O escândalo das vacinas, a Miss Brasil e o link com empresários bolsonaristas
Luís Nassif, Jornal GGN
Nas teias
que vão sendo reveladas, do caso das vacinas, surge um novo personagem, ainda
não suficientemente analisado. Se nossos leitores quiserem ajudar nesse
mutirão, no final do post há um roteiro de palavras chaves a serem pesquisadas.
Peça 1 – o personagem Winston Ling
Trata-se de um investidor brasileiro, filho de um imigrante
chinês, Sheun Ming Ling, que fundou a Olvebra e a Petropar, no Rio Grande do
Sul.
Na época da revolução chinesa, fins dos anos 40, um
grupo de empresários chineses, ligados a Chiang Kai-shek, conseguiu
desembarcar trazendo algum patrimônio da China. Sheun era auditor de uma
estatal chinesa. Por aqui, associou-se a outros chineses e adquiriu uma
esmagadora de soja. Fez fortuna no Rio Grande do Sul, fundou uma grande
indústria de óleo de soja, a Olvebra e morreu no ano passado, aos 99
anos.
Nos anos 90 criou o
Instituto Ling, ligado à cultura e responsável por mais de uma centena de
bolsas de estudos a jornalistas promissores, visando prepará-los para teses
conservadoras.
Deixou dois filhos. Um deles, Winston Ling desde 2001 foi morar
em Hong Kong onde trabalha com “importação, exportação e negócios
imobiliários”.
Desde o advento do governo Bolsonaro, WInston passou a
frequentar uma frente de empresários com vários pontos em comum: comércio
de madeira da Amazonia com a China e adesão incondicional ao
bolsonarismo.
Além dele, compõem a frente Luiz Renato Durski Junior, o dono dos
restaurantes Madero – cujo nome foi inspirado na ação original
do seu fundador, que tinha como sócio, na exploração de madeira e nos
restaurantes, o chinês Lu Weiguang, da empresa Anxin, tratado pelos chineses
como “o primeiro chinês dono da floresta amazônica”.
Nos registros da Forbes chinesa, sua empresa, AnXin
Trust Investment, aparece como sendo do ramo imobiliário e finanças. Foi
classificado em 329 lugar entre os bilionários do país com patrimônio de US$
1,1 bilhão
Segundo a China Daily Lu Weiguang, 39, nasceu em uma família de
comerciantes de Wenzhou, província de Zhejiang. Após se formar na faculdade, Lu
tornou-se funcionário do Departamento Administrativo de Pesca de Wenzhou.
Com um empréstimo do pai, fundou a Anxin, que começou vendendo
pisos de madeira e se tornou a líder do setor e a maior importadora de madeira
bruta do país.
Na China, antes da descoberta da Amazônia, o setor envolveu-se
em corrupção grossa com o contrabando da madeira da Birmânia,
ou Miamar. Em 1996, o Conselho de Estado da China proibiu a exploração
comercial de florestas nativas. Ele passou, então, a se voltar para o Brasil.
Com a proibição de exportação de madeira do país, o setor montou um
enorme poder paralelo no país.
Recentemente, Miamar foi alvo de um golpe militar sangrento.
Peça
2 – os negócios da China
A rápida e gigantesca expansão recente da China, abriu espaço
para um capitalismo ainda selvagem, não submetido à regulação. Em vários
setores surgiram empresas, que cresceram rapidamente, e empresários que
passaram a se aventurar pelo mundo, com práticas, muitas vezes, heterodoxas.
Negócios de madeira e de vacina se destacam.
Por volta de 2017, quando Bolsonaro passou a despontar como uma
alternativa conservadora, Winston aproximou-se dele, assim
como Durski Jr, do Madero. Durki é tosco, Lin é internacional, herdeiro de um
grupo com ramificações em vários países.
Já ativo no mercado financeiro, propôs-se a fazer o meio campo
com o mercado e o empresariado. Coube a ele prospectar diversos economistas e,
finalmente, emplacar Paulo Guedes no Ministério de Bolsonaro. Ou seja, sua
relação com o bolsonarismo é muito mais estreita do que a de simples apoiador.
Segundo o site De Olho nos Ruralistas, Winston compareceu à
Câmara para homenagear a deputada bolsonarista Bia Kicis, quando assumiu a
presidência da Comissão de Constituição e Justiça.
Segundo reportagem do site, nas eleições de 2018 o clã gastou ao menos R$
550 mil em doações partidárias. Entre os beneficiados estavam o ex-ministro do
Meio Ambiente, Ricardo Salles, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema.
Enquanto Salles permaneceu Ministro, havia menções de apoio frequentes a ele
por parte de Winston.
“Um levantamento feito
pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) a pedido do Valor Econômico em
março de 2016 listou os cem maiores devedores da Previdência. A Petropar, dos
Ling, aparecia em sétimo lugar no ranking,
com R$ 1,058 bilhão. Ela declarou à época não possuir passivo em aberto e
desconhecer a existência de qualquer processo de cobrança pela via judicial ou
por qualquer outra via.
Peça 3 – a
miss Brasil pouco comportada
Há misses Brasil comportadas e aquelas mais desinibidas. Miss
Brasil 2015, Marthina Brandt é do segundo grupo.
Namorou celebridades,
consta nos sites de fofocas como tendo namorado o dono do Almanara,
e, agora, o herdeiro da
Riachuelo.
Hoje em dia ele se apresenta como influenciadora e inundou a
avenida Paulista em 2016 com palavras
de guerra: “Meu partido é o Brasil!!!! Vamos lá, todos por um país
melhor… Um Brasil sem corrupção, com saúde, educação e respeito”
Em 2016 estava diretamente ligada com a Precisa, a empresa
envolvida nas falcatruas do Ministério da Saúde, na gestão Ricardo Barros. Seu
envolvimento se deu no período em que a Precisa enfrentava processos variados
no Tribunal de Justiça de São Paulo, por não entrega de medicamentos a redes
privadas, e rolos com seguradoras.
No Tribunal de Justiça
de São Paulo há 9 processos envolvendo Marthina Brandt, todos tendo
participação de Francisco Emerson Maximiano, o dono da Precisa
Medicamentos
Os processos envolvem bloqueio de bens, ações de ressarcimento
de seguradoras etc. Uma delas é pelo não pagamento do aluguel de uma cobertura
em Campo Belo, que Maximiano alugou em parceria com um empresário e com
Marthina.
E, aqui, faz-se o link com Winston. Em agosto de 2020, ele
adquiriu da TV Bandeirantes a concessão do concurso Miss Brasil Universo.
E nomeou Marthina Brandt como diretora executiva.
Peça 4 – juntando os fios
Tem-se as seguintes coincidências:
1.
A figura de Miss Brasil, em comum com a Precisa e Winston Ling.
2.
As ligações com a China, a Precisa – e outros aventureiros –
buscando negócios com vacinas chinesas, e Winston Ling trabalhando no comércio
exterior com a China e morando lá.
3.
As enormes facilidades promovidas por Bolsonaro para a
importação de vacinas chinesas e indianas. E a influência de Ling sobre
Bolsonaro, como padrinho da indicação de Paulo Guedes.
4.
Outros bilionários bolsonaristas de alguma forma envolvidos com
a tentativa de importação da vacina, como Luciano Hung e Carlos Wizard
Tem-se apenas fios da meada, não conclusões taxativas. Caberá à
CPI do Covid desvendar essa trama maior.
.
Na relação de Bolsonaro
com as Forças Armadas, separar o joio e o trigo é necessário https://bit.ly/3xOWa13
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