O custo de um pequeno gesto
Luciano Siqueira
Complexas são as relações humanas, bem sabemos.
Descobrimos isso desde a infância. Sobretudo quando se trata de compreender e se fazer compreendido.
Em todas as esferas da vida.
Como assevera o personagem de Saint-Exupèry, "a linguagem é uma fonte de mal- entendidos".
No passado, a comunicação entre as pessoas se fazia direta, olhos nos olhos.
Ou por telefone, quem o possuía.
Ou por escrito, em carta ou bilhete — sobretudo manuscritos, onde o traço das palavras podia traduzir a emoção.
Conta-se que Abraham Lincoln negava-se a assinar documentos se estivesse fisicamente cansado, porque não queria parecer vacilante ao grafar o próprio nome.
Hoje, conversa-se principalmente pela internet.
Comunicação instantânea. Fácil. Basta querer dizer, por escrito ou em áudio ou mesmo em vídeo, é questão de segundos.
E o que é assim tão fácil e rápido faz-se precisamente revelador de sentimentos e intenções. Pelo que se diz ou pela pura ausência da palavra.
O que está explícito em palavras e imagens em geral é de fácil compreensão.
A ausência, nem sempre. Mas traduz sintonia fina com fatos, emoções e o jeito de ser das pessoas.
Por isso você às vezes aguarda um simples "bom dia", em vão.
E o barulho é ensurdecedor. A ausência grita.
Já a mensagem atravessada, de afogadilho, mal posta, em geral é contundentemente direta. Para o bem ou para o mal.
Como me asseverou certa vez um hóspede no restaurante do Hotel Comfort, em São Paulo, solitário em fim de noite, ao erguer o copo de uísque: "Amigo, terrível é a indiferença."
[Ilustração: Edward Hopper]
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Um poema de Ana Martins Marques com ilustração de Gustav Klimt https://tinyurl.com/2ayatkoc
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