A política como única, difícil e tênue, chance para a paz no Oriente Médio
Enio Lins
Lamento abordar as matanças no Oriente Médio com um intervalo tão pequeno. Mas, na sexta, 27, pela manhã, escrevi para este espaço: “Sem inimigos armados à altura, basta o alto comando israelense decidir onde, quem e quantos vão morrer, e apertar o gatilho”. Naquele mesmo dia, à noite, Bibi Netanyahu, comandante supremo israelense, decidiu que Hassan Nasrallah, líder supremo do Hezbollah, deveria morrer e levando consigo para a eternidade um bocado de gente a seu redor. E assim aconteceu.
RECADOS MORTAIS REPETIDOS
Nasrallah não aparecia em público há anos, vivendo uma vida tão secreta que nem os sobreviventes do comando de sua organização sabiam se ele estava mesmo naquele prédio explodido em Beirute. Varam a madrugada escavando os escombros para confirmar o que Israel sempre soube: o local exato onde o líder da resistência islâmica tinha se refugiado. Os serviços de espionagem israelenses sempre sabem onde está quem eles acham que precisa ser achado. Matar, e quando, é detalhe. Da mesma forma Ismail Haniyeh, líder do Hamas, foi trucidado em Teerã, em 31 de julho deste ano, quando Israel resolveu confirmar aos céticos sua capacidade de alcançar qualquer ponto no Irã, país tido como “principal inimigo”. Não se iludam: Israel possui a maior, mais infiltrada, mais letal, e mais eficiente estrutura terrorista do mundo. Hamas, Hezbollah (e assemelhado s), são pintinhos amarelinhos frente aos carcarás do Mossad.
TRAGÉDIA MUITO FINANCIADA
No bojo da política colonialista israelense, a população palestina está sendo paulatinamente eliminada, os sobreviventes obrigados ao êxodo, suas culturas árabes destroçadas. Mas existem responsáveis outros nesta tragédia histórica. Os sionistas não fariam tamanha lambança, ininterrupta ao longo de um século, sem o apoio incondicional das grandes potências e sem suporte do sistema financeiro global. Um dos marcos dessa milionária articulação é o Fundo Nacional Judaico, criado em 1901, na Suíça, gerido então por um banqueiro judeu russo, Johann Kremenezky, radicado em Viena. Mas o mais emblemático gesto anterior à II Guerra foi firmado entre banqueiros judeus e o governo de Adolf Hitler, em 25 de agosto de 1933, com a assinatura do Acordo Haavara, reunindo a Federação Sionista da Alemanha e as autoridades nazistas num pacote de investimentos na migração de hebreus alemães para a Palestina, através do Banco Leumi (subsidiário da Jewish Colonial Trust). Assim, as maiores potências foram e seguem sendo as financiadoras da ocupação total da Palestina pelos sionistas, em negócios muito lucrativos, especialmente para a indústria armamentista. Para a população nativa, árabe/palestina, tem sido destinado algo como um “programa bolsa-sepultura”.
RESISTÊNCIA SOB ESMAGAMENTO
Jamais existiu chance para a resistência palestina na luta armada, assim como não nunca existiram viabilidades bélicas dos países árabes contra Israel. Obviamente, é compreensível a tremenda revolta das populações originárias da Palestina, mantendo aceso o ódio e o ímpeto da resposta pelas armas frente à ocupação avassaladora executada pelo sionismo. Mas, como Yasser Arafat compreendeu antes de morrer (prematura e suspeitosamente), negociar é o caminho com alguma possibilidade de sucesso para a sobrevivência palestina. O primeiro-ministro israelense que entendeu parecido, Yitzhak Rabin, foi assassinado por um terrorista judeu (que “inexplicavelmente” passou por sua segurança). Tentar a paz na Palestina pela política também é via muito perigosa, sim, mas é a única capaz de chegar a algum lugar que não seja o cemitério.
Leia sobre o sionisno de direita: https://lucianosiqueira.blogspot.com/2024/02/enio-lins-opina_72.html
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