25 outubro 2022

Palavra de poeta: Marcelo Mario de Melo

O RIO DAS NOSSAS LÁGRIMAS

Marcelo Mário de Melo*
 
Às vezes é preciso 
desatar as nossas lágrimas.
Só os carrascos não choram.
E nós somos jardineiros 
vendo as flores arrancadas.
Caminhantes 
ante  as pontes destruídas. 
Operários vendo as obras demolidas.
Arquitetos junto as plantas ao fogo.
Celebrantes assistindo 
carpideiras e vampiros 
ocuparem o lugar da orquestra. 
 
No calendário dos desmandos 
as vísceras do povo sangram 
pelos nossos olhos.
E é preciso transbordar 
a lagoa da tristeza 
formando um rio caudaloso 
que irrigue novas lavraturas. 
 
Depois com os olhos enxutos 
iremos de mãos dadas  
retomar a travessia 
encarando no espelho 
os erros comuns.
 
[Ilustração: Candido Portinari]
 
*Jornalista, poeta
Leia também: A desgastante Odisseia dos moderadores de conteúdo na Internet https://bit.ly/3BhrLM2 

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