Luciano Siqueira
Publicado no portal Vermelho
O materialismo histórico, fundado por Marx e Engels, que teve no “18 Brumário de Luis Bonaparte” o primeiro exemplo de aplicação à análise de uma conjuntura política determinada; e a abordagem dialética da relação entre condições objetivas e fatores subjetivos, exercitada por Lênin na Revolução Russa de 1917, podem e devem inspirar os comunistas no exame da situação concreta de cada município e na formulação da alternativa tática adequada aos objetivos estratégicos do Partido.
Ditas assim essas assertivas parecem óbvias como referências teóricas próprias de um partido revolucionário. Porém significam mais do que isso, uma vez que um conjunto de variáveis concorre na atualidade para que os comunistas encarem com mais ousadia as eleições municipais.
Complicado? Nem tanto. A referência ao “18 Brumário” vem a propósito da complexidade de conjunturas locais, em diversos municípios importantes do ponto de vista geopolítico, em que importa ir além das aparências e dos fatos imediatos e descer à profundidade dos conflitos e das motivações das forças políticas em presença. Os homens não agem apenas de acordo com o seu desejo subjetivo, mas conforme o entrechoque dos interesses de classe no qual objetivamente estão inseridos, ensina Marx na obra citada.
Já o manejo dialético da relação entre condições objetivas maduras para determinada empreitada e os fatores subjetivos que sobre ela atuam ou podem atuar - destacando-se aí o papel do partido de vanguarda suficientemente sagaz e hábil para unir forças e mobilizá-las em torno de objetivos comuns -, de que Lênin foi mestre inconteste, cabe também como indicação. Na velha Rússia predominantemente agrária e culturalmente atrasada, a vanguarda bolchevique soube explorar competentemente a situação revolucionária parida pela II Guerra e ousou constituir o poder socialista não obstante a existência de forças produtivas e de relações de produção capitalistas incipientes.
Em outras palavras: quando uma corrente política deslinda com exatidão o quadro real de forças e as possibilidades de avançar e se mostra capaz de manobrar taticamente com habilidade e firmeza, pode alcançar conquistas além da sua força real. E, a partir das posições conquistadas, fortalecer-se de modo a responder aos novos desafios daí decorrentes.
A ousadia, nesse caso, nada tem a ver com o voluntarismo dissociado da realidade concreta, cego e inconsequente.
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