02 agosto 2011

Quem gosta de quem na música em cada época

Sinatra, Caymmi e os novos tempos
Luciano Siqueira

Publicado no Blog da Revista Algomais

O tempo não para, ensinava o finado Cazuza. O repouso é relativo, o movimento é absoluto, aprendemos da dialética. E é assim mesmo. A vida dá suas voltas e envolve gerações que se sucedem e evoluem no modo de viver, sofrer, amar e experimentar dor e prazer. Daí, por exemplo, o gosto musical hoje nem se comparar com o que foi em épocas passadas.

Ruy Castro escreveu sobre isso na Folha de S. Paulo um dia desses. Reclamou que o site da revista britânica "NME" -"New Musical Express"- fez enquete com seus leitores sobre os "20 maiores cantores de todos os tempos". Nada menos que dez milhões de internautas responderam. Na lista do escolhidos Michael Jackson apareceu logo em primeiro, vindo logo atrás Freddie Mercury, Axl Rose, John Lennon, David Bowie, Robert Plant, Paul McCartney... Da turma da geração do articulista, que também é a minha, apareceram apenas Ray Charles e Elvis Presley.

Duas grandes ausências, com toda a injustiça do mundo: Frank Sinatra e Bing Crosby, dois grandes nomes da canção norte-americana com fãs no mundo inteiro.

Imagine se enquete semelhante fosse feita no Brasil. Voaria no pau muita gente boa, pois a memória da maioria dos internautas não vai tão longe. Não fosse os especiais de TV que de vez em quando ressuscitam gente que já se foi e deu grande contribuição à música popular brasileira, em diversas fases, quase ninguém saberia de Sílvio Caldas, Cauby Peixoto, Luis Gonzaga, Dalva de Oliveira, Nora Ney, Dorival Caymmi, Dick Farney e muitas outras feras lembradas aqui ao acaso. Correríamos o risco de em breve ninguém falar mais em Ellis, Tom Jobim, Nara Leão e até nos que ainda estão aí vivinhos da silva, como Nana Caymmi, João Gilberto, Carlos Lyra e muita gente de primeira.

Se você não ouve, como pode gostar? O problema, portanto, não é apenas de gosto musical, que muda através do tempo; é de desconhecimento mesmo. No Recife, nos anos recentes, levamos artistas e músicos de qualidade aos bairros de periferia, e também a Orquestra Sinfônica até para o ambiente de uma fábrica. Sucesso absoluto!

O que tem valor é reconhecido por plateias pouco letradas e gerações diversas. Porque a boa música penetra por todos os poros e envolve a alma, desperta sentimentos e sensações nunca antes experimentados. Em qualquer um, a qualquer tempo.

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