As ameaças de Trump devem ser levadas a sério e respondidas à altura
Análise da ocorrência necessária do Brasil diante da crise interna, das tarifas impostas por Trump e da defesa inegociável da soberania
Ronald Freitas/Portal Grabois www.grabois.org.br
O país vive em ambiente contínuo de crise. Assistimos à polarização entre extrema-direita, direita e setores democráticos e de esquerda. Um Executivo refém de um Legislativo conservador e reacionário. É uma extrema-direita com força e articulada interna e externamente que, diante das hipóteses de ver suas lideranças maiores, com destaque para o ex-presidente Bolsonaro, presos a ser condenado e ir para a cadeia, entra em “modo desespero” e intensifica seus ataques ao Judiciário, ao Executivo, e mesmo ao Legislativo. A este por não pôr em votação – com a celeridade que considera necessária – um projeto de anistia que livre, de julgamento, todos os implicados na trama do golpe frustrado do Estado de 8 de janeiro de 2023 .
Mas quis o acaso que a presidência dos Estados Unidos da América foi exercida por um dos principais líderes da direita e do reacionarismo, Donald Trump , que voltou à presidência do país competitivo, agora em 2025, com força e determinação doentia de levar à frente políticas de cunho reacionário, anti-humanitário e imperialista com o objetivo maior de fazer com que o hegemonismo do império americano – que vive dias de decadência crescente – volte a ser tão forte e incontestado, como fora na segunda metade do século XX.
A particularidade de dois fatores, a atuação desesperada do núcleo duro do bolsonarismo – particularmente de seus familiares, mas não só – para tentar por todos os meios, sem restrições, livrar Bolsonaro da cadeia e a atuação de Trump na presidência dos EUA – implementando, desde sua posse, uma política de rapina sobre os demais países do globo, por meio da imposição de pesadíssimas tarifas alfandegárias, sobre as mercadorias e serviços, que exportem para os EUA – realizando um ambiente propício para que bolsonaristas ultradireitistas, sob a liderança de seu filho Eduardo, articulando-se com a ultradireita norte-americana e a mesma Europa, conseguiram que o governo norte-americano impusesse tarifas alfandegárias desonestas de 50% aos produtos exportados pelo Brasil aos EUA.
As medidas dão a entender que, se o Judiciário brasileiro, particularmente o Supremo Tribunal Federal, e o ministro Alexandre de Moraes retirarem as acusações contra Bolsonaro, essas imposições tarifárias poderiam ser discutidas. Ou seja, a motivação da imposição de alíquotas de escolta às exportações brasileiras para os EUA seria uma moeda de troca, com o governo Trump, para liberar os golpistas do 8 de janeiro. Embora isso seja mais um desejo dos bolsonaristas do que realidade, para Trump a suspensão dos processos contra Bolsonaro pode ser um efeito colateral passageiro. No fundo, porém, com essas medidas, ele também enfraqueceu o Brasil como país capaz de desempenhar um papel relevante na cena mundial, principalmente pela influência que pode exercer na atuação do BRICS+.
Mas a absoluta maioria da sociedade brasileira – os grandes meios de comunicação, todas as mídias, a sociedade civil organizada, partidos políticos, mesmo alguns de centro-direita – uniu-se em torno do posicionamento firme do governo brasileiro de que: “ tarifas alfandegárias são negociáveis, mas interferência na nossa política interna, no funcionamento dos nossos órgãos soberanos de poder, como o Judiciário, é inadmissível, e que nossa SOBERANIA é inegociável ” .
Esta questão da inegocionabilidade de nossa SOBERÂNIA é uma resposta certa tanto ao ponto de vista político como econômico. A carta de Trump enviada a Lula, por meio de mídias sociais, além de ferir qualquer protocolo de relações entre Estados civilizados e soberanos, é de uma indigência mental de espantar. O presidente da ainda maior potência mundial deve saber que não se trata, nos tempos atuais, de um país independente, particularmente do porte do Brasil, como uma colônia subserviente. Tratar o nosso país, nos termos com os quais está irritado o senhor Trump, é de uma arrogância e estupidez política, que equipara-se ao condão de despertar uma indignação generalizada na nossa sociedade, levando, salvo bolsões de traidores e “quinta colu nas” – a imagem dos bolsonaristas mais empertigados – a maioria da Nação a se sentir ofendida em diferentes graus pela arrogância do senhor Trump.
orém não devemos deixar levar pelo sentimento de indignação. Mas devemos nos defender de todas as maneiras dessas agressões descabidas do governo norte-americano. Temos de buscar canais de negociações comerciais que possam restabelecer os fluxos comerciais entre os dois países de forma equilibrada; devemos diversificar nossas fontes de comércio exterior e procurar mais parceiros, por meio dos quais podemos alocar nossa produção de forma equânime; incentivamos o estímulo ao nosso mercado interno, incentivando o aumento do consumo, pelas camadas de baixa renda, dos produtos alimentares que não foram exportados, como frutas, carnes, café etc., criando-se para isso programas de venda de alimentos à população mais cuidadosos, por preços acessíveis, se necessário subsidiados. Além disso, tome outras medidas de proteção ao emprego dos rabalhadores que se tenham ameaçado e de ajudar as empresas que passam a ter dificuldades de se adequarem às novas realidades do mercado.
Mas, mesmo com a defesa da nossa SOBERÂNIA, rejeitando com firmeza e determinação qualquer tentativa de ingerência em nossos assuntos internos, e com medidas de cunho econômico que mitigam, para a população em geral (massas vulneráveis, trabalhadores e empresários), os efeitos das medidas econômicas decorrentes das tarifas escorchantes de Trump, existe uma atitude a ser tomada e colheita na consciência nacional do povo: a verdadeira Soberania só existe se o país que a quer exercer apoiar-se nas suas próprias forças para garanti-la.
Apoiar-se nas próprias forças, para superar dificuldades e crises que eventualmente enfrentem povos e nações, é uma condição necessária para a existência de uma Nação soberana, capaz de desempenhar papel na cena internacional. Mas apoiar-se nas próprias forças não é consequência do isolamento e da conversão ao estrangeiro. Manter uma relação com outras nações e outros povos, em todos os terrenos, do econômico ao cultural, é uma imposição do mundo interconectado em que vivemos e uma condição para construirmos uma sociedade fraterna e solidária. O âmago do conceito de apoiar-se nas próprias forças , para o desenvolvimento e a vida de uma nação, é cada uma delas, tendo por base seus valores, seu domínio cultural, o controle de suas forças produtivas e de suas riquezas naturais e espirituais, esses utilizam meios para construir, no seu espaço físico, condições dignas de vida para seu povo e, dessa maneira, contribuir para uma humanidade mais feliz.
No caso brasileiro, consideramos essa atitude de apoiar nas próprias forças, economias, políticas, sociais, uma condição essencial para levarmos à frente um novo projeto de País, que nos transforme em uma Nação próspera, civilizada e socialmente mais justa.
Assim, no enfrentamento que empreendemos à arrogância inescrupulosa do império americano e de seus aliados internos, devemos nos guiar e, apoiando-nos em nossas próprias forças, afirmar nossa SOBERÂNIA .
Ronald Freitas é membro do Comitê Central do PCdoB e coordenador do Grupo de Pesquisa sobre Estado e Instituições da FMG.
[Se comentar, identifique-se]
Nenhum comentário:
Postar um comentário