01 setembro 2019

Maniqueísmo rebaixado


Binarismo ideológico
Eduardo Bomfim

Não é segredo para ninguém que o mundo, e o Brasil, vai mergulhando de cabeça em uma época de grande convulsão, que acarreta uma desorientação generalizada entre as pessoas, jamais vista na humanidade.

Essa onda de perplexidades, falta de rumos e projetos, reflete por um lado a existência de novos paradigmas nas sociedades a serem codificados, assim como situações manipuladas, a serviço de grandes potências globais, associadas aos interesses do capital financeiro especulativo global.

Dessa forma, o maniqueísmo no campo das ideias nada de braçadas, ditando o que é certo e o que é errado na grande mídia, redes sociais, fomentando polarizações furibundas, ondas inconciliáveis de grupos ativistas extremamente radicalizados, cujas ideias antagônicas encontram-se distantes da análise concreta da realidade concreta. São batalhas entre dogmas.

Conversando com uma lúcida, dileta amiga, ela me disse que não se contrapunha a certas formulações ou visões sobre os acontecimentos em curso, em grupos nas redes sociais, “para não causar rusgas” entre velhos conhecidos.

Chegamos à conclusão que na verdade não se tratavam de “rusgas” mas, o que existe é uma espécie de chantagem moral, beirando ao inquisitorial, já que o ponderador ou discordante, corre o risco de uma condenação, expurgo ou isolamento, seja a sua opinião correta ou não.

Muitos que lerem esse artigo vão concordar, silenciosamente, com essa afirmação, mas não vão externá-la em seus devidos aplicativos, nas redes sociais, por óbvias razões.

Grande parte, ou o total, dessa intolerância extremada vem das cadeias de mídias globais, associadas ao capital rentista internacional, cuja máxima é a quebra do sentido de unidade dos povos, de um clima saudável de convivência democrática, no confronto das ideias sob o prisma da tolerância na troca de opiniões.

Porque não pode, e não deve haver, cotejamento de opiniões, muito menos sociabilidade, razoavelmente cordial. Trata-se de um fenômeno mundial, não só no Brasil.

E na ausência de projetos, rumos, muitas forças políticas, grupos de ativistas, preferem adequar seus discursos ao que prevalece na grande mídia, abdicando do raciocínio crítico sobre os fenômenos em curso, seja por receio de execração, ou por esperteza com vistas a ser acolhido pelas “bolhas” decorrentes dessa guerra de cibernética de Quinta Geração, em pleno vigor.

Uma Guerra de Quinta Geração, que é bastante real, que vem servindo aos desígnios e interesses estratégicos das grandes potências, do capital financeiro especulativo, assim como a própria globalização financeira não é um fenômeno “neutro”, encontra-se associado a esses mesmos interesses.

O binarismo ideológico imposto ao Brasil, que se encontra muito extremado, serve a idênticos objetivos, e prolifera, especialmente, em meio aos estratos da classe média e entre os grupos sociais mais instruídos das elites urbanas, promove a fratura do tecido nacional, deixa à margem as grandes maiorias nativas, que procuram uma forma de sobrevivência em meio a uma onda de desemprego galopante.

Assim como desvia-se das mais graves ações do governo Bolsonaro, tais como as privatizações em massa do valioso patrimônio estatal brasileiro, a reforma da Previdência, cujas consequências serão dramáticas para a sociedade, para os segmentos médios, os trabalhadores, ou seja, a maioria dos 210 milhões dos brasileiros, além da sistemática e brutal criminalização da vida política etc.

É como diz o ditado popular: enquanto se agridem de um lado e do outro da rua, a exemplo dos identitaristas versus os conservadores fanáticos, a caravana do neoliberalismo radical da escola de Chicago, do governo, de Paulo Guedes, passa, quase, incólume. Com a nação dividida, fraturada, movida a fake news, ou notícias propositalmente parciais, com intenções óbvias e palpáveis.

Nesse quadro, é fundamental a união do povo brasileiro em torno de seus objetivos fundamentais, buscar com determinação aquilo que una as grandes maiorias, não o que as dividem.

Promover um projeto de nação para esse novo milênio conturbado e ameaçador, defender a nossa soberania, física e econômica, em um mundo globalizado, absolutamente sem regras, ferozmente competitivo.

Nunca foi tão atual a frase de Albert Einstein: “nenhum problema pode ser resolvido pelo mesmo estado de consciência que o criou. Para poder encontrar novas respostas, é necessário aprender a ver o mundo de uma maneira nova. É preciso ir mais longe”. Estamos diante dessa grave encruzilhada.

[Ilustração: Hilma af Klint]

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