Lula e Congresso Nacional: que esperar dessa contenda?
Enio Lins
PULULAM POSICIONAMENTOS nas redes sobre a necessidade imperiosa de Lula partir pra cima do Congresso, uma vez que este o está emparedando, chantageando, sequestrando seu governo. Formulações combativas, aguerridas. De fato, o presidente da República está sendo emparedado, chantageado, e tendo seu governo sequestrado sem dó nem piedade pelo Congresso.
ENFRENTAR UM PARLAMENTO HOSTIL e desleal é gesto exigido para quem, democraticamente escolhido pelo povo como presidente da República, esteja sendo impedido de aplicar o programa de governo com o qual foi eleito. É isso aí! Mas o confronto direto é o caminho mais rápido para um impeachment. Foi essa a via trilhada por Fernando Collor e Dilma Rousseff – apesar do antagonismo político e ideológico entre ambos.
VAI DAR CARNE A GATO? Essa é a pergunta clássica da filosofia das ruas. Para escapar do sequestro e conseguir governar numa situação dessas, é-se necessário menos emoção e mais razão, zero empáfia e total malícia, mais capoeira e menos UFC. Lula peitar o parlamento como um todo é tudo o que a extrema-direita golpista mais deseja. E o Congresso que brotou nas urnas em 2022 é esse mesmo, extremamente desfavorável. É esse o barro disponível para o trabalho, é pegar ou largar.
USANDO A CÂMARA como referência para a relação entre situação x oposição, durante a presença petista no Planalto, entre 2003 e 2016, e de 2023 até hoje, nas 15 eleições para a presidência da Câmara Federal, a esquerda elegeu apenas três: João Paulo Cunha (2003), Aldo Rebelo (2005), e Arnaldo Chinaglia (2007). No mais, foram alianças mais ou menos desfavoráveis para Lula e para Dilma, montadas na base do dito fisiologismo, e não sob afinidades políticas-ideológicas. Isso não é produto da vontade pessoal, mas resulta da correlação de forças. Jamais houve uma sintonia partidária entre os resultados das eleições simultâneas para a presidência da República e para o Congresso Nacional nos períodos Lula e Dilma. Certamente, não aconteceu tal relação “redonda” desde a redemocratização, mas FHC e o inominável saíram das urnas em companhia de bancadas menos ariscas.
ESTE CONGRESSO QUE AÍ ESTÁ expressa maior proximidade com 51,57% dos votos em desfavor de Luiz Inácio no primeiro turno e não com os 50,90% que, no segundo turno, elegeram Lula. Com um agravante: em 2 de outubro de 2022, eclodiu uma grande bancada de extrema-direita raivosa e ofensiva como nunca dantes na história deste país. Das urnas proporcionais, minguaram partidos que, outrora, em sendo oposição à esquerda, dispunham alas com propensão ao diálogo democrático, como o PSDB, que encolheu 55% em relação à 2018, caindo de 29 para 13 cadeiras, quando já havia desabado 46%, de 54 para 29 vagas, na comparação entre 2014 e 2018. No caso tucano, ocorre um haraquiri político conduzido por um tresloucado Aecinho Neves, eternamente chapado pela derrota para Dilma. O fato é que Lula enfrenta o Parlamento mais desfavorável para um presidente da República desde a redemocratização.
LUTAR É PRECISO, óbvio. Ulula que, se baixar a cabeça, as forças adversárias assumem o comando total (já têm grande poder, real, via emendas pix); e, se pinotar de peito aberto, o impeachment está sempre à mão, independente de razões legais para tal, conforme a história recente comprova em duas ocasiões. Para preservar a Democracia, mantendo um crescimento econômico sustentável com compromissos social, Lula está cobrado a ultrapassar, mais uma vez, suas próprias marcas de sucesso no item “negociação em situação desfavorável”. E a vós, que lê essas maltraçadas linhas, caso deseje um Brasil com Democracia, compromisso social e crescimento econômico sustentável, está cobrado para um maior engajamento na luta por um Congresso Nacional menos à direita, menos fisiol ógico. E não se esqueça: 2026 já chegou.
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Leia: O busílis da questão https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/06/minha-opiniao_16.html
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