02 maio 2018

O peso da realidade na consciência


A versão, o fato e a previsível revolta 
Luciano Siqueira, no Blog de Jamildo/portal ne10 e no portal Vermelho

Atribui-se aos velhos políticos mineiros a assertiva de que mais vale a versão do que o fato. Mas parece uma verdade universal. Vide a propaganda nazista dos idos de Hitler, talvez o exemplo mais contundente disso.

Na atualidade, com a sofisticação dos meios de comunicação multimídia, essa verdade é confirmada e elevada à enésima potência. 

No Brasil de hoje, tudo o que se informa e o que se analisa sofre o impacto tsunâmico da mídia monopolizada, do Sistema Globo em especial.

Em relação a todo e qualquer fato minimamente relevante logo se estabelece a "narrativa" dominante em busca do que Karl Marx chamou (em 'A ideologia alemã') de "consenso” das classes dominantes.

Aos de baixo restaria aceitar como verdade a versão dos de cima.

Mas não é exatamente assim. 

Primeiro, a realidade concreta pesa mais do que um milhão de minutos na TV, no rádio e na mídia eletrônica dedicados a tergiversá-la.

Por exemplo, enquanto a versão oficial — reverberada pela mídia — proclama uma suposta recuperação da economia com expansão das oportunidades de trabalho e melhoria da renda dos trabalhadores (sic), as estatísticas mais recentes, inclusive as divulgadas pelo IBGE, revelam a verdade — que corresponde à vivência cotidiana da imensa maioria dos brasileiros. 

Atualmente, a taxa de desempregados alcança 12,6%, correspondendo a aproximadamente a 13,1 milhões de brasileiros sem trabalho. Vagas com carteira assinada caem a nível sem precedentes, 33,1 milhões em fevereiro. 

Na vigência da reforma trabalhista, de novembro a março últimos foram abertas 20 mil vagas em regime temporário, enquanto fecharam 145 mil sob os padrões da CLT.

As contas públicas, que Temer e Meirelles alardeavam equilibrar mediante corte em políticas sociais, ostentam rombo de R$ 25 bilhões em março, o pior para o mês na sequência histórica.

De outra parte, o investimento público — indispensável para alavancar a economia — cai para 1,17% do PIB e atinge o menor nível em 50 anos! 

Além disso, por mais constrangida que seja pelos mecanismos de controle via combinação de algoritmos, a comunicação paralela e relativamente livre das redes sociais cuida de informar o que se passa e de alimentar a justa indignação dos que se sentem explorados e oprimidos. 

Assim, enganam-se os que pensam que o torpor coletivo promovido pela mídia monopolizada pode evitar ad infinitum a insurgência popular.

Não evita. É questão de tempo. E se urde paulatinamente, que nem fogo de monturo. A qualquer momento as chamas da revolta virão à tona.

Aos que pugnam no cotidiano, de maneira organizada, contra o golpe (que segue sua sanha) e almejam a superação da crise através de alternativa democrática e progressista, cabe viver colados nas maiorias insatisfeitas e ajudar que se reanimem e ocupem novas trincheiras de luta.

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