Luciano Siqueira
Recentemente os jornais deram destaque à decisão da presidenta Dilma de não participar diretamente da campanha eleitoral que se inicia. Por razões políticas e administrativas.
Principalmente por razões políticas, presume-se. Embora nada a impeça de frequentar palanques, certamente prefere não se imiscuir nas disputas entre partidos e coligações de partidos que integram sua base de sustentação, comuns em praticamente todos os municípios do País, inclusive capitais e cidades grandes e médias. Para não gerar ciúmes agora; e descontentamento entre perdedores depois.
Grande número de parlamentares com assento no Congresso Nacional disputará o pleito de outubro, cujos resultados incidirão inevitavelmente sobre o ambiente na base parlamentar da presidenta. Não será exagero admitir um desafio maior do que atual na administração dessa base.
O rescaldo do pleito se dará em duas dimensões. No âmbito dos estados, a inevitabilidade de arranhões e ameaças de fissuras. No âmbito nacional, idem. Transporto o episódio municipal com serenidade e visão larga é um desafio de todos os partidos que apoiam o governo Dilma (e governos estaduais do mesmo campo). Se não é possível agrupá-los num mesmo palanque, como é próprio das disputas locais, que se saiba conviver com as diferenças e os conflitos momentâneos. A abordagem do day after será uma obra de engenharia política.
Nesse cenário, embora não haja nenhum impedimento de ordem legal, a presidenta faz bem ao se eximir de frequentar este ou aquele palanque, assumindo abertamente compromisso com um dos lados. Assim, ela estará acima das rivalidades provincianas e se preservará como líder da ampla coalizão governista.
Isto, no entanto, não impedirá o uso da imagem de Dilma na campanha, associando-a a candidatos das legendas que a apoiam. Pode até ocorrer conflitos jurídicos, se o PT reclamar exclusividade nesse uso, arguindo que a presidenta a ele é filiada – o que certamente denotaria estreiteza, sectarismo e exclusivismo eleitoreiro. Esperemos que isso não aconteça.
De resto, vale salientar que a vinculação do candidato ou candidata A ou B à imagem da presidenta, como também à do ex-presidente Lula, pode ajudar bastante, porém jamais será decisiva. Salvo em alguma corruptela longínqua. Nas capitais e grandes cidades, pesarão, sobretudo, a correlação de forças real e o desempenho de quem postula a chefia do executivo municipal. É aí onde a porca entorta o rabo e se exige essencialmente a defesa de propostas que empolguem o eleitorado.
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