01 novembro 2025

Palavra de poeta

empatia
Cida Pedrosa    

O bem-te-vi que canta na minha janela
sabe do concreto
Muros
Armadilhas e arames
O bem-te-vi que canta na minha janela
tem a absoluta certeza do espaço nada
dessa cidade que me afoga
em margens de incertezas

O bem-te-vi que canta na minúscula janela do banheiro
sabe que eu
sentada neste espaço 1x2 tenho uma ausência de ninho
tão grande quanto a dele

Leia também: "O cheiro da tangerina", Ferreira Gullar https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/09/palavra-de-poeta_20.html

Boa notícia

Brasil gera 1,7 milhão de empregos com carteira assinada em 2025
Saldo de 9 meses teve acréscimo de 213 mil vagas formais em setembro. Sob o governo Lula, são 4,8 milhões novos postos e patamar recorde de vínculos ativos: 48,9 milhões
Murilo da Silva/Vermelho  

O Brasil continua a avançar na geração de empregos sob o governo Lula. Dados do Novo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), divulgados na quinta-feira (30), mostram que em setembro o Brasil registrou a criação de 213 mil vagas de trabalho formais, o que totaliza um saldo de 4,8 milhões de vagas criadas desde janeiro de 2023. No acumulado de 2025, 1,7 milhão de empregos com carteira assinada foram criados em nove meses.

Conforme o governo federal, com os resultados, foi alcançado o patamar recorde de 48,9 milhões de vínculos formais ativos.

Segundo o ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, os números de setembro contrariaram analistas, que previam um saldo menor de contratações. “Nosso saldo de setembro talvez contrarie os especialistas do mercado, que eu não sei se são tão especialistas assim, porque eles projetaram no máximo 175 mil e o número é de 213 mil”, disse.

O saldo do mês ficou positivo em 213.002 postos formais. Foram 2.292.492 admissões contra 2.079.490 desligamentos.

Nas redes sociais, o presidente Lula destacou as marcas conquistadas: “Alcançamos, em setembro, a marca de 1,7 milhão de empregos com carteira assinada gerados em 2025. Resultado de muito trabalho e de uma economia forte, gerando oportunidade e renda para as famílias em todo o país.”

Setores

O grupamento que liderou a alta foi o de Serviços, com 106.606 postos. Na sequência, vieram os setores da Indústria (43.095), do Comércio (36.280), da Construção (23.855) e da Agropecuária (3.167).

Nestes segmentos, entre janeiro e setembro, o saldo é de:

  • Serviços: 773.385 novos postos;
  • Indústria: 273.231;
  • Construção: 194.545;
  • Comércio: 153.483; e
  • Agropecuária: 107.297.

Jovens trabalhadores

É destaque no Caged o número de jovens trabalhadores. Mais da metade das vagas criadas em setembro foram preenchidas por jovens entre 18 e 24 anos, ao ocuparem 110.953 postos.

Junto aos adolescentes até 17 anos, que ficaram com 31.105 vagas, os grupos correspondem a 67% dos empregos formais criados no mês.

Estados

Entre os estados que mais geraram oportunidades em setembro estão São Paulo (49.052), Rio de Janeiro (16.009) e Pernambuco (15.602). Quando se consideram as variações relativas, com base no tamanho do mercado de trabalho, as maiores altas no mês foram em: Alagoas (+3%), Sergipe (+1,7%) e Paraíba (+1,1%).

Ao se considerar os primeiros nove meses do ano, o acumulado de vagas criadas mantém à frente o estado de São Paulo (485.726 vagas), seguido por Minas Gerais (164.634) e Paraná (121.291).

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Leia tambem: Maior investimento social da História https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/10/boa-noticia_20.html

Uma crônica de Ruy Castro

Vendem-se prisões residenciais
Construtoras pensam em novos projetos adequados a políticos presos em casa. Collor cumpre pena em seu dúplex para que seu ronco não incomode companheiros de cela
Ruy Castro/Folha de S. Paulo 

Quem diria, a lei pode começar a influir no mercado imobiliário de Brasília. O número de civis e militares condenados por tentativa de golpe de Estado e tendo suas sentenças amenizadas para prisão domiciliar abriu uma oportunidade para as construtoras. Elas já planejam seus novos condomínios em função das necessidades de sentenciados. Até agora, as prisões domiciliares vinham sendo cumpridas nos endereços particulares de cada um —perfeitos talvez para conspirações, mas não para o cumprimento da pena.

Certas instalações que até os valorizavam ficaram ociosas. A churrasqueira, por exemplo, perdeu a utilidade —por determinação da Justiça, o condenado é impedido de promover rega-bofes para seus asseclas, digo, correligionários. Donde, nos amplos espaços para os forrobodós de outrora, a residência poderá dispor de uma academia particular, equipada com esteiras, espaldares, estações de musculação, mesas flexoras e cadeiras extensoras, para que o prisioneiro mantenha, mesmo confinado, uma vida fit.

Impedido de sair à rua para prevenir possíveis fugas ou obstrução da Justiça, o condenado não pode manter sua antiga vida social. Carreatas, motociatas e jet-skíadas estão fora de cogitação, claro. Comícios, nem pensar, nem mesmo discursos em cercadinhos, já que o condenado está proibido de se dirigir ao mundo exterior. Toleram-se, no máximo, papos ocasionais com carteiros, técnicos da Net e entregadores de pizza.

As construtoras sabem que suas residências prisionais não se comparam a algumas já atualmente em uso, como a do ex-presidente Collor. Ele cumpre prisão domiciliar em seu duplex à beira-mar na praia de Jatiúca, em Maceió, avaliado em R$ 9 milhões, com 600 metros quadrados, quatro suítes, adega, piscina e cascata artificial com filhote de jacaré. Collor foi obrigado a esse sacrifício por sofrer de apneia do sono, isto é, roncar. Não seria justo para seus companheiros de cela tê-lo roncando a noite inteira.

Imagine os de Bolsonaro tendo de aturar os seus soluços.

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Leia também: Terror midiático https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/10/minha-opiniao_24.html 

Minha opinião

O crivo viciado das redes 
Luciano Siqueira 
instagram.com/lucianosiqueira65 

A gente critica — em geral com razão — a excessiva importância dada às redes sociais no tempo presente. 

Porém se faz institucionalizada uma espécie de retroalimentação permanente dessa questionável importância. Qualquer fato relevante, de certa repercussão, enseja a que, dois a três dias após, a mídia dominante dedique espaço à aferição da chamada "repercussão nas redes".

Ou seja, quantas menções positivas ou negativas o aludido fato obteve — sem necessariamente levar em conta a distorção de versões e mesmo fake news.

A coisa se tornou tão importante na paisagem social e política do país que até os mais simples viventes cuidam de documentar a cena, celular à mão, através de vídeos e fotos em que quem fotografa ou filma se faz também personagem. 

Daí em diante, o produto é posto no Instagram e em outras redes e logo em seguida o dito cujo contabiliza quantas visualizações, curtidas e comentários obteve.

Uma espécie de narcisismo mórbido onde pouco se distingue entre o fato e a versão do internauta.

Foi assim que no fatídico 8 de janeiro de 2023, em Brasília, centenas de invasores dos edifícios dos três poderes da República produziram contra si mesmos provas documentais através de selfies em que descreviam os acontecimentos de viva voz e de imediato postavam nas redes. Muitos cumprem pena de reclusão na Papuda.

E a verdade? Ora, entre o que acontece e o que se interpreta nas redes a verdade pouco importa. Ou não?

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Assim age o controle social automágico https://lucianosiqueira.blogspot.com/2024/07/vida-digitalizada.html 

Fotografia

 

Luciano Siqueira

Leia: Uma simpática baleia azulzinha assusta os tubarões monopolistas https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/01/enio-lins-opina_30.html 

Postei nas redes

Vem aí a Keeta, ostentando 770 milhões de usuários na China, tecnologia avançada e pronta para desbancar o Ifood. Se eu pudesse, confesso, comeria no restaurante mesmo. 

"História estranha", Luis Fernando Veríssimo https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/09/uma-cronica-de-luis-fernando-verissimo.html 

Uma crônica de Antônio Maria

A noite é uma lembrança
Antônio Maria  

BOA VIAGEM, FEVEREIRO. É de principiante isto de o cronista escrever que está numa janela de hotel, vendo a noite e fumando um cigarro. Mesmo havendo mar e sendo Boa Viagem um encontro muito desejado, não gosto da sem-cerimônia com que me faço personagem de mais uma crônica, como se eu, a noite e o cigarro ainda fôssemos novidade.

Entretanto, alguns acontecimentos espirituais do homem podem ser contados e explicados, desde que esse homem seja capaz de transmitir a alguém a beleza de sua solidão. Que ninguém se queixe de falta de ocorrências para escrever melhor. E sim de incapacidade para gritar o seu grande mundo interior.

Eu vim à janela porque conheci uma moça e estou preocupado em como a venho pensando, há um enorme tempo. O cabelo, os olhos, a boca, as mãos e o silêncio. Também a palavra vagarosa, que perguntava de vez em quando sobre uma verdade já velha ou sobre uma mentira mais em moda. Se confiasse em cada um de nós, explicaria à sua maneira o Homem, o Amor, o rio Capibaribe e o compositor João Sebastião Bach. Mas para isso, além de ser preciso confiar, teria que pedir a palavra e se imponentizar de tal maneira que nos assustaria à sua volta, após assustar-se consigo mesma. O que dizia eram curtas perguntas. O que fazia era pouco e casual. Mesmo assim eu a adivinhava sábia e corajosa.

Mais das vezes se escreve assim de uma mulher quando por ela se sente uma dessas súbitas emoções, muito parecidas com o chamado amor à primeira vista. Mas, em meu caso, essas impressões já não me confundem. Uma mulher me empolga assim que a sinto gente; e nela me perco, de descoberta em descoberta, sem me consentir a mínima desconfiança de estar amando-a, em qualquer das maneiras antigas ou atuais de amar alguém. Uma mulher-gente nos atrai aos seus mistérios e, no tempo em que procuramos desvendá-los, só acrescentamos dúvidas à nossa ignorância inicial.

Apesar disso, é dever do homem-gente deixar que o seu pensamento se demore nas lembranças de sua conhecida recente. Amor é outra coisa. Amor a gente espera, como o pescador espera o seu peixe, ou o devoto espera o seu milagre: em silêncio, sem se impacientar com a demora. E o amor a gente não conta pelo jornal a não ser quando quando o sentimento trai a frase, juntando palavras que deviam estar sempre separadas.

Cá estou, porém, nesta janela que não me deixa mentir, em frente à noite de que sou uma espécie de filho de criação, a repassar lembranças de uma moça que, de mim, se muito recordar, recordará meu nome. Eu também a esquecerei, mas daqui a duas ou três mulheres importantes. Agora, faz-me bem, inclusive, sofrê-la um pouco. É tarde. Deveria ir para a cama. Todavia, não seria  direito. Numa moça, a gente pensa na janela.

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Leia também: “Vivos, lúcidos e ativos" https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/04/minha-opiniao_18.html