07 abril 2019

Jogadores fora da curva


Não se deve tirar conclusões definitivas sobre jogadores em atividade
Ainda acho que Neymar tem mais talento que Mbappé, mas isso não basta
Tostão, Folha de S. Paulo

No meio de semana, pela LibertadoresPalmeiras, Flamengo e Grêmio, três dos mais festejados times brasileiros, foram derrotados e bastante criticados. Apesar de serem superiores aos adversários, não houve nenhuma zebra.
As principais equipes brasileiras, incluindo o Cruzeiro e outras, possuem muitos bons jogadores, mas nem tanto. Nenhum é titular da seleção, e raríssimos estarão entre os reservas na Copa América, a não ser que Tite queira fazer média com o torcedor.
A badalação a alguns jogadores cria uma expectativa acima da realidade, e a decepção aumenta.
O Flamengo, para afastar o conceito de que a equipe do ano passado era frouxa, passou a ser excessivamente agressivo, violento, como nas expulsões de Gabigol e Bruno Henrique, nos dois últimos jogos. Deixou de jogar futebol.
Como é habitual tentar achar uma única razão para as derrotas, como a contra o Peñarol, o motivo encontrado foi a manutenção de Arrascaeta no banco de reservas. Ele poderia ter entrado.
Porém, mesmo sendo um ótimo jogador, é do mesmo nível dos titulares Bruno Henrique e Diego.
O Palmeiras, contra o San Lorenzo, deixou, desde o início, enormes espaços entre o meio-campo e a defesa. O jogador argentino, livre, recebeu a bola, correu com ela, pensou mil vezes no que fazer e finalizou de fora da área, enquanto os zagueiros estavam colados à grande área. No ano passado, sofreu um gol parecido contra o Boca Juniors.
Esse mau posicionamento é habitual na maioria dos times brasileiros.
Os técnicos morrem de medo de posicionar os zagueiros um pouco à frente e deixar muitos espaços nas costas dos defensores. Para evitar isso, teriam de treinar os goleiros para jogarem fora do gol. É arriscado e dá muito trabalho. Preferem a mesmice.
O Grêmio relaxou, acostumado e inebriado com tantos elogios de que era o time que jogava o melhor e mais agradável futebol do Brasil. Fez um ponto em nove.
Já o Cruzeiro, um dos grandes do Brasil, ganhou os três primeiros jogos. Contra o Emelec, fez um gol e administrou o placar. Rodriguinho continua brilhante, como na época em que foi o melhor do Brasileiro. Joga com a cabeça em pé, sem olhar para a bola, e usa, com ótima técnica, as duas pernas, o que é raro, para passar e finalizar.
Se, no Brasil, há pouquíssimos excelentes jogadores para o nível dos grandes do futebol mundial e da seleção, o mundo todo viu, na semana passada, pela televisão, em Paris, dois craques, Pelé e Mbappé, em um encontro que, dizem, foi promovido pelo empresário dos dois. Pelé, com seu cativante sorriso de menino, continua sendo um ótimo garoto-propaganda.
Xavi, outro craque, disse, antes do Mundial de 2018, que Neymar é o herdeiro de Messi e que Mbappé será o herdeiro de Neymar. Como o francês foi campeão do mundo e está cada dia melhor e como Neymar perdeu prestígio nos dois últimos anos, por suas lesões e por seu comportamento, Mbappé pode furar a fila.
Mbappé, por ser mais jovem, terá mais tempo para evoluir. Ainda acho que Neymar tem mais talento, é mais completo e espetacular. Mas isso não basta.
O grande craque necessita ter conquistas coletivas. Não é o craque que forma um grande time. É o grande time que dá condições para o craque mostrar todo seu talento.
Não se deve tirar conclusões definitivas sobre jogadores que ainda não terminaram suas carreiras. O espetáculo continua. Na frente, segue tudo escuro.
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