01 agosto 2025

Editorial do 'Vermelho'

Governo Lula enfrenta com êxito ataque de Trump
Posição firme, respaldada por ampla convergência patriótica, enfrenta afronta à soberania nacional, mas confronto será duro e está apenas no começo
Editorial do 'Vermelho' www.vermelho.org.br   


 

A ordem executiva impondo ao Brasil tarifa de 50% assinada por Donald Trump, instrumento que dá ao presidente dos Estados Unidos poder de tomar decisão individual, é essencialmente uma farsa. Foi anunciada também a inclusão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, na lista de autoridades sancionadas pela Lei Global Magnitsky, que pune estrangeiros considerados autores de graves violações de direitos humanos e práticas de corrupção.

As medidas, divulgadas em 30 de agosto, são uma afronta à soberania nacional e aos princípios do direito internacional, um ataque à democracia e às instituições brasileiras. O próprio inspirador da Lei Global Magnitsky, Willian Browder, disse, em entrevista à BBC Brasil, que ela não foi criada para ser usada para vinganças políticas. “O uso atual da Lei Magnitsky é puramente político e não aborda as questões de direitos humanos para as quais ela foi originalmente elaborada. E, como tal, é um abuso das intenções da lei”, afirmou.

O Brasil é o país mais taxado, mesmo com uma lista de quase 700 exceções, que excluem 43% do valor de itens brasileiros exportados para os Estados Unidos. Escapam do tarifaço itens como derivados de petróleo, ferro-gusa, produtos de aviação civil e suco de laranja. Contudo, carnes, café e pescado não escaparam, bem como produtos do setor de máquinas e equipamentos.

A medida, originalmente marcada para esta sexta-feira, 1º de agosto, foi adiada para o dia 6 de agosto. Até lá pode haver mais mudanças. Apesar das exceções, a ordem de Trump é extremamente danosa à economia nacional. Afeta o desenvolvimento nacional, enfraquecendo empresas, quebrando cadeias produtivas e gerando desemprego.

As duas medidas também atestam, uma vez mais, que as tarifas têm motivação que vai muito além da esfera comercial. No caso da retaliação ao ministro Alexandre de Moraes, o que está em questão é o Poder Judiciário, que cumpre seu dever constitucional ao defender o Estado Democrático de Direito no julgamento, já em fase final, de Bolsonaro e seus cúmplices, implicados em graves delitos contra a ordem democrática e os interesses nacionais. Por isto, defender o STF, nesta hora, é uma tarefa  democrática, patriótica de primeira grandeza.

As razões de fundo desse ataque de Trump são a tentativa de reverter o declínio da hegemonia dos Estados Unidos diante do prestígio e da ascensão da China. O primeiro objetivo é impor domínio completo sobre os países da América Latina e Caribe. Para isso, o Brasil é peça-chave, pelo tamanho de sua economia e por sua importância geopolítica.

Trump planeja ter no Brasil um governo subserviente, vassalo, objetivo que tenta alcançar nas eleições de 2026. Desde que ele enviou, pela internet, carta ao presidente Lula, em 9 de julho, com suas alegações comerciais e políticas para justificar a taxação, os campos dos verdadeiros patriotas e dos traidores da pátria têm sido bem demarcados.

Bolsonaro e seu clã, o Partido Liberal (PL) – que abriga as principais lideranças políticas do golpismo e dos traidores da pátria – se desmascararam como base política de apoio aos ataques de Trump. Em particular, Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente de extrema-direita, que, de maneira escancarada, se apresenta como agente do presidente estadunidense. Uma espécie de metralhadora giratória contra seu próprio país. Por isto, deve ser cassado sem demora pela Câmara dos Deputados. E se por os pés em solo pátrio precisa ir direto à cadeia.

O governo do presidente Lula alcançou êxito parcial ao enfrentar as afrontas de Trump, mas a ofensiva vai além do seu recuo parcial. Lula demonstrou altivez e coragem política, atitude registrada na chamada de sua entrevista ao jornal The New York Times ao dizer que “ninguém desafia Trump como o presidente do Brasil”. “Tenham certeza de que estamos tratando isso com a máxima seriedade. Mas seriedade não exige subserviência”, disse o presidente brasileiro.

O governo tem adotado a tática acertada de unir, na defesa dos interesses do Brasil, um amplo leque econômico e político, as instituições, setores da imprensa, as organizações do povo e dos trabalhadores, com ações de esclarecimentos em pronunciamentos do presidente e em notas públicas. Na batalha da comunicação, tem se manifestado de forma a deixar nítida a verdade dos fatos.

Além do governo, partidos políticos, movimentos sociais e centrais sindicais têm assumido posições firmes e amplas. A iniciativa da União Nacional dos Estudantes (UNE) de convocar as manifestações deste 1º de agosto rapidamente teve adesão de outros setores populares – como a Frente Povo sem Medo e a Frente Brasil Popular –, numa jornada em defesa da soberania e da democracia no Brasil, com parte dos atos nas proximidades de consulados dos Estados Unidos. Com a história da República demonstra, o povo nas ruas coma bandeira brasileira nas mãos é fator decisivo neste tipo de confronto.

A ascensão desse amplo movimento de defesa dos interesses do país, com o governo Lula na liderança, cumprindo seu papel constitucional, aglutinando e movimentando os setores patrióticos, democráticos, populares, deve ser impulsionada e fortalecida. O Brasil precisará dessa força na evolução da luta.

Os êxitos do governo e da aliança patriótica devem ser ressaltados, mas o confronto será duro e longo, sobretudo pelos bons resultados das pesquisas em ralação à postura do presidente Lula. A batalha atual é apenas uma de muitas que virão. Daí a importância de seguir unindo e mobilizando o país. As jornadas deste 1º de agosto devem ser vistas como a largada dessa longa caminhada.

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Leia também: Para além do “economicismo governamental” https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/07/minha-opiniao_5.html 

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