PALAVRAS E MULHERES
Marcelo Mário de Melo*
Não se trata de olhar
palavras e mulheres
pelo buraco da fechadura
nem de tentar arrastá-las
como invasor
ou acionista majoritário.
É preciso atraí-las
encantá-las
para que elas caminhem
ao instante comum.
Queremos vê-las nuas
mas não nus
precipitemos.
Palavras e mulheres
têm calendário
e estações.
Os brotos da rosa
detém um tempo
para se enfolhar
e criar pétalas.
As rosas maduras
soltam as pétalas
pouco a pouco.
Palavras e mulheres
têm mil faces
de baton
nuvem
cristal
toque de sino
ópera
valsa
tango argentino
ou se enfrevam
se enrockam
viram banda marcial
hino de guerra
toque de alvorada
ou de silêncio.
Palavras e mulheres
gostam de mágica
brincar de se esconder
e serem descobertas
atrás da cortina.
Brincam
de faz de conta
e se fantasiam
de fada
bruxa
freira
puta.
E essas fantasias
são visíveis
somente para elas
que ainda fazem
cara de uma
enquanto outra.
Palavras e mulheres
têm cios e silêncios
sobre o muro
das lamentações
ou em rumorosos
comí
cios
ardentes.
Palavras e mulheres
não são
estrelas ilhadas
nuvens distantes.
São flores
de mãos abertas
atentas
para dançar
com autonomia
não meras
montarias
mas cavaleiras livres
esperando
montar
serem montadas
em cavalgadas
aladas.
Palavras e mulheres
querem ser amadas
fecundadas
mas para isto
precisam ser
adivinhadas.
O sonho do poeta
e ter na mão
a chave do segredo
da adivinhação.
[Ilustração: John Singer Sargent]
*Jornalista, poeta
Arte é vida: uma obra de João Câmara https://tinyurl.com/3faubph6
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