25 dezembro 2018

Mulher revolucionária


Luciana Santos: o desafio de ser vice-governadora 

Em entrevista ao jornal Diário de Pernambuco, a presidenta do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) Luciana Santos, deputada federal e vice-governadora eleita do estado pernambucano, diz que ser vice será uma experiência nova e desafiadora.

Vermelho

Às vésperas de entrar para a história como a primeira vice-governadora eleita de Pernambuco, Luciana afirma que está organizando a vida para assumir um papel que diz 'ter plena consciência' das responsabilidades. Ela nem acreditou quando a notícia começou a circular nos bastidores. Mesmo a informação sendo repassada pelo assessor especial do governador Paulo Câmara (PSB), Antônio Figueira, um ano antes da confirmação da chapa majoritária da Frente Popular. “Sempre achei que era conversa de Figueira (risos) e que ele estava querendo afagar a gente”.

Foi dessa forma que a deputada federal e presidente nacional do PCdoB, Luciana Santos, respondeu ao Diario a pergunta sobre as articulações para a escolha do nome dela na disputa para o cargo de vice. Às vésperas de entrar para a história como a primeira vice-governadora eleita de Pernambuco, Luciana afirma que está organizando a vida para assumir um papel que diz “ter plena consciência” das responsabilidades que terá em “um futuro” próximo. 

A parlamentar deixará a Câmara dos Deputados depois de exercer dois mandatos consecutivos. Em 1º de janeiro de 2019, a rotina corrida de ter que se dividir entre Pernambuco, Brasília e São Paulo será um pouco mais branda. O tempo maior será dedicado aos planos que pensa para o estado. “Não tenho exatamente na cabeça o que será esse futuro próximo. Sei que tenho muita afinidade com alguns assuntos com os quais objetivamente convivi”, definiu Luciana, citando suas afinidades com ciência e tecnologia, cultura, além da disposição de atuar, junto com Paulo Câmara, em ações estruturantes para o estado, a exemplo dos projetos hídricos, uma área que, na avaliação de Luciana, o governador tem investido pesado, mas que ainda não capitalizou os dividendos políticos merecidos. Abaixo, a entrevista concedida pela vice-governadora eleita, na qual ela também destaca a oposição ao governo Bolsonaro, a aliança com o PT, a candidatura de Fernando Haddad (PT), entre outros temas.

A senhora vai entrar para a história por ser a primeira mulher a exercer o cargo de vice-governadora de Pernambuco. Qual a sua expectativa para assumir o cargo?

Tenho plena consciência das minhas responsabilidades. É natural que se crie uma expectativa, mas sempre tive mandatos políticos. Já fui duas vezes deputada estadual, duas vezes prefeita de Olinda, secretária de estado no tempo de Eduardo Campos (Tecnologia e Meio Ambiente), durante nove meses. É natural que esse meu papel político faça parte da minha trajetória, da minha experiência na política. Mas é algo (a função de vice) que ainda vou construir politicamente com o governador. Ele vai dizer a expectativa que tem e, ao mesmo tempo, vou construir as coisas sobre as quais tenho refletido (para realizar no cargo). Tenho muita intimidade com política cultural, por conta da experiência em Olinda (de prefeita), com ciência e tecnologia. Na Câmara, fui da Comissão de Ciência e Tecnologia, Informática e Comunicação. São nessas temáticas que devo transitar e dialogar com o estado. 

No cargo de vice-governadora, qual o projeto em execução no estado que a senhora pensa em atuar? 

O investimento em água é uma marca do governo. Uma coisa importante, estruturante. São coisas assim que vou procurar fazer. Acho que o governo não conseguiu capitalizar politicamente, mas é fato que os investimentos foram feitos no setor hídrico. São coisas assim que estou pensando em conversar com o governador. Sobre projetos especiais, estruturantes que ele acha importante e que eu que possa dialogar em Brasília, mesmo sendo o governo de Bolsonaro, que é um governo que somos do bloco de oposição, mas que precisamos ter pontes. Além disso, tem a questão da mulher, que é muito simbólicos. Somos o estado das heroínas de Tejucupapo, a expressão da mulher colonizadora. A história oficial nunca conseguiu dar a devida dimensão à luta política que as mulheres tiveram. Não só na luta política, mas de maneira geral. Na arte, na ciência, que é um desafio permanente na luta feminista. A questão da violência tem muita subjetividade da cultura machista. O homicídio que, por si só, não é aceitável, mas são homicídios com requinte de crueldade, com muito ódio. São subjetividades que você tem que compreender melhor para a gente ter uma política nesse sentido.

O PT ficou fora do bloco de oposição a Bolsonaro na Câmara. A parceria com os petistas foi só na campanha?

Não é bem assim. Foi formado um bloco partidário parlamentar. Sei que esta é uma leitura (de distanciamento com o PT) que interessa a muitos interlocutores do bloco, que seja desse jeito. E isso acontece por vários motivos. O PT, nas alianças, tem uma prática, às vezes, exclusivistas. Então, fica todo ali querendo marcar uma posição. Mas, outros blocos já existiram nesses termos. Já se fez um bloco de PSB/PDT/PCdoB em pleno governo Lula. Por que? Porque o PT é grande demais. Tem a maior bancada do Congresso e vai continuar tendo na nova legislatura. Quando você faz o bloco interessa ter ferramentas regimentais que facilitam o movimento desse grupo. Ter espaço nas comissões, na Mesa. O bloco de oposição tem que ser além de PT, PSB, PCdoB, PROS. A oposição tem que ser o que a campanha de Fernando Haddad se tornou no final. Tem que ser de personalidades, nas áreas acadêmica, cultural, empresarial, jurídica, todos aqueles que sejam democráticos. Vamos precisar disso. 

Na sua avaliação, o PT errou em ter demorado a confirmar o nome de Haddad para a disputa presidencial?

Errou. E a gente disse isso várias vezes nas conversas bilaterais. Sempre dissemos que o candidato tinha que ser Haddad. Existe um sentimento latente que Lula sempre foi maior que o PT. Existe uma memória afetiva que o tempo de Lula foi bom, mas em não sendo Lula (candidato), você tem que preparar outro em tempo suficiente para que as pessoas compreendam.

A senhora acha que a oposição vai precisar se reinventar para se contrapor ao governo Bolsonaro?

Sem dúvida. É uma nova ordem. Nesses 500 anos de República nunca teve uma extrema direita eleita. Tivemos generais, no tempo do golpe, mas a extrema direita eleita nas urnas é a primeira vez no país e com um candidato que tem uma narrativa agressiva.

E como a oposição vai enfrentar isso?

Primeiro, desconstruindo o que a gente não conseguiu desconstruir na campanha eleitoral. Que é um pouco que a vida vai revelar que ele não tem nada de ser antissistema. Ele é o cara do sistema e da velha política. Vai ser um desafio e a vida vai revelando porque ele não tem governabilidade se não fizer essas concessões. É um negócio meio truculento. São os meninos (filhos de Bolsonaro) que fazem as entrevistas com os possíveis futuros ministros. E os meninos ameaçam quem fala contra o pai nas redes sociais. Um negócio totalmente fora do padrão civilizatório. O que tem que prevalecer é a constitucionalidade, a Constituição Brasileira e o próprio presidente tem afirmado isso. É muito estranho em 30 anos da Constituição os próprios representantes das instituições, todos eles, afirmando ser necessário defender a Constituição. E falam isso como que se dirigissem a Jair Bolsonaro.

Como será a convivência com Paulo Câmara?

Sou admiradora dele. Conheço Paulo do tempo que eu era secretária. Ele sempre foi discreto, competente, sério, concentrado no que faz e revelou isso nesses quatro anos. Nunca quis ser candidato a nada. Nunca quis percorrer nenhuma carreira política, no entanto, foi o escolhido de Eduardo (Campos). Talvez, por isso, mesmo. Porque ele não era movido pela vaidade e talvez porque Eduardo achasse que, diante da crise que atravessava o estado, seria melhor ter alguém do perfil dele. A minha expectativa é a melhor relação possível. Claro que será uma construção política cotidiana. Acho que vai ser uma ótima experiência e um aprendizado muito grande para mim. Por mais que eu viva Pernambuco, tem muitas coisas que preciso mergulhar. Vai ser uma experiência nova, desafiante e enriquecedora.

A senhora vai continuar na presidência nacional do PCdoB, conciliando com a função de vice-governadora?

Fui reeleita presidente. Só se elege presidente de partido em congresso que acontece de quatro em quatro anos. Fui eleita três anos e meio atrás em uma conferência extraordinária, entre um congresso e outro. O congresso que me elegeu foi o do ano passado. Fui eleita presidente do partido no ano passado, embora já tenha três anos e meio de presidência. O próximo congresso é só daqui a quatro anos. Teremos um congresso extraordinário agora por conta da incorporação do PPL, mas congresso mesmo, só daqui a quatro anos. Certamente até lá vou continuar presidindo nacionalmente o partido e acho que isso é bom para o estado pelo trânsito que temos na política, com os possíveis presidentes da Câmara, do Senado e dá força ao nosso campo político. 

E no estado, o PT vai participa do segundo mandato de Paulo Câmara?

Acho que vai. Agora, não sei onde. Não tenho a mínima ideia do espaço que será ocupado pelo PT. Mas o PT participou da chapa do Senado. Não é pouca coisa. O senador do PT (Humberto Costa) foi o mais votado. É natural que participe do governo. 

Qual o balanço que a senhora faz dos mandatos na Câmara?

No geral foi um mandato muito positivo, que procurou dialogar com tudo que era estratégico para Pernambuco. Sempre fui da que encheu o saco, mesmo no governo Dilma, para pedir recursos para a adutora (do Agreste). Tudo aquilo que era mais estruturante para Pernambuco a gente ficava fazendo pressão. A Transnordestina, por exemplo. Fora as coisas mais próprias do mandato, como a questão feminina. Tivemos um mandato muito focado para essas questões, emendas para secretarias, iniciativas de debates, a PEC das Domésticas, as 30 horas para enfermeiras, que a grande maioria é de mulheres. Fui presidente da Frente Parlamentar em defesa da cultura. Fazer do ponto da cultura uma política de estado foi uma grande vitória da frente. Infelizmente a cultura do estado pode virar pó se não tiver vontade política. Faço um balanço positivo. Na ciência e tecnologia podemos citar o debate do Marco Civil da Internet, da PEC da Ciência e Tecnologia, que mudou muito a Constituição para flexibilizar as ações na área, facilitando muito a produção científica. Tem a questão da resistência do impeachment (da ex-presidente Dilma). Foi um mandato pautado pela coerência e pela combatividade.(
Fonte: Diário de Pernambuco)

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