13 outubro 2019

Algo de novo no futebol


Flamengo mostra que outro jeito de jogar futebol é possível no Brasil
Tostão, na Folha de S. Paulo

Independentemente do desenho tático, uma importante estratégia cada vez mais frequente, embora seja ainda pouco usada, é a marcação agressiva sem fazer falta. 
Ela ocorre em todo o campo, desde o goleiro. O time que marca mira quem está com a bola, para, rapidamente, recuperá-la. Para isso, é necessário treinamento, ter disciplina tática e ótimo preparo físico.
Na Copa de 1974, há 45 anos, a Holanda encantou o mundo com essa postura. Onde estivesse a bola, havia vários holandeses. Já como treinador, Johan Cruyff, estrela daquele time, levou a marcação por pressão para o Barcelona, onde se tornou um dos pilares da grande equipe comandada por Pep Guardiola. 
Nos anos 1980, o técnico italiano Arrigo Sacchi fez o mesmo no Milan, com sucesso. Outros treinadores, de vez em quando, tentavam fazer o mesmo e desistiam. Hoje, os dois melhores times coletivos do mundo, Manchester City e Liverpool, marcam dessa forma durante todo o jogo.
O Flamengo, além de tantas qualidades, tem dado show de eficiência na recuperação da bola
O Santos, com Sampaoli, tenta fazer o mesmo. Os times que jogam dessa maneira são mais vibrantes e inflamam o torcedor, que apoia ainda mais a equipe. Cria-se um ciclo positivo de grande entusiasmo. O Flamengo, no Maracanã, é uma festa, um sonho para o torcedor. A vida é sonho. O restante são descuidos.
Milton Leite, no Redação SporTV, perguntou se um técnico brasileiro, com o ótimo elenco do Flamengo, faria o mesmo. Eu não sei. Acrescento outra pergunta, porque Jorge Jesus nunca dirigiu uma outra grande equipe europeia fora de Portugal, como vários treinadores portugueses? 
Jorge Jesus, com sua sinceridade e vaidade, sem falsa modéstia, disse que ele não é um técnico que tem ideias europeias, e sim um treinador que tem ideias diferentes dos europeus. 
A maioria dos times de todo o mundo, especialmente os pequenos, quando jogam contra os grandes, adota a marcação mais recuada, para fechar os espaços, com duas linhas de quatro, às vezes, uma de quatro e outra de cinco, para, depois, contra-atacar. Ficam longe do outro gol.
Essa marcação começou na Copa de 1966, com a Inglaterra. No Brasil, há mais de dez anos, o Corinthians, com Mano Menezes, seguido por Tite e, agora, por Carille, adotou essa postura, com sucesso, que se propagou para todos os outros treinadores brasileiros. Passou a ser uma marca de nosso futebol. Cansou. O torcedor e a imprensa querem outro futebol, ainda mais depois de ver o Flamengo.
Muitos técnicos brasileiros e europeus alternam os dois tipos de marcação, de acordo com o momento do jogo, como Tiago Nunes no Athletico. Porém o que predomina no Brasil é o medo de pressionar e de deixar grandes espaços na defesa. Preferem dar a bola ao adversário e recuar. Não gostam da bola.
No amistoso contra Senegal, o Brasil, durante uns 20 minutos, pressionou quem estava com a bola, ficou com ela, fez um gol e parou. Já o time africano, durante todo o jogo, teve mais posse de bola, mais chances de gol e desarmou com facilidade —o principal motivo de o Brasil não conseguir trocar passes. Fiquei preocupado. A dificuldade não é mais somente enfrentar as melhores seleções do mundo.
O Brasil, a melhor seleção do mundo em amistosos, por jogar com mais seriedade e escalar quase sempre os titulares, não venceu os três últimos compromissos. Empatou com Senegal e Colômbia e perdeu para o Peru. Fiquei ainda mais preocupado. Espero que hoje jogue bem e vença a Nigéria.
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