Inteligência artificial traduz textos de 5.000 anos
Tarefa ao alcance de poucos muda totalmente com novo algoritmo
Marcelo Viana/Folha de S. Paulo
Matéria divulgada na imprensa internacional no início deste mês noticia que pesquisadores de Israel e da Alemanha desenvolveram um algoritmo de inteligência artificial capaz de traduzir para o inglês os textos em escrita cuneiforme das antigas civilizações da Mesopotâmia, remontando a mais de 5.000 anos atrás.
Ao contrário do Egito, cujas monumentais realizações na pedra permaneceram visíveis ao longo da história, a Mesopotâmia caiu em um vazio de esquecimento que se estendeu por milênios. Até que a curiosidade dos viajantes fosse irresistivelmente atraída para as estranhas marcas em forma de cunha ("cuneiformes") visíveis em inúmeras tabuletas de argila encontradas na região.
Ao início do século 18, já não restavam dúvidas de que se tratava de uma escrita, e o respectivo idioma havia sido associado à família das línguas semitas, que inclui o árabe e o hebreu entre seus representantes vivos.
Nascia uma nova disciplina científica, denominada assiriologia porque a maioria dos textos disponíveis à época provinha do império assírio.
Pouco depois, nos anos 1820, Jean-François Champollion (1790–1832) decifraria a Pedra de Roseta, dando origem à disciplina irmã da egiptologia.
Mas a Assíria foi apenas a última grande civilização a utilizar a escrita cuneiforme: escavações sucessivas trouxeram à luz textos cada vez mais antigos, da Babilônia e da Acádia, que utilizavam outras línguas semitas, aparentadas ao assírio.
E um fascinante trabalho de dedução levou os pesquisadores a intuir, e posteriormente confirmar, a existência de uma civilização ainda mais antiga, a Suméria, à época totalmente esquecida, que se acredita hoje ter sido a primeira, e talvez a única, a descobrir a escrita de forma independente, por volta de 3.500 a.C.
Todas utilizaram a técnica da escrita cuneiforme, que consistia em gravar os caracteres por meio de um estilete feito de cana em tabuletas de argila úmida, que depois eram secas ao sol ou mesmo cozidas no forno, se a importância do documento justificasse esse cuidado.
Muito mais duráveis do que os papiros egípcios, as tabuletas de argila chegaram até nós em grande número: estima-se que haja mais de um milhão na posse dos museus em todo o mundo, outras tantas janelas para a nossa história mais remota.
Mas, embora tenhamos decifrado todas essas línguas, ler esses documentos, em escritas complicadas e muitas vezes danificados, ainda era tarefa ao alcance de poucos especialistas treinados. Isso muda totalmente com a chegada do novo algoritmo.
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