Dentro e fora das
quatro linhas
Luciano Siqueira
Futebol e política sempre caminharam juntos, no Brasil e em toda parte
do mundo onde esse esporte galvaniza as paixões populares.
A seleção brasileira sempre foi objeto de cobiça de políticos
proeminentes, particularmente quando nosso escrete esteve, como hoje está, num bom
momento nas competições.
Atribui-se a uma espécie de invasão da concentração da
seleção de 1950 por políticos diversos, com seus discursos inflamados
comemorando antecipadamente o título que seria perdido para o Uruguai no dia
seguinte.
O ambiente entre os jogadores teria sido seriamente abalado.
Com o ex-capitão Jair Bolsonaro não é diferente. Ele e seus asseclas
tentam recorrentemente interferir na gestão (sempre questionada) da CBF no
sentido de tirarem proveito dos êxitos atuais nas eliminatórias para próxima
Copa do Mundo.
Em ambiente conflagrado pela multifacetada crise em que o país está
atolado, Bolsonaro se apressou em oferecer o nosso território para a disputa da
Copa América, rejeitada pela Colômbia e pela Argentina precisamente em razão do
agravamento da pandemia da covid-19.
E, revela-se agora, o presidente da República e seu colega da entidade
máxima do nosso futebol, Rogério Caboclo, recém-afastado após denúncia de abuso
moral e sexual, já teriam combinado a demissão do técnico Tite logo após o jogo
com o Paraguai, substituindo-o pelo ex-técnico do Grêmio de Porto Alegre,
Renato Gaúcho, tido como bolsonarista.
Tite é duramente atacado pelas milícias digitais bolsonaristas, que o
acusam de ser comunista precisamente por se negar a ser utilizado para promoção
do capitão presidente da República.
Mas ainda agora que o selecionado brasileiro, amparado em aparente
coesão entre jogadores, técnico e comissão técnica, pretende manifestar sua
recusa em disputar o torneio sul-americano em território brasileiro, como está
previsto segundo as tratativas entre Bolsonaro e Caboclo.
Se isso se confirmar, estará criado um impasse uma vez que o torneio
deve começar no dia 13 próximo e, sobretudo, se abrirá mais uma frente de luta
aberta entre Bolsonaro, as instituições e a maioria da população que o rejeita
e torce pela seleção canarinho.
Despreparado, negacionista em relação à ciência e ao bom senso, crescentemente
isolado e enfraquecido, o presidente da República faz desse entrevero mais uma
oportunidade para suas diatribes ruidosas e inconsequentes.
Ponto para resistência democrática, que a cada dia se amplia e se
diversifica na esteira dos múltiplos desacertos do presidente e do seu governo.
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Veja: Pelo impeachment ou pelo voto https://bit.ly/3uEnGxa
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