Pior do que na curta Era Collor
Luciano Siqueira
No auge do atribulado
governo Collor, o então presidente da Câmara dos Deputados, Ibsen Pinheiro, do
PMDB gaucho, em conversa com o presidente nacional do PCdoB, João Amazonas,
manifestou estranheza diante do absoluto desprezo do presidente da República
pela necessidade de estabelecer relações harmoniosas com o Congresso Nacional.
Não se governa sem o
parlamento, dizia Ibsen. Ao que Amazonas acrescentava a impressão de que
faltava a Collor a cultura política necessária ao exercício do cargo.
No Brasil dos nossos
dias, o capitão presidente não apenas se relaciona com o parlamento aos bofetes,
como demonstra maior pobreza cultural do que Fernando Collor.
É um presidente sem
eira nem beira. Como a revista britânica The Economist, porta-voz do capital
financeiro internacional, avaliou em artigo na semana passada, Bolsonaro ainda
não compreendeu o que significa presidir um país da dimensão e da importância geopolítica
do Brasil.
Demais, sua equipe
ministerial — salvo o grupo de militares, que se mantém mais discreto — produz
muito mais factóides do que ação administrativa.
Passa a impressão de
despreparo, seja quanto a fazer moer a máquina montada (constituída de
auxiliares em geral sem experiência de gestão), seja quanto a focar as
iniciativas nos problemas prioritários e mais urgentes.
Nesse sentido,
emblemática foi a postura do ministro da Educação, o colombiano Ricardo Vélez
Rodriguez, em sabatina na Câmara dos Deputados. Perguntado sobre os principais
planos de sua pasta, respondeu pateticamente: "aceito
sugestões".
Agora mesmo, em sua
viagem a Israel, o próprio presidente anuncia escritório de representação do
Brasil em Jerusalém — sem a menor necessidade operacional — e faz questão de
dizer que até o final do seu governo haverá tempo para constituir ali a
Embaixada, acicatando desastrosamente os países árabes, cuja presença nas
trocas comerciais externas tem peso específico enorme.
Ou seja, o presidente
brinca com fogo, pondo sob risco 4% das exportações de carne e outros produtos,
mais do que exportamos para toda a África.
Entrementes, o
capitão e seus diletos filhos seguem alimentando suas contas no Twitter com
mensagens dirigidas à parcela da opinião pública ultraconservadora, que constitui
o núcleo duro de apoio ao governo, como que com a intenção de consolidar um
ponto de apoio com o qual possam se contrapor ao declínio de popularidade do
presidente e do governo, que se acelera, sobretudo nos centros urbanos.
Fernando Collor deu
no que deu. Para onde caminhamos com Jair Bolsonaro?
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