10 janeiro 2024

Cláudio Carraly opina

Uma noite que não existiu – que pena!

Cláudio Carraly*



Era uma noite daquelas que parecem destinadas a conversas profundas, no qual as ideias fluem como o vinho nas taças, o bar estava agitado, mas nossa mesa, embalada por risadas e diálogos, era uma ilha de intensa reflexão. Quatro mulheres extraordinárias - Simone de Beauvoir, Angela Davis, Patrícia Galvão a Pagu e Rosa Luxemburgo - se encontravam para compartilhar suas visões sobre o mundo, Simone, com seu ar intelectual e um leve toque de ironia, iniciou a conversa. "Meninas, nesta noite, podemos esquecer por um momento as amarras sociais que nos cercam, vamos explorar os confins da liberdade e da existência feminina."

Angela, com sua expressão firme e penetrante, concordou, "Simone, você sempre traz uma perspectiva única, mas não podemos esquecer que a luta pela liberdade é também a luta por justiça social, que se estende além das barreiras de gênero." 

Pagu, sempre irreverente, interveio com uma risada. "Angela, minha cara, você tem toda razão, mas, convenhamos, a revolução precisa ser vivida com paixão e prazer, afinal, como eu já disse uma vez, 'é proibido proibir'."

Rosa, com sua serenidade, acrescentou: "Pagu, você sempre traz a chama da rebeldia, e isso é fundamental, no entanto, a luta revolucionária é um caminho árduo, e precisamos unir forças para transcender as estruturas opressivas." 

Entre debates sobre as contribuições de cada uma à filosofia, política e feminismo, as conversas se entrelaçavam como fios de uma teia complexa, Angela compartilhava suas experiências nas lutas pelos direitos civis nos Estados Unidos, enquanto Rosa discutia a importância da solidariedade internacional na luta contra o imperialismo.

Simone, sempre atenta às dinâmicas de poder, observou: "Meninas, precisamos reconhecer que a opressão se manifesta de formas diversas, a luta feminista é intrinsecamente ligada à luta contra outras formas de exploração." 

Pagu, levantando sua taça, brindou: "Às mulheres fortes, que desafiam as convenções e quebram as correntes da opressão, que nossas vozes ecoem para além destas paredes e que nosso grito ecoe nos corações revolucionários que ainda nem nasceram."

E assim, na atmosfera efervescente do bar, estas quatro mulheres notáveis teceram uma narrativa de resistência, liberdade e solidariedade, enquanto as taças se erguiam, ficava claro que, mesmo em tempos turbulentos, as ideias revolucionárias dessas mulheres continuariam a inspirar e desafiar as gerações vindouras.

E nesse bar onde as conversas são tão densas quanto o aroma do café recém-passado, essas mulheres extraordinárias conversavam, sorriam e teciam as tramas da sociedade do futuro, e nesse ambiente lúdico e inspirador são tomadas pela surpresa da chegada de uma convidada mais que especial: Frida Kahlo, que chega fazendo muito barulho e abraçando e beijando cada uma à mesa, suas cores vibrantes e seu olhar determinado, acrescenta apenas pela sua presença uma dimensão única e lisérgica a essa reunião de mentes brilhantes.

Simone, iniciou a conversa como maestrina desse encontro intelectual. "Frida, minha querida, como é inspirador tê-la conosco. Nesta noite, vamos dançar entre as pinceladas da filosofia e da arte."

Frida, com um sorriso enigmático, respondeu, “Senhoras é um prazer estar aqui, a arte, afinal, é uma expressão da alma que transcende quaisquer fronteiras."

Angela, com sua presença marcante, acrescentou: "Sua arte é uma declaração política, suas pinturas nos fazem confrontar nossa dor, a força e a beleza simultaneamente, nem sei como você transmite tantos sentimentos ao mesmo tempo."

Pagu, com sua irreverência característica, interveio: "Querida, suas cores exalam paixão, mas, falando em paixão, precisamos reconhecer que a revolução também pode ser uma festa? Uma orgia de paixão, cores e palavras de ordem, não é mesmo?"

Rosa, com sua serenidade, ponderou: "Pagu, você sempre traz alegria à nossa causa, mas, como bem sabemos, a revolução exige compromisso e solidariedade, elementos essenciais para transformar o mundo."

A conversa fluiu entre anedotas, debates filosóficos e reflexões sobre a condição da sociedade atual, Frida compartilhava suas experiências como uma artista comprometida com suas raízes mexicanas e sua identidade latina, enquanto Angela destacava a importância de alianças entre diferentes movimentos sociais.

Simone, observadora astuta, comentou: "Frida, me parece que suas obras são uma narrativa íntima de sua vida, elas nos mostram que a busca pela liberdade é muitas vezes uma jornada muito mais interna que externa."

Enquanto as risadas e diálogos preenchiam o ambiente, as mulheres brilhavam não apenas como pessoas excepcionais, mas como parte de uma sinfonia coletiva de resistência e expressão artística, ao final da noite, Rosa Luxemburgo levantou sua taça e propôs um brinde: "Às mulheres que desafiam as convenções, que pintam o mundo com as cores de sua própria verdade, que nossas histórias continuem a ecoar nas mentes e corações de todos."

E assim, nesta mesa de ideias e cores, a conversa se entrelaçava como uma obra de arte coletiva, deixando uma marca indelével na noite e nas páginas da história, a mesa, uma Pasárgada socialista, testemunhou uma sinfonia de ideias que transcenderam as barreiras sociais e tocaram as raízes mais profundas da liberdade feminina.
Enquanto as vozes dessas mulheres extraordinárias se entrelaçavam como fios de uma teia complexa, uma surpresa agitou a atmosfera. E assim, entre risos, reflexões, aquela mesa se tornou mais do que um espaço físico, tornou-se uma expressão libertadora da força feminina e da resistência coletiva, que essa sinfonia de vozes e cores ecoe, como uma lembrança do poder transformador das mulheres que só querem se divertir, mas também desafiar, transformar e inspirar. Que a noite que não existiu continue viva, não apenas na memória, mas como um farol eterno para as antigas, presentes e novas gerações revolucionárias.


*Advogado, ex-secretário executivo de Direitos Humanos de Pernambuco
O som na ribalta https://bit.ly/3Ye45TD

2 comentários:

Anônimo disse...

A noite não existiu…mas é como se tivesse existido, pois a potência dessas mulheres reverbera perenemente alimentando o esperançar de justiça e equidade! Valeu por trazer essas mulheres para essa mesa!
Ana Selma

Cláudio Carraly disse...

Tão importante ler isso de uma mulher como você, herdeira direta de todas essas que estavam à mesa e tantas outras que estavam em espírito. Obrigado querida!