29 abril 2024

A água que nos tiram

Uso da água pela atividade pecuária no Brasil

O questionamento do nosso sistema alimentar e a necessidade de reduzir o consumo de alimentos de origem animal é um assunto cada dia mais presente
Cecilia Faveri de Oliveira e Ricardo de Sousa Moretti/Le Monde Diplomatique

Entre os eventos extremos previstos no novo regime climático, merecem destaque o agravamento das secas e as variações do regime de chuvas, que podem ter impacto significativo na produção de alimentos. Cresce a importância da água e a disputa por seu uso. Neste contexto de aumento da insegurança hídrica vale analisar o impacto que tem a pecuária no uso desse bem comum que deve se tornar cada vez mais escasso.

A Organização das Nações Unidas (ONU) concluiu que 72% da água fresca doce retirada do planeta é destinada à irrigação. Quando se trata de pegada hídrica – um indicador ainda mais detalhado, que inclui a água verde e cinza, além da água azul –, a atividade agropecuária atinge 92% do total mundial. A classificação da água em azul, verde e cinza consiste em determinar se a água doce, vem, respectivamente, de reservatórios naturais, da chuva ou é usada para diluir efluent es de qualquer atividade humana. 

Como também demonstram alguns números, é importante examinar a relação entre uso da água e a produção de alimentos de origem animal. Antes de 2010, já metade da produção mundial de grãos era destinada à alimentação de animais criados na atividade pecuária, sendo que 85% dessa quantidade era destinada à alimentação de gado em países industrializados.

Como bem coloca o pesquisador Arjen Y Hoekstra, a pegada hídrica dos animais (da pecuária) é, majoritariamente, contabilizada como sendo das colheitas da agricultura, já que são esses os produtos que alimentam os animais; quando o uso de água pela agricultura é calculado, não se diferenciam, em geral, as colheitas usadas para alimentar seres humanos e as usadas para alimentar o gado.

O jornal El País publicou uma matéria citando o maior estudo sobre o assunto publicado até 2019. Entre as conclusões do estudo, estavam os seguintes números: 83% das terras cultiváveis, no globo, são usadas para fornecer alimentos para animais da pecuária, embora esses alimentos fornecessem somente 18% das necessidades calóricas e 37% das proteicas, quando usados para alimentação de seres humanos.

Em relação à água, o estudo citava que a FAO (Food and Agriculture Organization), calculava, em 2019, a necessidade média de 15 mil litros de água para produzir cada quilo de carne bovina. A perda de biodiversidade devido à sua substituição por animais da pecuária é outra preocupação.

Assim, deixar de consumir ou diminuir o consumo de produtos de origem animal pode vir a ser uma necessidade no contexto do previsível agravamento das secas e crises hídricas e da dificuldade crescente de obtenção de água para produção de alimentos. Embora não necessariamente por esse motivo, parte da população brasileira já deixou de consumir qualquer tipo de carne, como mostra pesquisa realizada pelo Instituto Ibope: entre 2012 e 2018, o número de brasileiros que se declaram vegetarianos aumentou 75%, passando de 8,0% da população para 14%[1].

Haverá tensões com relação à redução do consumo de produtos de origem animal, considerando os grandes interesses econômicos envolvidos. Em 2023, o agronegócio gerou mais de US$ 153 bilhões para o Brasil, confirmando uma série de resultados em favor do país na balança comercial que vem crescendo, ao menos, desde o início da série histórica registrada pelo Agrostat, a base de dados de exportações do agronegócio brasileiro.

A exportação de carnes foi responsável por 14% desse total; a maior parte foi relativa aos produtos do complexo da soja, que, em parte, pode ter sido exportado como matéria prima de ração para animais da pecuária. A importância econômica não é apenas do grande produtor do agronegócio: em 2020, a pecuária familiar foi responsável por 70% da criação de caprinos, por 51% da criação de suí nos e 49% de galinhas, além de 31% de bovinos. 

No mundo, como dito acima, a agricultura foi o setor que mais utilizou água retirada (ou seja, água doce fresca oriunda de reservatórios naturais, como rios e aquíferos), totalizando 72%; outros 15% são divididos entre os setores de mineração, pedreiras, manufaturas, eletricidade e gás, suprimento de vapor e ar condicionado, e construção civil.

Contudo, as diferenças entre países podem ser muito relevantes. Características do processo de produção no local de origem das mercadorias são um dos determinantes da pegada hídrica de consumo de cada país[2], junto com quanto os consumidores daquele país consomem. Interfere na pegada hídrica a incidência de consumo de carne na alimentação: por exemplo, nos EUA, o consumo de carne bovina é 4,5 vezes maior do que a média mundial, sendo este o país com maior pegada hídrica de consumo do mundo. O Reino Unido, por outro lado, onde o consumo de carne bovina é menos do que a metade do estadunidense, é o país desenvolvido com menor pegada hídrica de consumo. Além da quantidade de carne consumida, as diferenças nas características de produção da carne bovina, nos dois países, é um dos motivos da diferença da porção da pegada hídrica gerada pelo consumo de produtos de origem animal, já que, nos EUA, a produção de carne bovina é feita com uso muito intensivo de água.

No Brasil, estima-se que cerca de 50% da água para uso setorial (ou seja, de acordo com o uso por setor da economia) é usada na irrigação agrícola[3], e 8,4% é usada diretamente na criação de animais, embora haja dados que apontam que esses valores cheguem a 66,1% e 11,6%, respectivamente.

As indústrias de produtos sucroenergéticos[4] e de papel e celulose são destacadas pela ANA (Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico) na utilização de água, no Brasil, junto com o abate de animais e produtos alcoólicos; a soma de consumo de água pela indústria de transformação (categoria a que pertencem as mencionadas) totaliza 9% do total retirado, no Brasil.

Em termos de quantidade de proteínas produzidas no Brasil, 79% do total de proteínas produzidas aqui no país era usado para fabricar ração de animais, em 2018[5].

De acordo com a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), o abastecimento animal28[6] (considerado um uso consuntivo da água, pois os recursos hídricos utilizados não retornam à bacia hídrica de origem, diretamente) demanda 171 m3/s de água de mananciais por segundo, no Brasil. Vale comparar com o total de água produzida para consumo humano na Região  Metropolitana de São Paulo, que é de 65 m3/s, nos oito grandes complexos de produção que abastecem mais de 20 milhões de pessoas. Além da dessedentação de animais, essa água também é usada para manejar e limpar o gado e instalações rurais, usos cujo consumo deve crescer 28,7% até 2030 (somando 220 m3/s, ou 6,9 trilhões de litros anuais).

Aqui no país, predomina a pecuária extensiva, totalizando 90% das atividades agropecuárias em território brasileiro, sendo usada, principalmente, para criação de gado de corte. É a “criação de animais em grandes áreas, a pasto, com fins de comercialização”, e é considerada uma atividade de baixo investimento. A pegada hídrica dos produtos de origem animal, no Brasil, é maior do que a média global e grande parte dessa diferença se deve ao elevado consumo de água verde, que tem como origem a chuva.

O estudo no qual se baseou uma matéria sobre o assunto no Nexo Jornal, que apresenta esses dados sobre a pegada hídrica, mostra que há grandes diferenças na pegada hídrica dependendo do país e do produto animal considerado. No caso da criação de aves, por exemplo, o uso de água azul é menor no Brasil do que nos EUA, mas o uso de água cinza é semelhante nos dois países, e maior na China e na Índia. Na criação de porcos, o uso de água azul é semelhante no Brasil, nos EUA e na Índia, mas menor na China. Já o uso de água cinza é menor no Brasil do que em todos esses países. Quando se trata da criação de bovinos, o uso de água azul é menor no Brasil do que nos EUA, e o uso de água cinza & eacute; ainda menor. Quando se considera o consumo de água para os diversos tipos de criação animal, constata-se que, no Brasil, a demanda de água para o rebanho bovino ainda é a maior.

GOVERNANÇA DA ÁGUA

No âmbito legal brasileiro, a decisão sobre o uso da água para produtos pecuários depende da emissão da licença ambiental para que o empreendimento possa funcionar, que é emitida pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama, uma autarquia federal vinculada ao Ministério do Meio Ambiente) ou pelos respectivos órgãos estaduais; mas a concessão da licença está condicionada à outorga de uso da água:

“A Lei das Águas (Lei nº 9.433/1997) (Brasil, 1997), que instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos e criou o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (Singreh), tem como um de seus instrumentos a outorga de direito de uso de recursos hídricos, instituindo a necessidade de autorização e cadastro dos usuários pela ANA  (corpos hídricos de domínio da União) ou pelos órgãos gestores de recursos hídricos dos estados e do Distrito Federal (demais corpos hídricos e águas subterrâneas)”.  A Lei de Licenciamento Ambiental exige a apresentação do documento de outorga do direito de recursos hídricos para que o empreendimento seja licenciado. A Resolução 237 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (de 19/12/1997) lista as atividades agropecuárias em seu Anexo I, de forma que o licenciamen to ambiental de empreendimentos desse tipo será sempre de competência estadual, sendo a outorga do uso de água de competência definida conforme o corpo hídrico a ser utilizado.

O órgão do Poder Público responsável pela emissão da outorga do direito do uso de recursos hídricos, para fazê-lo, deve examinar não somente se o balanço hídrico na atividade está correto, mas, também, se o balanço hídrico na bacia hidrográfica permite o desenvolvimento da atividade.

Outro instrumento da Política Nacional de Recursos Hídricos é a cobrança pelo uso desses recursos (inciso IV do artigo 5º da Lei 9.433/1997), utilizada tanto para  captação de recursos hídricos quanto para o lançamento de efluentes nas águas, que já foi implementado em sete Bacias Hidrográficas sob a jurisdição federal, e, de forma total, em sete Estados brasileiros (SP, MG, RJ, PA, GO, RN e SE). No Amapá e no Pará, as Leis que instituíram a cobrança tiveram sua constitucionalidade questionada no Supremo Tribunal Federal, e a Corte decidiu que estavam em desconformidade com a Carta brasileira em ambos os casos, embora não por terem instituído a cobrança em si.

Importa lembrar que a pecuária impacta a água não apenas na questão de seu uso, mas, também, possivelmente alterando seu ciclo, conforme estudo publicado na revista Nature, citado em matéria do jornal The Guardian. Estudos em larga escala sobre o tema ainda não haviam sido feitos, e a maioria dos já publicados era de estudos de caso. O artigo da Nature conclui que a derrubada de florestas tropicais afeta o ciclo hidrológico, diminuindo a precipitaçã o – efeito que aumenta, conforme aumenta a derrubada das florestas (a média calculada por eles é de uma diminuição de 0,1 a 0,25 mm por mês a cada 1% de cobertura florestal). Chambers e Artaxo, por exemplo, comentaram artigo sobre o assunto (que analisou os efeitos do desmatamento em Rondônia no regime de chuvas), concluindo que mudanças na superfície do solo (como desmatamento e extração de madeira) afetam o ciclo da umidade na Floresta Amazônica.

Só no Brasil, aproximadamente dois terços do aumento de uso de terras para a agropecuária, entre 1985 e 2022, decorreu do desmatamento de coberturas originais dos biomas para a criação de pastagens, totalizando cerca de 64 milhões de hectares a mais usados para pastagem, conforme noticia o site Um Só Planeta. Só na Amazônia, o uso do solo para pastagens passou de 13,7 milhões de hectares, em 1985, para 57,7 milhões de hectares, em 2022. Portanto, não se trata, so mente, de analisar a quantidade de água utilizada, mas, também, como outros aspectos da pecuária – no caso, o uso do solo –, impactam nos processos que possibilitam a reciclagem desse recurso na natureza. Por exemplo, modificações na cobertura original do solo na Amazônia têm efeitos na formação dos popularmente chamados “rios voadores” (a grande quantidade de água evaporada na região em virtude das altas temperaturas que chega à Região Centro-Oeste do país na forma de chuvas), como explica Eduardo Gerarque em matéria para o Jornal da Unesp.

Constatações como a do estudo publicado na revista Nature, e os citados na matéria do Jornal da Unesp, reforçam a importância da preservação da cobertura natural do solo e de um procedimento adequado de licenciamento ambiental. Decerto, muitos fatores determinam o impacto ambiental (inclusive, nos recursos hídricos) de um empreendimento pecuário: “por exemplo, uma fazenda com 1.500 ha no Amazonas está na faixa do porte grande, mas a forma pela qual os animais estão distribuídos por essa área irá determinar um potencial poluidor maior ou menor. Outra diferenciação bem-vinda é a separação em bovinos de corte e de leite. Por exemplo, na bovinocultura leiteira, a lavagem do piso e dos equipamentos da ordenha é realizada diariamente, no entanto esse manejo não ocorre na bovinocultura de corte. Por gerar esse efluente de fo rma diária, a produção de leite tem maior desafio ambiental, por isso é importante considerar essa diferenciação na classificação dos portes. Cabe destacar que a maioria dos estados considera que o sistema de pasto (também classificado como extensivo) tem impacto ambiental insignificante, razão pela qual só é exigida a declaração ambiental.”[7]

Mesmo considerando que, em 2035, a segurança hídrica será baixa apenas em partes da região Nordeste e partes do extremo Sul do país, a ANA (Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico) ainda calculou o aumento de risco econômico relacionado aos recursos hídricos para os setores. De fato, a ANA estimou um aumento no risco relacionado aos recursos hídricos para o setor agropecuário: calculado em R$29,86 bilhões, em 2017, esse risco deve passar para R$44,57 bilhões em 2035, caso não haja aumento na oferta de água.

Com relação à possibilidade de escassez hídrica, um relatório da ANA publicado em 2024 trouxe que uma das projeções indica a diminuição em até 40% na disponibilidade hídrica nas principais regiões hidrográficas do país, até 2040. Na Região Sul, a única que deve ter aumento de disponibilidade hídrica até aquele ano, crescem as probabilidades de eventos extremos relacionados à água, como secas e inundações, por conta da alteração nos ciclos hidrológicos.

EXPORTAÇÃO DE ÁGUA

Outro ponto importante é a questão da exportação da água, por causa da pegada hídrica dos produtos vendidos para fora do país. Toda a água utilizada na produção desses bens, assim como o eventual impacto dessa produção no ciclo da água, são um custo arcado pelo país de origem do produto (no caso, Brasil), de forma que é importante avaliar, pelo menos, se o custo ambiental desses produtos é compensado pela receita gerada por sua venda. O Brasil foi o segundo maior produtor mundial de carne bovina, em 2023, e o maior exportador do produto, no mesmo ano. O país ocupou as mesmas posições quando se trata da carne de frango.

A China foi o principal mercado consumidor da carne bovina produzida no Brasil, em 2023, enquanto os Estados Unidos foram o segundo. Se os óleos vegetais ainda são, mundialmente, os produtos que respondem pela maior parte da exportação de água, a magnitude da produção e da exportação brasileiras de carne bovina e outros produtos de origem animal impõe uma reflexão sobre a exportação de água brasileira na forma de venda desses produtos a outros países.

A FAO e a OCDE prevêem um aumento significativo no consumo mundial de carnes até 2030, sendo um dos fatores determinantes para isso o crescimento da renda média no mundo, ainda conforme as duas entidades. A estimativa do relatório formulado por elas é que o consumo mundial de proteínas advindas de carne tenha um aumento de 14% nos próximos dez anos, sendo que a carne de aves deve responder por 41% desse total de proteínas – carne suína, bovina e ovina responderão por 34%, por 20% e por 5%, respectivamente. Assim, as entidades concluem que a média do consumo mundial de carnes deve ser de 35,4 kg anuais por pessoa, em 2030.

Considerando-se o quadro de agravamento das crises hídricas e o fato de o Brasil estar entre os países que mais exportam carnes, é preocupante o cenário associado ao eventual crescimento da produção e da destruição de biomas originais para a atividade pecuária, na perspectiva de suprir o aumento da já elevada demanda atual. O questionamento do nosso sistema alimentar e a necessidade de reduzir o consumo de alimentos de origem animal é um assunto cada dia mais presente.

Cecilia Faveri de Oliveira é chef vegan e cozinheira, criadora e produtora de conteúdo da conta do Instagram @comer_bem_pode_ser_facil; tradutora de inglês para português. Ricardo de Sousa Moretti é professor visitante da Universidade de Brasília e integrante do ONDAS – Observatório Nacional dos Direitos à Água e ao Saneamento.

[1] O Conselho Federal de Nutricionistas (CFN) já emitiu parecer decidindo que, tomadas determinadas providências, a dieta livre de produtos de origem animal é segura em qualquer fase da vida da pessoa, incluindo durante a gestação (Parecer nº 09, de 2022). 2022. parecer_tecnico_vegetarianismo.pdf (cfn.org.br)

[2] Mekonnen e Hoekstra escrevem que produtos de origem animal bovinos feitos pelo processo industrial (com exceção dos laticínios) geralmente, têm uma pegada hídrica menor do que a de produtos animais de pecuária extensiva (por unidade de produto), mas que os primeiros têm maior uso de água azul e de água cinza, ressaltando que os problemas relacionados à água costumam se dar, justamente, por conta da escassez de água azul ou pela poluição das águas, de forma que essa diferença nos tipos de água mais usados conforme o tipo de produção é altamente relevante, sendo importante, também, analisar a taxa de conversão de cada tipo de animal conforme seu tipo de alimentação. P. 06. 2010. The green, blue and grey water footprint of farm animals and animal products. Volume 1: Main Report (unl.edu)

[3] A agricultura irrigada vem se mostrando mais produtiva do que a agricultura de sequeiro; no Brasil, com relação ao arroz, feijão e trigo, e à soja e ao milho: “(…) a produção predominantemente irrigada apresentou, respectivamente, rendimentos 3,7, 2,0 e 1,9 vezes superiores à produção de sequeiro (média 2010-2019).“; “A soja e o milho tendem a apresentar rendimentos adicionais similares sob irrigação (2 a 3 vezes mais que o sequeiro).”. Atlas Irrigação – Uso da Água na Agricultura Irrigada. 2a ed. 2021. Brasília, DF.. P. 14, segunda coluna de texto, e P. 15, segunda coluna de texto, respectiv amente. Atlas Irrigação 2021: Uso da Água na Agricultura Irrigada (2ª edição) (snirh.gov.br)

[4] Também nesse aspecto, as diferenças regionais são relevantes, sendo o reúso de água predominante no cultivo da cana-de-açúcar no Estado de São Paulo.”Entre as regiões de irrigação plena e com déficit, apenas 5% da área cultivada de demanda 56,7% do volume de água para cana-de-açúcar, especificamente em Minas Gerais (31%), Goiás (17,8%), Alagoas (16,2%), Maranhão (12,8%) e Bahia (11,7%). Em contrapartida, o perfil menos hidrointensivo ocupa 95% da área irrigada e fertirrigada no Brasil, sendo que São Paulo lidera em fertirrigação com 68,5% do total.” Agrosaté lite conclui o levantamento da cana-de-açúcar irrigada no Brasil – MundoGEO

[5] De acordo com Mekonnen e Hoekstra os produtos animais, geralmente, têm uma pegada hídrica maior do que as colheitas, por tonelada de produto, o que também ocorre quando se trata proporção de pegada hídrica para caloria – no caso da carne bovina, a relação entre pegada hídrica e caloria é 20 vezes maior na carne bovina do que para cereais e raízes amiláceas; e a pegada hídrica por grama de proteína do leite, dos ovos e da carne de frango é 1,5 vez maior do que a de leguminosas, taxa que chega a 6 vezes quando se trata da comparação entre carne bovina e leguminosas. Apenas quando se trata de analisar a gordura, é encontrada uma pegada hídrica menor em produto de origem animal do que no similar vegetal. Os autores constataram que, no globo, a m édia da pegada hídrica da carne bovina é maior do que da carne de carneiro, de porco, bode e de frango (respectivamente, de 5400 m3 /ton, de 10400 m3 /ton, de 6000 m3 /ton, de 5500 m3 /ton, e de 4300 m3 /ton) . P. 05. 2010. The green, blue and grey water footprint of farm animals and animal products. Volume 1: Main Report (unl.edu)

[6]  O Manual de usos consuntivos da água no Brasil, publicado pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) em 2019 utiliza um conceito mais ampliado de uso de água na pecuária: “O  conceito de dessedentação foi substituído pelo de abastecimento (ou uso) animal para incorporar o uso da água de forma mais ampla, como nas operações lácteas, de limpeza dos animais e das instalações e outras necessidades de manutenção de estruturas rurais. Esses usos adicionais são mais relevantes em rebanhos com tendência de concentração ou (semi)confinamento (galináceos, suínos e vacas ordenhadas).” (FONTENELLE, T. H. et al. Produção animal e usos consuntivos da água no Brasil. In: Produção animal e recursos hídricos: uso da água nas dimensões quantitativa e qualitativa e cenários regulatórios e de consumo. P. 19. 2021.

[7]  PALHARES, J. C. P. Licenciamento ambiental da produção animal no Brasil. In: Produção animal e recursos hídricos: uso da água nas dimensões quantitativa e qualitativa e cenários regulatórios e de consumo. P. 64. 2021.

Leia também: Unidade e luta sempre https://bit.ly/3PSfmGx

UJS, 40 anos

Uniāo da Juventude Socialista celebra 40 anos com Congresso em julho, em São Paulo

O congresso pretende reunir 2.500 jovens de todo o Brasil entre 25 e 28 de julho, sob o tema Defender a Alegria e Organizar a Rebeldia
Cezar Xavier/Vermelho



No ano em que comemora quatro décadas de história, a União da Juventude Socialista (UJS) anuncia seu 22º Congresso Nacional, a ser realizado de 25 a 28 de julho em São Paulo. Sob o tema “Defender a Alegria e Organizar a Rebeldia”, o congresso pretende reunir 2.500 jovens de todo o Brasil para uma série de debates, atividades culturais e reflexões sobre o futuro do movimento socialista no país. 

Rafael Leal, presidente da UJS, expressou entusiasmo com a programação do evento, que promete ser diversificada e envolvente. “A programação a gente vai misturar debates, atividades culturais, uma exposição dos 40 anos da UJS, atividades interativas sobre o socialismo, debates, juris simulados, uma programação bem legal”, comentou Leal.

O tema central escolhido para o congresso, “Defender a Alegria, Organizar a Rebeldia”, reflete a essência da juventude socialista brasileira. “É a chamada do nosso congresso. Defender a alegria, organizar a rebeldia e essa construção do socialismo com essa nossa cara rebelde, alegre, irreverente, que é a cara da juventude e do povo brasileiro”, explicou Leal.

Além de celebrar quatro décadas de lutas e conquistas, o congresso também será uma oportunidade para fazer um balanço do trabalho realizado pela UJS ao longo dos anos. Do último biênio, Leal destacou alguns dos principais feitos da organização, incluindo a derrota da extrema-direita, a eleição de um governo democrático e progressista, a liderança em batalhas estudantis e o crescimento contínuo da UJS.

“Foram anos de intensa luta. Pudemos liderar pela juventude a derrota da extrema-direita, elegemos um governo democrático, progressista, vencemos as principais batalhas dos congressos estudantis, crescemos e consolidamos a UJS pós-pandemia, reestruturamos as direções, fizemos com que a organização fique cada vez maior”, afirmou Leal.

O 22º Congresso Nacional da UJS promete ser um marco na história do movimento da juventude brasileira, reunindo jovens de todo o país para discutir ideias, fortalecer laços e traçar estratégias para o futuro. A expectativa é que o evento ajude a inspirar e mobilizar uma nova geração de militantes comprometidos com a transformação social e a construção de um Brasil mais justo e igualitário.

À flor da pele https://bit.ly/3Ye45TD

No X (ex-Twitter) @lucianoPCdoB

Desculpem o meu pessimismo nesta manhã de domingo: taxar a renda e a riqueza dos muito ricos no Brasil? Com esse parlamento, jamais!

Leia: https://lucianosiqueira.blogspot.com/2024/04/minha-opiniaopolitica_25.html

Urariano Mota opina

Uma escravidão portuguesa, com certeza

É raro, ou melhor, jamais foi visto um país de passado colonial, de exploração secular e assassinatos escravistas contra os povos, vir a público e declarar que cometeu grande vileza contra pessoas e para isso não bastam desculpas
Urariano Mota/Vermelho


 

O subtítulo deste artigo deveria ser o de minisséries: “baseado em história real”. Então vamos à realidade.

Nesta semana, houve uma declaração histórica do presidente de Portugal Marcelo Rebelo de Sousa. Ele afirmou que o seu país é responsável por crimes realizados durante o período da escravidão transatlântica e da era colonial. E que Portugal deve arcar com os custos desses crimes cometidos no passado. “Há ações que não foram punidas e os responsáveis não foram presos? Há bens que foram saqueados e não foram devolvidos? Vamos ver como podemos reparar isso”.  

É raro, ou melhor, jamais foi visto um país de passado colonial, de exploração secular e assassinatos escravistas contra os povos, vir a público e declarar que cometeu grande vileza contra pessoas e para isso não bastam desculpas. Se o passado não pode mais ser evitado, ele pode ao menos ser reconhecido como um crime que não pode ser perdoado. Quando nada, devemos olhar para trás e ver o quanto ideólogos, escritores e políticos tentaram pôr máscaras sobre a escravidão portuguesa.  Diziam-na mais suave, doméstica e domesticável, ou que a culpa, se houvesse (!), seria dividida com os africanos que ganharam bom dinheiro em vender irmãos de humanidade. É preciso reconhecer que tortuoso foi o caminho até a declaração de Marcelo Rebelo de Sousa nesta semana.

Leia tambémCom quantos trilhões se paga a dívida da escravidão?

E, no entanto, a verdade já havia se tornado clara no livro magistral de Jacob Gorender, O Escravismo Colonial. Nele, podemos ver e aprender:  

“Os escravos seguiam acorrentados até os portos, onde aguardavam embarque para a América. Os pombeiros (mercadores de escravos) eram brancos, mais frequentemente mulatos, negros livres ou até escravos de confiança. Por sua parte, a Coroa portuguesa mantinha relações de tutoria ou de aliança com numerosos sobas (chefes de tribo africana), que se incumbiam de abastecer a rede de agentes do tráfico ou, em certos casos, de pagar tributo sob a forma de cativos. Assim, por exemplo, Salvador de Sá impôs ao rei do Congo uma contribuição de 9 mil escravos após a retomada de Angola. Eventualmente, os próprios portugueses empreendiam assaltos diretos em busca de prisioneiros, auxiliados pelos guerreiros Jaga, à semelhança dos bandeirantes paulistas que comandavam índios na caça a outros índios…

Os portugueses – registrou Joannes de Laet – têm um rifão que diz: ‘Quem quiser tirar proveito dos seus negros, há de mantê-los, fazê-los trabalhar bem e surrá-los melhor; sem isso não se consegue serviço nem vantagem alguma’. Como se vê, na frase acham-se presentes os três termos da velha fórmula (trabalho, castigo e alimento), com ênfase luso-tropical nos castigos”.

De passagem, observo que o escritor moçambicano Mia Couto, com a sua costumeira ambiguidade, declarou em entrevista à Folha de São Paulo há quase dois anos:

“Os africanos não foram sempre só vítimas, e a aceitação dessa margem de culpa nos dignifica. Porque não nos reduz a objetos na ação de outros. Foi uma história de dominação e genocídio, sim, mas os africanos não foram sempre objetos passivos”.

Sobre isso, escrevi certa vez: dizer que africanos vendiam escravos africanos, e nesse ponto se deter como uma confissão de culpa, é ocultar que esse comércio foi estimulado, criado ou produzido pelos colonizadores portugueses, que acorrentaram homens, mulheres e crianças como bestas e mercadorias na maior migração forçada de povos da história. Pois é impossível não ver que o tráfico de escravos era a máquina azeitada da colonização para o Brasil. O certo é que essas coisas se pronunciam e se pronunciavam como se fossem nada, mas na verdade eram um recurso de retórica que eu diria fraudulento. Negros escravizaram negros, certo? Sim. Mas nada se falar que brancos levaram negros a vender outros negros como escravos, é esconder a exploração cruel dos traficantes de Portugal.

E sobre isso, melhor é voltar a ver a resposta genial de Jacob Gorender em O Escravismo Colonial:

“O tráfico mercantilista iniciado pelos portugueses introduziu um fator externo destrutivo que paralisou ou perverteu a evolução endógena dos povos negros. A princípio, os próprios portugueses assaltavam aldeias inermes e realizavam capturas…. Os prisioneiros eram trocados por panos, ferragens, trigo, sal, cavalos e, sobretudo, por armas de fogo e munições. A estes produtos de origem europeia juntaram-se, com grande aceitação, os procedentes da América: tabaco, aguardente, açúcar, doces e búzios, estes últimos utilizados como moeda pelos africanos. A difusão das armas de fogo tornou sua posse questão de sobrevivência e obrigou uma tribo após outra a tentar obtê-las por meio da captura de homens e mulheres de outras tribos”.

Essa história perversa, que alguns sociólogos e escritores queriam ver sepultada, desta vez foi descoberta por um eminente político, o presidente de Portugal em declaração pública. Diria quase que a história ressurgiu, mas ela jamais esteve morta. “Há ações que não foram punidas e os responsáveis não foram presos? Há bens que foram saqueados e não foram devolvidos?” Sim, este é um momento histórico. A grita na direita portuguesa já começou. Vergonha, traição à pátria, berram e urram. Mas a ciência se moveu afinal. Saudemos a coragem de Marcelo Rebelo de Sousa.

Nem sempre é o que parece https://bit.ly/3Ye45TD 

Minha opinião

O ideal impossível 

Luciano Siqueira 

 

Gosto de ler. Tudo. De preferência o que me vem escrito em papel, na forma de livro ou revista.

Também diariamente leio em meio digital os principais jornais do país, sites noticiosos e opinativos, publicações estrangeiras em versão traduzida.

Mas ando sem paciência com a profusão de anúncios que se superpoem aos textos nos sites.

Tem de tudo: de cosméticos, que nunca usei nem pretendo usar, ofertas imobiliárias, cursos rápidos para influencers, medicamentos, roteiros de viagem a eletrodomésticos.

Vídeos surgem como que por um passo de mágica e, ao menor descuido, já incorporamos ao laptop ou smartphone um aplicativo ou mesmo uma involuntária compra. 

Bem sei que o ideal — a ausência completa de anúncios — é impossível. Rola muito dinheiro com propaganda, que ajuda a rolar fortunas com o consumo e as vendas.

Por isso, pacientemente, aguardo um aplicativo que automaticamente limpe a tela de intrusos e inconvenientes apelos comerciais.

Afinal, desejo apenas seguir leitor aplicado e desinteressado consumidor.

O mundo cabe numa organização de base https://bit.ly/3U5xlMe

No Banco Central pelo rentismo

Roberto Campos Neto e o terrorismo monetário

É papel do Banco Central administrar as expectativas de mercado, mas o que o presidente da instituição faz é o oposto
Luis Nassif/Jornal GGN



É papel do Banco Central administrar as expectativas do mercado. Administrar expectativas significa atuar para acalmar mercados, reduzir volatilidades, trazer a calma. O que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, faz é o oposto. Diariamente ele procura minimizar as boas notícias, manter o mercado em permanente estados de nervos em relação a dragões de uma inflação que ninguém vê.

Pode ser ignorância. Campos Neto nunca foi reconhecido pelo brilho intelectual. Mais provável é que faça parte da ofensiva bolsonarista para desestabilizar o governo Lula ou, no mínimo, diminuir a possibilidade de vitória em 2026.

Não é normal e o próprio mercado está se dando conta desse terrorismo. Até o jornal Valor Econômico, em geral mais sóbrio, embarcou nessa neurose criada por Campos Neto e deu uma manchete terrorista, atribuindo mudanças do mercado a falas de Gabriel Galípolo – provável sucessor de Campos Neto – em um momento em que as curvas de juros do Brasil espelhavam fielmente as dos Estados Unidos.

Campos Neto vai se desmoralizar por si só. Já há setores bolsonaristas do mercado entendendo que esse terrorismo prejudica a todos. Mas ainda vai fazer muito estrago.

Sem eira nem beira. Será? https://bit.ly/3Ye45TD

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— Antigamente, quando um fato repercutia na opinião pública se dizia "deu na imprensa". — Verdade. Agora se diz "está nas redes sociais". — Novos tempos, amigo.

A vida em espiral https://bit.ly/3Ye45TD

China: indústria automotiva

Por que não há 'excesso de capacidade' no Salão do Automóvel de Pequim?
Global Times


Após um hiato de quase quatro anos, a 2024 (18ª) Exposição Automotiva Internacional de Pequim (Salão do Automóvel de Pequim) começou na quinta-feira. O evento conta com mais de 1.500 empresas expositoras, 278 modelos de novas energias, 117 modelos de estreia mundial e 163 conferências de imprensa, demonstrando as novas tendências de desenvolv imento da indústria automotiva nacional e global da China. Também mostrou ao mundo, da maneira mais vívida, por que a indústria chinesa de veículos movidos a novas energias é líder e o que isso significa para o mundo.

Os visitantes tiveram que esperar mais de 40 minutos na fila antes de seguirem para a entrada principal do salão de exposições. Muitas pessoas fizeram fila para comprar comida no restaurante da exposição. As salas de exposição de algumas montadoras estavam lotadas demais para entrar. Os chefes das "celebridades da Internet" das principais emp resas automobilísticas foram pessoalmente à exposição para competir por popularidade e marketing... Todas essas são manifestações concretas da popularidade do Salão do Automóvel de Pequim deste ano. Neste salão do automóvel em particular, as marcas nacionais da China tornaram-se o esteio e os veículos de novas energias ocuparam o centro das atenções. As pessoas estão cheias de expectativas sobre os novos modelos e tecnologias que as montadoras chinesas irão lançar.

Muitas pessoas notaram que obviamente havia mais estrangeiros neste salão do automóvel, e a atitude dos fabricantes de automóveis estrangeiros também mudou significativamente. BMW, Mercedes-Benz e Audi trouxeram linhas e modelos de expositores de luxo. Executivos de empresas automobilísticas multinacionais não só vieram promover os seus próprios produtos, mas também estudaram cuidadosamente a tecnologia e o design dos veículos chineses de nova energia. Um número considerável de revendedores, fornecedores, meios de comunicação e até proprietários de automóveis estrangeiros compareceram à exposição. Um vídeo de sul-coreanos observando veículos chineses de nova energia se tornou viral na internet. A sociedade chinesa tem uma atitude muito aberta em relação a isto. A abertura sempre foi o lema do Salão do Automóvel de Pequim.

Na era dos veículos a combustível tradicionais, a indústria automobilística da China geralmente desempenhou o papel de apanhadora, mas nunca abandonou os seus esforços para desenvolver marcas e inovações independentes. Baseando-se na acumulação tecnológica obtida ao longo de anos de exploração e nas enormes vantagens da capacidade de produção moderna da China, nos dividendos dos engenheiros e no mercado interno, as empresas automóveis chinesas ganharam uma vantagem na histórica oportunidade de transformação automóvel de combustível para nova energia. Em 2023, as exportações de automóveis da China ultrapassaram o Japão pela primeira vez e ficaram em primeiro lugar no mundo. No primeiro trimestre de 2024, a China exportou 1,3 milhões de veículos, um aumento anual de 33,2%, dando continuidade a esta dinâmica.

O padrão da indústria automobilística global não sofreu grandes mudanças durante muitos anos, e a força motriz fundamental para esta mudança é a revolução tecnológica. Isto é uma coisa normal, mas pôs à prova os nervos excessivamente sensíveis de algumas pessoas no Ocidente. No entanto, não houve nada do "excesso de capacidade", da "demanda enfraquecida" e da "saída da China" que eles esperavam para o Salão do Automóvel de Pequim, nem de "empresas automobilísticas chinesas espremendo empresas automobilísticas estrangeiras". O que as pessoas podem ver é que estão aprendendo com os pontos fortes uns dos outros para alcançar uma cooperação vantajosa para todos. Estão a exaltar a “excesso de capacidade” dos veículos movidos a novas energias na China e a criar uma narrativa ligada a valores e hegemonismo, numa tentativa de conter e estabelecer limites ao desenvolvimento industrial da China. O seu objectivo fundamental é utilizar políticas de protecção comercial e ofensivas da opinião pública para perturbar a dinâmica da indústria chinesa de veículos movidos a novas energias.

Por que o Salão do Automóvel de Pequim é tão popular? Devido à procura do mercado global, especialmente ao elevado interesse e entusiasmo pelos avanços tecnológicos em veículos de novas energias. De acordo com cálculos da Agência Internacional de Energia, para atingir o objetivo da neutralidade carbónica, as vendas globais de veículos de novas energias precisam de atingir aproximadamente 45 milhões de unidades até 2030, 4,5 vezes mais do que em 2022. Isto mostra que a procura global é real e não existe “excesso de capacidade”. A revolução da energia verde pode estimular uma série de remodelações industriais e a concorrência no mercado é cruel, mas não é de forma alguma o tipo de competição de vida ou morte que algumas pessoas no Ocidente têm em mente.  

As empresas chinesas não têm medo da concorrência, mas a concorrência deve ser justa e justa. As empresas chinesas de veículos de novas energias desempenham o papel de colaboradores industriais e concorrentes saudáveis, o que não só beneficia os consumidores, mas também beneficia o grande número de países em desenvolvimento, co mpensando assim o desenvolvimento global insuficiente e desequilibrado da capacidade de produção verde de alta qualidade, e, ao mesmo tempo, encorajar as empresas automóveis mais tradicionais a investir mais energia e recursos na transformação verde. Neste sentido, a abordagem certa para o mundo é trabalhar em conjunto para aproveitar as oportunidades trazidas pelo desenvolvimento das indústrias verdes.

Um mundo em transe https://bit.ly/3Ye45TD

Cida Pedrosa destaca 60 anos da posse de Dom Helder


O ‘Vatican News’, órgão da Santa Sé, com uma média de dez milhões de visitantes por dia, destaca iniciativa da vereadora Cida Pedrosa (PCdoB-Recife), que assinalou em sessão solene na Câmara Municipal os 60 anos da posse de Dom Helder Câmara como arcebispo de Olinda e Recife.

Leia a matéria:

Dom Helder é homenageado em sessão solene da Câmara Municipal do Recife

Dom Helder, então bispo auxiliar da Arquidiocese do Rio de Janeiro, foi nomeado arcebispo de Olinda e Recife no dia 12 de março de 1964, sendo empossado um mês depois. O religioso permaneceu no cargo até 1985 e seu pastoreio foi marcado pela vivência do Evangelho na defesa dos mais pobres e no combate aos crimes da ditadura militar. O ato, que também celebrou os 40 anos do Instituto Dom Helder Camara, contou com a presença do atual arcebispo e segundo vice-presidente da CNBB, dom Paulo Jackson

Os 60 anos do início do pastoreio do Servo de Deus dom Helder Camara (1909-1999) na Arquidiocese de Olinda e Recife foram lembrados, na segunda-feira (22), com uma sessão solene na Câmara Municipal da capital pernambucana. O ato, que também celebrou os 40 anos do Instituto Dom Helder Camara (IDHeC), contou com a presença do atual arcebispo e segundo vice-presidente da CNBB, dom Paulo Jackson Nóbrega de Sousa.

Dom Helder, então bispo auxiliar da Arquidiocese do Rio de Janeiro, foi nomeado arcebispo de Olinda e Recife no dia 12 de março de 1964, sendo empossado um mês depois. O religioso permaneceu no cargo até 1985 e seu pastoreio foi marcado pela vivência do Evangelho na defesa dos mais pobres e no combate aos crimes da ditadura militar.

“Que novas gerações estejam presentes e sintam um pouco daquilo que acontece, nesta noite. Porque passados 60 anos nós precisamos propor e repropor dom Helder Camara para as novas gerações. Talvez seja o grande desafio nosso como fazer com que as novas gerações se encantem com a figura, a proposta e a mensagem de dom Helder Camara”, afirmou dom Paulo Jackson.

A solenidade foi uma proposição da vereadora Cida Pedrosa, que vê no “Dom da Paz” um exemplo de cristão. “Tem pessoas que vêm ao mundo e transformam tudo o que está ao seu redor. E Dom Helder foi isso para todas e todos nós. Minha luta nasce com a palavra de dom Helder, nasce com a palavra de uma Igreja que confia no próximo, que constrói proximidades e que constrói direitos”, disse a parlamentar.

Boa parte da história de dom Helder está preservada no IDHeC. O acervo cultural deixado por ele, desempenha um papel fundamental na manutenção e divulgação de seu legado. O espaço é rico em documentos históricos, fotografias e escritos, oferecendo uma janela para as lutas e esperanças de uma época marcada por intensos desafios, refletindo as mensagens de amor, paz e cidadania que o arcebispo transmitiu ao longo de sua vida.

A mesa da solenidade também contou com a participação do pró-reitor da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), padre Delmar Cardoso; da diretora executiva do IDHeC, Virgínia Pimentel; da presidente do Conselho Curador do IDHeC, irmã Vanda, e do monge beneditino e ex-secretário de dom Helder Camara, Marcelo Barros.

Durante a reunião solene, quatro vídeos foram exibidos celebrando Dom Helder e o IDHeC, dentre eles, depoimentos do padre Julio Lancelotti e o teólogo Leonardo Boff. Estudantes da Casa Frei Francisco, a cantora Cylene Araújo, o grupo Vozes da Resistência, juntamente com a cantora Heloísa, fizeram apresentações musicais. Em outro momento, o padre Fábio Potiguar, capelão da Igreja das Fronteiras, recitou uma poesia.

Para além do horizonte visível https://bit.ly/3Ye45TD 

28 abril 2024

No X (ex-Twitter) @lucianoPCdoB

A rigor, dentre os técnicos dos times da Série A, apenas Tite do Flamengo e Abel Ferreira, do Palmeiras não se verão ameaçados de perder o emprego conforme o andamento do campeonato. O imediatismo certamente prevalecerá mais uma vez.

Para além das faces visíveis https://bit.ly/3Ye45TD 

Arte é vida: Reynaldo Fonseca

 

Reynaldo Fonseca

Nada é por acaso https://bit.ly/3Ye45TD

Cidades: direitos restritos

O direito à cidade e à linha do horizonte

Sobem mais arranha-céus na metrópole. Janelas colam-se a outras. Perde-se não só a vista, mas algo mais profundo: o devaneio. Até o pico mais alto é ofuscado. A memória é demolida pela especulação. E quando se perde a paisagem, vai-se um pouco de nós
Ana Maria de Niemeyer/A Terra é Redonda


“Aí eu fui entender o papel que a arte tem para acordar a memória: é uma forma da gente resistir, é o nosso jeito de cada dia. Como eu sou Guarani, acordar a memória para a gente é sempre acordar pela memória – e a gente entende aquela memória como patrimônio, que são os nossos saberes, nossa forma de não perder as coisas que nos fazem” (Sandra Benites).

Laerte profetiza um futuro próximo para a cidade de São Paulo, no qual prédios cada vez mais altos esconderão as vistas. 

Diferentes especialistas vêm denunciando que o Plano Diretor não está passando por uma revisão “para o povo e com o povo”. Vejamos este trecho: “2. Quem impõe mudanças é a indústria da construção civil de acordo com seus interesses, no caso construir prédios cada vez mais altos. 3. Não interessa o sepultamento de monumentos históricos, da memória histórica e arquitetônica da cidade, o desaparecimento de paisagens. 4. As consequências negativas para a infraestrutura da cidade – transportes, trânsito, abastecimento de água, coleta de esgoto, falta de moradia para a população de baixa renda, impactos ambientais. 6. Modificação drástica no clima da cidade, em consequência, por exemplo, da diminuição de áreas verdes, e da circulação dos ventos pela cidade..&rdq uo;.[i]

Seguindo a deixa aberta pela cartunista Laerte, ainda dentro do campo das artes, trago contribuições de poetas e artistas para abordar questões levantadas no manifesto acima. Começo pelo “[…] sepultamento de monumentos históricos, da memória histórica e arquitetônica da cidade, o desaparecimento de paisagens”. Vejamos como nos auxilia o texto do poeta Guilherme de Almeida (1890-1969) sobre a paisagem que via de sua casa no alto de Perdizes (zona oeste de São Paulo).

A Casa da Colina

– Que ideia a sua, ir morar naquele fim de mundo!

Era o que me diziam os amigos quando, há doze anos, construí a minha casa nesta colina, a oeste do vale do Pacaembu.

Fim de mundo?

–Podia mesmo parecer isso. Rua curva, corcovada, de um só quarteirão e com três casas somente (a minha foi a quarta) separadas por terrenos sem muro nem cerca e eriçados de mato hirsuto e anônimo – era apenas uma estrada rústica. A nota agreste: – ponto alto e deserto, exposto a descabeladas ventanias que assobiavam noite e dia; e, numa árida escarpa, a uns quarenta metros dos meus muros, o ninho de todos os gaviões que erguiam voo -pinhé! pinhé! – e iam, lá longe, fisgar os pardais da Praça da República. A nota fúnebre: – no jardim da casa fronteira, uma lâmpada triste, única iluminação da rua, pendia de um “L” invertido feito de fortes vigas de peroba que formavam exatamente uma forca; e atrás, em pano-de-fundo, parte pobre de um cemitério, uma encosta semeada de túmulos e cruzes. A nota gloriosa : – no horizonte, ao norte, fechando a perspectiva da rua, o recorte pontudo do Jaraguá, o “Senhor do Plaino”, a primeira numeração de ouro no Brasil; e, sobrelevando o apinhado central, a sudeste, o Banco do Estado, ascensional, alvo obus de louça, com a sua ogiva de luz fluorescente nas noites caladas. A nota simbólica: – com o Estádio Municipal, que é toda a alegria da Vida, de um lado, e, de outro, a necrópole do Araçá, que é toda a tristeza da Morte, assim, entre os dois extremos da contingência humana, a minha rua ia indo filosófica, indiferentemente. A nota pessoal: – -aí assentei a minha casa, porque o lugar era tão alto e tão sozinho, que eu nem precisava erguer os olhos para olhar o céu, nem baixar o pensamento para pensar em mim”.[ii] 

Chama a atenção não só os monumentos históricos que o poeta vislumbrava de sua casa, como também o Pico do Jaraguá, marco na paisagem de São Paulo.[iii]

Este pico está em quase todas as obras do artista e professor, Evandro Carlos Jardim (1935). Disse Jardim: “Descobri o Jaraguá numa tarde. Estava andando lá pelos lados da Lapa e eu o vi (…)”.[iv] Desde então, o Pico do Jaraguá passou a ser representado nas suas gravuras em metal, sempre à serviço de sua poética, como parte de uma imagética não factual.

Voltemos no tempo para entendermos, brevemente, parte da história do Pico do Jaraguá.

Em 1825, Hercules Florence (1804-1879), desenhista da Expedição Langsdorff, assim descreve sua descoberta: “ A três léguas de São Paulo vi o monte Jaraguá, palavra indígena que significa rei das montanhas, por ser o ponto mais elevado da região. Ao pé dessa montanha foi descoberta a primeira mina de ouro do Brasil, por volta do ano 1520, fato que despertou o interesse de Portugal pelo Brasil, até este momento pouco apreciado”.[v]

Esta descoberta sinaliza o início de uma história marcada a ferro e fogo pela escravização de negros e indígenas; história de exploração com começo, mas sem fim, pois os exploradores se sucedem até hoje cobiçando, sem cessar, as riquezas da região. Ao ciclo do ouro que iniciou essa exploração, sucedeu-se o do café. Hoje interesses de particulares e do Estado, vêm tentando apropriar-se dos territórios (TIs) dos Guarani-Mybiá do Jaraguá, privatizar o Parque Estadual do Jaraguá, construir condomínios privados cercados, levantar loteamentos clandestinos, etc. Sempre à custa da floresta, de territórios e vidas indígenas.

O Pico do Jaraguá, porém, é um dos principais atrativos turísticos da cidade, tal como se lê abaixo: “O Parque Estadual do Jaraguá abriga um dos últimos remanescentes de Mata Atlântica da região metropolitana de São Paulo. É representado pelo icônico morro do Jaraguá, onde está localizado o Pico do Jaraguá, que representa o ponto mais alto da cidade de São Paulo, com 1.135 metros de altitude e proporcionando ao visitante um vislumbre inusitado e belo da maior cidade da América Latina”.[vi]

O guia estimula as pessoas a visitarem o Pico do Jaraguá para admirar um “vislumbre inusitado e belo” da cidade. Esta atitude de contemplação esconde tudo que incomoda a paisagem única e “perfeita” da cidade de São Paulo. Refiro-me à precariedade da vida nos exíguos territórios (TIs) dos Guarani-Mybiá do Jaraguá situados no sopé do pico (Mybiá é um dos subgrupos do povo Guarani -família linguística tupi-guarani).[vii]

No final da Rodovia dos Bandeirantes já próximo de São Paulo, o Pico do Jaraguá vai ficando cada vez mais para trás. A fotografia a seguir mostra o Pico do Jaraguá a 40 km de São Paulo. 

À medida que se entra na cidade, vê-se um enorme contingente da população que não usufrui de qualquer paisagem. São homens, mulheres e crianças que vivem embaixo de viadutos, nas margens de canteiros de jardins, em cantos das avenidas e ruas da cidade. Quando atrapalham a beleza da maior cidade da América Latina, ocupando lugares cobiçados pela indústria da construção civil, “ameaçando” a “segurança” daqueles /as que passam a pé ou de carro, a prefeitura é eficiente… Garante a “limpeza” do local, evitando que as pessoas retornem, erguendo grades e colocando viaturas policiais.

Enxota as pessoas!

Volto à nota pessoal, que encerra o texto de Guilherme de Almeida, “–aí assentei a minha casa, porque o lugar era tão alto e tão sozinho, que eu nem precisava erguer os olhos para olhar o céu, nem baixar o pensamento para pensar em mim”.

Retorno tambémao cartum de Laerte que abre este texto. Neste uma pessoa sentada em um sofá de seu apartamento, aprecia a vista que via da janela: céu com nuvens, e, ao longe, uma série de prédios. Inesperadamente, um rosto invade a janela e tapa a sua vista.

Duas questões, ao menos, são suscitadas por este acontecimento: a primeira evoca a ausência de paisagem, pois ao habitante do apartamento vizinho só resta o que ele vê e aprecia de sua janela, o sofá alheio; a segunda remete à invasão da privacidade sentida pela pessoa que tem um rosto entrando em sua sala, tapando toda sua visão do exterior.

Esta invasão é uma ameaça à vida dos habitantes da cidade de São Paulo, uma vez que arranha céus cada vez mais altos, são levantados todos os dias praticamente colados a prédios novos ou antigos. Perde-se não só a vista, mas algo mais profundo, o devaneio, o sonho, a memória. A nossa memória segundo, Sandra Benides – citada na epígrafe – é nosso “patrimônio” baseado em nossos “saberes”.

O antropólogo Tim Ingold (1948) vem refletindo sobre a capacidade que idealmente temos, ao circularmos por paisagens – lugares impregnados de histórias- de arquivar em nossa memória experiências e conhecimentos. [viii] Ora, se desaparecerem as paisagens, os monumentos históricos, os pontos de referência da cidade, as áreas verdes, a imensidão infinita do céu com nuvens, estrelas e lua, corremos o risco de perder, não só, grande parte do conteúdo acumulado em nossa memória, como também partes de nossa história e de nossa capacidade de sonhar, de criar poesia. Como resistir? De acordo com a potencialidade evocada por Sandra Benites.

A memória é negada ao povo da rua que mora e circula em um ambiente impregnado de passado histórico, pois a urgência está, antes de tudo, na tentativa de sobreviver dia a dia. Há, pois que refletir sobre o que é paisagem para cada segmento da população paulistana.

Da luz à sombra, da satisfação à frustração, estas talvez sejam as mensagens poéticas transmitidas por Laerte no cartum com o qual fecho estas reflexões.

Ana Maria de Niemeyer é professora aposentada do Departamento de Antropologia da Unicamp.
 

[i] Acessível em: https://www.labcidade.fau.usp.br/lancamento-da-frente-sao-paulo-pela-vida/

[ii] In: folder de apresentação do Museu Biográfico e Literário Casa Guilherme de Almeida. Acessível em: https://www.casaguilhermedealmeida.org.br

[iii] O pico do Jaraguá faz parte da região metropolitana da cidade de São Paulo – zona noroeste do município de São Paulo, bairro do Jaraguá.

[iv] In: MACAMBIRA, Yvoty de Macedo Pereira, Evandro Carlos Jardim, São Paulo: EDUSP, 1998: p.144

[v] FLORENCE, Hercule. Viagem fluvial do Tietê à Amazônia pelas províncias de

São Paulo, Mato Grosso e Grão-Pará: extraído do texto autobiográfico L’Ami des Arts Livré à lui-même/ Hercule Florence -1ª ed. São Paulo: Publicações BBM, 2022: p.35

[vi] Acessível em: https://www.saopaulo.sp.gov.br/conhecasp/parques-e-reservas-naturais/parque-estadual-do-jaragua

[vii] Acessível em: https://trabalhoindigenista.org.br/tenonde-pora-os-muitos-anos-de-luta-por-reconhecimento/

[viii] Ver uma excelente síntese de parte do pensamento de Ingold em BAILÃO, André S. 2016. “Paisagem – Tim Ingold”. In: Enciclopédia de Antropologia. São Paulo: Universidade de São Paulo, Departamento de Antropologia. Disponível em: http://ea.fflch.usp.br/conceito/paisagem-tim-ingold

História viva: https://lucianosiqueira.blogspot.com/2024/04/aos-40-anos-das-diretas-ja.html