Eu sou assim mesmo
Luciano Siqueira
Eu sou do jeito que sou: com as marcas do tempo estampadas no rosto e o persistente brilho da esperança no olhar.
Não sei como parecer outro, nem pretendo.
Mas, volta e meia, alguns dos meus seguidores nas redes — algumas, sobretudo —, por amizade ou comiseração, sugerem reparos em minha foto de perfil.
(Aquela foto que a gente publica para que os seguidores possam se convencer de que estão seguindo a pessoa que desejam seguir. Os nomes comuns semelhantes se acumulam na imensidão algoritima. E meu nome é comum).
Pois bem.
As dicas que me dão dizem respeito ao melhor uso da luz (para aparentar menos rugas), o ângulo e o enquadramento da câmera que capta o meu rosto (para melhorar a aparência).
Invariavelmente respondo que prefiro a imagem como de fato ela é na vida real.
As décadas de vida se somam? Por que escondê-las ou sugerir menos do que são?
Os cabelos, além de prateados, começam a rarear na parte frontal e não há motivo para escurecê-los nem sugerir que são mais densos.
Tudo isso porque o olhar é o mesmo e o sorriso ora largo, ora insinuante, permanece.
Enfim, parafraseando o poeta Mia Couto, "(não)preciso ser um outro/para ser eu mesmo".
[Ilustração: Gil Vicente]
O olhar e o gesto dizem muito https://bit.ly/3Ye45TD
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