e sexual do parceiro íntimo até completarem 20 anos.

De acordo com uma nova análise da Organização Mundial da Saúde, OMS, o total global de vítimas equivale a 19 milhões.

Efeitos para a saúde das jovens

Segundo estimativas publicadas na seção sobre saúde da criança e do adolescente da revista médica The Lancet, uma em cada seis delas sofreu o tipo de violência no ano passado.

A OMS alerta que os efeitos da violência do parceiro íntimo sobre o grupo são potencialmente arrasadores para a saúde das jovens, seu desempenho educacional, futuros relacionamentos e perspectivas de vida.
 

No campo do bem-estar, as vítimas terão maior probabilidade de ter ferimentos, depressão, transtornos de ansiedade, gravidez não planejada, infecções sexualmente transmissíveis e muitas outras condições físicas e psicológicas.

O estudo pioneiro analisa a prevalência de violência física e sexual por meninas entre 15 e 19 anos que estiveram em relacionamentos íntimos e cobre fatores sociais, econômicos e culturais que agravam o risco.

Em termos de regiões, a Oceania lidera os níveis de violência por parte do parceiro íntimo com 47%. A seguir está a África Subsaariana com 40%. As taxas mais baixas estão na Europa Central com 10% e Ásia Central com 11%.

Países menos afetados

Em termos nacionais, até cerca de 6% das meninas adolescentes estão sujeitas ao tipo de violência nos países menos afetados. As taxas mais altas chegam a 49%.

O fenômeno é mais frequente entre adolescentes de países e regiões de baixa renda, onde há menos membros dessa faixa etária no ensino médio e onde elas têm poucos direitos de propriedade e herança legais em comparação aos homens.
 

O casamento infantil, quando realizado antes dos 18 anos, agrava os riscos porque as diferenças de idade conjugal “criam desequilíbrios de poder, dependência econômica e isolamento social”. Estes fatores aumentam a propensão ao abuso.

O estudo destaca ainda a necessidade urgente de uma oferta de serviços de apoio e medidas de prevenção precoce adaptadas aos adolescentes, juntamente com ações para promover direitos das mulheres e meninas.

Recursos financeiros próprios

Entre as sugestões do estudo estão a implementação de programas escolares que educam tanto meninos e meninas “sobre relacionamentos saudáveis ​​e prevenção da violência, até meios de proteção legal e empoderamento econômico”.

Na falta de recursos financeiros próprios, muitas adolescentes podem enfrentar desafios para deixar relacionamentos abusivos.

Leia também: https://lucianosiqueira.blogspot.com/2024/06/projeto-de-lei-do-estupro-em-queda.html