08 julho 2021

Caldeirão aquecido

Muita tensão no ar

Luciano Siqueira, no portal Vermelho


Numa conjuntura marcada pela instabilidade em todas as áreas, produto de uma crise multifacetada que convive com arroubos autoritários e evidente incompetência do presidente da República, há momentos de alta tensão.

Como agora.

Somam-se palavras agressivas e desrespeitosas contra integrantes do STF, proferidas por Bolsonaro numa emissora de rádio de Porto Alegre; depoimentos crescentemente encrencados de autoridades e altos funcionários do governo perante a CPI da Covid; explícita inquietação na cúpula das Forças Armadas, cujos comandantes assinaram em conjunto com o ministro da Defesa nota repelindo comentário (procedente) do presidente da CPI a respeito do envolvimento de militares com a corrupção; e a notável discrepância entre repetidas promessas do ex-super ministro da Economia Paulo Guedes e a permanência persistente das atividades econômicas na incerteza e à meia boca.

Quem paga o pato é a maioria da população, duramente atingida e ameaçada pela pandemia, sofrendo na própria carne as consequências da inflação agora tendente a novo impulso com o anunciado aumento dos preços dos combustíveis e a crise energética.

Em certos momentos assim complexos e tensos, ouvi mais de uma vez do ex-governador Miguel Arraes preocupação com a ausência de um conjunto de lideranças, de diferentes matizes, capaz de construir uma solução para a crise.

No Brasil de hoje é assim.

Tanto nas hostes governistas há uma evidente carência de quadros capazes de conter as inconsequências do presidente, como no campo oposicionista (embora haja progressos nesse sentido), a dispersão ainda é a tônica.

Daí se valorizar o encontro ocorrido entre Luciana Santos e Walter Sorrentino, pelo PCdoB, e o ex-presidente Lula e Gleise Hofmann, por parte do PT, anteontem, que além de consolidar um ponto de vista comum em favor das federações partidárias — instrumento válido para conter o anti pluralismo partidário — reafirmou um ponto de vista comum em favor de uma ampla união de forças para derrotar Bolsonaro.

Demais, um fator que tende a ganhar paulatinamente mais força, a pressão popular nas ruas.

A presença de agentes provocadores ligados à Abin nas últimas manifestações confirma a inquietação e a índole golpista de Bolsonaro e sua trupe, tanto mais quanto crescem o descontentamento da população em relação ao governo e os números recordes de rejeição ao próprio Presidente da República.

Os dias que correm podem ser decisivos no sentido de se forjarem os traços essenciais da situação política em geral, e da correlação de forças em particular, no período que antecede o pleito de 2022.

E, quem sabe, na esteira das conclusões da CPI, até a hipótese do impeachment.

Nessas circunstâncias, cabem firmeza na resistência e uma boa dose de cautela...
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Veja: Na luta política, todo apoio é bem-vindo https://youtu.be/v8gcgIN23b8

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