O brigadeiro Baptista Jr e a banalização do poder militar
Luis Nassif, Jornal GGN
A Nota articulada pelo Ministro da Defesa, General Braga Neto,
baseada em um álibi falso – a suposta generalização cometida pelo
presidente da CPI, senador Omar Aziz, acerca da corrupção de militares no caso
das vacinas – é o ápice da desastrosa incursão das Forças Armadas pelos
meandros do poder civil.
O episódio foi agravado por uma entrevista do brigadeiro Carlos
Almeida de Baptista Jr, comandante da Aeronáutica, com ameaças explícitas.
“Quando falam na nota que não vão aceitar ataque leviano às
Forças Armadas, o que quer dizer essa ameaça?
É um alerta.
Exatamente o que está escrito na nota. Nós não enviaremos 50 notas para ele
(Omar Aziz). É apenas essa”.
Chamou atenção outro trecho da entrevista:
“Os ataques incomodam?
Estes ataques
desnecessários, volto a dizer, não podem… Façam o devido processo legal, apurem
as responsabilidades, doa a quem doer. Não temos qualquer intenção de proteger
ninguém que está à margem da lei”.
Vamos a um levantamento de Álvaro Nascimento – jornalista,
Doutor em Saúde PÚBLICA/UFRJ
“Um sargento do Exército Brasileiro é flagrado, ao pousar em um
aeroporto da Europa usando um avião da comitiva presidencial, com 39 kg de
cocaína nas maletas de mão. É preso e, réu confesso, condenado pela Justiça
espanhola. A Polícia Federal abre uma investigação e conclui que o militar
traficou cocaína em aviões da FAB ao menos sete vezes.
(Os Comandantes Militares não emitiram nota)
O Ministério Público Militar (MPM) apura que pelo menos R$ 191
milhões foram desviados do orçamento das Forças Armadas em 10 anos. Os crimes
são cometidos por diferentes patentes e abrangem corrupção passiva e ativa,
peculato, estelionato e fraudes em licitações.
(Os Comandantes Militares não emitiram nota)
Em plena pandemia, 73.200 militares com salário mensal
religiosamente depositado em suas contas receberam indevidamente o auxílio
emergencial de R$ 600.
(Os Comandantes Militares não emitiram nota)
Um general da ativa – com base no fato de que “um manda e outro
obedece” – não compra vacinas então disponíveis, promove o aumento da produção
de cloroquina que nenhum país sério utiliza na prevenção e tratamento da Covid,
deixa morrer milhares de compatriotas sem oxigênio e ao ser demitido declara
“missão cumprida”.
(Os Comandantes Militares não emitiram nota)
Um coronel – acompanhado de um amigo “intermediário” – janta em
um shopping de Brasília negociando, com um dirigente do Ministério da Saúde,
porcentagem na compra de vacinas inexistentes.
(Os Comandantes Militares não emitiram nota)
Este “intermediário” – também militar, cabo da PM de Minas
Gerais – acaba denunciando o achaque, dizendo que lhe foi pedido um dólar a
mais em cada dose de vacina para que o negócio fosse fechado. O escândalo acaba
sendo pauta na CPI da Pandemia.
(Os Comandantes Militares não emitiram nota)
Um capitão reformado pelo Exército por repetidas más condutas –
que como prêmio foi para a reserva com gordo salário, apesar de ter apenas 33
anos, com 15 de serviço prestado – tornou-se deputado e agora uma ex-cunhada
denuncia que ele cometia o crime de peculato, recolhendo 90% do salário dos
assessores que nomeava para seu gabinete, gesto repetido pelo filho também
deputado.
(Os Comandantes Militares não emitiram nota)
O Senador Omar Aziz (Presidente da CPI da Covid que investiga o
porquê da morte de mais de 530 mil brasileiros) diante da quantidade de
militares envolvidos em falcatruas na Saúde declara que “a parte boa do
Exército deve estar envergonhada com a pequena banda podre que mancha a
história das Forças Armadas”.
Como se a carapuça tivesse se adaptado dos pés à cabeça dos
quatro, os excelentíssimos senhores Walter Souza Braga Netto (Ministro de
Estado da Defesa), Almirante Almir Garnier Santos (Comandante da Marinha),
General Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira (Comandante do Exército) e o Tenente
Brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Junior (Comandante da Aeronáutica)
levaram poucos minutos para emitir nota para protestar (aspas) “veementemente”
contra (aspas) “as declarações do Presidente da Comissão Parlamentar de
Inquérito, Senador Omar Aziz, no dia 07 de julho de 2021, desrespeitando as
Forças Armadas e generalizando esquemas de corrupção”.
Das duas, uma. Ou nossos comandantes militares não sabem ler (o
que seria um fato grave), já que não houve nenhuma generalização na fala do
Senador; ou (pior ainda) não se identificaram com a “parte boa” das forças
armadas citadas por ele, se sentindo portanto atingidos pelas críticas à “banda
podre”.
Resumindo o resumo: os comandantes militares perderam ótima
oportunidade de seguirem calados.
Veja:
Na relação
de Bolsonaro com as Forças Armadas, separar o joio e o trigo é necessário https://bit.ly/3xOWa13
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