Waldir Pedrosa Amorim*
“Escrevi Ensaio sobre a cegueira para recordar
a quem o leria que usamos perversamente a razão quando humilhamos a vida, que a
dignidade do ser humano é insultada todos os dias pelos poderosos de nosso
mundo, que a mentira universal ocupa o lugar das verdades plurais, que o homem
deixou de respeitar-se a si mesmo quando perdeu o respeito a seu semelhante.” (José Saramago)
Quem
é essa brasileira,
vida
que passa
amarrotando
ilusões,
macerando
ideais,
desdizendo
conquistas,
menosprezando
o suor dos lenços e sudários,
renascendo
pretéritos caducos,
revogando
manhãs,
salgando
a inteligência,
retorcendo:
preceitos
legados
ao
tilintar dos níqueis.
Conciliábuloherético
- retórico
cerzido
por hienasávidas,
entreguista
horda
sem
escrúpulo moral.
Traição
vociferada
às
escâncaras
maquiadas
em camarins
de
comunicação monocórdica
pelos
poderosos.
Cérebros
encharcados de formol,
furiosos
por poder.
Render
as gentes,
rebaixar
um país e um continente,
à
miserável
liturgia
cabisbaixa
de
mãos pedintes;
olhos
sem brilho e altivez
deslocados
do horizonte
de
mirar os seus de frente.
Quem
produz riqueza?
serão
sempre os homens que trabalham.
Quem
sempre não as usufrui em plenitude e proporcionalidade?
os
homens que trabalham dignamente.
Quem
os que crescem como excluídos?
os
homens invisíveis, da mata, das ribanceiras, do campo e das cidades,
cognominados
minorias, de toda sorte.
enxotados,
perseguidos,
discriminados,
amorfos,
descarnados e desalmados,
ao
olhar das políticas e das justiças,
sem
teto, sem terra, sem escola, sem saúde, sem educação ou socorro;
os
que são insultados pelos poderosos, diuturnamente, há séculos.
Vivos
por vária mínima resistência,
transfiguram-se
em morte matada,
organizados,
são flechas atentatórias,
quiçá,
comunistas, terroristas,
ante
o terror todo poderoso
dos
que herdaram, de um Deus branco e escravocrata,
a
posse da terra, dos rios, matas e mares.
Viventes
nas favelas, morros, periferias,
são
abcessos, da carne das urbes,
incrustados
na cidade grande,
a
vomitá-los com polícias que lhes pertencem.
Armados,
são cancro,
aprisionados
são metástase,
Imbatíveis
ou lúdicos,
financiam
o tráfico,
do
traficante imune político,
que
podem eleger,
e
de quem partilham o idioma,
fluente
e não conflitante,
embora
aparentem
ser
uma torre de Babel.
Políticas
indecentes, homens espúrios, cafajestes,
ao
bel individualismo,
tratam
a Constituição e as leis
e
lambuzam o judiciário,
como
comensais do capital
interno
e forâneo.
Pesos
e medidas
são
imponderáveis na balança de vácuo,
e,
imprevisíveis na venda esburacada
que,mimetiza
a conformidade absoluta,
irretocável,
irretorquível da Justiça.
E
sem justiça,
matam,
como mataram o Deus.
As
divindades, incluindo Lúcifer,
se
esvaem em sangue,
são
o nada,
na
pátria mãe dos que a golpeiam,
com
a arma branca das mirabolâncias.
Surpreendente,
ou,
comezinho?
O
capital rentista e sua lógica.
A
imensidão de recursos extrativistas.
A
vastidão territorial, a bacia hidrográfica, a flora e fauna.
A
reserva petrolífera.
Sempre
aguçaram olhares do mundo.
Os
entreguistas de plantão, negociam com isso,
em
proveito próprio e antinacional.
O
golpe em curso, apenas por isso,
já
tornar-se-ia razão de resistência.
Contudo,
seu fundamento e pedra angular
mora
aonde moram,
o
início dos golpes que sofremos:
A
redução das desigualdades sociais,
o
soerguimento de direitos humanos,
a
maior democratização do saber, a maior redistribuição da renda,
a
redução da extrema miséria, a melhoria da saúde, moradia para os pobres...
Esta
é uma fórmula
que
fatalmente torna os brasileiros, mais brasileiros;
nos
unifica e aos países latino-americanos
nos
torna menos desumanos, mais patriotas e confiantes.
Menos
indefesos aos ataques dos que nos saquearam, desde a monarquia.
E retorno a Saramago:
“...usamos perversamente a razão quando humilhamos a vida,
que a dignidade do ser humano é insultada todos os dias pelos
poderosos de nosso mundo, que a mentira universal ocupa o lugar das verdades
plurais,
que o homem deixou de respeitar-se a si mesmo
quando perdeu o respeito a seu semelhante.”
Éticas
de
lata
impigens
gangrenas
delinquentes
de casimira
punhos
de renda e traça
cabeças
pesadas
farsas
nulidades
morais
torniquetes
da história.
Quem
é essa vida que passa,
com
velhacos apátridas
demolidores
perversos do Brasil.
João
Pessoa 31/07/2016
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