15 abril 2025

Enio Lins opina

Semana Santa, saúde da democracia, e anistia pecaminosa
Enio Lins 

COMO SEMPRE, quando algum perigo se aproxima, o ex-capitão acha melhor jair apelando ao vitimismo. A receita é simples: ao se ver numa enrascada, anuncia-se com um pé na cova e se refugia no hospital mais próximo. Busca gerar renovadas ondas de compaixão entre seus seguidores e substituir sua presença no noticiário policial pelo destaque na seção de pré-obituário. Verdade é que alguma anormalidade existe desde a operação feita às pressas, em 6 de setembro de 2018, em Juiz de Fora, a da tão famosa quanto misteriosa facada “milagrosa”. Apesar do dito mito esfaqueado não ter sangrado, nem ter tido sequer a camiseta canarinho perfurada (ou não foi apresentada na ocasião), uma cirurgia de urgência foi realizada. Aquele acontecimento altamente suspeito, além de ter lhe salvado da derrota nas urnas naquele pleito, tem possibilitado à tão escatológica criatura essa rota de fuga: a mesa de cirurgia. Já são seis, na conta oficial, os procedimentos cirúrgicos, sem contar as hospitalizações eventuais.

VAMOS TORCER por sua recuperação. Não se deve desejar para ele o que ele desejou para Dilma e para Lula quando doentes. Da mesma forma é incorreto sugerir que o mito seja atendido por um profissional do quilate do Dr. Tibiriçá – seu maior ídolo. Entretanto, é indispensável perceber que o doente em tela quer medicamento além do ser anistiável. O mito quer-se inimputável ad aeternum. E nesta luta tremenda, hercúlea, para poder seguir saudável no cometimento de todo tipo de crime (dos delitos milicianos aos golpes de Estado, passando pela multiplicação patrimonial), é utilíssimo jair se fazendo de coitadinho. Aos moribundos sempre são dirigidos gestos de condescendência, complacência e comiseração. É isso o que o falso messias mais almeja: inspirar dó até que suas tripas em nó ; se desfaçam em evacuações sobre a Constituição, sobre o Estado Democrático de Direito e sobre o Código Penal. Mas prisão de ventre não deve ser desejada a ninguém, muito menos como réquiem. Que o ex-capitão recupere integralmente seu funcionamento intestinal, e que, quando de seu retorno à prisão (pois já viu o sol nascer quadrado, em 1986) possa usufruir de equipamentos adequados, como um higiênico vaso sanitário turco, conforme rezam as regras para penitenciárias.

É ATITUDE CIDADàlutar contra a utilização de qualquer tipo de doença como tática para solapar a Constituição, o Estado de Direito Democrático e o Código Penal. Até porque se a moda pega, as penitenciárias vão virar enfermarias e antessalas da impunidade, e teremos gente como Marcola e Fernandinho Beira-Mar exigindo anistias por conta dos intestinos presos ou inconveniências do tipo. Nessa temática, o Brasil passa, nas proximidades desta Semana Santa, por um grande risco para a sua saúde democrática: a anistia licenciosa, codelinquente, cúmplice de um crime recorrente, que é a conivência para com golpes de Estado. Pela primeira vez em seus 525 anos de existência, o Brasil está prestes a expelir uma hipóstase que tem obstruído os intestinos da história nacional há séculos: a coone stação para com líderes criminosos golpistas.

JAIR MESSIAS QUER USAR de sua doença para manter o Brasil doente. Quer travar os intestinos da República impedindo que dali seja extirpado o tumor maligno do qual a tentativa de golpe em 8 de janeiro de 2023 é apenas uma metástase. Pela primeira em sua sofrida história com mais de meio milênio, a nação brasileira assiste a Justiça chamar à responsabilidade penal golpistas de alta patente, incluídos nesse rol de réus um ex-presidente da República e alguns oficiais subversivos. Isso sim é redenção, salvamento. Que não seja esse processo interrompido por anistias corruptoras, e que esses dejetos sejam, enfim, expelidos pelo organismo democrático. E, repetindo, saúde ao mito para que ele possa responder por seus crimes sem desconfortos extras. Amém.

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Ex-presidente encurralado https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/04/minha-opiniao_33.html 

Postei no X

A China determinou que suas companhias aéreas interrompam o recebimento de novas aeronaves da norte-americana Boeing. Mais um lance da guerra comercial desencadeada pelos Estados Unidos. Trata-se de um mercado estratégico para a Boeing, com um grande potencial para novos aviões e serviços.

A dura reação da China ao tarifaço de Trump https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/04/china-contra-tarifaco-de-trump.html

Sylvio: quem?

Quando esteve doente em Natal o ex- presidente Bolsonaro foi atendido e medicado por Gilson Machado, seu  ministro do Turismo, que é veterinário. E parece que recebeu o tratamento adequado.

Sylvio Belém 

Você leu?


Sobre o "tarifaço" desencadeado por Donald Trump, que a um só tempo sinaliza a decadência dos EUA e desorganiza as transações comerciais em plano global, alguns registros aqui no blog ajudam a compreender o sentido dos acontecimentos e a especular sobre o Brasil nesse contexto.

O editorial do 'Vermelho' https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/04/tarifas-de-trump-idas-e-vindas.html apruma o debate.

A própria errática conduta de Trump https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/04/trump-em-banho-maria.html?m=1 aparece como sinal de fraqueza.

E tem colunista americanófilo da grande mídia brasileira se lastimando porque o núcleo decisório em torno de Donald Trump, na Casa Branca, imagina muito e improvisa, sem os pés na realidade concreta...

Navegando em oceano revolto https://bit.ly/3Ye45TD  

Perplexidade norte-americana

Como as tarifas de Trump jogam a favor da China
Em vez de fazer uma batalha dos EUA contra o mundo todo, Trump deveria ter unido todas as democracias industriais, lideradas por Washington, contra Pequim
Thomas L. Friedmann*/New York Times/Folha de S. Paulo  

Após duas viagens à China nos últimos quatro meses, tenho tentado dizer isso de todas as formas que posso: pessoal, vocês simplesmente não entendem.

Covid teve efeitos terríveis na saúde humana e na mortalidade, mas também teve um efeito devastador na nossa capacidade de entender os chineses. Executivos americanos e europeus saíram da China em massa no início da pandemia. Muito, muito poucos deles voltaram depois. Eles confiaram seus negócios na China a gerentes locais. Enquanto estavam ausentes, Pequim deu um grande salto à frente na manufatura avançada que o mundo não tinha. Criou um motor de manufatura como talvez nunca foi visto na história.

A China já controla um terço de toda a manufatura global (em 2000, eram 6%) e, quer se fale de carros, robôs ou telefones, o que está saindo da China hoje não é apenas mais barato e rápido. É mais barato, mais rápido, melhor e mais inteligente — e tudo isso está prestes a ser dramaticamente potencializado pela corrida desenfreada de Pequim para colocar inteligência artificial em tudo o que fabrica.

Isso é produto de décadas de investimentos maciços do governo em educação, infraestrutura e pesquisa, por trás de muros de proteção — em uma sociedade onde as pessoas estão prontas para trabalhar das 9h às 21h, seis dias por semana. Enquanto a China estava construindo isso, a maior nova indústria dos EUA era a polarização política e viciar seus filhos no TikTok e Instagram.

Leia o artigo do meu colega de redação, Keith Bradsher, da China:

"Dados recentes do banco central da China mostram que bancos controlados pelo Estado emprestaram um adicional de US$ 1,9 trilhão a mutuários industriais nos últimos quatro anos. Nas periferias de cidades por toda a China, novas fábricas estão sendo construídas dia e noite, e fábricas existentes estão sendo atualizadas com robôs e automação. Os investimentos e avanços da China na manufatura estão produzindo uma onda de exportações que ameaça causar fechamentos de fábricas e demissões não apenas nos Estados Unidos, mas também ao redor do mundo. "O tsunami está vindo para todos", disse Katherine Tai, que foi representante de Comércio dos Estados Unidos para o ex-presidente Joseph R. Biden Jr." 

É por isso que a estratégia do presidente Trump é tão insensata. Em vez de impor tarifas ao mundo inteiro, deveríamos estar buscando alinhar todos os nossos aliados industriais em uma frente unida para dizer à China: você não pode fazer tudo para todos. Enquanto a China é um terço da produção manufatureira global, ela representa apenas 13% do consumo global. Isso não é sustentável — e não está apenas assustando os EUA e a Europa, mas também o Brasil, a Indonésia, a Índia e outros; até mesmo a Rússia, de repente, reduziu as importações de automóveis da China.

Em vez de fazer nossa estratégia ser os EUA contra o mundo inteiro em tarifas, Trump deveria ter feito com que todas as democracias industriais, lideradas por Washington, se unissem contra Pequim. O objetivo seria negociar efetivamente um caminho a seguir que obrigasse a China a redirecionar suas energias para dentro — investindo em sua escassa rede de segurança social e sistema de saúde, estimulando sua demanda doméstica — enquanto convida a China a construir novas fábricas não em Hanói, mas em Hamtramck (Michigan), e a transferir suas tecnologias e cadeias de suprimentos para nós em joint ventures 50/50.

Infelizmente, nosso presidente e vice-presidente estavam tão ocupados exibindo seus músculos na Groenlândia, demitindo nossos principais generais por não serem suficientemente submissos ao nosso Querido Líder e insultando nossos aliados europeus por serem muito progressistas, que desperdiçaram a alavancagem de que precisávamos para lidar efetivamente com esse formidável mecanismo chinês.

Mas aqui está o que os líderes empresariais americanos realmente não entendem: Trump e J. D. Vance assustaram a China e a UE com seu comportamento errático. Quando veem um presidente dos EUA simplesmente ignorar um acordo comercial com o México e o Canadá que ele mesmo negociou, eles se perguntam: como podemos confiar em qualquer acordo que fizermos com ele? Isso pode aproximar a China e a UE.

Ouço meus compatriotas americanos dizerem: só precisamos chegar às eleições de meio de mandato e fazer os democratas recuperarem a Câmara, e estaremos bem. Desculpem, pessoal, não podemos esperar tanto tempo. Mais 20 meses ou mais dessa liderança errática e nosso país estará irremediavelmente quebrado. Precisamos de um punhado de republicanos na Câmara e no Senado — agora mesmo — para cruzar o corredor e pôr fim a esse devastador desastre econômico feito pelo homem.

*editorialista internacional do New York Times

[Foto: Funcionários em uma fábrica chinesa de fibra de vidro - Ahmed Gomaa - 9.nov.2024/Xinhua]

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Leia também: Efeito bumerangue faz Trump recuar com “tarifaço”
https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/04/tarifas-de-trump-idas-e-vindas.html 

Postei no X

Importa acompanhar o conflito aberto entre a Universidade de Harvard e o presidente Donald Trump, que ameaça suspender financiamento se suas imposições não forem cumpridas. Uma ferida aberta sujeita a infecção grave...

Leia: Redesenho da Otan será inevitável https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/03/editorial-do-vermelho_9.html 

Humor de resistência

 

Aroeira

Leia também: O mundo cabe numa organização de base https://lucianosiqueira.blogspot.com/2023/05/minha-opiniao_18.html

Economia global em mar revolto

Consequências econômicas do tarifaço de Trump
Especialistas alertam para inflação, recessão e guerra comercial global como possíveis efeitos do novo pacote tarifário imposto por Trump a parceiros comerciais
Luis Antônio Paulino/Vermelho 

No último dia 02 de abril, nos jardins da Casa Branca, diante de uma restrita plateia de apoiadores e da imprensa, o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou as tão aguardadas tarifas recíprocas que vinha prometendo colocar em prática contra todos os países do mundo, depois de haver tomado uma série de medidas protecionistas visando alguns setores econômicos específicos, como aço, alumínio e automóveis, e alguns países, inclusive contra o México e o Canadá, que têm com os EUA um acordo de livre comércio, além da China.

Com uma enorme tabela na mão na qual constava na primeira coluna a lista de países, na segunda coluna a tarifa média que, segundo Trump, cada país aplica sobre as exportações norte-americanas e na terceira coluna a tarifa recíproca que os Estados Unidos irão aplicar a cada país, a partir de abril, Trump anunciou a maior investida protecionista dos Estados Unidos dos últimos 100 anos.

Antes de avaliarmos as possíveis consequências econômicas desse aumento generalizado de tarifa em relação aos cerca de 180 países que fazem comércio com os Estados Unidos, é importante destacar que o cálculo da tarifa média aplicada por cada país às exportações norte-americanas que consta na tabela apresentada por Trump não tem absolutamente nada a ver com as tarifas realmente aplicadas que sequer foram utilizadas para o cálculo da tal tarifa recíproca. Na verdade, trata-se de uma meta de superávit em relação a cada parceiro comercial. A título de exemplo, tomemos o caso da China: o déficit comercial dos Estados Unidos com a China em 2024 foi de US$ 295,4 bilhões, e os Estados Unidos importaram US$ 439,9 bilhões em produtos chineses. Isso significa que o superávit comercial da China com os Estados Unidos foi de 67% do valor de suas exportações — um valor que o governo Trump rotulou como “tarifa cobrada dos EUA”, mas que não tem nada a ver com as tarifas cobradas pelos parceiros comerciais dos Estados Unidos. São alíquotas aleatórias, arbitrárias e extorsivas.

Se tomarmos, por exemplo, os cálculos realizados pelo site “Visual Capitalist”[1] , utilizando como base o conceito de tarifa para nação mais-favorecida, que são as tarifas normais não discriminatórias cobradas sobre as importações de qualquer país que não faça parte de alguma área de livre comércio, união aduaneira ou mercado comum (exclui tarifas preferenciais ao abrigo de acordos de comércio livre e outros regimes ou tarifas cobradas dentro de quotas), podemos constatar, como se verifica no quadro abaixo, que as tarifas efetivamente cobradas por esses países às importações norte-americanas são muito inferiores àquelas mostradas na tabela que Donald Trump exibiu no jardins da Casa Branca.

No caso do Brasil, por exemplo, a tarifa efetivamente cobrada das importações dos Estados Unidos é de 6,7%, enquanto na tabela de Trump a tarifa cobrada pelo Brasil dos Estados Unidos é de 10%. O caso mais gritante é o da China. Enquanto na tabela de Trump consta que a tarifa cobrada pela China para as exportações norte-americanas é de 67%, na verdade, a tarifa efetivamente cobrada pela China das importações que ela realizou de fato dos Estados Unidos é de apenas 3%. Ou seja, quando se comparam as duas tabelas, não há nenhum país cujas tarifas cobradas das importações dos Estados Unidos se aproxime remotamente dos valores apresentados pelo Presidente Donald Trump. Poderia se alegar que essas tarifas efetivamente cobradas dos Estados Unidos são baixas porque os países não importam dos Estados Unidos produtos sobre os quais estabelecem tarifas mais ele vadas. Isso é verdade, mas o fato de certos países não importarem certos produtos dos Estados Unidos não tem a ver apenas com tarifas. O exemplo usado por Trump durante a apresentação de que há milhares de Toyota circulando nos Estados Unidos, mas não se vê as SUVs da GM circulando no Japão não tem nada a ver com tarifas, mas com preferências dos consumidores japoneses por carros pequenos em um país onde não há lugar para estacionar. O mesmo acontece na Europa.


Fonte: https://www.voronoiapp.com/

Indo agora à questão das consequências econômicas do tarifaço, é necessário separar o que poderiam ser as consequências internas das novas tarifas, ou seja, seu impacto na própria economia norte-americana, e as consequências externas, ou seja, suas consequências para o resto do mundo.

Começando pelas consequências internas, é preciso considerar em primeiro lugar que como o Presidente Trump afirmou, as tarifas funcionam. Se tomarmos como referência a história econômica de todas as nações hoje apontadas como desenvolvidas, não há absolutamente nenhuma, incluída a Inglaterra, o berço da Primeira Revolução Industrial, que não tenham recorrido a práticas protecionistas para promover sua própria industrialização.

O historiador econômico da Universidade de Genebra, Paul Bairoch, ao analisar as diversas fases do desenvolvimento dos Estados Unidos no século XIX afirma que “os melhores vinte anos de crescimento dos Estados Unidos [1890-1910] foram, portanto, aqueles do período protecionista, enquanto as principais correntes econômicas dos Estados Unidos seguiam uma política liberal”[2] .

Bairoch considera que os Estados Unidos foram “a pátria-mãe e o baluarte do protecionismo moderno”. Na verdade, naquele período, como constata o historiador, os EUA foram a economia que mais cresceu no mundo. Há-Joon Chang, autor do clássico “Chutando a Escada”, no longo capítulo dedicado à história econômica dos Estados Unidos também enfatiza o fato de exceto curtos interlúdios liberais (1913/1929) e o período pós-Segunda Guerra, “Os Estados-Unidos nunca praticaram o livre-comércio no mesmo grau que a Grã-Bretanha em seu período livre-cambista (de 1860 a 1932). Nunca tiveram um regime de tarifa zero, como o Reino Unido, e eram muito agressivos no uso de medidas de protecionismo “oculto”[3].

Para Wolfang Munchau, diretor da consultoria EuroIntelligence, “Politicamente, essas tarifas funcionarão para Trump. Fabricantes estrangeiros já estão declarando que aumentarão os investimentos nos EUA. Os antigos empregos na indústria não retornarão, mas novos serão criados. Há, no entanto, um sério risco de uma recessão nos EUA este ano se Trump não conseguir fazer suas políticas fiscais passarem pelo Congresso. Os republicanos podem perder as eleições de meio de mandato. Mas se o objetivo é aumentar as receitas externas, reduzir o déficit orçamentário e repatriar a indústria, essas tarifas funcionarão — desde que se lembre de que não podem fazer tudo ao mesmo tempo”.

Ou seja, há uma grande diferença entre os efeitos que as tarifas podem ter no longo prazo – a reindustrialização do país – e efeitos imediatos. No curto prazo, uma consequência provável será a elevação interna dos preços, ou seja, inflação, e a redução no crescimento, ou seja, recessão. Essas consequências imediatas negativas devem ocorrer por diversas razões. Entre uma empresa anunciar a intenção de transferir suas operações industriais para os Estados Unidos e o início efetivo das operações locais há um intervalo que no caso de grandes instalações industriais certamente não é menor que dois anos. Nesse interim, o mercado será abastecido por importações que estarão fortemente sobretaxadas e cujo preço, portanto, estará acr escido das taxas de importação que, com uma ou outra exceção, será transferido para o consumidor final. O aumento de preços, por sua vez, provocará, queda no consumo e, consequentemente, redução da atividade econômica, ou seja, recessão. No Brasil já vimos esse fenômeno: a estaginflanção.

Se uma das principais causas de Biden ter perdido a eleição para Trump, em 2024, apesar do crescimento da economia, foram os aumentos de preços, inflação mais recessão, que poderiam ser fatais para Trump nas eleições de meio-termo do próximo ano, correndo o risco de levar à perda da maioria em uma das duas casas legislativas. Acrescente-se a isso que a verdadeira caçada aos imigrantes que a administração Trump está realizando já pesa em alguns setores econômicos importantes como a construção civil, cujos custos estão subindo devido à falta de mão de obra.

Os aumentos de tarifas também provocarão retaliação de outros países, desvio de comércio e queda nas exportações dos Estados Unidos. Embora como grande economia continental as exportações dos Estados não sejam tão significativas na formação do PIB como o consumo e o investimento internos, muitos setores da economia, como a agricultura e o setor de serviços dependem fortemente da demanda internacional. Ao lado da queda no consumo interno, uma redução das exportações pode agravar uma eventual recessão econômica. Concluindo: do ponto de vista interno, no curto, médio e longo prazos, o plano de Trump de reindustrializar o país lançando mão de tarifas de importação elevadas poderia funcionar, mas o custo econômico e político imediatos dessa opção poderia ser politicamente in sustentável. Não por outra razão, Trump mudou seu discurso e agora está dizendo para os americanos serem firmes, suportarem as consequências negativas imediatas que a recompensa só virá mais adiante.

É preciso considerar, contudo, que diferentemente do século 19 ou mesmo grande parte do século 20, nenhum país produz algum produto totalmente dentro de suas fronteiras ou nas instalações industriais de uma única empresa. O que existe hoje são ecossistemas produtivos que têm uma geometria e uma geografia variável dependendo de cada produto. Mesmo que o processo de globalização produtiva seja parcialmente interrompido pelo retorno do protecionismo e até por uma guerra comercial, ainda assim, não há como fazer a roda da história girar para trás. O exemplo frequentemente citado é o caso do Iphone da Apple. Embora os Estados Unidos fiquem com a maior parte do valor agregado ao produto nas diversas fases de produção, não há efetivamente nenhum país no mundo, inclusive os Estados Unidos, que possam fabricar um Iphone isoladamente .

Nesse sentido, uma política tarifária agressiva, como a que está se desenhando pode prejudicar as próprias empresas norte-americanas se não puderem internalizar todas as fases de produção de seus produtos ou não encontrarem fornecedores locais para os milhares de insumos que precisam adquirir para montar seus produtos finais. Uma empresa é um organismo vivo que está o tempo todo realizando trocas com o ambiente externo, seja nacional ou internacional. Ela pode internalizar certas fases de seu processo produtivo desde que os custos de transação, aumentados pelas tarifas, sejam maiores do que os custos de produzir internamente. Mas nem sempre isso é possível e, sem essas trocas ou com as trocas dificultadas com seu ambiente externo, elas podem simplesmente morrer. Não foi por outra razão que o CEO da Ford afirmou que as tarifas de Trump iriam provocar um rombo na ind&uacut e;stria automobilística norte-americana.

Finalmente, seria imprudente prever as consequências internas e, principalmente, externas do tarifaço de Trump sem saber como os outros países irão reagir. Caso haja uma tendência de acomodação às novas tarifas as consequências seriam umas, mas caso os países mais atingidos – leia-se principalmente China e União Europeia – revidem na mesma altura, há um grande risco de ser deflagrada uma guerra comercial que poderia ter consequências imprevisíveis para a economia mundial. Aparentemente, a intenção de Trump, ao promover o tarifaço é forçar cada país afetado a sentar-se com os negociadores norte-americanos em posição defensiva, oferecendo ganhos líquidos para os Estados Unidos. O problema é que na visão de Trump não há negociações em que os dois lados ganhem. Para ele é ; sempre um jogo de soma zero no qual um ganha e o outro perde e o perdedor nunca pode ser ele. Negociar a partir dessa perspectiva com parceiros comerciais fracos pode até funcionar. Mas negociar com parceiros comerciais fortes como China e União Europeia partindo do princípio de que só há um resultado possível, ou seja, os Estados Unidos ganham e o parceiro perde, pode ser bem mais complicado. O risco, enfim, desse tarifaço de Trump provocar uma guerra comercial generalizada no mundo, podendo levar a uma recessão global não é desprezível. Analistas econômico respeitados e editoriais dos principais jornais e revistas econômicas do mundo já dão uma recessão global como favas contadas.

[1] https://www.voronoiapp.com/

[2] BAIROCH, Paul. Mythes et Paradoxes de l’histoire économique. Paris: La Découvert/Poche, 1999. P. 78

[3] CHANG, Há-Joon. Chutando a Escada. A Estratégia de Desenvolvimento em Perspectiva Histórica. São Paulo: Editora Unesp, 2003,p. 58

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Leia: Efeito bumerangue faz Trump recuar com “tarifaço”
https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/04/tarifas-de-trump-idas-e-vindas.html

Postei no X

Partidos que comandam ministérios têm mais de metade das assinaturas de deputados pela urgência da votação do projeto de anistia aos golpistas de 8 de janeiro. A coerência é tão obcura quanto as emendas PIX. A chantagem é o modus operandi. 

Leia: A trincheira ainda é outra https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/03/minha-opiniao_19.html 

14 abril 2025

Palavra de poeta

O constante diálogo
Carlos Drummond de Andrade 

Há tantos diálogos

Diálogo com o ser amado
                   o semelhante
                   o diferente
                   o indiferente
                   o oposto
                   o adversário
                   o surdo-mudo
                   o possesso
                   o irracional
                   o vegetal
                   o mineral
                   o inominado

Diálogo consigo mesmo
            com a noite
            os astros
            os mortos
            as idéias
            o sonho
            o passado
            o mais que futuro

Escolhe teu diálogo
                           e
tua melhor palavra
                           ou
teu melhor silêncio
Mesmo no silêncio e com o silêncio
dialogamos.

[Ilustração: Edward Hopper]

Leia também: "As grades e os sonhos" https://lucianosiqueira.blogspot.com/2024/12/palavra-de-poeta-alberto-vinicius.html 

Minha opinião

Oportunidade a conferir 
Luciano Siqueira 
instagram.com/lucianosiqueira65  

No conturbado mundo de hoje, recém-assaltado pelo chamado tarifaço promovido pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, muito se especula, mas poucas são as certezas. 

Uma hipótese que nos interessa diretamente é a de que em meio ao tiroteio abre-se importante janela de oportunidades para o Brasil. 

O site da BBC menciona matéria do Financial Times que considera a guerra tarifária "uma benção" para o nosso país. 

Refere-se essencialmente às exportações de soja, aves e carne bovina para a China e a Rússia e a própria Europa.

Nesse contexto, menciona a BBC carta aberta de Caleb Ragland, presidente da Associação Americana de Soja, implorando a Trump que faça um acordo urgente com a China. 

Pode ser. Mas é preciso abordar a questão de maneira mais substantiva. Quando da segunda guerra mundial, Getúlio Vargas foi sagaz e explorou as contradições Inter imperialistas e viabilizou indústrias de base no país, como a siderurgia.

Destacam-se no período A Companhia Siderúrgica Nacional, a Companhia do Vale do Rio Doce e Fábrica Nacional de Motores.

Não podemos nos consolidar como meros portadores de produtos primários. Devemos sim retomar um projeto de desenvolvimento ancorado substancialmente em pesados investimentos em infraestrutura e na exploração de alternativas de exportação de manufaturados. 

Com a palavra, o governo Lula.

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Leia Editorial do 'Vermelho' sobre a guerra tarifária https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/04/tarifas-de-trump-idas-e-vindas.html

Humor de resistência

 

Enio

Leia: Efeito bumerangue faz Trump recuar com “tarifaço”
https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/04/tarifas-de-trump-idas-e-vindas.html 

Cláudio Carraly opina

E nem precisou dos comunistas! Trump está afundando os EUA sozinho
Cláudio Carraly*  

Em um discurso incisivo que ecoou como um alerta sobre os rumos da política econômica dos Estados Unidos, Jeffrey Sachs, renomado economista liberal e diretor do Centro para o Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Columbia, desmontou as justificativas por trás das tarifas comerciais impostas pelo governo Trump, classificando-as como "falaciosas", "infantis" e potencialmente catastróficas para os padrões de vida dos estadunidenses e para o conjunto da economia global.

Em uma análise detalhada, Sachs argumentou que a narrativa de "roubo" por parte de outros países, repetida com insistência por Donald Trump e sua camarilha, máscara um problema estrutural muito mais profundo: A irresponsabilidade fiscal crônica de Washington. Essa, segundo ele, é alimentada por gastos militares de scontrolados por décadas a fio, a falta de lógica nos contumazes cortes de impostos para os mais ricos e uma cultura política que ele define, sem rodeios, como "gangsterismo corrupto e plutocrático".
 
Sachs inicia sua crítica desconstruindo o déficit em conta corrente dos EUA, que atingiu valores superiores a 1 trilhão de dólares em 2023. Para ele, a ideia de que esse déficit resulta da explicação simplista de que "países que roubam os EUA", como uma retórica central de Trump, não apenas é falsa, como revela uma incompreensão fundamental dos princípios mais básicos da macroeconomia, outros economistas coadunam essas críticas e ainda falam em falta de conhecimento histórico, dissociação cognitiva, quando não a simples e total idiotice mesmo.
 
Ter um déficit em conta corrente significa, literalmente, que os EUA gastam mais do que produzem, Isso ocorre porque a taxa de poupança americana é baixíssima, o governo opera com déficits orçamentários monumentais, e o país vive no crédito e na necessidade de um consumo crescente e irrefreado. O econ omista traça um paralelo direto entre os gastos federais insustentáveis e o desequilíbrio comercial, o déficit orçamentário do governo, que ultrapassou US$ 1,7 trilhão em 2023, é financiado por empréstimos internacionais, como a venda de títulos da dívida do país, uma engrenagem que pressiona o valor do dólar, barateia as importações e desequilibra a balança comercial.
 
Enquanto Washington continuar gastando trilhões na máquina de guerra e sua indústria armamentista, em subsídios a aliados de ocasião, em 800 bases militares ao redor do mundo e em cortes de impostos para os mais ricos em território local, esse buraco do déficit comercial persistirá, pior se ampliará, até a inevitável implosão, Trump culpa a China, México ou Alemanha, mas o problema está no espelho. Essa frase, quando isolada, ganha ainda mais força. Ela simboliza o âmago da crítica: A exportação da culpa para encobrir um desgoverno fiscal interno e crescente.
 
Sachs não poupa críticas ao que chama de complexo militar-industrial desgovernado, que consome mais de US$ 1 trilhão anualmente. Isso inclui guerras prolongadas no Oriente Médio, manutenção de uma rede de bases militares globais e contratos bilionários com empresas privadas de defesa. “Somos uma naç&at ilde;o que gasta como se estivéssemos em guerra permanente, mas cobrimos esses custos com dívida, não com impostos.” E não é por acaso a beligerância estadunidense, para manter os números absurdos gastos desse complexo militar do país, guerras têm que ser inventadas, promovidas ou apoiadas.
 
Paralelamente, ele denuncia a erosão da arrecadação provocada pela evasão fiscal dos ultra-ricos, facilitada por uma Receita Federal – IRS, propositalmente enfraquecida por cortes de orçamento, é um sistema projetado para transferir riqueza para o topo, enquanto o resto da população paga a conta desta festa. Um dos exemplos mais simbólicos desse desequilíbrio é o pacote de cortes de impostos de 2017, aprovado sob o primeiro governo Trump, que beneficiava majoritariamente grandes corporações e indivíduos de alta renda, esses cortes têm projeção de aumentar o déficit federal em 4 trilhões de dólares até o final dessa década, segundo o Congressional Budget Office – CBO. “Trump quer tornar esses cortes permanentes, o que só agravará o buraco fiscal, é um ciclo perverso, corta-se impostos para os ricos, gera-se déficits, culpa-se outros países pelo desequilíbrio comercial e, em seguida, impõem-se tarifas que prejudicam justamente os trabalhadores que ele prometeu proteger”.
 
O economista é categórico ao definir tarifas como "impostos sobre os consumidores". Quando se aumentam os custos de produtos importados, como automóveis e eletrônicos, transfere-se a conta diretamente para o cidadão comum. Ele ilustra: “Suponha que você compre um carro japonês por 30 mil. Com uma tarif a de 25%, o preço salta para 37,5 mil. Se optar por um carro nacional, pagará 35 mil por um modelo similar, que na verdade é muito mais caro que antes da tarifa, pois as montadoras aproveitam a redução da concorrência para elevar preços e aumentar suas margens de lucro.” Um exemplo simples, mas eficaz, se dá na necessidade da indústria americana  pelas peças estrangeiras em suas linhas de montagem. Seus custos logicamente vão se elevar, isso prejudica a competitividade externa dos seus veículos, reduzindo obviamente as exportações, resultando em menos opções para o consumidor dentro e fora dos Estados Unidos, e resultando em uma subida geral dos preços do produto “automóvel” no mundo.
 
O resultado é previsível, o consumidor paga mais, mesmo quando compra produtos nacionais, ao reduzir a concorrência, as tarifas enfraquecem o incentivo à eficiência e à inovação, além disso, o protecionismo tarifário logicamente vai desencadear retaliações. Em 2018, após os E UA imporem tarifas ao aço e alumínio, a China respondeu com barreiras a produtos agrícolas americanos, atingindo em cheio os produtores. O governo teve de intervir, gastando 28 bilhões de dólares em subsídios, recursos oriundos, claro, dos próprios contribuintes, elevando ainda mais a dívida do país. “É um tiro no pé: o estado gasta mais para remediar os danos de uma política que supostamente deveria ajudar a economia e só a piora”.
 
A promessa de que tarifas vão reduzir o déficit comercial ignora um princípio elementar, o comércio internacional é bilateral, mas os efeitos fiscais são sistêmicos. Se os EUA importam menos da China, também exportarão menos para lá, já que os chineses terão menos dólares, b em como interesse político para comprar os produtos. A estrutura do déficit comercial não muda de país, ela contamina outros, sua causa raiz permanece, assim essa política fiscal expansionista e insustentável cria um desequilíbrio global contínuo, endividando a médio e longo prazo muitos outros países.
 
Sachs não se limita à crítica econômica, ele também questiona o processo institucional pelo qual as tarifas são impostas. A Constituição dos EUA confere ao Congresso o poder de legislar sobre impostos, no entanto, Trump frequentemente contorna o legislativo, invocando razões de segurança naciona l para impor tarifas unilateralmente, a autoridade fiscal está sendo usurpada por uma figura executiva que se comporta como um monarca absolutista. Essa prática fere os princípios básicos da democracia representativa e escancara a fragilidade institucional diante de lideranças populistas, e demonstra ao mundo que os EUA estão perigosamente na direção e com bastante velocidade de destruir por dentro sua democracia.
 
Ao desmontar a retórica protecionista de Donald Trump, Sachs nos força a olhar para  os desequilíbrios internos que alimentam as vulnerabilidades externas dos Estados Unidos. O déficit comercial não é a causa, ele é o efeito visível de uma política fiscal descontrolada, de uma estrutura tribut&aa cute;ria regressiva e de uma cultura política que prioriza o poder sobre a responsabilidade. Ao culpar países estrangeiros, o discurso populista desvia a atenção dos verdadeiros culpados, que são décadas de decisões fiscais equivocadas, sustentadas por lobbies corporativos e elites econômicas e militares que moldam as regras em benefício próprio.
 
As tarifas, longe de oferecerem proteção real, funcionam como uma cortina de fumaça, uma forma de projetar culpa e acabam por punir os mais vulneráveis. Elas sacrificam os consumidores, encarecem a vida cotidiana e perpetuam o ciclo vicioso de dívida, desigualdade e ineficiência econômica. No fim das contas, o que o economista Jeffrey Sachs, que nada tem de esquerdista, é a denúncia do espelho quebrado que é a governança estadunidense, onde o reflexo da verdade está distorcido por interesses e ilusões, e onde o custo da negação é pago por todos, mas piorou de uma forma aparentemente simples, a volta ao poder da extrema-direita americana, referendado maciçamente pelo voto popular.
 
*Advogado, ex-secretário executivo de Direitos Humanos de Pernambuco.

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Leia: Efeito bumerangue faz Trump recuar com “tarifaço”
https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/04/tarifas-de-trump-idas-e-vindas.html

Acordo Mar-a-Lago


Diogo Santos chega com um prato cheio de polêmica no Almoço Grátis desta semana!

Trump e sua turma estão vendendo um tal de Acordo de Mar-a-Lago como a nova revolução econômica dos EUA. Mas será que isso é um plano brilhante ou só mais um embuste pra enganar trouxa?

O Jogo Perigoso do Dólar

Trump quer desvalorizar o dólar, trazer fábricas de volta e fazer o mundo pagar essa conta. Mas e se der ruim? Como os EUA podem se reindustrializar sem quebrar tudo no curto prazo? O trabalhador americano está pronto pra um custo de vida explosivo? O resto do mundo vai engolir essa jogada ou vai partir pro contra-ataque?

E o Brasil? Se o dólar cair, as commodities brasileiras podem bombar. Mas se o plano for um desastre, uma crise global pode engolir tudo. O governo Lula pode aproveitar ou só restará correr dos escombros?

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Leia: Efeito bumerangue faz Trump recuar com “tarifaço”
https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/04/tarifas-de-trump-idas-e-vindas.html 

Minha opinião

Na estrada do centro-direita 
Luciano Siqueira 
instagram.com/lucianosiqueira65 

Quando, em editorial, O Globo eleva o tom no combate ao projeto de anistia para os golpistas de 8 de janeiro, que a extrema direita tenta impor a todo custo, inicialmente através de regime de urgência para votação na Câmara dos Deputados, confirma com nitidez a opção conservadora, mas sem a extrema direita.

Ou seja, no próximo pleito presidencial, o grupo midiático pretende jogar todas as suas fichas numa alternativa competitiva comprometida com o capital financeiro e o agronegócio exportador sim, porém sem a inconsequência do bolsonarismo. 

Daí cobrar das mesas diretoras da Câmara e do Senado o andamento de uma pauta substantiva. 

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Leia editorial do 'Vermelho' sobre a guerra tarifária https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/04/tarifas-de-trump-idas-e-vindas.html

Humor de resistência

 

Miguel Paiva

Leia editorial do 'Vermelho' sobre a guerra tarifária https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/04/tarifas-de-trump-idas-e-vindas.html


Sylvio: fantasma

Sempre que surge algum perigo, Bolsonaro adoece ou se interna, alegando sequela da "facada". É uma fuga ou visa reavivar a memória do "atentado" que sofreu para comover a opinião pública?

Sylvio Belém 

Leia: Estrebucha, mas resiste em ir para a cova https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/04/enio-lins-opina_8.html

Enio Lins opina

E o Trump, hein, gente? Que bagunça danada o galego d’água doce está fazendo!
Enio Lins  

“QUAC!” – EXCLAMARIA DONALD, o pato, ao ver a desarrumação feita por Donald, o Trump, no capitalismo mundial. No universo de Walt Disney, tendo os vilões endinheirados como ponto de partida, o atual presidente dos Estados Unidos pode ser entendido como uma fusão do Tio Patinhas com João Bafo de Onça, ou – mais apropriadamente – um amálgama entre Pãoduro MacMônei (pato sul-africano, boer de origem escocesa, o maior rival do Tio Patinhas) com Scar (a fera malévola de “Rei Leão”).

SURPRESA NÃO É, mas muitos esperavam uma baderna menos radical. Tamanha está a barafunda que o espalhafatoso miliardário Elon, o Musk, até então maior parceiro de Donald, sumiu da mídia. Não é pra menos. Trump está querendo impor ao restante da terra um repeteco das repercussões mundiais do Crack de 1929, em benefício único (de determinados setores) da economia americana. Parece um Plano Marshall ao avesso, ou um New Deal para milionários.

COMO SABEMOS, o Plano Marshall (1948/1951) injetou dinheiro na Europa no pós-guerra financiando a reconstrução capitalista na região, evitando então o ascenso do socialismo, e aprofundando o domínio americano sobre a banda ocidental do Velho Mundo. Mais atrás, o New Deal (1933/1939) foi um intervalo social no pensamento liberal, com o governo Franklin Roosevelt intervindo na economia estadunidense para evitar a destruição das suas classes médias e da sua burguesia de menor porte, que estavam ambas – e a maioria do povo norte-americano – sob insuportável esmagamento causado pelo cataclisma financeiro de 1929. Em 2025, faltando apenas quatro anos para completar um século do maior tropeço mobiliário do capitalismo mundial, e a 80 anos da derrota no nazifascismo, Trump quer quebrar o resto do globo para restaurar a opulência solitária dos milion&aacu te;rios ianques.

ENGANA-SE QUEM PENSA ser pura maluquice a estratégia trumpista. Tem objetivo e método: é o big stick, de Theodore Roosevelt, em formato big techs; ou a Doutrina Monroe reescrita por Steve Bannon. Objetiva detonar a atual ordem mundial que cede (cedia) alguns espaços às negociações multilaterais – onde grupos de países conseguem condições mais vantajosas – para impor transações bilaterais onde os Estados Unidos, naturalmente, impõem suas regras e levam a parte do leão, da leoa, dos bacurinhos e das hienas. Trump é a expressão legítima da desfaçatez de quem tem os dentes mais afiados, quer tudo para si, no velho modelo imperialista, sem essas conversas-moles de “liberdade de mercado”, “Estado não-intervencionista”, “multilateralismo capitalista”, “nações amigas&rdquo ;, “mundo livre” etc. É o entendimento redivivo de Sir Francis Drake (1540/1596) sobre o “livre comércio” em pleno século XXI.

CHORAM OS CRENTES no livre-mercado. No Estadão: “China não é santa no comércio, mas Trump faz liberalismo econômico passar vergonha”, “Tarifaço de Trump encerra o século americano e inicia o século chinês”, “Pausa em tarifa afasta temor de recessão”. N’O Globo: “Tarifaço de Trump vai implodir as cadeias produtivas globais e gerar inflação com estagnação”. Na Folha: “Trump assina decreto sobre pressão de água e diz que leva 15 minutos para molhar [seus] ‘lindos cabelos’”. Donald, em verdade, repete a estratégia de inundar a mídia com atos estapafúrdios, declarações bombásticas e patéticas, atraindo toda atenção para si, e – nesse carnaval de impropérios – vai definindo os passos que realment e serão dados. O fato é que ele desmoraliza mitologias sobre o liberalismo econômico e sobre o “intangível caráter democrático” dos Estados Unidos. Assume-se como argentário, autoritário, reacionário, ordinário, hilário, temerário e quer fazer de otário o resto do planeta. Diz ele que o mundo está lhe beijando a bunda por acordos comerciais. Pois é, vamos ver o que o mundo, ao fim e ao cabo, fará com o traseiro de Donald.

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Leia também: Lula sanciona PL da Reciprocidade para país enfrentar tarifaço de Trump https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/04/tarifaco-brasil-se-defende.html