31 janeiro 2021

Fotografia: cena urbana

Não é propriamente um pardieiro, é um edifício residencial antigo do Recife. “Como pode morar tanta gente dependurada nessas casinhas?”, perguntaria meu avô Quincas há  muitos anos atrás… (Foto: LS)

Palmeiras campeão

Assim como Palmeiras x Santos, grandes finais costumam ser sem brilho

Elas devem ser celebradas, poetizadas, para sempre, não analisadas nos detalhes táticos

Tostão, Folha de S. Paulo

 

 

No primeiro tempo, não houve futebol. Com exceção de um lance de Rony, que não deu em nada, não houve uma única boa jogada individual e coletiva das duas equipes. Apenas trombadas, faltas e dura marcação. Os times não conseguiam trocar três passes seguidos. O meio-campo não existia. Dizem que o mundo assistiu à partida. Deve ter ficado perplexo, sem entender nada, se via um jogo errado.

A ansiedade é comum nas decisões e costuma ser benéfica, já que os atletas ficam mais atentos, mais espertos. Mas, quando ela é muito excessiva, os jogadores perdem a tranquilidade, a lucidez e a coordenação motora.

No segundo tempo, melhorou um pouco, mas o jogo continuou muito ruim. Os dois goleiros não fizeram uma única defesa com algum grau de dificuldade em toda a partida. Tudo caminhava para o 0 a 0, apenas com bolas cruzadas para a área e rebatidas pelos zagueiros. No último instante, após a expulsão de Cuca, Rony cruzou, e Breno Lopes, que tinha acabado de entrar, fez o gol de cabeça. Palmeiras campeão!

Parabéns ao Palmeiras, pela campanha e pelo título merecido. Mas, quero homenagear também os perdedores, que, apesar de todas as dificuldades, chegaram à final.

“Depois da hora radiosa, a hora dura do esporte, pois perder é tocar alguma coisa mais além da vitória, é encontrar-se naquele ponto onde começa tudo a nascer do perdido, lentamente” (Carlos Drummond de Andrade).

AS GRANDES FINAIS

As grandes finais de uma competição são jogos que costumam não ter nada a ver com a normalidade e/ou com a realidade. Geralmente, são partidas ruins, truncadas, sem brilho, como a entre Palmeiras e Santos. Fatos que são corriqueiros, fúteis, nessas partidas decisivas, se tornam, com frequência, lendas, mitos. Imagens são repetidas ao longo do tempo, glamourizadas. Verdades são inventadas, e conceitos equivocados são criados. É uma grande festa, um grande acontecimento.

As grandes finais não são partidas para ser analisadas nos detalhes táticos nem julgadas se são ruins ou boas. Existem para ser celebradas, poetizadas, para sempre.

MENINOS DO FUTEBOL

Neste período de pandemia e de estádios vazios, um fato marcante, positivo, tem sido o aumento do número de jovens atuando nas principais equipes brasileiras. Santos, Palmeiras e muitos outros times do Brasil e de todo o mundo possuem vários garotos com talento e com grandes chances de se tornarem jogadores importantes do futebol. São jovens maduros, prontos para atuar em grandes decisões. O fato de os jovens não serem aplaudidos nem vaiados durante as partidas ajudaria nesse crescimento?

Imagino que a presença de tantos jovens talentosos aconteça também em outras atividades. O acesso mais fácil e rápido à tecnologia e à informação facilita essa evolução. É necessário que o Brasil ofereça melhores condições a todos.

Os clubes descobriram o óbvio, que é muito mais eficiente investir nos garotos e colocá-los para jogar do que contratar por preços caríssimos jogadores apenas bons ou medianos.

FURA-FILAS

Vacina sim! Todos precisam se vacinar para todos ficarem protegidos. Ninguém vai virar jacaré. Estou louco para ser vacinado. Tomara que não demore tanto. Tenho de esperar minha vez. Sou um médico aposentado, um jovem idoso de 74 anos. Ninguém pode furar a fila, nem com o pretexto, a falácia, de dizer que é um exemplo para outros vacinarem.

Veja: Da resistência nascerão novas conquistas https://bit.ly/2WZBd34

Clarice e Neruda

Clarice Lispector entrevista Pablo Neruda

Por Carlos Willian Leite, Revista Bula

 

Numa manhã de abril de 1969, a escritora brasileira entrevistou o poeta chileno, que, à época, era considerado um dos mais importantes nomes da poesia em língua espanhola

Cheguei à porta do edifício de apartamentos onde mora Rubem Braga e onde Pablo Neruda e sua esposa Matilde se hospedavam — cheguei à porta exatamente quando o carro parava e retiravam a grande bagagem dos visitantes. O que fez Rubem dizer: “É grande a bagagem literária do poeta”. Ao que o poeta retrucou: “Minha bagagem literária deve pesar uns dois ou três quilos”.

Neruda é extremamente simpático, sobretudo quando usa o seu boné (“tenho poucos cabelos, mas muitos bonés”, disse). Não brinca porém em serviço: disse-me que se me desse a entrevista naquela noite mesma só responderia a três perguntas, mas se no dia seguinte de manhã eu quisesse falar com ele, responderia a maior número. E pediu para ver as perguntas que eu iria fazer. Inteiramente sem confiança em mim mesma, dei-lhe a página onde anotara as perguntas, esperando Deus sabe o quê. Mas o quê foi um conforto. Disse-me que eram muito boas e que me esperaria no dia seguinte. Saí com alívio no coração porque estava adiada a minha timidez em fazer perguntas. Mas sou uma tímida ousada e é assim que tenho vivido, o que, se me traz dissabores, tem-me trazido também alguma recompensa. Quem sofre de timidez ousada entenderá o que quero dizer.

Antes de reproduzir o diálogo, um breve esboço sobre sua carga literária. Publicou “Crepusculário” quando tinha 19 anos. Um ano depois publicava “Vinte Poemas de Amor e Uma Canção Desesperada”, que até hoje é gravado, reeditado, lido e amado. Em seguida escreveu “Residência na Terra”, que reúne poemas de 1925 a 1931, da fase surrealista. “A Terceira Residência”, com poemas até 1945, é um intermediário com uma parte da Espanha no coração, onde é chorada a morte de Lorca, e a guerra civil que o tocou profundamente e despertou-o para os problemas políticos e sociais. Em 1950, “Canto Geral”, tentativa de reunir todos os problemas políticos, éticos e sociais da América Latina. Em 1954: “Odes Elementares”, em que o estilo fica mais sóbrio, buscando simplicidade maior, e onde se encontra, por exemplo, “Ode à cebola”. Em 1956, “Novas Odes Elementares” que ele descobre nos temas elementares que não tinham sido tocados. Em 1957, “Terceiro Livro das Odes”, continuando na mesma linha. A partir de 1958, publica “Estravagario, Navegações e Regressos”, “Cem Sonetos de Amor”, “Contos Cerimoniais” e “Memorial de Isla Negra”.

No dia seguinte de manhã, fui vê-lo. Já havia respondido às minhas perguntas, infelizmente: pois, a partir de uma resposta, é sempre ou quase sempre provocada outra pergunta, às vezes aquela a que se queria chegar. As respostas eram sucintas. Tão frustrador receber resposta curta a uma pergunta longa. Contei-lhe sobre a minha timidez em pedir entrevistas, ao que ele respondeu: “Que tolice”. Perguntei-lhe de qual de seus livros ele mais gostava e por quê. Respondeu-me: “Tu sabes bem que tudo o que fazemos nos agrada porque somos nós — tu e eu — que o fizemos”. A entrevista foi concedida em 19 de abril de 1969 e publicada no livro “De Corpo Inteiro”, Editora Rocco, em 1999.

Clarice Lispector — Você se considera mais um poeta chileno ou da América Latina?

Pablo Neruda — Poeta local do Chile, provinciano da América Latina.

Clarice Lispector —Escrever melhora a angústia de viver?

Pablo Neruda — Sim, naturalmente. Tra­ba­lhar em teu ofício, se amas teu o­fí­cio, é celestial. Senão é infernal.

Clarice Lispector — Quem é Deus?

Pablo Neruda — Todos algumas vezes. Nada, sempre.

Clarice Lispector — Como é que você descreve um ser humano o mais completo possível?

Pablo Neruda — Político, poético. Físico.

Clarice Lispector — Como é uma mulher bonita para você?

Pablo Neruda — Feita de muitas mulheres.

Clarice Lispector — Escreva aqui o seu poema predileto, pelo menos predileto neste exato momento?

Pablo Neruda — Estou escrevendo. Você pode esperar por mim dez anos?

Clarice Lispector — Em que lugar gostaria de viver, se não vivesse no Chile?

Pablo Neruda — Acredite-me tolo ou patriótico, mas eu há algum tempo es­crevi em um poema: Se tivesse que nascer mil vezes. Ali quero nascer. Se tivesse que morrer mil vezes. Ali quero morrer…

Clarice Lispector — Qual foi a maior alegria que teve pelo fato de escrever?

Pablo Neruda — Ler minha poesia e ser ouvido em lugares desolados: no deserto aos mineiros do norte do Chile, no Estreito de Ma­ga­lhães aos tosquiadores de ovelha, num galpão com cheiro de lã suja, suor e solidão.

Clarice Lispector — Em você o que precede a criação, é a angústia ou um estado de graça?

Pablo Neruda — Não conheço bem esses sentimentos. Mas não me creia in­sensível.

Clarice Lispector — Diga alguma coisa que me surpreenda.

Pablo Neruda — 748. (E eu realmente surpreendi-me, não esperava uma harmonia de números)

Clarice Lispector — Você está a par da poesia brasileira? Quem é que você prefere na nossa poesia?

Pablo Neruda — Admiro Drummond, Vinícius, Jorge de Lima. Não conheço os ma­is jovens e só chego a Paulo Men­des Campos e Geir Campos. O poema que mais me agrada é o “Defunto”, de Pedra Nava. Sem­pre o leio em voz alta aos meus amigos, em todos os lugares.

Clarice Lispector — Que acha da literatura engajada?

Pablo Neruda — Toda literatura é engajada.

Clarice Lispector — Qual de seus livros você mais gosta?

Pablo Neruda — O próximo.

A que você atribui o fato de que os seus leitores acham você o “vulcão da América Latina”?

Pablo Neruda — Não sabia disso, talvez eles não conheçam os vulcões.

Clarice Lispector — Qual é o seu poema mais recente?

Pablo Neruda — “Fim do Mundo”. Trata do século 20.

Clarice Lispector — Como se processa em você a criação?

Pablo Neruda — Com papel e tinta. Pelo menos essa é a minha receita.

Clarice Lispector — A critica constrói?

Pablo Neruda — Para os outros, não para o criador.

Clarice Lispector — Você já fez algum poema de encomenda? Se não o fez faça agora, mesmo que seja bem curto.

Pablo Neruda — Muitos. São os melhores. Este é um poema.

Clarice Lispector — O nome Neruda foi casual ou inspirado em Jan Neruda, poeta da liberdade tcheca?

Pablo Neruda — Ninguém conseguiu até agora averiguá-lo.

Clarice Lispector — Qual é a coisa mais importante no mundo?

Pablo Neruda — Tratar para que o mundo seja digno para todas as vidas humanas, não só para algumas.

Clarice Lispector — O que é que você mais deseja para você mesmo como indivíduo?

Pablo Neruda — Depende da hora do dia.

Clarice Lispector — O que é amor? Qualquer tipo de amor.

Pablo Neruda — A melhor definição seria: o amor é o amor.

Clarice Lispector — Você já sofreu muito por amor?

Pablo Neruda — Estou disposto a sofrer mais.

Clarice Lispector — Quanto tempo gostaria você de ficar no Brasil?

Pablo Neruda — Um ano, mas depende de meus trabalhos.

E assim terminou a entrevista com Pablo Neruda. An­tes falasse ele mais. Eu poderia prolongá-la quase que indefinidamente. Mas era a primeira entrevista que ele dava no dia seguinte à sua chegada, e sei quanto uma entrevista pode ser cansativa. Esponta­nea­mente, deu-me um livro, “Cem Sonetos de Amor”. E depois de meu no­me, na dedicatória, escreveu: “De seu amigo Pa­blo”. Eu também sinto que ele poderia se tornar meu amigo, se as circunstâncias facilitassem. Na contracapa do livro diz: “Um todo manifestado com uma espécie de sensualidade casta e pagã: o amor co­mo uma vocação do homem e a poesia co­mo sua tarefa”. Eis um retrato de corpo inteiro de Pablo Neruda nestas últimas frases.

·         Veja: Cartas a um jovem poeta https://bit.ly/39XDD8D

30 janeiro 2021

A dimensão da batalha

Um Poder Legislativo forte e soberano, por Renildo Calheiros

É preciso coragem, ousadia e amplitude para enfrentarmos os intentos autoritários, golpistas e fascistas do ocupante do Palácio do Planalto.

Renildo Calheiros, portal Vermelho

 

A eleição para presidente da Câmara dos Deputados se transformou numa batalha de grande dimensão. O Congresso Nacional tem a função de elaborar leis, fiscalizar e acompanhar o funcionamento dos demais Poderes, por isso a Constituição lhe assegura autonomia e independência. Bolsonaro, que apoiou manifestações que defendiam o fechamento do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Congresso Nacional, prossegue no ataque contra as instituições.

Depois de interferir na Receita Federal, no COAF, no Ibama e na própria Polícia Federal, Bolsonaro agora quer eleger os presidentes da Câmara e do Senado.  É preciso coragem, ousadia e amplitude para enfrentarmos os intentos autoritários, golpistas e fascistas do ocupante do Palácio do Planalto. Nesta perspectiva, um conjunto de partidos e parlamentares de várias posições políticas diferentes, construiu um movimento para garantir a independência, altivez e soberania da Câmara.

Não podemos aceitar que o legislativo seja garroteado e deformado em suas atribuições. Não é possível que as instituições sejam manipuladas no Estado Democrático de Direito. A Câmara dos Deputados não pode ser um “puxadinho”.

Com o intuito de barrar estes absurdos, decidimos apoiar a candidatura do deputado Baleia Rossi à presidência da Câmara dos Deputados, à luz do dia, lastreados em plataforma programática que preserve a soberania do Poder Legislativo, combata o autoritarismo e o obscurantismo, defenda a Constituição e a Democracia. Estamos em defesa do pacto federativo, da vida, saúde, vacina, trabalho e emprego para as pessoas.

Por um Poder Legislativo forte e soberano, vamos juntos com o deputado Baleia Rossi, candidato à presidência da Câmara dos Deputados.

Veja: Trabalho, renda e vacina são destaques na resistência imediata https://bit.ly/35deEMX

Arte instigante

O olhar do artista

Cícero Belmar

 

Não se sinta a última das criaturas caso desconheça o que é Land Art. O termo, pouco usual, ganhou as páginas recentemente quando a artista plástica Juliana Notari compartilhou fotos no Instagram da escultura de sua autoria cujo título é Diva. Uma vagina de 33 metros, esculpida a partir de uma fenda escavada numa montanha da Usina de Arte, na Zona da Mata Sul de Pernambuco.

O mundo veio abaixo por causa da obra de arte. O buraco do terreno foi recoberto por cimento armado e resina vermelha, deixando de ser mera fenda para se tornar a representação artística da genitália feminina. Para alegria e satisfação dos inocentes, ficou de bom gosto, mas os falsos moralistas se escandalizaram.

Machistas de todo o mundo se uniram quando as fotos de um vermelho vivo escorrendo no chão apareceram nas redes sociais. Do Arroio ao Chuí; do Reino Unido (através do jornal The Guardian) aos Estados Unidos (CNN); da Europa (agência de notícias Reuters) à Índia  (Wion News) e China (Yahoo chinês).

Tudo o que a artista plástica Juliana Notari queria era “representar uma vulva que sangra”, para falar de “feridas coloniais” e “traumas de violência”. Mas o olhar da maldade via ali, apenas, uma “coisa proibida”, uma agressão à moral e aos bons costumes.

Ah, sim, Land Art foi um movimento artístico surgido nos anos 1970 baseado na fusão na natureza com a arte. O artista da Land Art aproveita detalhes da natureza, faz pequenas intervenções e transforma aquilo em arte. Como fez a autora da Diva.

Juliana Notari lembra-me Zé Bezerra. A diferença é que ela é moderna e chique; ele, um artista popular. Tenho grande admiração. É um ex-trabalhador rural do Vale do Catimbau, município de Buíque, no Agreste de Pernambuco. Zé Bezerra tem cerca de 70 anos e mora num casebre de taipa. Não permite que se mexa na fauna ou flora da região.

Ao conhecê-lo, conversamos em frente a casa, debaixo de frondoso cajueiro. Zé Bezerra acha que todo artista vê a vida com “olhar diferenciado” e que ele mesmo “virou” um quando percebeu que “enxergava” coisas que as outras pessoas não viam. No meio da conversa, ele me surpreendeu ao perguntar se eu estava vendo, no galho daquele cajueiro, a imagem de  “um cavalo”.

Claro que não. “Você é quem não está enxergando; precisa afinar o olhar. Se eu der um talho aqui, outro ali, e mais dois aqui e aqui, parece um bicho de cabeça para baixo”. Claro, havia um cavalo.

Adquiri duas peças de sua autoria. Ambas feitas com pedaços de galhos de árvore, que ele encontrou no chão.  Uma delas é “uma ave”, feita a partir de um graveto sinuoso. Ele o lixou com cuidado e, sem tirar as características do galho, formatou um pescoço e um bico. Virou um elegante cisne adelgaçado.

A outra peça é um pequeno tronco que Zé Bezerra manteve a cobertura crespa e enegrecida, mas esculpiu a cabeça e o rabo triangulares de um réptil. “Virou” a representação de um lagarto.

Isso é Lang Art. Aprendi com a arte de Zé Bezerra que, além do lado estético, a coisa da representação nos leva a uma identidade com a obra. As peças têm, sobretudo, um componente lúdico, uma “brincadeira”, pois o artista nos propõe ver através do seu olhar.

Juliana Notari foi quem primeiro viu que a fenda poderia ser uma vulva. Zé Bezerra viu, nos galhos secos, os animais.

Nós, arfantes do cotidiano, estamos sempre com pressa, atrasados, atarefados. Acabamos criando uma certa indiferença no olhar. Ao contrário dos artistas, estamos com o olhar endurecido. Vivemos no automático e vemos sem emoção.

Perdemos o melhor da vida. Os artistas servem para nos dizer que o extraordinário da vida está na simplicidade do existir.

*Cícero Belmar  é escritor e jornalista. Autor de contos, romances, biografias, peças de teatro e livros para crianças e jovens. Membro da Academia Pernambucana de Letras. 

Veja: Cartas a um jovem poeta https://bit.ly/39XDD8D

O lugar de cada um

O ex-craque Tostão escreve que "todo atleta precisa encontrar seu lugar de preferência, de referência, sua identidade em campo, onde se sente mais bem acolhido e mais à vontade para exercer o talento". Vale também para quem não é atleta. Vale para a luta política e para a vida.

Socorro!

Veículos da imprensa já divulgam, há meses, números diários da pandemia. Agora passam a divulgar estatísticas da vacinação. Para suprir a criminosa ausência de informações confiáveis por parte do governo federal.

Cazuza: Para inspirar o fim de semana

Veja: Poesia, prazer, amizade e humor na conjuntura 

que for https://bit.ly/2LHBXIh


29 janeiro 2021

Paz e progresso mútuo

O presidente chinês, Xi Jinping, participou, nesta segunda-feira (25), do Evento Virtual da Agenda de Davos do Fórum Econômico Mundial (FEM) a convite do fundador e presidente executivo do FEM, Klaus Schwab e fez um discurso especial via link de vídeo, diretamente de Pequim. Foi, sem dúvida, um discurso para a história, focado nos “valores centrais e os princípios básicos do multilateralismo”. Direito ao desenvolvimento, ecologia, reforma da governança global, vacina contra a Covid-19 como bem público, defesa da paz e dos países mais fracos, nada ficou ausente, inclusive o anúncio de uma China mais assertiva no cenário internacional em prol desses princípios. Leia mais https://bit.ly/3aj0xaj


Arte é vida

 

Niko Pirosmani

Trapalhão

Atores influentes no Mercado se dizem preocupados com a hipótese de Bolsonaro “perder por completo as condições de governar”. Ora, senhores, só se perde o que se tem... Em algum instante da vida o presidente esteve apto?

Mea culpa

Quando o general Ridauto Fernandes, assessor-especial do ministro da Sáude, diz que em Manaus há quase 600 pacientes de Covid-19 na fila de atendimento e que, caso evoluam para quadros graves, “vão morrer na rua”; e que o governo já sabia da situação crítica desde 28 de dezembro, isso significa o quê?

Retrocesso social grave

Desmonte do SUAS fecha a porta para os pobres

Tereza Campelo, Folha de S. Paulo

 

A matéria intitulada “Governo quer reduzir papel de municípios para cortar custo do Bolsa Família”, publicada no UOL, na segunda-feira (25), começa a trazer a público o ardiloso processo de destruição do Sistema Único da Assistência Social (SUAS) e do Cadastro Único (Cadúnico). 

As consequências vão além de dinamitar o pacto federativo organizado em torno dessas duas frentes e interditar os mecanismos de inclusão social da população mais pobre no Brasil. A destruição do SUAS e do Cadúnico já avançava a passos largos. O governo Bolsonaro em 2020 cortou 67% dos recursos de serviços socioassistenciais do SUAS, desidratou os valores repassados aos Estados e Municípios para a gestão do cadastro, e aproveitou o App do Auxílio Emergencial para sucatear o Cadastro e usar um sistema paralelo. 

O argumento de modernizar o Cadúnico, que passaria a uma plataforma digital com autodastramento, é uma confissão do governo. O Cadúnico não é uma plataforma de dados, é uma tecnologia social, reconhecida no mundo todo, e usada como exemplo pelo Banco Mundial e organismos das Nações Unidas. Garante, através do SUAS, uma porta de entrada humanizada e acolhedora para a população mais vulnerável nos 5.570 municípios. Ao ter acesso ao SUAS estas famílias têm identificadas as suas desproteções e passam a ser orientadas inclusive para outros serviços e direitos, como saúde, educação, oportunidades de qualificação. Mais de 20 programas são acessados via Cadastro Único, inclusive programas estaduais e municipais, que adotam essa base como referência.

O conceito que organizou a ação do Cadastro nestes 17 anos foi o de conhecer para incluir. O oposto dos aplicativos implementados pelo Governo Bolsonaro onde parte da população já é excluída pela falta de acesso à internet, à informação e ao manejo de um modelo construído para uma relação baseada na transferência de recursos e não de cidadania e cuidados. 

O próprio Bolsa Família está em risco, à medida que passa a ser mera transferência de renda numa relação beneficiário/banco, excluindo as dimensões de acesso a direitos e políticas públicas. 

O SUAS e o Cadúnico vêm sendo pactuados com governos estaduais e municipais desde 2003. Pactuações foram construídas à cada mudança legal e normativa, a cada nova versão do cadastro, em cada reunião da Comissão Intergestores Tripartite (CIT). O Ministério da Cidadania vai implodir todo este processo, sem qualquer estudo técnico que dê suporte a interrupção de tão bem sucedida política pública, e apartar Estados e Municípios do processo. Não nos enganemos, o fim do SUAS e do Cadunico acabará com o sistema em bases federativas, mas os problemas continuarão na porta dos prefeitos, sem cofinanciamento e sem corresponsabilidade federal. Voltaremos às filas por cestas básicas e ações pontuais e insustentáveis, pari passu com o aumento da pobreza e da fome, que se apresenta ao país.

A matéria do UOL deixa pistas de que o caso é ainda mais grave. No governo Bolsonaro, o Cadastro Único ganhou status de secretaria nacional e passou a ser comandado por uma agente da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) e a Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação (SAGI) do Ministério da Cidadania, por um delegado da Polícia Federal. Tendo técnicos e gestores públicos de qualificação e formação na área social e de Big Data, compatíveis com os mais altos padrões do mundo, por que o Governo Bolsonaro resolve colocar para gerir áreas sensíveis de conhecimento gente do aparato de segurança nacional sem a menor formação para o exercício do cargo? 

As informações que circulam entre os gestores são ainda mais assustadoras. A gestão Bolsonaro vem negociando com Big Techs, como Google e Facebook, para que se tornem os gestores deste novo sistema/aplicativo desumanizado. Colocam assim nas mãos de atores privados, questionados em países como Inglaterra e EUA por terem feito uso de informações privadas, as bases de dados de 114 milhões de brasileiros (este é o conjunto de indivíduos que em algum momento desde 2003 passou pelo Cadastro Único). Sob Bolsonaro vivemos o fim do modelo estabelecido na Constituição Federal de 88 ao tornar inviável o acesso à direitos sociais básicos. A privatização da gestão do banco de dados do Cadúnico torna a população pobre no Brasil ainda mais vulnerável. O país caminha para voltar aos gravíssimos problemas de pobreza e fome do século XX agravados pelos novos desafios da sociedade de vigilância do século XXI.

Veja: Trabalho, renda e vacina são destaques na resistência imediata https://bit.ly/35deEMX

De costas para o povo

Bolsonaro diz que “continuidade do auxílio emergencial quebraria o Brasil”. 


Ou seja, tudo pelo equilíbrio fiscal; aos sem emprego e sem trabalho informal, nada!

28 janeiro 2021

Otimismo

Uma amiga me diz agora que está “em greve”: há 10 dias não vê o noticiário na TV e nos sites para não se irritar. 


Veja, amiga — respondo. E pense que a sociedade brasileira não suportará essa situação por muito mais tempo. Reagirá à altura. A esperança anima.


Um passo adiante

Falta completar o discurso

Luciano Siqueira

 

Seria exagero dizer que as oposições se mostram vazias de propostas alternativas ao desastroso governo Bolsonaro.

Mas é fato que, aos olhos da maioria da população, a insatisfação com o governo e o presidente ainda não se completa com a percepção clara de que algo consistente poderá substitui-lo.

Para além das justas e oportunas reivindicações de vacina contra a Covid-19, retorno do auxílio emergencial e socorro às empresas (sobretudo médias e pequenas), propor a retomada do desenvolvimento é essencial. Em termos compreensíveis pela maioria.

Porque a insatisfação por si mesma não produz a ação consequente. Por onde caminhar e para que completam a consciência social mínima necessária.

Por enquanto há mais sofrimento do que esperança.

Basta ver a queda de braço entre o governo de São Paulo e o governo federal em torno da vacina contra a Covid. Um contrato entre o Butantã e o ministério da Saúde prevê a renovação de pedido de novos lotes do imunizante. O ministro, orientado por Bolsonaro, protela o expediente até a data limite legalmente prevista, na expectativa de desgastar o governador Dória.

Um enredo absurdo para a tragédia sanitária que já vitimou mais de 220 mil brasileiros!

Esse entrevero por si mesmo poderia estar motivando protestos públicos, mas não está. As carreatas do último fim de semana foram um bom sinal e devem ser ampliadas.

É como que uma letargia causada pela decepção (da maioria que votou no presidente irresponsável) e pela descrença estivesse inibindo a população.

Claro que as coisas não mudam na cena política da noite para o dia. E quando isso acontece é porque as contradições já vinham se agudizando na base da sociedade, como fogo de monturo, até a explosão social.

Entre nós há muita coisa queimando, sim; mas as labaredas não parecem tão próximas assim.

E agora que mesmo à direita surgem vozes em favor do impeachment, um mínimo de convergência em torno do pós-impeachment poderia inclusive alterar a correlação de forças na Câmara e no Senado. A base parlamentar de sustentação de Bolsonaro é frágil e volátil.

Nesse cenário, sentar à mesa para uma concertação ampla, plural e focada na retomada do desenvolvimento reforçaria muito a tendência de enfraquecimento do presidente e de fortificação das oposições.

Esse exercício em certa medida tem se traduzido nas mais de seis dezenas de peças encaminhadas à presidência da Câmara dos Deputados pedindo o impeachment, escritas a muitas mãos, todas elas muito bem fundamentadas.

Acrescentar mais consistência a esse movimento em nada atrapalha projetos partidários para 2022. Todos os que resistem se fortalecerão com a vitória da resistência, a diferenciação se fará depois pelo crivo das urnas.

Parece simples, mas não é.

O Brasil vive um instante tão crítico quanto carente de lideranças que polarizem o entendimento nacional.

Sem perder a esperança jamais, vejamos os próximos lances.

Veja: Trabalho, renda e vacina são destaques na resistência imediata https://bit.ly/35deEMX