Uma mescla de alegria e medo pode ser a descrição do sentimento geral dos palestinos na terça-feira (1/10) à noite, quando o Irã lançou cerca de 200 mísseis em direção a Israel.

Muitas pessoas aguardavam este momento desde o início da guerra na Faixa de Gaza. Eles acreditavam na importância da interferência externa para apoiar Gaza e os territórios palestinos.

Os locais da queda dos mísseis iranianos nos territórios palestinos se transformaram em cenário de fotos para a posteridade. Os palestinos acreditam que esta pode se tornar uma guerra total.

O assassinato do líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, após a morte do líder do Hamas, Ismail Haniyeh, em julho, criaram o cenário para uma guerra maior.

Aqui, o estado de espírito fez com que muitos palestinos revivessem as lembranças da primeira e da segunda Intifada. Mesmo os que vivenciaram a "Nakba" em 1948 dizem que a história está se repetindo.

A Nakba ocorreu em 14 de maio de 1948, quando Israel declarou sua independência. No dia seguinte, começava uma guerra que fez com que até 750 mil palestinos que moravam naquelas terras fugissem ou fossem expulsos de suas casas.

Nos territórios palestinos hoje em dia, muitas pessoas acreditam que a situação atual indica que a ofensiva de Israel atingiu um novo nível, que poderá ser muito mais sangrento.

Por muitos anos, a Autoridade Palestina destacou a importância de:

  • Promover soluções políticas que suspendam as operações militares.
  • Não entrar em conflitos e buscar soluções políticas que protejam e favoreçam a implementação da solução de dois Estados.

Eles acreditam que este caminho ofereceria aos palestinos um Estado dentro das fronteiras de 1967, ao lado de Israel.

Desde 7 de outubro de 2023, data de início da mais recente guerra na Faixa de Gaza, o presidente palestino Mahmoud Abbas convocou a comunidade internacional a intervir e anunciar um cessar-fogo imediato.

Seus apelos receberam apoio internacional, mas, em terra, as operações militares continuam, reforçando em muitos palestinos a crença de que a possibilidade de uma guerra total na região é muito maior do que as chances de retomada do processo de paz.

Kasra Naji, correspondente da BBC News Persa

A decisão de atacar Israel diretamente do Irã com cerca de 200 mísseis balísticos não foi uma decisão fácil para o Líder Supremo do Irã, Ali Khamenei.

Ele normalmente não toma decisões rápidas sem consideração adequada. Khamenei prefere o que ele próprio chama de "paciência estratégica".

Mas ele e seu governo sofreram intensa pressão dos seus próprios políticos de linha dura e dos membros das suas milícias aliadas na região, para reagir militarmente à eliminação da liderança do Hezbollah por parte de Israel.

Os políticos de linha dura também pressionaram para que o país reagisse à morte de um importante general da Guarda Revolucionária, em um ataque em massa ao seu esconderijo no sul de Beirute.

O Irã sofreu perdas importantes de prestígio em julho, por não reagir ao assassinato do líder do Hamas, Ismail Haniyeh, na capital iraniana, Teerã. Acredita-se que a explosão que o matou tenha sido resultado do trabalho das operações de inteligência de Israel no Irã.

Mas o líder supremo do Irã sabe que seu país não é capaz de enfrentar uma guerra maior.

Militarmente, o Irã não é páreo para Israel, que detém superioridade quase completa sobre o Irã em poderio aéreo. O espaço aéreo do Irã, em grande parte, é aberto para os aviões israelenses.

Economicamente, o Irã está de joelhos, após muitos anos de sanções dos Estados Unidos e de outros países. E, politicamente, o governo é muito impopular entre o povo iraniano.

Poucos cidadãos iranianos apoiariam uma guerra contra Israel, com tantos outros problemas domésticos importantes. Eles reconhecem que a guerra poderia gerar mais sanções e aumento das dificuldades econômicas. Muitos não veem Israel como inimigo.

Mas o líder supremo precisou correr o risco, na esperança de que um ataque controlado contra alvos militares e de inteligência possa causar apenas uma reação similar, que, segundo seus cálculos, o Irã poderá absorver.

Leia: quem semeia a guerra? https://lucianosiqueira.blogspot.com/2024/01/eua-quem-semeia-guerra.html