07 junho 2021

Tite versus Bolsonaro-Caboclo

Dentro e fora das quatro linhas

Luciano Siqueira

 

Futebol e política sempre caminharam juntos, no Brasil e em toda parte do mundo onde esse esporte galvaniza as paixões populares.

A seleção brasileira sempre foi objeto de cobiça de políticos proeminentes, particularmente quando nosso escrete esteve, como hoje está, num bom momento nas competições.

Atribui-se a uma espécie de invasão da concentração da seleção de 1950 por políticos diversos, com seus discursos inflamados comemorando antecipadamente o título que seria perdido para o Uruguai no dia seguinte.

O ambiente entre os jogadores teria sido seriamente abalado.

Com o ex-capitão Jair Bolsonaro não é diferente. Ele e seus asseclas tentam recorrentemente interferir na gestão (sempre questionada) da CBF no sentido de tirarem proveito dos êxitos atuais nas eliminatórias para próxima Copa do Mundo.

Em ambiente conflagrado pela multifacetada crise em que o país está atolado, Bolsonaro se apressou em oferecer o nosso território para a disputa da Copa América, rejeitada pela Colômbia e pela Argentina precisamente em razão do agravamento da pandemia da covid-19.

E, revela-se agora, o presidente da República e seu colega da entidade máxima do nosso futebol, Rogério Caboclo, recém-afastado após denúncia de abuso moral e sexual, já teriam combinado a demissão do técnico Tite logo após o jogo com o Paraguai, substituindo-o pelo ex-técnico do Grêmio de Porto Alegre, Renato Gaúcho, tido como bolsonarista.

Tite é duramente atacado pelas milícias digitais bolsonaristas, que o acusam de ser comunista precisamente por se negar a ser utilizado para promoção do capitão presidente da República.

Mas ainda agora que o selecionado brasileiro, amparado em aparente coesão entre jogadores, técnico e comissão técnica, pretende manifestar sua recusa em disputar o torneio sul-americano em território brasileiro, como está previsto segundo as tratativas entre Bolsonaro e Caboclo.

Se isso se confirmar, estará criado um impasse uma vez que o torneio deve começar no dia 13 próximo e, sobretudo, se abrirá mais uma frente de luta aberta entre Bolsonaro, as instituições e a maioria da população que o rejeita e torce pela seleção canarinho.

Despreparado, negacionista em relação à ciência e ao bom senso, crescentemente isolado e enfraquecido, o presidente da República faz desse entrevero mais uma oportunidade para suas diatribes ruidosas e inconsequentes.

Ponto para resistência democrática, que a cada dia se amplia e se diversifica na esteira dos múltiplos desacertos do presidente e do seu governo.

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Veja: Pelo impeachment ou pelo voto https://bit.ly/3uEnGxa

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