28 fevereiro 2017

Boa tarde, poeta!

C.M.Cooper
O teu riso
Pablo Neruda

Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas
não me tires o teu riso.

Não me tires a rosa,
a flor de espiga que desfias,
a água que de súbito
jorra na tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.

A minha luta é dura e regresso
por vezes com os olhos
cansados de terem visto
a terra que não muda,
mas quando o teu riso entra
sobe ao céu à minha procura
e abre-me todas
as portas da vida.

Meu amor, na hora
mais obscura desfia
o teu riso, e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso será para as minhas mãos
como uma espada fresca.

Perto do mar no outono,
o teu riso deve erguer
a sua cascata de espuma,
e na primavera, amor,
quero o teu riso como
a flor que eu esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.

Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
curvas da ilha,
ri-te deste rapaz
desajeitado que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando os meus passos se forem,
quando os meus passos voltarem,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas o teu riso nunca
porque sem ele morreria. 


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Direito inalienável

Que assim seja - porque o Carnaval é e haverá de ser sempre uma festa democrática. Acesse https://www.facebook.com/LucianoSiqueira65/

27 fevereiro 2017

O prazer da fotografia

Cena urbana: Na garagem (Foto: LS) 

Humor de resistência

Duke vê a crise institucional.

24 fevereiro 2017

Ação lesa pátria

A quem interessa a destruição do Brasil?
Em poucos meses ficou claro que o governo surgido do golpe só tem agenda negativa: a destruição do patrimônio público – da Petrobras e do pré-sal em primeiro lugar, mas também dos bancos públicos –, dos recursos para políticas sociais, dos direitos dos trabalhadores e da soberania na política externa do Brasil. 
Emir Sader, no portal Vermelho

Faz isso com extremo afinco, como se tivesse recebido delegação popular para isso. No entanto, aplica um programa extremamente antipopular, derrotado sucessivamente nas urnas, contando com um apoio irrisório de pessoas, mas não se importando com isso.

Assumiu o objetivo histórico de interromper os governos do PT, que tinham caminhado na direção oposta: fortalecimento das empresas estatais, da Petrobras, mas também dos bancos públicos; o maior processo de democratização social da história do país, com a construção de um mercado interno de consumo popular, com a inclusão social de dezenas de milhões de pessoas; a promoção do poder aquisitivo dos trabalhadores de forma permanente; a projeção do país no mundo mediante uma política externa soberana.

Os governos desde 2003 demonstraram como é possível, mesmo na contramão do que acontece no mundo, diminuir a desigualdade social, terminar com a fome e a miséria. Como é possível o Brasil priorizar as políticas de integração regional ao invés dos Tratados de Livre Comércio com os EUA; como a integração com os Brics é o caminho alternativo a um mundo em recessão.

Contra tudo isso que se erige o governo do golpe. Antes de tudo, no plano interno, desarticular o modelo de crescimento econômico, favorecendo a consolidação da hegemonia do capital financeiro, em detrimento dos investimentos produtivos. Concomitantemente, elevar o desemprego, enfraquecendo a capacidade de negociação dos sindicatos, barateando ainda mais a força de trabalho e elevando a superexploração dos trabalhadores e os superlucros dos patrões.

No plano externo, enfraquecer os Brics, isolar o Brasil desse eixo fundamental de criação de um mundo multipolar e favorecer os interesses dos EUA de abaixar o perfil do país na América Latina e no mundo.

Quem perde com essas desarticulações? Em primeiro lugar o povo brasileiro, a grande maioria da população, beneficiária das políticas sociais e dos reajustes dos salários acima da inflação. Aumentam o desemprego, o abandono, as populações de rua, a precariedade do trabalho, aumenta a concentração de renda e a exclusão social.

Em segundo lugar, perde o projeto de um Brasil produtivo, que cresce e gera empregos e renda para todos. Perde a imagem do Brasil na América Latina e no mundo. Perde a possibilidade de voltar a demonstrar que é possível um projeto de desenvolvimento com distribuição de renda, que esta é funcional e alimenta a expansão econômica.

Em terceiro lugar, perdem o Brasil no mundo, a América Latina e o Sul do mundo, que tinham no nosso país uma referência fundamental. Perdem os que acreditam na construção de um mundo menos desigual, com menos concentração de renda e de poder.

Em quarto lugar, perde a democracia que se construía no Brasil, com grandes esforços, incluindo a toda a população, deixando nas mãos do povo a escolha sobre quem deveria governar o país.

Perde, finalmente, a esperança, a confiança no Brasil, o orgulho de ser brasileiro, a possibilidade de construção de um país solidário, baseado na igualdade e na justiça.

A reconstrução do Brasil interessa assim à grande maioria da sua população, a todos os que acreditam na democracia, os que confiam que a projeção de um Brasil líder na região e no Sul do mundo seja bom para nós e para a grande maioria dos países do mundo.


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23 fevereiro 2017

Carnaval e gênero

Claudyo Motta
MULHER CABOCLO-DE-LANÇA
Luciano Siqueira, no portal Vermelho

Vovó Neném, católica fervorosa e conservadora até a medula, incluía em suas orações, que fazia em voz alta para que todos pudessem ouvir, o pedido do perdão divino para as mulheres que vestiam calças compridas.

- É roupa de homem. Deus não deve gostar disso, ele fez a mulher para vestir saias.

Viva estivesse (faleceu no início dos anos 60), qual não seria a sua estranheza, e repulsa, ao saber que, rompendo uma tradição que vem desde o século XIX, a empregada doméstica Maria José Marques tornou-se a primeira mulher a desfilar fantasiada de caboclo-de-lança, no 5º Encontro dos Maracatus Rurais de Nazaré da Mata, a 65 km de Recife, realizado pouco antes do último carnaval.

Integrante do maracatu Leão Formoso, Maria José protagoniza mais uma conquista, dentre tantas, que a mulher brasileira vem alcançando na vida social, econômica, política e cultural nos últimos 30 anos.

O caboclo-de-lança tem papel destacado na encenação do maracatu rural. Representa o guerreiro. Rosto pintado, óculos escuros, flor entre os dentes, fisionomia carrancuda, agressiva até, estado de transe alimentado por quinze dias de abstinência sexual e pela ingestão de uma bebida cujo conteúdo mantém em segredo. Formidável que uma mulher seja aceita nesse papel.

Vovó Neném, sim, estaria estarrecida. E também rezaria muitas ave-marias assustada com a ousadia de inúmeras mulheres que reclamam igualdade de gênero também nas relações afetivas. Desejam tomar a iniciativa no ato sexual e só aceitam o prazer compartilhado. E estranharia a reação de um número crescente de parceiros masculinos, tomados de encanto e paixão pela mulher livre, altiva e senhora de si; e se sentiria solidária diante da maioria machista que, ao contrário, experimenta receio e insegurança.

Dificilmente entenderia, a piedosa senhora, se o seu neto querido – feminista consciente e militante – lhe dissesse que na relação a dois reside uma das trincheiras da luta pela emancipação da mulher.

Não, não compreenderia Vovó Neném, jamais, que a luta por uma sociedade progressista, solidária e justa implica também num sonho – o do amor verdadeiro, despido de egoísmo e de desconfiança, que permite a um homem olhar nos olhos de uma mulher e dizer: “Eu te amo, nós nos amamos, portanto tu és livre e eu também sou livre; tu não dependes de mim nem eu dependo de ti; somos iguais”.
.

P. S. - Às voltas com uma agenda pesada a 24 horas da abertura do carnaval, tomei a liberdade de republicar essa crônica aqui de alguns anos atrás aqui no Vermelho.
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22 fevereiro 2017

A dura realidade

Para além da fantasia
Luciano Siqueira, no Blog de Jamildo/portal ne10

Tal como nos dias de folia, a imaginação é livre e cada um sonha com o que bem entender. Desde que, passada a euforia, ponha os pés no chão e encare a realidade como de fato ela é.

As forças que promoveram o golpe parlamentar-judiciário-midiático que afastou definitivamente a presidenta Dilma tentaram vender à nação a fantasia de que, vencido esse trauma constitucional, o país entraria numa fase de crescimento e de normalidade institucional.

Sequer um sonho de três dias que durou apenas o carnaval, como diz o frevo canção.

Desde então, continuamos envoltos num imbróglio institucional que põe em conflito interminável os chamados Três Poderes da República e seguimos mergulhados na recessão, que tende a se agravar em razão do rumo dado pela equipe econômica do senhor Temer.

Como bem assinala João Scsú, em artigo recente, quando da eclosão da crise global em 2008, com epicentro nos EUA e fortes repercussões sobre as economias periféricas, como a do Brasil, aqui os impactos duraram um ano ou um pouco mais, pois “o presidente Lula uniu o país, trabalhadores e empresários, incentivando a manutenção da produção e do consumo”.

Diz ele, sobre o atual momento: “O Brasil definha dentro de um processo prolongado e que se prolongará. A crise que vivemos não é resultado de um tropeção, mas sim de um mergulho consciente em um abismo sem fundo. A sorte é que temos paraquedas: benefícios da Previdência Social, Bolsa Família, seguro-desemprego e direitos trabalhistas. Mas nossos paraquedas estão sendo perfurados e a resistência à crise econômica tende a diminuir.

Isso contrasta com o noticiário – agora distorcido para “justificar” a receita de Meirelles e equipe, cópia do que deu errado na zona do euro, na Europa. Colunistas dos jornalões escrevem e reverberam no rádio na TV a falsa impressão de que estamos indo bem, “agora que nos livramos do governo petista”.

Enquanto isso, na vida real, o governo não investe – fator indispensável em qualquer país em desenvolvimento -, enredado na miríade do ajuste fiscal; o empresariado também não investe porque não entra na conversa dos seus porta vozes midiáticos e não vê perspectiva, o consumo cai, o desemprego cresce e a crise nos estados afeta a renda dos funcionários públicos e a qualidade dos serviços essenciais.

Demais, já não cola a conversa de que tudo é fruto nefasto dos governos Lula-Dilma. A população não engole essa cantilena.


Então, chegada a quarta-feira ingrata, se acirrará o conflito entre o governo que quer fazer reformas para desmontar o Estado e fragilizar as políticas sociais compensatórias versus a maioria dos brasileiros que, ainda que temporariamente atônita, tende a reagir em defesa de conquistas e direitos que lhe aliviaram as condições de vida nos governos Lula e no primeiro governo Dilma. 

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21 fevereiro 2017

Precário e contraditório

O que Alexandre de Moraes disse na sabatina sobre 10 temas polêmicos
CartaCapital
Indicado de Michel Temer para o Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro da Justiça licenciado, Alexandre de Moraes, foi sabatinado pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado na terça-feira 21, resultado que será referendado pelo plenário.
Entre os questionamentos enviados pelo público e lidos pelo relator Eduardo Braga (PMDB-AM) ou apresentados pelos senadores, mas não respondidas pelo ministro licenciado em suas respostas, estão o Estatuto do Desarmamento, a atuação da Polícia Militar de São Paulo em manifestações, as ocupações de escolas, a legalização do aborto, a relação de Moraes com o deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e a "sabatina informal" ocorrida na chalana Champagne, barco do senador Wilder Morais (PP-GO), em Brasília. 
Na sabatina, Moraes comentou diversos assuntos polêmicos, como a acusação de plagiar obras de Direito e o fato de ter advogado para uma cooperativa acusada de ter relações com o Primeiro Comando da Capital (PCC). 
Veja o que Moraes afirmou sobre esses assuntos: 
Advogado do PCC 
A suposta ligação de Alexandre de Moraes com o Primeiro Comando da Capital é uma das maiores polêmicas envolvendo o nome do ministro licenciado. A história surgiu quando o nome de Moraes apareceu como advogado da cooperativa de transportes Transcooper ao menos 123 processos no Tribunal de Justiça de São Paulo. A cooperativa é investigada por ligações com o PCC. 
"Quem, dentro desta Comissão e fora dela, está nos ouvindo e vendo e já foi caluniado, difamado ou injuriado pela internet sabe a dificuldade ou mais, eu diria, a quase impossibilidade de você retirar totalmente essas versões mentirosas. Não tenho nada contra aqueles que são advogados dentro das normas éticas e legais com relação a qualquer cliente, inclusive o PCC, mas jamais fui advogado do PCC e de ninguém ligado a ele". 
Ele explica que um deputado estadual de São Paulo, cujo irmão fazia parte da cooperativa, durante campanha de reeleição, pediu emprestada uma das garagens da cooperativa e pediu uma reunião com duas pessoas, que estavam sendo investigadas por ligações com o PCC. "Nada ficou comprovado com relação ao deputado, a Transcooper e muito menos com relação ao escritório".
Plágio no doutorado
Alexandre de Moraes negou o plágio de trechos do jurista espanhol Francisco Rubio Llorente (1930-2016), que compila decisões do Tribunal Constitucional daquele país, em sua tese de doutorado.  Afirmou que se trata de uma história "inverídica, falsa e inventada por alguém que passou anos guardando rancor", referindo-se ao professor da UFMG, Fernando Jayme, que levou o assunto à imprensa.  
Ele alegou, ainda, que a viúva do autor foi induzida pelo jornalista a acreditar que o plágio havia ocorrido e que a reportagem a respeito do tema era "maldosa". 
Atuação da esposa 
Como advogada, a esposa de Alexandre de Moraes, Viviane Barci de Moraes, tem ações em curso no Supremo, o que poderia gerar conflito de interesse. A omissão dessa informação foi questionada por senadores da oposição durante a sabatina. 
"A minha esposa é advogada. Eu conheço ela há 30 anos, fez publicidade, depois Direito e é advogada há 20 anos. Qual é o problema? Ela tem que abdicar de todos os cargos e voltar para casa, mesmo que não queira? Não há nenhuma vinculação", defendeu-se.  
Moraes disse que existem muitas famílias nas quais vários membros atuam na área judicial e que dois de seus três filhos também estudam Direito. "Obviamente, por uma vedação legal, em todos os casos, não só os que em minha esposa ou o escritório tenham atuado, eu me darei por impedido, conforme a sábia previsão legal". 
'Erradicação' da maconha na América do Sul
Moraes evitou posicionar-se contra ou a favor da descriminalização da maconha, justificando que o tema está atualmente em discussão no STF e que ele, caso seja aprovado, herdará o pedido de vistas do falecido ministro Teori Zavascki. 
"Quem acompanha as minhas declarações, e o Plano Nacional de Segurança Pública, verifica que não tem cabimento uma afirmação dessas. Primeiro porque soa o ridículo que é, o Brasil nem tem competência para atuar na América Latina. A questão do tráfico de drogas deve-se basear no combate ao crime organizado, independente da posição de descriminalizar ou não. O que nós temos que focar é como desbaratar - isso se faz com investimento em inteligência e é essencial que nós tenhamos uma divisão conceitual clara entre o usuário e o traficante".
O ministro da Justiça, que já se deixou filmar no Paraguai arrancando pés de maconha com um facão,  ponderou que as cadeias estão "lotadas de pequenos traficantes, enquanto os grandes continuam soltos" e teorizou que talvez seja mais pertinente soltar mães que tenham praticado tráfico privilegiado, sem ligação com organizações criminosas, e transformar a pena em prestação de serviço. 
"É essencial focar no traficante, no crime organizado, que também pratica tráfico de armas e é responsável por um terço dos homicídios no Brasil. Obviamente, jamais disse erradicação da maconha no hemisfério Sul" 
Indicação de pessoas de confiança do governo ao STF 
Alexandre de Moraes, indicado por Michel Temer ao Supremo enquanto ocupava o cargo de Ministro da Justiça, discorreu sobre sua tese de doutorado, em que defendeu o impedimento da indicação de ministros de Estado ao STF. 
"No estudo, a ideia é propor um modelo ideal. Após análise, sugeri a transformação do STF em tribunal constitucional, com recomendações e vedações de indicações. Da mesma forma que eu defendi mandatos e não me sentiria constrangido em não aceitar vitaliciedade, porque essa é a Constituição. Eu não tenho problema em discutir aprimoramentos do ponto de vista acadêmico, mas no momento aquela era minha opinião" 
No entanto, ele diz não ver incompatibilidade entre os apontamentos na tese e o fato de ter sido indicado para a Suprema Corte.
Operação Lava Jato 
Sobre a sua possível atuação no julgamento dos processos da Operação Lava Jato, Moraes, Moraes diz que atuará com "absoluta imparcialidade e neutralidade". 
"Eu me julgo absolutamente capaz de atuar com absoluta imparcialidade e neutralidade, sem nenhuma vinculação política partidária, porque a partir do momento em que alguém é honrado com esta indicação, deve-se aplicar o que a Constituição determina, e a Constituição é apartidária. É uma tradição que ministros do STF sejam ministros que atuavam no poder Executivo e parlamentares que das casas legislativas, e essa tradição vem logo do início do STF", afirmou. 
"Eu não serei o revisor da Lava Jato porque, em sendo aprovado, eu serei da primeira turma. O revisor de todos os casos é o ministro Celso de Mello. O papel do revisor é só de atuar o início da atuação do revisor é no momento em que o relator depois de toda investigação, depois de denúncia recebida e instrução processual, nesse momento é que o revisor atua" 
"Os dois coordenadores da Operação Lava Jato no MP ao serem indagados pela imprensa, os dois deram declarações de apoio ao meu nome e afirmando que durante os 9 meses durante meu período no Ministério da Justiça não houve nada cerceando a Operação Lava Jato" 
Operação Acrônimo
Indagado sobre documentos apreendidos pela Polícia Federal na Operação Acrônimo, que citam o pagamento de R$4 milhões entre 2010 e 2014 ao ministro licenciado, Moraes afirma que são pagamentos lícitos, referentes à prestação de serviços como advogado.  
"Não existiu investigação e nunca existirá, porque nada de ilícito foi praticado", respondeu, afirmando que a PF teve "total liberdade" em agosto de 2016, quando Moraes já era ministro da Justiça, de apreender "listas contábeis, contratos e notas fiscais" na empresa JHFS Participações, para quem seu escritório prestou serviços.  "O STF analisou e viu que não havia nenhum indício de atividade ilícita" 
Decisões monocráticas
A senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) questionou as diferenças nas decisões do Supremo sobre as nomeações de Lula e Moreira Franco para ministérios e perguntou a Moraes como ele tomaria decisão liminar nesse caso:
"Em caso de mandado de segurança, a concessão de liminar, inclusive monocrática, faz parte em estando presentes os requisitos essenciais para concessão de eventual medida liminar. Assim como os demais ministros do Supremo, se eventualmente for aprovado, não terei constrangimento em analisar o que o regimento interno me autoriza a analisar. E há o recurso, como já foram interpostos em ambos os casos" 
Clonagem de celular de Marcela Temer
Questionado pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) sobre o caso de clonagem do celular da primeira-dama Marcela Temer e sobre a alegação do hacker de que haveria informações capazes de jogar a reputação de Michel Temer "na lama", Moraes criticou a atuação da mídia e afirmou que o procedimento que levou à prisão do criminoso foi "idêntico" aos demais realizados pelo Secretaria de Segurança Pública de São Paulo com relação à extorsão. Afirmou que não houve uma "força-tarefa" de 30 ou 50 policiais para cuidar do caso. 
"O réu é confesso, já havia praticado extorsão com outras pessoas públicas e está condenado. Os laudos constam no processo, que não estão mais sob sigilo. A imprensa divulgou os conteúdos dos laudos periciais", minimizou o ministro licenciado da Justiça.
Manifestações 
Pressionado pela senadora Gleisi Hoffman a justificar comentários a respeito de manifestações contrárias ao impeachment de Dilma Rousseff, Moraes disse que o comentário em questão referia-se a "oito pessoas que queimaram pneus na avenida 23 de maio".
"Isso não é exercício de manifestação. A Constituição diz que manifestações são livres seja qual for o objetivo, mas sem armas, sem violência. Oito pessoas queimando pneus não é [manifestação] pacífica"

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Pior do que antes

João Sicsú: Brasil - parado na recessão
A economia brasileira é um transatlântico sem capitão e com a casa de máquinas paralisada
Portal Vermelho

2017 será um pouco pior ou um pouco melhor que 2016. Com certeza, o futuro próximo não será muito melhor que o presente ou que o passado recente. Uma economia não sai de um estado recessivo simplesmente porque cansou de emagrecer. Uma economia não sai de um estado recessivo porque mudou o calendário: porque o ano novo chegou ou porque o segundo semestre chegará.

A saída de situações graves requer mais do que a fé ou fantasias, tais como: os empresários vão investir porque o PT não é mais governo – ou vão investir porque o governo vai privatizar empresas estatais – ou vão investir porque o governo aprovou um arranjo fiscal que congela os seus gastos reais por 20 anos. O Brasil está paralisado dentro de uma recessão.

Não houve aqui um choque externo que derrubou uma economia que crescia, gerava empregos, distribuía renda e fazia inclusão social. A situação atual é muito diferente daquela enfrentada em 2008/9 quando a crise financeira americana ameaçou uma economia que rodava a um ritmo alto e que tinha e utilizou instrumentos de combate à crise. Sem falar na liderança política do presidente Lula que uniu o país, trabalhadores e empresários, incentivando a manutenção da produção e do consumo.

Hoje, tudo é muito diferente de 2008/9. Naquela época a crise durou um ano, talvez um ano e três meses. Nos dias atuais, existe a possibilidade de a recessão se prolongar. E ela está se prologando. A situação atual somente em parte é resultado da conjuntura internacional – aliás muito menos desfavorável do que aquela que explodiu com o anúncio da quebra do Big-Bank Lehman Brothers, com a crise dos títulos subpirme e a consequente crise do setor imobiliário americano que contaminou toda a economia daquele país e transbordou seus efeitos mundo afora.

O Brasil definha dentro de um processo prolongado e que se prolongará. A crise que vivemos não é resultado de um tropeção, mas sim de um mergulho consciente em um abismo sem fundo. A sorte é que temos paraquedas: benefícios da Previdência Social, Bolsa Família, seguro-desemprego e direitos trabalhistas. Mas nossos paraquedas estão sendo perfurados e a resistência à crise econômica tende a diminuir. A tendência é, portanto, que a crise mais aparente passe a ser a crise social – e não mais a econômica.

Paraquedas são úteis não só para conter a crise social, mas também para amenizar a própria crise econômica porque transferem recursos para aqueles que gastam tudo o que recebem e, portanto, estimulam o consumo, a produção e a geração de emprego e renda. São 12,3 milhões de desempregados e outros milhões de desalentados (que nem mais procuram emprego). Todos a busca de oportunidades via programas sociais ou ofertas de vagas no mercado de trabalho. As portas estão fechadas e não há vagas.

O Brasil está dentro de uma armadilha. O governo não faz investimentos porque não quer gastar e porque não quer ocupar o lugar da iniciativa privada. Os empresários não investem porque não têm expectativas de crescimento, ou seja, expectativas de retorno dos seus supostos novos negócios. Estão mais preocupados em defender o que está em curso, o que é legítimo.

As famílias poupam porque vivem o desemprego ou porque temem a sua chegada. E a crise dos Estados tira renda das mãos do funcionalismo e fecha serviços sociais essenciais.

O governo, os empresários e os trabalhadores estão conectados dentro de um sistema fechado. Uma das partes teria que reagir autonomamente para romper o círculo de aprofundamento da crise. Empresários não vão fazê-lo. Empresários buscam o lucro e só reagem se esperam obtê-lo. Uma economia paralisada na recessão não oferece esse cenário. Trabalhadores são o elo mais frágil, somente tendem a se adaptar, seja quando há crescimento, seja quando há recessão.

Uma alternativa fora desse sistema é o mercado externo. Tal possibilidade não depende diretamente dos atores interessados. Depende do crescimento das grandes economias, China e Estados Unidos principalmente. Depende da dinâmica de preços internacionais, especialmente de commodities. Apostar nessa via é apostar na sorte, que pode até acontecer. Essa via deixa a economia de um país à deriva, ao sabor das conjunturas internacionais.

Dentro daquele sistema fechado, somente o governo pode reagir de forma autônoma para tirar a economia da situação de paralisia recessiva. O governo teria de ter dois quesitos que não têm: um programa emergencial de políticas de combate ao desemprego e uma liderança política e social, um estadista, capaz de animar as expectativas empresariais e de trabalhadores.

O ministro da Fazenda somente pensa em fazer reformas estruturais para desmontar o Estado brasileiro, minguar a soberania nacional e desfazer o sistema de bem-estar. Políticas econômicas emergenciais de combate ao desemprego não passam na cabeça de quem é o responsável por essa área. O presidente da República não tem cacoete de liderança. E tem outras prioridades, consideradas muito mais urgentes.

A Lava Jato contribuiu para gerar um cenário de insegurança política por agir politicamente. Ataca grandes empresas nacionais: empreiteiras e a Petrobrás. O STF e todo o sistema judiciário saíram da letargia e atuam em consonância com o Executivo e o Legislativo, outra instituição desmoralizada por seus próprios atores. É um conjunto em plena harmonia interna, mas sem conexão com as necessidades econômicas e sociais do País.

A economia brasileira é um transatlântico sem um legítimo capitão e com a casa de máquinas paralisada (as estatais, o BNDES, a Caixa e o Banco do Brasil estão sendo desmontados). Está à deriva e com furos no casco. A água já atingiu os porões onde estão os trabalhadores. Está sendo saqueado por estrangeiros (entrega do pré-sal e venda terras rurais). A armadilha que paralisou o transatlântico dentro de uma recessão tem nome: chama-se austeridade conjugada com o entreguismo da elite brasileira colonizada.

A opção pela austeridade não foi um choque externo, foi uma opção interna e processual. Os furos no transatlântico foram feitos de dentro para fora. O capitão chegou ao convés pela porta dos fundos. Os saqueadores são convidados de luxo. A casa de máquinas foi desligada por seus próprios operadores.

Com essa conformação, não há saída no campo das técnicas econômicas. A saída somente poderá vir no âmbito da política. Somente poderá vir daqueles que não têm mais nada a perder, terá que vir dos porões onde estão milhões de brasileiros que estão se afogando.

Será preciso construir um novo transatlântico, remendos não resolverão. Novas instituições serão necessárias para reconstruir o Brasil – que significa recolocá-lo dentro da rota do crescimento, geração de empregos, distribuição de renda e inclusão social.


João Sicsú é professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Fonte: CartaCapital)

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Morosidade por quê?

Justiça que tarda é justiça que falha. Nunca o ditado foi tão oportuno para explicar como a Lava Jato vem tratando os casos mais delicados, dos políticos com prerrogativa de foro. A revelação dos papéis do Ministro Teori Zavascki por Elio Gaspari (https://goo.gl/kLfH6l) traz um dado concreto sobre algo que o Xadrez vem indicando há tempos: por estratégia ou insuficiência, ou por receio de chegar até seus aliados, a Procuradoria Geral da República (PGR) está tocando os inquéritos com extrema morosidade”, escreve Luís Nassif. Leia mais http://migre.me/w6nzN

Condição humana

Lula, Marisa e doação de órgãos no Brasil
Cláudio Lacerda*, no Diário de Pernambuco

Em números absolutos, o Brasil consolidou-se como o segundo país do mundo em transplante de órgãos, perdendo apenas para os Estados Unidos. Todavia, se considerarmos o tamanho da nossa população, comparando com outras nações mais desenvolvidas, ainda precisamos melhorar muito. Enquanto na Espanha- considerada país modelo de eficiência na atividade, são efetivados aproximadamente 35 doadores de múltiplos órgãos por milhão de habitantes anualmente, o suficiente para que o tempo de espera ea mortalidade em lista sejam mínimos, no Brasil, em 2016, esse índice foi de apenas 13,5.
Isso se deve, em grande parte, ao elevado percentual de recusa familiar, que temgirado em torno de 47% no Brasil, nos últimos anos. Ou seja, quase metade da nossa população nega a doação, preferindo que os órgãos de seus entes queridos com morte cerebral sejam enterrados aservirem para recuperar vidas. Como resultado desse desequilíbrio entre necessidade de transplantes e efetivação de doações, há milhares de brasileiros em longas listas de espera, entre eles crianças e jovens, precisando desesperadamente de um órgão, sofrendo as consequências da doença, muitos deles morrendo sem achance do transplante.
Hátrês semanas, as mídias nacionais foram tomadas pela notícia da morte cerebral da ex-primeira-dama Marisa Letícia e da decisão do ex-presidente de doar seus órgãos. Não faltaram comentários maldosos, infelizes e desumanos acerca das verdadeiras intenções de Lula e até, pasmem, das condições dos órgãos de Marisa. Tristeza.
O fato é que o exemplo dado pelo ex-presidente, como era de se esperar, impactou muito favoravelmente os transplantes de órgãos em todo país. Comefeito, desde então, temos tido notificações e doações quase que diariamente.
Por mais críticos que sejamos em relação ao político e por ser mais radicais que sejam os seus opositores sectários e raivosos em relação ao homem público, não é justo deixar de enaltecer o que ele fez. E nesse contexto, claro, em nada importa se todos os órgãos de Marisa foram aproveitados, tampouco as razões da recusa de dois deles pelas equipes transplantadoras. A verdade é que, em um momento de extrema dor pela perda da mulher amada, Lula foi capaz de um belíssimo gesto de grandeza, que ajudou a recuperar a saúde de cinco pessoas diretamente e de milhares de outras, indiretamente. Palmas para ele e muita paz para ela.
*Cirurgião, professor da UFPE e da uni Nassa.

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O prazer da fotografia

Em Piaçabuçu, AL, tecnologias extremas: a roupa lavada em bacia e o garoto jogando no celular. (Foto: LS) #cenaurbana #alagoas #contrastes

17 fevereiro 2017

Sendo o que é

Inquirindo o ex-governador Tarso Genro, em Porto Alegre, o juiz Sérgio Moro fez perguntas sobre a crise e a refundação do PT e afins, entrando numa seara política que só confirma o caráter político-partidário que imprime à Operação Lava Jato.

Como sempre

A cúpula nacional tucana, em sua melhor tradição de dubiedade, quer continuar apoiando Temer, mas nem tanto. Para usufruir da regressão neoliberal sem contudo perder as condições de disputar a presidência da República em 2018.

Decadência

Temer receia que o Senado crie dificuldades a uma possível reeleição de Rodrigo Janot e sofra represálias que venham a respingar no governo, registra o noticiário. Pobre República a nossa!

16 fevereiro 2017

O prazer da fotografia

Cena urbana: Barcos de Piaçabuçu, AL (Foto: LS) #cenaurbana #alagoaspic.twitter.com/e0NmFuucoC

Tempo sombrio

Economia, Política e a "operação-abafa"
Walter Sorrentino, no portal Vermelho

A onda deletéria neoliberal esvaziou a democracia em todo o mundo e tornou a Economia diretamente em Política, sem maiores mediações, para impor os interesses do sistema financeiro.

No Brasil idem. Com o escárnio dos juros mais altos do mundo, a galinha de ovos de ouro para a comunidade financeira daqui e d´alhures.

Com a singularidade de que a Política tornou-se diretamente judicializada - a Operação Lava Jato determina, por ação e reação, a Política imediata.

A verdadeira operação abafa em curso no Brasil não é sobre a Operação Lava Jato, mas sobre a situação da economia, sujeita a vasto consenso mistificante de que “agora vai”. É o círculo maior que ajunta todos os setores conservadores.

Um círculo menor, nesse mesmo bloco, abrange os que querem e precisam se livrar das condenações merecidas e estão momentaneamente cobertos pelo interesse maior da Economia. Até quando? Diria: até que uma pactuação “pelo alto” nos bastidores produza a futura candidatura presidencial sem chance de derrota, como foi com FHC cavalgando o Plano Real. Tais pactuações, quando se veem os primeiros sinais, é porque já estão em pleno curso. Não é certo que o consigam, mas o roteiro é esse.

O “agora vai”, mesmo que levasse à retomada do crescimento econômico, põe o país em direção oposta às reais tendências do mundo hoje, de oposição entre globalização e interesses nacionais.

Lamentável que se deixe a direita conservadora, protecionista e xenófoba levar a termo vitórias explorando o ressentimento popular, nos EUA como na Europa.

No Brasil, “agora vai” leva para o brejo a soberania nacional e os direitos sociais – um projeto anacrônico até mesmo aos pregoeiros das austeridades que aprofundaram a estagnação econômica mundial para salvar em primeiro lugar a banca.

Como não se faz um projeto de nação no brejo, a democracia tem que ser conspurcada para esses intentos. Tristes trópicos.

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Recessão e fragilidade

Cenário crítico
Eduardo Bomfim, no portal Vermelho

Mergulhado em uma crise política gravíssima o País vê-se às voltas com uma estratégia econômica conscientemente recessiva cuja justificativa central, alegam, tem sido manter a inflação em baixa.

Com isso aprofunda-se a paralisia do desenvolvimento nacional, avança o desemprego e surgem os óbvios sinais de uma séria crise social que já se reflete na situação dramática da segurança pública nos Estados da federação.

Mas esse cenário deve se alastrar, infelizmente, para outros setores como saúde pública e educação, a paralisia nos investimentos em projetos de infraestrutura etc., em decorrência da aplicação pelo governo federal de uma política econômica conservadora e neoliberal cujas consequências em todo mundo mostram-se catastróficas e repudiadas por todos os lados.

Na verdade aplica-se a linha econômica dos governos Fernando Henrique Cardoso mas em um contexto histórico muito mais dramático, numa crise estrutural global e sistêmica do capitalismo iniciada em 2008 nos Estados Unidos e que depois alastrou-se pelo mundo.

Sem estratégias de qualquer espécie, o Brasil encontra-se como uma nau a vela dos tempos antigos: paralisada em meio a uma escassez de ventos que a impulsionem. A única coisa em movimento é a remuneração do capital financeiro que apresenta lucros recordes nos balanços publicados.

Sem protagonismo geopolítico regional ou global o Brasil vive um estado de torpor. Mostra-se em processo de regressão, de catatonia política.

As linhas monetaristas adotadas pelo governo Temer assemelham-se às do início do período das políticas neoliberais da década de 70 do século passado, das iniciativas neoliberais do presidente Ronald Reagan e da primeira ministra britânica Margaret Thatcher.

Mesmo assim mostram-se farsescas, como se fossem réplicas do auge das linhas gerais do liberalismo recauchutado que pontuou o final do século XX.

Onde se proclamava, hegemonicamente, através dessa mesma grande mídia atual, que a economia resolve por si própria todas as questões. Quem atrapalha é a intervenção do Estado nas relações institucionais ou nas políticas financeiras.

Como disse André Araújo “estão praticando um economês de quitanda... vamos chegar ao pico da crise com uma inflação na meta e a nação em crise social, à beira da guerra civil. Exemplo de miséria em País rico”.

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Reprovado

. Enquanto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aparece com larga vitória frente a todos os cenários de intenções de votos para a Presidência em 2018, o atual presidente Michel Temer acumula reprovação da maioria dos brasileiros: 62,4%.
. A informação é da pesquisa CNT/MDA, divulgada nesta quarta-feira (15), e que ouviu 2.002 pessoas, em 138 municípios nas 25 unidades federativas, entre os dias 8 e 11 de fevereiro. 
. As perguntas foram para analisar o desempenho pessoal de Temer no comando do Palácio do Planalto. A desaprovação de 62,4% dos entrevistados foi a segunda maior já calculada até agora na gestão do peemedebista.

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Paixão desfigurada

O creme de avelã está matando o futebol brasileiro
A vida, em sua essência, é simples, cotidiana, até banal. E é justamente nas coisas ínfimas onde residem nossas maiores alegrias. Mesmo assim, o ser humano insiste em colocar penduricalhos na existência, insiste na gourmetização.

Ricardo Flaitt, no portal Vermelho

O fenômeno embelezador-civilizatório também chegou ao futebol, que sofre com essa necessidade de quererem transmutar o que é simples, em algo especial, sem nos perguntarem o que é de fato especial para nós, os torcedores.

Futebol, como a vida, já é especial por si só. Seja na pelada praticada na rua, num estádio do interior ou em campo ultrassofisticado, tudo começa e termina com 22 homens, correndo atrás de uma bola, tentando, desesperadamente, ao longo de 90 minutos, fazê-la atravessar por um retângulo, em um ato que se chama gol, que arranca da gente os ruídos mais viscerais, mais primitivos.

Os burocratas nunca entenderão, mas o futebol compreende a vida.

Movido por um conceito de "modernidade", principalmente depois da Copa do Mundo no Brasil, o futebol ganhou tantos ângulos, padrões, tantas análises, tantos números, tantos scoutings que, em certos momentos, a gente até fica em dúvida se se trata de um jogo de bola. O futebol fico tão "importante".

Esse movimento do "futebol científico" não é novo. A antiga URSS já levara ao extremo esse conceito, lá nos idos de 1958, na Copa do Mundo, na Suécia, quando colocaram réguas, esquadros, compassos para compreender o futebol brasileiro e, consequentemente, tentaram parar um gênio, chamado Garrincha, que, com suas pernas tortas e sem combinar com os russos, desmontou todas as teorias com sua intuição.

Longe deste texto ser uma apologia ao retrocesso, ao arcaico, em um movimento nostálgico-piegas. Sem dúvida que o futebol precisa da ciência. O que não se pode fazer é colocar todas as explicações do universo nas Exatas, porque na bola e na vida, o que nos rege é o imponderável, o inexplicável, o metafísico.

Fosse o futebol fruto único e exclusivo da ciência, nunca um Gabiru desmoronaria o Barcelona de Ronaldinho Gaúcho e cia. ltda. Nunca um Garrincha passaria numa peneira: seria descartado, considerado inválido, segundo as estatísticas, encaminhado ao INSS.

O grande problema é que, na ânsia dos cartolas quererem transformar o futebol brasileiro – no sentido de espetáculo – o mais próximo de um produto com selo de exportação, estão forçando a barra, desconsiderando as nossas características, a nossa fragilidade econômica, as nossas discrepâncias sociais, o nosso modo de ser. Estão passando muito creme de avelã no pão de cada dia de nossa realidade.

Sendo o futebol a expressão de um povo, com certeza, esse "new futebol", que exclui os menos favorecidos por meio dos altos valores nos ingressos, que não quer mais exibir os desdentados na televisão, que nos forçam sentar em cadeiras para que assistamos à partida inertes como se um índio cantando para os nobres europeus, esse futebol que não existe bandeira, que não tem bumbo, que não tem bandinha, de fato, não condiz com as nossas raízes.

Tudo se transfigurou quando os mercadores transnacionais da bola venderam-nos, e lucraram muito em cima de um conceito e o padrão de modernidade sobre o nosso espetáculo. Assim, sumiram com nossas arquibancadas, esconderam a geral, embalaram os ambulantes em uniformes de lanchonetes americanizados, agregaram valor através de camarotes, silenciaram os radinhos de pilha. Limparam a paisagem.

Retiraram também de nós o lanche de pernil, aquele suculento, que escorre óleo no canto da boca, e empurraram-nos um pão com creme de avelã, que não combina com as necessidades primevas do brasileiro e a sua relação sentimental com a bola.

Segmentaram, fracionaram, segregaram, dividiram um dos poucos momentos em que as camadas sociais se compreendiam por um só sentimento, o do seu time de coração.

Os que os engravatados não enxergaram, como sempre, é que enquanto tentam domesticar o nosso modo de torcer, os europeus, que antes levavam nossos craques, agora também assimilam nosso antigo modo de vibrar.

Ao ver um jogo do Borussia Dortmund, da Alemanha, é impossível não enxergar que a gente também torcia daquele jeito. Ninguém está aqui vociferando a favor de estádios ou "arenas" – como queiram – sem condições estruturais, obsoletas; mas sim que a atualização seja feita considerando as características do nosso povo.

Os dirigentes não compreenderam que em torno de um estádio existe um povo, um país. E o brasileiro, ligado umbilicalmente ao futebol, movido pela paixão, está longe de ser racional, burocrático, científico. Porém, os tecnocratas, munidos de cifras, estão transformando, gradativamente, os torcedores em coisa, em objeto, em marca, em slogan, em números.

O grande Manoel de Barros, em Retrato do artista quando coisa, já se rebelara diante da coisificação da vida: "Não aguento ser apenas um sujeito que abre portas, que puxa válvulas, que olha o relógio às 6 da tarde, que aponta lápis". No futebol, não aguentamos ser um sujeito que fica sentado, tendo que ser contido em nossas emoções, que tem de assistir uma partida de futebol como se uma ópera. No Brasil, de Garrincha, não é assim.

Se por um lado o creme de avelã tem a função de "embelezar" nossa realidade, em contrapartida, há um efeito colateral, que produz refluxos: muitos torcedores estão se afastando dos novos estádios.

As "arenas" estão cada vez mais minguadas em seus públicos; porque o torcedor brasileiro, além da segregação financeira, não se sente mais parte dessa "modernidade", que chegou ao ponto de transformar o Maracanã, um templo mundial da bola, em um objeto estranho no corpo da cidade e no coração dos torcedores.
 

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Nas mãos da militância

Com que roupa vamos ao samba e à luta?
Luciano Siqueira, no portal Vermelho e no Blog do Renato

"Com que roupa que eu vou/pro samba que você me convidou?", pergunta Noel em uma de sua deliciosas composições. 

A questão se põe a todos os viventes, sobretudo em tempo bicudo como o de agora, em que a crise sistêmica que corrói a economia mundial afeta duramente o Brasil e respinga na casa e no bolso de todos nós.

Aos partidos políticos a questão também se coloca, pois a mais recente “mini” reforma política acertadamente interditou o financiamento empresarial privado de campanhas eleitorais, porém não introduziu o financiamento publico, como seria oportuno e correto.

O fato é que, seja pelos caminhos legalmente estabelecidos, seja por outros caminhos, o poder econômico seguiu interferindo fortemente na cena política, como se viu nas eleições municipais de outubro passado.

Demais, aos partidos situados à esquerda, fundamentalmente vinculados aos trabalhadores e às demais camadas populares da sociedade, a nova situação política decorrente do golpe judiciario-parlamentar-midiático implica mais dificuldades ainda.

É o caso do PCdoB, que em março próximo celebrará 95 anos de atuação ininterrupta.

Antes, nos períodos ditatoriais, alvo da repressão e do impedimento legal; na atual quadra democrática, recorrentemente objeto de tentativas de restrições à presença no Parlamento, via cláusula de barreira e outros artifícios – dentre os quais as limitações financeiras.

A resistência dos comunistas, seu descortino estratégico e sua habilidade e consequência tática têm permitido ao PCdoB persistir em sua senda. 

Mas é preciso ter olhos abertos e sagacidade para compreender - como assinalou Ronald Freitas em recente encontro nacional de dirigente destinado ao trato das financias partidárias - que a nova situação política "impacta fortemente em todos os níveis de atuação do Partido, tornando-a muito mais difícil”, incluindo as suas condições de subsistência.

Isto quando no horizonte se vislumbram desafios ingentes, tanto os relacionados com as eleições gerais de 2018, como os que se põem de imediato na resistência às políticas regressivas de conquistas e de direitos e lesivas à soberania do País, encetadas pelo espúrio governo Temer.

Sustentar a atividade política do PCdoB com base fundamentalmente nos parcos recursos do fundo partidário resultaria numa passividade incompatível com a sua missão histórica e o seu papel político atual.

Nesse cenário, ressalta dentre um rol de diretrizes afins, o "relançamento" da contribuição militante.
Ou seja, desenvolver junto aos militantes a compreensão de que eles é quem são os verdadeiros mantenedores do Partido, através de uma campanha nacional que convença, entusiasme e mobilize milhares de militantes, filiados e amigos.
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15 fevereiro 2017

Sangria

. Segundo estudo divulgado em dezembro pela organização estadunidense Global Financial Integrity, dedicada a investigar e denunciar os fluxos financeiros internacionais ilegais, e o Centro de Pesquisa Aplicada da Escola de Economia da Noruega, desde 1980 os países em desenvolvimento perderam 16,3 trilhões de dólares em transações internacionais.
. A sangria abrange grandes vazamentos nos balanços de pagamentos, movimentação ilícita de dinheiro por meio da falsificação de valores nas faturas de transações comerciais internacionais (trade misinvoicing) e transferências financeiras registradas.
. Esses recursos representam imensos custos sociais pagos pelos cidadãos de todas as nações em desenvolvimento. CartaCapital selecionou os trechos a seguir do importante levantamento, intitulado “Fluxos financeiros e paraísos fiscais: combinando-se para limitar a vida de bilhões de pessoas”. 

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Retrocesso fundiário

Regularização fundiária para quem?
Luciano Siqueira, no Blog da Folha

Vivemos um tempo em que a tergiversação é arma de elevado poder ofensivo, porque reverberada por poderosas mídias, quando se quer defender privilégios e subtrair direitos.
O mote invariavelmente é algo que a todos incomoda – a burocracia estatal, por exemplo. 
Quem não reclama dos processos lentos, complicados e muitas vezes mediados pela figura do despachante para resolver algo relativamente simples, nas relações entre o cidadão e os órgãos públicos?
Daí a roupagem da desburocratizarão via de regra servir de glacê para um bolo indigesto aos que vivem do seu trabalho e não gozam de benesses.
Mesma lógica do “impostômetro”, patrocinado pelos que muito ganham e pouco pagam e se recusam a fazer também um “jurômetro”, porque se beneficiam da ciranda financeira.
É o que acontece agora quando, desde dezembro, o ilegítimo presidente da República Michel Temer encaminhou ao Congresso Nacional a Medida Provisória 759, destinada, entre outros objetivos, a "desburocratizar" a regularização fundiária rural e urbana.
Nada mais falso! 
O que a MP 759 pretende, isto sim, é atropelar os processos de desapropriação passando por cima de dispositivos legais essenciais em defesa dos que ocupam terras antes devolutas, no campo; e nas cidades, extensas e inúmeras áreas de ocupação "irregular", em decorrência da rápida urbanização verificada em nosso país.
Pois a Constituição Federal, em seu artigo 6º, assegura um rol de procedimentos jurídicos, urbanísticos, ambientais e sociais destinados a regularizar assentamentos considerados irregulares e o emitir o título de posso dos seus ocupantes. Em consonância com o caráter social da propriedade territorial urbana e o direito à sustentabilidade ambiental.
Numa apreciação mais atenta, a MP 759 rompe com o texto constitucional, pois adota dispositivos que, na prática, anulam critérios que garantem o interesse social e favorecem aos detentores de capital.
Assim, suprime o tratamento especial às áreas de interesse social por parte do Poder Público, inclusive o dever público de investir em infraestrutura e na requalificação urbanística das áreas, para assegurar condições de habitabilidade.
Em assentamentos “subnormais” (para usar uma expressão muito cara a alguns estudiosos), o licenciamento ambiental há de ser sempre diferenciado quando do processo de regularização fundiária. A MP 759 anula esse tratamento diferenciado, impondo restrições legais, portanto, prejudiciais à população dessas áreas.
Por outro lado, extingue a obrigatoriedade dos loteadores irregulares e grileiros de terras públicas a providenciarem medidas corretivas, transferindo ao poder público essa responsabilidade.
A matéria é complexa, o texto da MP longo e detalhado. Esse breve registro pergunta: desburocratizar para quem?

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14 fevereiro 2017

Repressão

O retrocesso do governo Michel Temer deu mais um passo rumo ao desmonte do Estado Democrático de Direito. Em situação típica de um Estado de Exceção, enquanto aplica o ajuste fiscal, arrochando as contas públicas e cortando os direitos sociais, Temer anunciou que as Forças Armadas serão usadas pelas reprimir movimentos em todo o país. Leia mais http://migre.me/w3wim

13 fevereiro 2017

Ensino rebaixado

A educação e a juventude brasileiras sofreram mais um duro golpe na noite de ontem (8) com a aprovação pelo Senado Federal da Medida Provisória 746/2016 (Projeto de Lei de Conversão 34/2016) que institui a reforma do ensino médio. É o que afirma Maria Izabel Azevedo Noronha em artigo reproduzido no portal Vermelho. Leia mais http://migre.me/w38uJ

Sem limites

O deputado Rogério Marinho (PSDB-RN), relator da reforma trabalhista, anuncia sua pretensão em reduzir o número de sindicatos no Brasil. Além de retirar direitos, quer enfraquecer as organizações de luta dos trabalhadores. Sem nenhuma vergonha!

12 fevereiro 2017

"Revoltados seletivos"

Não há panelaços e bonecos infláveis para os acusados do governo Temer

Janio de Freitas, na Folha de S. Paulo

Agora ficou mais fácil compreender o que se tem passado no Brasil. O poder pós-impeachment compôs-se de sócios-atletas da Lava Jato e, no entanto, não há panelaço para o despejo de Moreira Franco, ou de qualquer outro da facção, como nem sequer houve para Geddel Vieira Lima. Não há panelaços nem bonecos inflados com roupa de presidiário.
Logo, onde não há trabalhador, desempregado, perdedor da moradia adquirida na anulada ascensão, também não há motivo para insatisfações com a natureza imoral do governo. Os que bancaram o impeachment desfrutam a devolução do poder aos seus servidores. Os operadores políticos do impeachment desfrutam do poder, sem se importar com o rodízio forçado, que não afeta a natureza do governo.
Derrubar uma Presidência legítima e uma presidente honesta, para retirar do poder toda aspiração de menor injustiça social e de soberania nacional, tinha como corolário pretendido a entrega do Poder aos que o receberam em maioria, os geddeis e moreiras, os cunhas, os calheiros, os jucás, nos seus diferentes graus e especialidades.
Como disse Aécio Neves a meio da semana, em sua condição de presidente do PSDB e de integrante das duas bandas de beneficiários do impeachment: "Nosso alinhamento com o governo é para o bem ou para o mal". Não faz diferença como o governo é e o que dele seja feito. Se é para o mal, também está cumprindo o papel a que estava destinado pela finalidade complementar da derrubada de uma Presidência legítima e de uma presidente honesta.
Não há panelaço, nem boneco com uniforme de presidiário. Também, não precisa. Terno e gravata não disfarçam.
POLÍTICA, SIM
Se divulgar a delação da Odebrecht, como propõe Rodrigo Janot, pode levar à "destruição de prova útil" –como disse o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima ao repórter Thiago Herdy–, "de outro lado, há o uso de vazamentos para o jogo político, algo que não nos interessa".
Sem esse interesse, não teria havido os vazamentos. Atos cuja gravidade não se confunde com a liberação particular de informações para jornalista. O inaceitável eticamente nos vazamentos da Lava Jato é a perversa leviandade com que torna públicas, dando-lhes ares de verdades comprovadas, acusações não provadas, em geral nem postas (ainda?) sob verificação.
Otávio Azevedo, ex-presidente da Andrade Gutierrez, por exemplo, proporcionou um desses vazamentos: acusou Edinho Silva e outro petista de receberem determinado cheque, relatando até o encontro para a entrega. O então ministro José Eduardo Cardozo localizou e exibiu o cheque de tal pagamento: o destinatário do cheque nominal era um certo Michel Temer. Mas a Lava Jato pusera Edinho Silva, secretário de Comunicação da Presidência de Dilma, nas manchetes e na TV como recebedor do suborno da empreiteira.
Otávio Azevedo e outros ex-dirigentes da Andrade Gutierrez estão chamados a corrigir seus depoimentos, porque a delação da Odebrecht revelou que distorceram ou omitiram. E também foram vazamentos acusatórios. Diz a regra que trapacear nas delações as anula. Não porém para protegidos na Lava Jato, como Otávio Azevedo e Alberto Youssef.
Ficou comprovado que a Lava Jato e mesmo o seu juiz programavam vazamentos nas vésperas dos dias importantes na campanha contra Dilma e Lula. Só por "interesse político" –evidência que ninguém na Lava Jato tem condições honestas de negar.

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