Não se deve tirar
conclusões definitivas sobre jogadores em atividade
Ainda acho que Neymar tem mais
talento que Mbappé, mas isso não basta
Tostão, Folha de S. Paulo
No
meio de semana, pela Libertadores, Palmeiras, Flamengo e Grêmio, três dos mais
festejados times brasileiros, foram derrotados
e bastante criticados. Apesar de serem superiores aos adversários,
não houve nenhuma zebra.
As
principais equipes brasileiras, incluindo o Cruzeiro e outras, possuem muitos
bons jogadores, mas nem tanto. Nenhum é titular da seleção, e raríssimos
estarão entre os reservas na Copa América,
a não ser que Tite queira
fazer média com o torcedor.
A
badalação a alguns jogadores cria uma expectativa acima da realidade, e a
decepção aumenta.
O
Flamengo, para afastar o conceito de que a equipe do ano passado era frouxa,
passou a ser excessivamente agressivo, violento, como nas expulsões de Gabigol e
Bruno Henrique, nos dois últimos jogos. Deixou de jogar futebol.
Como
é habitual tentar achar uma única razão para as derrotas, como a contra o
Peñarol, o motivo encontrado foi a manutenção de Arrascaeta no banco de
reservas. Ele poderia ter entrado.
Porém,
mesmo sendo um ótimo jogador, é do mesmo nível dos titulares Bruno Henrique e
Diego.
O
Palmeiras, contra o San
Lorenzo, deixou, desde o início, enormes espaços entre o meio-campo
e a defesa. O jogador argentino, livre, recebeu a bola, correu com ela, pensou
mil vezes no que fazer e finalizou de fora da área, enquanto os zagueiros
estavam colados à grande área. No ano passado, sofreu um gol parecido contra o
Boca Juniors.
Esse
mau posicionamento é habitual na maioria dos times brasileiros.
Os
técnicos morrem de medo de posicionar os zagueiros um pouco à frente e deixar
muitos espaços nas costas dos defensores. Para evitar isso, teriam de treinar
os goleiros para jogarem fora do gol. É arriscado e dá muito trabalho. Preferem
a mesmice.
O
Grêmio relaxou, acostumado e inebriado com tantos elogios de que era o time que
jogava o melhor e mais agradável futebol do Brasil. Fez um ponto em nove.
Já
o Cruzeiro, um dos grandes do Brasil, ganhou os três primeiros jogos. Contra o Emelec,
fez um gol e administrou o placar. Rodriguinho continua brilhante, como na
época em que foi o melhor do Brasileiro. Joga com a cabeça em pé, sem olhar
para a bola, e usa, com ótima técnica, as duas pernas, o que é raro, para
passar e finalizar.
Se,
no Brasil, há pouquíssimos excelentes jogadores para o nível dos grandes do
futebol mundial e da seleção, o mundo todo viu, na semana passada, pela
televisão, em Paris, dois craques, Pelé e Mbappé,
em um encontro que, dizem, foi promovido pelo empresário dos dois. Pelé,
com seu cativante sorriso de menino, continua sendo um ótimo garoto-propaganda.
Xavi,
outro craque, disse, antes do Mundial de 2018,
que Neymar é
o herdeiro de Messi e
que Mbappé será o herdeiro de Neymar. Como o francês foi campeão do
mundo e está cada dia melhor e como Neymar perdeu prestígio nos
dois últimos anos, por suas lesões e por seu comportamento, Mbappé pode
furar a fila.
Mbappé,
por ser mais jovem, terá mais tempo para evoluir. Ainda acho que Neymar tem
mais talento, é mais completo e espetacular. Mas isso não basta.
O
grande craque necessita ter
conquistas coletivas. Não é o craque que forma um grande time. É o
grande time que dá condições para o craque mostrar todo seu talento.
Não
se deve tirar conclusões definitivas sobre jogadores que ainda não terminaram
suas carreiras. O espetáculo continua. Na frente, segue tudo escuro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário